quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Gasto do governo com encontro de prefeitos foi de R$2,4 milhões

Maria Lima, Chico de Gois e Regina Alvarez
DEU EM O GLOBO


Oposição quer ação contra Dilma por campanha e uso de dinheiro público

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A informação de que o governo gastou muito mais do que os R$253 mil divulgados com a realização do encontro de prefeitos em Brasília, há uma semana, deu novo fôlego à oposição e mais argumentos para uma enxurrada de ações de DEM e PSDB na Justiça Eleitoral, no Ministério Público e no Tribunal de Contas da União (TCU). Eles tentam barrar a superexposição da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com uso de recursos públicos. À noite, o Planalto admitiu que os gastos com o evento chegaram a R$1,875 milhão. Mas levantamento, ainda parcial, feito pelo GLOBO junto a outros órgãos identificou um custo de R$2,431 milhões.

As executivas de DEM e PSDB entraram com duas ações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para questionar propaganda antecipada da pré-candidata do presidente Lula ao Planalto. Depois, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) entrou com representação na Procuradoria da República no Distrito Federal para apurar improbidade administrativa de Dilma e Lula. E o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), estuda outra representação no TCU para pedir que os responsáveis pelo evento dos prefeitos devolvam aos cofres públicos os recursos que teriam sido usados de forma indevida para promoção pessoal.

"Não entendemos a politização do problema"

O ministro de Relações Institucionais, José Múcio, informou que o gasto fora de R$1.875.486, sem considerar despesas feitas por Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. E detalhou: além dos R$253 mil que sua secretaria aplicou, houve mais R$273 mil de outros 10 ministérios, e R$1.349.000 do Ministério das Cidades. Segundo Múcio, quando ele divulgou os R$253 mil, referiu-se ao gasto de sua pasta.

- Não entendemos a politização do problema. Não houve sentimento de maldade ou má-fé. As contas estão todas no Siafi - disse, negando que o evento tivesse conotação eleitoral.

Além dos gastos divulgados pelo ministro, o BB informou que sua despesa chegou a R$400 mil, incluindo a montagem e ambientação de estande, sala de computadores, equipamentos, acesso à internet, serviço de buffet, recepcionistas e banners. O Ministério da Saúde informou que gastou R$138 mil, com estande, sala de atendimento e translado dos prefeitos na cidade. A Caixa disse que gastou R$18 mil com um estande. A empresa Dialog informa no seu site que participou do evento por meio de seus clientes, os ministérios das Cidades e do Turismo, e ficou responsável, entre outras coisas, pela montagem do auditório em que o Lula recebeu os prefeitos, palcos e sala reservada à Presidência.

A assessoria de Múcio informou que pediu que todos os ministérios informassem os gastos, mas admitiu que nem todos o fizeram. Por isso, Múcio disse que até o final da semana teria tudo contabilizado. Porém, com a insistência da imprensa, antecipou o anúncio.

A primeira ação do DEM/PSDB ao TSE é uma consulta, questionando se é possível um pré-candidato subir em palanques antes de 5 julho do ano da eleição. A segunda é uma representação contra Dilma e o presidente Lula, usando como base o financiamento do encontro dos prefeitos com recursos públicos, que teriam servido, segundo alegam, para fazer propaganda da candidatura. Na ação, relacionam discursos de Lula defendendo uma candidata mulher, declarações de vereadores dizendo que o evento era para "turbinar" a candidatura de Dilma e o estande onde os participantes confeccionavam santinhos com fotos dela e de Lula.

- O Planalto usou o nosso dinheiro para mostrar a ministra Dilma - disse o deputado Roberto Magalhães (DEM-PE), que redigiu as duas ações.

- Se PSDB e DEM fizerem uma pesquisa entre seus prefeitos, verão que a maioria apoia o encontro. A oposição está com medo da democracia e quer introduzir uma espécie de censura ao presidente e à ministra Dilma - disse o líder do governo, Henrique Fontana (PT-RS).

Dilma rebate acusação de que faz campanha em viagens

Em São Paulo, Dilma acusou a oposição de tentar "interditar" o governo em ações de combate à crise, como o PAC. Ela adiantou que fará ainda mais viagens, além de inaugurações de obras para "prestar contas" do governo. E frisou que DEM e PSDB são beneficiados pelo PAC, citando os governadores José Serra (PSDB), de São Paulo, e José Roberto Arruda (DEM), do DF.

- Eu acho que (a ação) tem esse intuito (de disputa eleitoral) e tem, sobretudo, o intuito de interditar o governo. Acho absolutamente incorreta essa versão de que estamos fazendo campanha. O que tenho feito é dar explicações, nós devemos uma satisfação.

Dilma falou a cerca de 500 sindicalistas na Força Sindical. Elza de Fátima Pereira, mulher do deputado Paulo Pereira (PDT-SP), presidente da entidade, abriu o evento afirmando que "o Brasil está pronto para eleger uma mulher". Dilma não reagiu. De manhã, em reunião do Conselho Político, Lula defendeu a participação de Dilma em viagens e sugeriu que recente a ida de Serra ao interior do Paraná teve característica de campanha.

COLABORARAM Soraya Aggege e Gerson Camarotti

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