sábado, 14 de março de 2009

Lucro das empresas caiu à metade no final de 2008


Marcelo Rehder
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A crise reduziu à metade o lucro líquido das empresas brasileiras de capital aberto no quarto trimestre de 2008, em comparação com igual período de 2007. A queda do lucro é atribuída ao aumento de 363% nas despesas financeiras.

Lucro das empresas brasileiras cai 50%

A crise global reduziu à metade o lucro líquido das empresas de capital aberto no quarto trimestre de 2008, quando comparado com o de igual período de 2007. A conclusão é de um levantamento da empresa de informações financeiras Economática, com base nos balanços de 85 companhias não financeiras negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). A queda no lucro é atribuída ao impacto do aumento de 363% nas despesas financeiras líquidas das empresas.

"A valorização do dólar ante o real deu uma paulada nas finanças dessas empresas", disse Fernando Exel, presidente da Economática. No último trimestre de 2008, o dólar subiu 22%.

Boa parte das empresas de capital aberto estava endividada em moeda estrangeira, e a alta súbita do dólar, já no terceiro trimestre, fez sua dívida em reais ficar muito maior. Além disso, muitas delas são exportadoras e costumavam especular com derivativos, apostando na manutenção da valorização do real. Como a moeda brasileira se desvalorizou, elas perderam dinheiro com apostas em derivativos "tóxicos".

A despesa financeira líquida das 85 companhias analisadas somou R$ 9,132 bilhões , ante R$ 1,972 bilhão no último trimestre de 2007. "Elas começaram o ano com uma dívida financeira bruta de R$ 124,457 bilhões que cresceu para R$ 187,780 bilhões no fim de dezembro", diz Exel. A alta foi de 50,9%, sem a inflação do período.

O avanço da despesa financeira corroeu o lucro líquido das empresas, que desabou de R$ 8,701 bilhões, no quarto trimestre de 2007, para R$ 4,294 bilhões no último trimestre do ano passado - queda nominal de 50,6%.

Apesar das turbulências provocadas pela crise de crédito, a receita líquida das empresas teve crescimento médio nominal de 17,3%. Os analistas dizem que esse resultado se deve a uma continuidade da situação favorável no mercado doméstico que existia até o terceiro trimestre. O pior da crise, explicam, aconteceu em dezembro.

Não é à toa que os economistas não contam com uma melhora substancial na evolução do lucro das empresas no primeiro trimestre. "Se consideramos que o pior da crise começou a aparecer de forma intensa em dezembro, os três primeiros meses deste ano também vão ser muito ruins", disse Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

Segundo ele, algumas indicações indiretas nesse sentido são dadas pelos números da atividade. "Os dados da produção industrial em janeiro sinalizam que, provavelmente, vai acontecer em fevereiro uma nova queda de 10%." Para Vale, "a queda do lucro deve se espalhar e atingir empresas que eventualmente não tenham tido resultado tão ruim no quarto trimestre de 2008".

Para Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, as empresas deverão voltar a apresentar queda nos lucros, porém não tão forte quanto no último trimestre de 2008.

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