quarta-feira, 1 de abril de 2009

Divisão antecipada

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


As pesquisas de opinião divulgadas nos últimos dias começaram a colocar em movimento mecanismos que normalmente só entram em ação cerca de um ano antes das eleições, lá por outubro: políticos já se posicionam na tentativa de marcar posição na chapa da presumível candidata oficial à sucessão de Lula, a ministra Dilma Rousseff. Passando de 13,5% em janeiro para 16,3% em março na pesquisa CNT/Sensus, Dilma mostrou-se uma candidata competitiva, confirmando o crescimento que já havia sido detectado tanto pelo Ibope como pelo Datafolha. Foi o próprio Lula quem antecipou a campanha, para tentar fixar a imagem da Dilma candidata, e agora vai ter que conter sua base aliada, embora dificilmente vá evitar um racha.

Há informações de que o presidente do PMDB, Michel Temer, teria sondado companheiros de partido sobre essa possibilidade, ao mesmo tempo em que o deputado federal Ciro Gomes recomeçou uma investida, naquele seu estilo rude de fazer política, para se colocar como um complemento ou um oposicionista ao PT, e não a Lula.

Tanto Ciro como o governador de Minas, Aécio Neves, são os mais imediatamente atingidos pelo crescimento sustentado da ministra Dilma, o primeiro por encur tar seu espaço como uma alternativa governista, e o governador por perder, pelo menos momentaneamente, a capacidade de se impor dentro do PSDB.

O governador de Minas, no entanto, continua sendo peça-chave na definição da corrida presidencial, pois, embora não consiga até o momento firmar uma imagem nacional — e por isso quer fazer campanha pelas prévias partidárias viajando pelo país —, tem a adesão firme do eleitorado de Minas Gerais, o que pode decidir uma eleição.

O deputado Ciro Gomes foi prejudicado pela metodologia do Sensus, que, diferentemente dos outros institutos de pesquisa, não o colocou ao lado de Dilma como opção para os pesquisados, sugerindo que ele não concorrerá contra Dilma.

Provavelmente se Ciro aparecesse na lista teria mais votos que Dilma, como indicam as pesquisas do Ibope e do Datafolha. A entrevista que Ciro deu ontem mostra bem a dificuldade que vai haver numa composição com seu partido, o PSB.

Anteriormente, ele dissera que lutaria para que seu partido apoiasse o governador Aécio Neves, e ontem saiu atirando em Dilma, afirmando que ela não tem experiência nem projeto político.

Ou está se oferecendo para preencher essas lacunas, já que seu partido é da base aliada do governo, ou está acenando com uma ruptura com o PT para marcar sua campanha presidencial como um candidato a favor de Lula, mas contra o PT. Um malabarismo complicado, que parece ao alcance de um político polêmico como Ciro, mas não parece ser o objetivo do PSB.

A favor da candidatura de Dilma, dois fatos políticos surgiram nos últimos dias. O ministro do Supremo Joaquim Barbosa, que será o presidente do Tribunal Superior Eleitoral na época da eleição, já anunciou que o julgamento dos processos contra os acusados pelo mensalão só acontecerá em 2011, o que deixará o ex-ministro José Dirceu mais à vontade para continuar suas articulações regionais, e também dará tempo para o ex-tesoureiro Delúbio Soares voltar ao PT e tentar se eleger deputado federal.

A pesquisa Sensus, por outro lado, revelou um paradoxo que só será totalmente compreendido no decorrer da campanha presidencial.

Ao mesmo tempo em que perdia popularidade, Lula via crescer seu poder de influir na escolha do eleitorado.

A popularidade do presidente continua nas alturas em todas as três pesquisas, mas é incompreensível que sua influência aumente no mesmo momento em que perde cerca de 10% do índice de popularidade.

Segundo a pesquisa, 50,1% dos eleitores votariam no candidato apoiado por Lula.

Em dezembro, eram 44,5%.

Aliás, em matéria de incongruências, essa pesquisa do Instituto Sensus está cheia.

Embora tenha crescido o índice de críticos ao governo, cresceu também o número de pessoas que acreditam que o país sairá da crise mais forte do que entrou, justamente o mesmo sentido da catilinária governista.

O governador de São Paulo, José Serra, aparece nas três pesquisas como o francofavorito, e o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, ousou lembrar que, nas eleições de 2002 e 2006, o candidato que estava nessa posição nesse momento, que era Lula, acabou vencendo a eleição.

Montenegro, aliás, já deu entrevistas dizendo que 2010 é a vez de Serra se eleger presidente.

De fato, o governador tucano apresenta até mesmo crescimento da preferência dos pesquisados mesmo se recusando a antecipar a campanha presidencial, para desespero de muitos em seu partido.

Enquanto a ministra Dilma Rousseff se beneficia da exposição de sua imagem na campanha das obras do PAC, em uma evidente burla do espírito da legislação eleitoral que não encontra na Justiça um freio, os demais candidatos não governistas, inclusive os aliados, permanecem à sombra.

Serra advoga esse recolhimento das armas para se dedicar a governar São Paulo em meio à crise econômica, o que pode lhe valer uma imagem de político sério, comprometido com seus deveres de governante, na hora da campanha. E, a pretexto de estar divulgando as ações do governo, já patrocinou anúncios nacionais da Sabesp, o que também foi uma maneira de burlar a lei eleitoral.

O fato é que as pesquisas de opinião vão firmando uma situação que dificilmente será revertida até o próximo ano, com a polarização entre os candidatos do PT e PSDB que poderá ser muito influenciada pelas consequências da crise econômica no bolso do cidadão.

Enquanto o governo insistir em prever um crescimento da economia maior do que poderá entregar no fim do ano, maior a chance de provocar uma frustração em seu próprio eleitorado.

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