terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

'Não retiro uma vírgula do que disse'

Adriana Vasconcelos, Maria Lima e Gerson Camarotti
DEU EM O GLOBO


Em nota, PMDB classifica de desabafo ataques de Jarbas ao partido e tenta isolá-lo

Osenador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) aumentou ontem seu isolamento no PMDB ao reiterar o que já havia dito à revista "Veja": o partido que ajudou a fundar há 43 anos se especializou em corrupção. Ele se recusou, porém, a citar casos específicos ou apresentar provas. Com uma nota, na qual minimizou os ataques, a cúpula peemedebista deu continuidade à estratégia de deixar o pernambucano falando sozinho. Pedro Simon (PMDB-RS) foi o único colega de bancada que ousou concordar, mesmo assim só em parte, com as declarações de Jarbas, a quem classificou como uma das pessoas mais complicadas que conheceu.

Não está nos planos do partido expulsar o senador, o que facilitaria seu ingresso em outra legenda sem risco de perder o mandato por infidelidade partidária. Mesmo admitindo o desconforto, Jarbas disse que não pretende deixar o PMDB e duvidou que a cúpula tenha coragem de expulsá-lo. Sua expectativa, agora, é que a sociedade pressione o Congresso a mudar a prática fisiológica adotada pelo PMDB:

- Abri um debate que sei que é polêmico. Não retiro uma vírgula do que disse. Mas não sou eu que vou comandar esse processo. Não quero citar casos específicos. Dei o pontapé inicial, e agora espero que haja pressão de fora para dentro para mudar essa prática fisiológica.

Segundo Jarbas, essa prática piorou:

- Não é de hoje que o PMDB tem sido corrupto. Mas o Lula tem sido conivente com a corrupção. Não foi o Lula e o PT que inventaram a corrupção, mas essa tem sido a marca do governo dele, a marca do toma-lá-dá-cá.

Simon disse que poderia concordar com grande parte do que Jarbas disse, mas ressaltou:

- O comando do partido não tem grandeza, só pensa em si, em carguinhos. Mas não dá para dizer que é só o PMDB. Até porque o PMDB nunca chegou ao governo. Tem escândalo maior no país que a privatização da Vale? Que a compra de votos para a reeleição? E quanto ao PT? Não há ninguém mais parecido com o PSDB no governo que o PT. A situação como um todo é de anormalidade.

Pelo PMDB, além da nota que tratou a entrevista de Jarbas como "desabafo", falou o presidente do partido e da Câmara, Michel Temer (SP):

- Repudiamos a afirmação de que o PMDB é corrupto. Não queremos dar relevo a algo que não tem especificidade. Não há intenção de apenar o senador. O que não queremos é dar relevância a isso.

Sem querer comentar os ataques de Jarbas, que classificou sua eleição para a presidência do Senado como retrocesso, José Sarney (AP) foi lacônico:

- Não vou diminuir o debate.

Pedro Simon disse discordar de Jarbas sobre o apoio à candidatura do governador tucano José Serra à Presidência. Ele defende candidatura própria.

- Na última vez que embarcamos nessa história de candidatura própria, o (ex-governador Anthony) Garotinho quase foi candidato - retrucou Jarbas.

A estratégia do PMDB é isolar Jarbas, para que ele tome a iniciativa de deixar a sigla. Outra alegação da cúpula é que Jarbas estaria enfraquecido em Pernambuco e tenta recuperar espaço:

- A situação de Jarbas é difícil em Pernambuco, principalmente depois do fiasco do seu grupo nas eleições municipais. O partido não vai dar palco para ampliar o teatro de Jarbas. Se ele está com desconforto em relação ao PMDB, pode sair. Afinal, depois de dizer tudo aquilo, não tem sentido ele ficar - disse o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), chamou de desrespeitosas as declarações.

- Generalizar é uma desconsideração. Eu não sou corrupto; o senador Pedro Simon não é corrupto; o governador (do Espírito Santo) Paulo Hartung não é corrupto; o governador (do Paraná) Roberto Requião não é corrupto; o governador (do Tocantins) Marcelo Miranda não é corrupto; o governador (de Santa Catarina) Luiz Henrique não é corrupto. Essa generalização é desrespeitosa com uma legenda que ele mesmo (Jarbas) ajudou a construir - rebateu Cabral, que disse, porém, não ter lido a entrevista.

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