segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Os exageros de Lula

EDITORIAL
JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Ao que parece a consagração nas pesquisas de opinião pública levou o presidente da República a exceder-se em populismo e em agressão à imprensa perante 3.300 – e acompanhantes - dos 5.564 prefeitos brasileiros. Os exageros de Lula aconteceram em Brasília em um grande espetáculo que pode ter mais de uma interpretação. Várias, melhor dizendo, sobretudo porque se prestou a assumir o roteiro que negava, fazendo-se palanque eleitoral para a ministra Dilma Rousseff. Um ato compreensível em qualquer governo que busca eleger seu sucessor, ou uma sucessora, mas inaceitável pelos alvos que escolheu e pelo tom do discurso gravemente demagógico.

Um governante ungido pela aprovação popular como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não precisa gastar fôlego para tentar conquistar a totalidade da opinião pública brasileira. E ao eleger a imprensa para agredir constrói barreira com uma instituição que vem regularmente sendo melhor avaliada que toda a classe política brasileira. Mais: renega os instrumentos que lhe permitiram chegar aonde chegou. Quando confessa seu horror à imprensa, o presidente parece esquecer que poderia apenas ter se ombreado a outros importantes líderes trabalhistas dos tempos difíceis da ditadura, mas tornou-se muito mais com a ajuda dos meios de comunicação que o ungiram como grande líder operário, que o acompanharam nos momentos de desgraça, impedindo que o rigor da ditadura ficasse marcado em sua pele, quando embarcaram na caravana com que percorreu o Brasil em pré-campanha eleitoral, fazendo-se um líder mais conhecido e mais festejado.

Quando dispara contra a imprensa, o presidente não faz jus à sua indiscutível inteligência, que o levou à presidência da República. Ele pode até entender que nem todos os veículos de comunicação apoiam seu governo. É natural, mas difícil de ser aferido entre nós, ao contrário dos Estados Unidos, onde os grandes jornais declaram em seus editoriais apoio a candidato tal ou qual. No Brasil não há essa tradição porque imediatamente o veículo seria lançado na vala da suspeição como boletim de campanha, o que não acontece lá na terra de Obama. Por isso, aqui qualquer postura é vista como aprovação ou rejeição às escondidas. Qualquer crítica, uma condenação. Qualquer denúncia de irregularidade é carimbada como campanha para derrubar o candidato ou governante.

Para um presidente da República, é preciso que o pernambucano Lula reflita mais sobre seus ataques e procure lembrar que o veículo que escolheu como alvo preferencial antes de ser eleito foi exatamente o que abrigou na primeira noite de presidente eleito, portando-se quase como o apresentador do noticiário de maior audiência do Brasil. Uma lua de mel que deixou de existir no momento em que ele passou a atirar para todos os lados, uma forma tão generalizada e simplista de encarar o papel da imprensa que termina por ser exatamente o que parece: jogo de cena para impressionar plateias. Na hora H, ele recorre aos jornais, às revistas, às televisões e aos rádios, porque ninguém chega aonde ele chegou sem essas trilhas.

Mas, ao que parece, a plateia de prefeitos carecia de encenações e foi muito bem servida. Até partilhou com a linguagem mais vulgar da demagogia, que eles tanto conhecem, por exercer ou por condenar. Dizer que cortará o batom de dona Dilma e “o meu corte de unha”, mas não cortará nenhuma obra do PAC, é um requinte de populismo. Mas quando dá o tom do discurso afirmando que os prefeitos “são o resultado da essência da democracia do nosso querido País” o presidente extrapola. Vai muito além do que seria de esperar de um anfitrião. O elogio foi tão exagerado que parece ironia, porque se é verdade que muitos prefeitos combinam competência com probidade, também é que muitos envergonham a atividade política brasileira e não poderiam ter o mesmo tratamento. Com aquele linguajar de palanque, o presidente disse aos prefeitos que tem dias “em que a gente acorda virado”. Tem.

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