sexta-feira, 10 de abril de 2009

Crise tende a fazer classe C voltar à pobreza, diz FHC

FERNANDO CANZIAN
De Nova York
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Tucano está nos EUA para evento sobre Ruth Cardoso

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) afirmou ontem que haverá um retrocesso na tendência de migração da chamada classe D/E para a C no Brasil por conta da crise econômica.

Em sua opinião, quanto mais longeva a crise, mais forte será o retorno para a classe D/E de parte dos 41 milhões de brasileiros que fizeram a travessia para uma vida mais confortável durante o governo Lula.

"Vai haver um retrocesso em termos. Entre o pessoal atendido pelo Bolsa Família, não. Pois continuará recebendo. As pessoas ligadas ao mercado é que são o problema", disse em entrevista a jornalistas.

FHC está em Nova York participando de seminário na Universidade de Columbia em homenagem a sua mulher, Ruth Cardoso (1930-2008). Um dos temas centrais do encontro foram os trabalhos e pesquisas conduzidos pela ex-primeira-dama em favelas e comunidades pobres brasileiras.

O seminário foi idealizado pelo brasilianista e professor da Columbia Albert Fishlow, e pretende rever a obra acadêmica e política de Ruth Cardoso. A homenagem reúne até hoje cientistas sociais, ex-alunos da antropóloga, políticos e membros da sociedade civil.

"Ruth sempre foi muito próxima desses estudos, dos movimentos sociais. Ela sempre foi muito criativa e inovadora na definição e no modo de abordar esses temas, sobretudo nos anos 1970 e 1980", disse FHC.

Ele afirmou que, até antes de morrer, a mulher estava fazendo pesquisas em Cidade Tiradentes, distrito pobre paulistano. "Ruth dizia que a quantidade de "lan houses" que havia por lá é incrível. Isso muda a política e deixa os partidos em posição complicada. Os partidos eram a expressão de um grupo social organizado. Hoje, como a mobilidade social é enorme, as classes não são estáveis. Os eleitores agora se identificam muito mais com o candidato, não com o partido. É tendência da sociedade contemporânea."

Em sua homenagem à mulher, FHC afirmou que ontem foi a primeira vez que falou sobre Ruth com "calma". "Talvez porque esteja falando em inglês. Pois o maior problema é a sua ausência", disse.

No seminário, o governador de São Paulo, José Serra , amigo de longa data do casal Cardoso, enfatizou que Ruth conseguiu, por meio do conselho Comunidade Solidária, apaziguar o conflito que existia entre o Estado e a sociedade civil. "Havia a ideia de que o Estado estava sempre errado e a sociedade civil, sempre certa." Para Serra, Ruth conseguiu criar políticas sociais, onde tanto iniciativas de cima para baixo quanto de baixo para cima conviveram e tornaram-se efetivas.

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