quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Janeiro tão ruim quanto novembro

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Na comparação anual, caíram a produção de carros, o tráfego de cargas, a carga de energia e a produção de embalagens

AS PISTAS que os economistas seguem para antecipar, de modo tentativo, a produção industrial indicam que janeiro não foi tão ruim como o desastroso dezembro, mas não deve ter sido melhor que a derrocada de novembro.

Produção de veículos, tráfego de caminhões pesados, consumo de energia elétrica e vendas de papelão ondulado são alguns desses indicadores coincidentes da produção industrial. Isto é, a evolução de tais setores num certo mês, combinados de maneira ponderada, indica, com probabilidade mais ou menos razoável, como foi o desempenho da produção industrial nesse mesmo mês. Os dados oficiais do IBGE demoram ainda para sair.

Em janeiro, a produção de veículos caiu 27% em relação a janeiro de 2008 (em dezembro, caíra 54%; em novembro, 29%, sempre em relação ao mesmo mês do ano anterior). A carga de energia elétrica foi 4% menor, segundo o ONS, o Operador Nacional do Sistema, que administra o despacho de eletricidade (ante queda de 4,9% em dezembro e alta de 0,5% em novembro). O tráfego de veículos pesados, o transporte de cargas, caiu 9,1% (ante quedas de 0,8% em dezembro e 1% em novembro), segundo a ABCR, a associação das empresas que administram estradas. A venda de papelão ondulado, as embalagens, declinou 8,3% (ante quedas de 4,5% em dezembro e de 2,2% em novembro).

Um dado mais parcial, embora relevante, também indica declínio forte ainda em janeiro, embora com melhoras em relação ao desastre de dezembro. Segundo estimativa da Comerc, empresa que negocia energia elétrica no mercado livre (grandes empresas), o consumo de energia aumentou 3% de dezembro para janeiro. Mas, na comparação anual, janeiro contra janeiro de 2008, a queda foi de quase 16%.

Com tais informações em mão, pode-se estimar que a produção industrial em janeiro deva ter recuado algo em torno de 7% na comparação anual (ante janeiro de 2008). Mas, a depender dos modelos e das correções de cálculo de tendência impostas pelos dados terríveis de dezembro, o recuo pode ser estimado em qualquer coisa entre 6% e 9%.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista à Folha na semana passada, disse que esperava nova desaceleração da economia no primeiro trimestre de 2009. Obviamente, está mais do que certo que a economia encolheu muito no trimestre final de 2008.

Dois trimestres seguidos de retração vão fazer com que muito comentarista e/ou político diga que o país entrou em "recessão técnica", termo que não tem nada de técnico -é apenas mais uma das convenções imprecisas a respeito do já impreciso PIB. Mais relevante é que o "humor" social e econômico deve se deteriorar diante de tais resultados. Mais um motivo para o governo se concentrar no essencial, nas medidas de grande alcance, como as que tomou no crédito ou como as que deveria tomar para acelerar obras públicas e a queda dos juros.

Remendos disparatados, como os que estão sendo paridos sob inspiração do Ministério do Trabalho, apenas vão aumentar a confusão e o risco de que lobbies ganhem favores que em nada auxiliam o desempenho geral da economia.

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