sábado, 21 de fevereiro de 2009

Janeiro cruel na economia

Cássia Almeida
DEU EM O GLOBO

Emprego, arrecadação, superávit e contas externas: tudo piorou no mês

O número de desempregados no país cresceu 20,6% em janeiro, fazendo a taxa de desocupação subir de 6,8% em dezembro para 8,2% no mês passado, classificado pelo IBGE como um "janeiro cruel". Só nas seis regiões metropolitanas, há 1,8 milhão de pessoas sem trabalho. A situação é pior em São Paulo. Mas janeiro teve mais. A desaceleração da economia fez com que a arrecadação de impostos federais caísse 7,2%. O déficit maior da Previdência também foi decisivo para derrubar o resultado das contas públicas - o superávit primário despencou 72% em janeiro. Além disso, o investimento estrangeiro direto no Brasil desabou de US$4,8 bilhões em janeiro de 2008 para US$1,930 bilhão.

Um mês para esquecer

Número de desempregados cresceu 20% em janeiro, maior alta desde 2002

Mais desempregados, menos arrecadação de impostos, superávit fiscal menor e investimentos estrangeiros em baixa. Esse conjunto de indicadores negativos marcou o primeiro mês de 2009, refletindo a crise econômica mundial. A taxa de desemprego no mês passado, que costuma subir em relação a dezembro, teve um salto único desde o início da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE, em 2002: subiu de 6,8% em dezembro para 8,2% em janeiro nas seis regiões metropolitanas. O número de desempregados subiu 20,6%, no maior aumento já registrado na pesquisa na passagem de dezembro para janeiro. Em 2008, a taxa ficara em 8%. O rendimento permanece em alta: 2,2% frente a dezembro e de 5,9% na comparação com janeiro de 2008, auxiliado pela inflação em baixa.

- Essa subida foi recorde. Quando a economia vai bem, parte dos temporários contratados para o Natal é absorvida. Quando a economia está estável, saem os temporários. Quando o cenário é desfavorável, saem os temporários e parte dos efetivos, como está acontecendo agora. Foi um janeiro cruel para o mercado de trabalho - afirmou Cimar Azeredo, gerente da pesquisa do IBGE.
Nem mesmo no período de estagnação de 2003, quando a taxa de desemprego estava em torno de 11%, houve alta tão forte na população de desempregados, que somavam 1,890 milhão de pessoas em janeiro. E São Paulo foi a região que apresentou o maior avanço: 32,6%.

- É a região que está sentindo mais os efeitos da crise. Há grandes empresas vinculadas ao setor exportador e a cadeia automotiva. A crise chegou ao mercado de trabalho no momento que tradicionalmente se corta empregos temporários - afirmou Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese.

Com uma opinião diversa, o economista Lauro Ramos, especialista em mercado de trabalho do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vê poucos sinais de crise.

- Não vejo crise nas regiões metropolitanas. Não há como comparar com dezembro, que foi o melhor da história da pesquisa. Frente a janeiro de 2008, a ligeira alta reflete a maior procura por trabalho. Não houve corte de vagas. A ocupação frente a janeiro do ano passado cresceu 1,9%. Há nuvens no céu, mas elas ainda não se aproximaram das metrópoles.

Construção civil foi a que mais demitiu

Frente a dezembro, porém, há uma coleção de número negativos recordes. O emprego com carteira assinada caiu 1,3%, no maior corte para janeiro desde 2003. A construção civil foi o setor que mais demitiu: 74.534 trabalhadores:

- Os dados sinalizam, sim, um problema relevante no mercado de trabalho. Foi um janeiro com menos emprego com carteira assinada, construção civil e comércio dispensando forte - disse Azeredo.

O professor da PUC José Marcio Camargo diz que os resultados já eram esperados diante dos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que mostraram destruição de 40,8 mil vagas no mês:

- O desemprego deve subir no primeiro semestre, com a taxa mês a mês maior que no ano passado.

A arrecadação do PIS/Pasep, que alimenta o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) caiu 9,35% em janeiro, sobre o mesmo mês de 2008. Trata-se de redução duas vezes maior do que a verificada em dezembro, quando a receita foi 4,22% inferior à do mesmo mês em 2007. Pelos últimos cálculos do Conselho do FAT, o primeiro déficit do ocorrerá em 2010 e chegaria a R$497 milhões. Com isso, pode ser comprometida uma das principais fontes de recursos do BNDES e para o pagamento do seguro-desemprego. Na noite de ontem, o Ministério do Trabalho afirmou que em 2008 cresceu a arrecadação do FAT em relação à despesas, o que atenuou o déficit. O ministério não comentou o relatório.

Colaborou Gustavo Paul

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