terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

PMDB mais do que nunca é ‘noiva’ cobiçada

David Fleischer
Professor
DEU NO JORNAL DO BRASIL


Aeleição de José Sarney (PMDB-AP) para a presidência do Senado para o biênio 2009-2011 já era prevista desde o ano passado, embora ele viesse negando publicamente até a semana passada. Inclusive, o lançamento do senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) à reeleição – considerada por muitos como "inconstitucional" – foi um ardil habilidoso para desviar as atenções da pré-candidatura do senador José Sarney.

Tradicionalmente, a maior bancada no Senado e também na Câmara dos Deputados tem a prerrogativa de indicar o candidato à presidência das duas casas legislativas. Foi isso que aconteceu nas eleições dessas duas presidências em 1985, 1987, 1989 e 1991 - quando o PMDB elegeu os presidentes das duas casas simultaneamente. Essa seqüência só foi quebrada em 1993, quando o deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE) derrotou o candidato do PMDB na Câmara.

Por essas razões que o então vice-presidente do Senado Tião Vianna (PT-AC) lançou a sua candidatura, pensando que o senador José Sarney não seria candidato. Quando Sarney saiu das sombras, parecia que era franco favorito até de janeiro, quando a bancada do PSDB, pressionada pelo governador José Serra e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, decidiu apoiar Tião Vianna. Com apenas PMDB, DEM e PTB apoiando a candidatura Sarney, parecia (pelas pesquisas e estimativas da imprensa) que ele teria 41 votos - a maioria absoluta – sem considerar algumas "dissidências" no PMDB, como o senador Jarbas Vasconcelos (PE). Essas estimativas contavam os votos dos senadores do PSDB (13), PT (12), PR (4), PSB (2), PRB (1) e PSOL (1), num total de 33 votos para Tião Vianna – e ainda considerava os do PDT (5), PP (1) e PCdoB (1) como 7 "indecisos".

Quando a votação secreta foi apurada, o senador José Sarney recebeu 49 votos – até mais do que o previsto nas estimativas da imprensa. Isso indica que houve algumas "traições" – talvez entre alguns senadores do PSDB. Todos os 81 senadores estavam presentes, sem abstenções.

Esse resultado traz várias conseqüências – o senador Renan Calheiros voltará a uma posição de destaque como líder do PMDB; para o governo Lula, a "governabilidade" não deve ser afetada; e ficam reduzidas as possibilidades de o Senado aprovar o protocolo que formaliza a entrada da Venezuela como membro pleno do Mercosul.

José Sarney prometeu se esforçar para conseguir a aprovação das reformas política e tributária-fiscal e tentar reduzir o alcance e os impactos das medidas provisórias durante a sua terceira gestão como presidente do Congresso.

Para 2010, a dominação do Congresso Nacional pelo PMDB em 2009 reforça mais ainda a liderança nacional desse partido como a maior e mais organizada agremiação no Brasil – mas que, aparentemente não tem um candidato viável para presidente em 2010. A última vez que o PMDB lançou um candidato a presidente foi o ex-governador Orestes Quércia em 1994 – mas perdeu para Enéas Faria (Prona) até no seu estado de São Paulo. Porém, para 2010 o PMDB continuará a "noiva" mais cobiçada como parceiro nas coligações – presidenciais e a nível estadual.

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