sexta-feira, 10 de abril de 2009

Mudança de presidente faz BB perder R$ 5 bi em 2 dias

Felipe Frisch, Eduardo Rodrigues e Lino Rodrigues
DEU EM O GLOBO

Na contramão da alta da Bolsa, ações do banco caem 10,75%

A mudança do presidente do Banco do Brasil levou a instituição a perder R$5,2 bilhões, em valor de mercado, em apenas dois dias. Na contramão da alta da Bolsa de Valores de São Paulo, as ações do BB caíram 2,82% ontem, acumulando perda de 10,75% em apenas dois dias. Para analistas, a tentativa do Planalto de usar o banco para forçar a queda de juros vai prejudicar os resultados do BB. Além disso, especialistas dizem que a simples troca no comando do banco, que será presidido por Aldemir Bendine, ligado ao PT, não levará à queda do spread bancário (diferença entre o custo de captação de dinheiro e a taxa dos empréstimos), como quer Lula. O primeiro ato do BB para reduzir o spread será nos empréstimos a microempresas, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Página 17

BB já vale R$5 bi a menos

Queda das ações em dois dias, devido à troca na presidência, reduz valor de mercado a R$43 bi

A ingerência política sobre o Banco do Brasil (BB) já custou R$5,211 bilhões em valor de mercado à instituição em apenas dois dias. Essa é a desvalorização do BB na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) - considerando o preço de todas as suas ações - depois que o governo demitiu Antonio Lima Neto da presidência do banco e o substituiu por Aldemir Bendine, ligado ao PT, com o intuito de forçar a queda do spread (diferença entre o custo de captação e os juros cobrados nos empréstimos).

Na terça-feira, os acionistas do BB foram dormir com papéis de um banco que valia R$48,491 bilhões. Ontem, depois da queda acumulada das ações de 10,75% em dois dias (de 8,15% na quarta e mais 2,82% na quinta-feira), o banco passou a valer R$43,280 bilhões. No mesmo período, a Bolsa subiu 3,91% pelo Índice Bovespa (Ibovespa).

Para analistas, as ações do BB sofreram um baque irreversível: mesmo que recuperem o que perderam nos últimos dias, serão por muito tempo avaliadas com um "desconto" maior frente a seus concorrentes. Isso já ocorre com a Petrobras em relação a similares estrangeiras.

- Parece que o mercado não estava dando atenção para o fato de que o BB era controlado pelo governo. Isso, com certeza, pode mudar a forma de avaliar a ação. Se você é acionista do banco, você quer lucro. Se o governo tira isso, o preço já mudou - disse Hersz Ferman, economista da Um Investimentos.

Para Álvaro Bandeira, economista-chefe da corretora Ágora, o caso é mais gritante pelo fato de o BB fazer parte do Novo Mercado da Bolsa, segmento de companhias com relações mais transparentes com os acionistas. E a empresa deve se pautar pela competitividade, para dar retorno ao investidor, afirmou.

Para o coordenador técnico da consultoria Tendências, Márcio Nakane, a simples troca da presidência do BB não levará à queda do spread. Esta é a intenção do governo e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a afirmar que reduzir o spread tinha se tornado sua "obsessão".

- Na marra a coisa não vai funcionar. O empréstimo é um contrato financeiro com o banco, e a taxa de juros é um de seus elementos.

Já para o professor de economia da Unicamp e diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Júlio Gomes de Almeida o governo precisa "dar um empurrãozinho" para que os bancos estatais baixem suas taxas:

- Se pedir muita licença, os bancos não vão baixar os juros.

Analistas veem maior exposição a risco

O BB liderou, no período agudo da crise, a expansão do setor público no mercado de crédito. A participação das três principais instituições federais - BB, BNDES e Caixa Econômica Federal - na concessão de novos financiamentos passou de 46,9% em dezembro de 2007 para 48,7% no fim do ano passado, segundo a Austin Rating.

- É normal que os bancos privados tomem mais precauções ao emprestar em um momento de forte estresse econômico. Os bancos públicos, então, ficaram responsáveis por destravar o crédito - disse Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating.

Mas Rodrigues ressalta que o aumento na concessão de crédito pelo BB ameaça ultrapassar os limites de exposição a risco estabelecidos pelo Acordo de Basiléia. Estes dizem respeito à relação entre o crédito concedido e o patrimônio líquido de um banco. Atualmente, essa relação no BB estaria em torno de 15%, e não poderia ficar abaixo de 11%.

A avaliação dos analistas é que, para o BB expandir muito o crédito e derrubar juros e spreads, o banco teria de ser capitalizado pelo Tesouro. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou ontem ao GLOBO haver estudos nesse sentido.

- Nada mais justo do que o governo capitalizar os bancos públicos para ampliar o crédito. Mas é preciso tomar cuidado para não comprometer a qualidade das carteiras - disse Rodrigues, da Austin.

Um aporte de capital do Tesouro no BB esbarraria num obstáculo. O banco precisa aumentar seu percentual de ações em circulação, para atender ao que é exigido pelo Novo Mercado, de pelo menos 25%. Hoje, o BB tem 21,7% de seus papéis em livre circulação. E recentemente pediu mais prazo, até 2011, para se adequar a esses 25%, devido ao cenário adverso do mercado. Agora, os investidores estão ainda mais arredios às ações do banco. E, se o Tesouro fizer um aporte de capital, o BB terá de vender ainda mais papéis para atingir os 25%.

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