segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Crescimento do PIB é incógnita pela primeira vez

Leandro Modé
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Geralmente previsível, Produto Interno Bruto provoca divergência e projeções variam de zero a 4% para 2009

Divergências em projeções econômicas são comuns em qualquer momento da história. Uma variável, porém, costuma ter grau de discrepância menor do que outras, mesmo durante crises. Trata-se do Produto Interno Bruto (PIB), principal medida da soma das riquezas de um país. Neste ano, esse padrão está em xeque no Brasil. As estimativas de crescimento da economia em 2009 variam de zero a perto de 3%. Isso sem considerar os 4% do Ministério da Fazenda e os 3,2% do Banco Central (BC).

"Pela primeira vez, temos genuinamente divergências (sobre o PIB)", disse o economista-chefe da Bradesco Corretora, Dalton Gardiman. "Antes, quando se falava em 5,2%, 5,3% ou 5,5%, no fundo, não havia distinção nenhuma."

Para o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale, o intervalo ainda grande nas previsões deve-se às diferentes percepções dos analistas sobre o aprofundamento da crise. "As projeções acabam convergindo num certo momento", afirmou. "O resultado da indústria de dezembro (queda de 12,4% na produção ante novembro) trouxe todo mundo para a realidade, e a realidade é um pouco mais sombria do que se imaginava em outubro."

A média do mercado, expressa no Relatório Focus, divulgado pelo BC toda segunda-feira de manhã, está em 1,8%, mesmo porcentual do Fundo Monetário Internacional (FMI). Gardiman estima 1% e Vale, 1,2%. A LCA Consultores está, no momento, na ponta de cima das estimativas. Projeta alta de 2,8%.

"O fundo do poço, em termos de PIB, ficou no quarto trimestre de 2008", disse o coordenador técnico da LCA, Francisco Pessoa. "A questão, agora, é em que extensão e em quanto tempo vamos nos afastar do fundo."

O PIB pela chamada ótica da demanda é resultado da soma de consumo das famílias, consumo do governo, investimentos e setor externo (exportações menos importações). Os cálculos dos especialistas variam porque cada um deles atribui a essas variáveis uma hipótese.

Segundo Gardiman, hoje as principais divergências estão nas estimativas sobre consumo do governo e setor externo. Ele acredita que a margem de manobra do governo é pequena, por causa da situação fiscal ainda frágil do Brasil (apesar da melhora dos últimos anos). "Há seis, sete anos, havia dúvida sobre a solvência do País."

O professor Simão Silber, da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), concorda. "O governo deveria ter guardado dinheiro na bonança para gastar agora." Em vez disso, afirmou Silber, expandiu o custeio da máquina pública em 10% ao ano (descontada a inflação) nos últimos anos. "É mais que o dobro do crescimento do PIB." O professor estima avanço de 1% para a economia no ano.

É nesse ponto, principalmente, que Pessoa, da LCA, diverge dos colegas. Para ele, o consumo do governo crescerá 3,6% em 2009 e contribuirá para uma alta mais expressiva do PIB. "A situação nesta crise é diferente de outras, pois o governo tem espaço para fazer uma política anticíclica", disse.

Pessoa ressaltou que as projeções estão sujeitas a revisões, por causa das oscilações de outros indicadores que entram no cálculo do PIB. Um setor cujo desempenho em 2009 ainda não está claro - e tem potencial para alterar a previsão do PIB - é a construção civil. "Isso me preocupa", disse.

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