quarta-feira, 18 de março de 2009

Exportações brasileiras têm previsão de queda de 11%

Jamil Chade, GENEBRA
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

As exportações brasileiras devem cair pelo menos 11% em volume em 2009, e a redução mundial do comércio já passa a ser equivalente à queda nos anos 1930. Pior: uma plena recuperação do fluxo de comércio aos níveis de 2007 e 2008 deverá ocorrer apenas a partir de 2012.

Os dados foram divulgados ontem pelo Escritório de Análise Econômica da Holanda, considerada uma entidade de referência sobre dados comerciais. A constatação é de que a América Latina terá um dos piores resultados comerciais neste ano. No mundo, a nova projeção indicou ontem uma queda do comércio de 12,5% em volume em 2009. Para 2010, os países ricos continuarão a sofrer queda das exportações.

Como o Estado antecipou no domingo, os especialistas holandeses estimavam que o comércio mundial iria encolher em mais de 10% em 2009, bem acima de qualquer previsão da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em valores, a queda seria de 22%.

"Esses números não eram vistos desde os anos 30. A partir de 1945, não há nenhum registro de quedas como a que teremos neste ano", afirmou Wim Suyker, autor da projeção. "O encolhimento do comércio é drástico e afetará em cheio a América Latina." A queda na demanda nos países ricos, a falta de créditos para exportação e ainda as medidas protecionistas devem aprofundar a crise no setor comercial.

A América Latina sofrerá uma queda de 11,5% nas exportações no ano. A redução é a maior entre todas as regiões de países em desenvolvimento. Na Ásia, a queda será de 10,75%, ante 6,5% apenas na China.

Os últimos meses de 2008 já tiveram um impacto no comércio latino-americano. O ano terminou com uma queda de 2% no volume exportado pela região ao mundo e a América Latina foi o único continente a sofrer uma contração.

"O Brasil, por sua dependência em exportações de commodities, será um dos países mais afetados", afirmou Suyker. Segundo ele, a queda deverá ser de "pelo menos" 11%. Outro país na região que sofrerá em 2009 será o México, diante de sua relação comercial de proximidade com a economia americana, em plena recessão.

Parte da explicação para o resultado negativo no Brasil está nos países ricos. A previsão é de que os Estados Unidos reduzirão as compras de produtos importados em 14% em volume em 2009. Na Europa, a queda será de 10,5%, e no Japão de 20%. Já a China, um dos principais mercados para as exportações latino-americanas, sofrerá redução nas importações de 9,5% em 2009. A queda das importações na América Latina também será substancial, com 12,5% neste ano, após um crescimento de 3,5% em 2008.

Entre os países ricos, as estimativas apontam para uma queda das exportações de 13,75% em 2009. Nos Estados Unidos, a redução será de 16% em volume, ante 23% no Japão e 12,5% na Europa. Já em 2008, o comércio dos países ricos ficou praticamente estagnado, com alta de apenas 0,7%, já afetados pelos últimos três meses do ano.

O Escritório de Análise Econômica da Holanda, porém, destaca que as exportações mundiais terão leve recuperação em 2010, com alta de 2,25% graças à recuperação da Ásia. A taxa é ainda menor que a de 2008, de 2,7%. A recuperação tímida indica que o mundo levará "alguns anos" para voltar a ter os mesmos volumes de comércio de 2007 e 2008. Segundo especialistas, isso poderia ocorrer apenas em 2012 ou 2014.

No caso da América Latina, a estimativa é de que as exportações voltem a se expandir em 2% em 2010, em comparação aos níveis baixos de 2009. A taxa será bem abaixo dos demais emergentes, que, em média, vão crescer 4,25%.

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