terça-feira, 20 de janeiro de 2009

País teve maior perda de vagas em 16 anos

Geralda Doca e Camila Nobrega
DEU EM O GLOBO


Só em dezembro, foram 654 mil postos eliminados, o dobro em relação a 2007

BRASÍLIA e RIO. O Ministério do Trabalho confirmou ontem o fechamento de 654.946 vagas em dezembro, mostrando que a crise financeira internacional atingiu em cheio o emprego formal no país. O saldo - diferença entre contratações e demissões - foi o pior para meses de dezembro desde o início da série histórica, em 1992, e mais do que dobrou em relação ao mesmo período de 2007, conforme noticiou O GLOBO, em primeira mão, na semana passada. O efeito da turbulência foi generalizado entre os setores da economia, com impacto maior na indústria da transformação, que eliminou 273.240 postos no mês passado, no pior desempenho para o período no atual governo.

Foi o segundo mês seguido de dispensas pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, já que em novembro o saldo líquido ficara negativo em 40.821. Apesar disso, em 2008, o Brasil gerou 1,452 milhão de empregos, numa desaceleração em relação ao 1,617 milhão de vagas registradas em 2007.

Um dos motores do emprego ao longo de 2008, a construção civil teve fechamento líquido de 82.432 vagas em dezembro, mais do que o triplo do verificado em igual mês de 2007. O segmento de serviços foi responsável pela extinção de 117.128 empregos, quase três vezes mais do que os 40.795 apurados em dezembro de 2007.

Tradicionalmente empregador em dezembro, devido às compras de Natal, o comércio registrou no mês passado saldo negativo de 15.092, contra um desempenho positivo de 30.129 em dezembro de 2007. Na agricultura, as demissões superaram as contratações em 134.487.

A assistente administrativa Flávia Carvalho, de 50 anos, foi demitida em dezembro, após nove anos em uma loja do Norte Shopping:

- Fiquei surpresa. A empresa precisava reduzir gastos. O gerente me disse que a empresa precisava reduzir os gastos por causa da crise e que, como meu salário era alto para a função, precisaria me demitir. Outras pessoas já haviam sido mandadas embora antes de mim.

Lupi responde a desafio do presidente da Fiesp
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, defendeu medidas para enfrentar o desemprego na indústria, como a redução do IPI do setor. Ele disse que só o ramo de alimentação foi responsável por um saldo negativo de 109.696 contratações no mês passado. Não por menos, os três estados que mais demitiram em dezembro têm grandes parques industriais: São Paulo (285.532); Minas Gerais (88.062) e Paraná (49.822). No Rio, foram eliminados 19.342 postos. Outros subsetores, como calçados, borracha, fumo, couros e mobiliário fecharam o ano com saldo negativo. Essas áreas também seriam beneficiadas.

- O grande foco é a indústria. Precisamos trabalhar para definir políticas públicas para essa área - disse Lupi, para quem janeiro e fevereiro serão meses fracos do ponto de vista de geração de emprego, mas que não impedirão a criação de 1,5 milhão de postos em 2009.

Lupi respondeu ainda ao presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, que o desafiou na semana passada a mostrar empresas que tomaram recursos públicos mas estariam demitindo. Ele apresentou uma lista com setores beneficiados com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) em São Paulo entre janeiro de 2006 e março de 2008: foram R$2,977 bilhões, sendo que a indústria de transformação, a que mais demitiu em dezembro, ficou com R$1,157 bilhão.

- Ele não pediu uma lista pública? Então, estou mostrando - disse Lupi.

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