quinta-feira, 23 de abril de 2009

FMI revê projeções e espera que o Brasil sofra uma contração de 1,3%

Ricardo Balthazar, de Washington
DEU NO VALOR ECONÔMICO

O Fundo Monetário Internacional reviu de maneira drástica suas projeções para a economia global e previu ontem que o Brasil sofrerá uma contração de 1,3% neste ano, como resultado do prolongamento da crise no sistema financeiro e da recessão em que o mundo mergulhou no fim do ano passado.

As previsões do Fundo para o Brasil são bem mais pessimistas do que as feitas pelo governo e por muitos bancos brasileiros. O último relatório do Banco Central sobre a evolução da inflação, publicado em março, previu uma expansão de 1,2% neste ano. Os bancos esperam uma contração de 0,49%, segundo a média das projeções coletadas pelo BC na semana passada.

Na avaliação do FMI, o impacto da crise tem sido subestimado pelo governo e pelos bancos brasileiros. Os economistas do Fundo acreditam que os choques provocados pelos problemas existentes nas economias avançadas estão sendo transmitidos para os mercados emergentes com mais força do que observadores com uma visão menos abrangente da economia global são capazes de perceber.

"Não é que o Brasil esteja particularmente fraco", disse o diretor-adjunto do departamento de pesquisa do FMI, Charles Collyns, numa entrevista em que os economistas da instituição apresentaram a nova edição do seu relatório semestral sobre o cenário econômico global. "As projeções para o Brasil foram rebaixadas em linha com nossas projeções para a economia mundial."

Num sinal da rapidez com que a situação se deteriorou nos últimos meses, o Fundo tem revisto seus números com muito mais frequência. Em janeiro, o FMI disse que o Brasil cresceria 1,8% neste ano e 3,5% no próximo. Agora, seus economistas calculam que o país crescerá apenas 2,2% no ano que vem, pouco acima da média mundial.

O relatório do Fundo indica que várias forças que deram impulso ao crescimento da economia brasileira antes da crise estão agora em refluxo. O comércio internacional deve sofrer uma retração de 11% neste ano e ficará estagnado no próximo, diz o FMI. As exportações dos países emergentes devem diminuir 6,4%, com a redução do consumo nos países avançados.

Preços de matérias-primas, produtos agrícolas e outras mercadorias que ajudaram o Brasil a aumentar suas exportações antes da crise continuam em níveis historicamente elevados, mas deverão sofrer uma queda acentuada neste ano. O FMI prevê uma redução de 27,9% nos preços de uma cesta composta por várias commodities. Os preços do petróleo poderão cair 46,4%.

Na opinião do FMI, a economia mundial só voltará a crescer depois que for restabelecida a saúde do sistema financeiro dos países avançados, o epicentro da crise atual. A falta de crédito e as dificuldades que empresas e consumidores têm encontrado para renegociar suas dívidas deverão continuar reprimindo o consumo e os investimentos por um bom tempo, prevê o Fundo.

As novas projeções da instituição dizem que a economia mundial sofrerá uma contração de 1,3% neste ano e terá uma expansão de 1,9% no próximo, abaixo dos 3% projetados em janeiro. A freada será brusca nos países ricos, onde o FMI prevê uma contração de 3,8% neste ano e crescimento zero no próximo. Países emergentes que continuam crescendo, como a China e a Índia, estão se expandindo num ritmo mais vagaroso que o observado antes da crise.

O Fundo prevê uma recuperação lenta, que poderá começar em meados do ano que vem e levará tempo para ganhar velocidade. O FMI acredita que medidas como os vários planos de estímulo econômico lançados nos Estados Unidos e em outros países nos últimos meses ajudarão a evitar uma recessão mais profunda, e o relatório sugere que novas iniciativas desse tipo poderão ser necessárias em 2010.

Restaurar a confiança no setor financeiro será essencial para evitar um ciclo vicioso que pode prolongar a crise, na avaliação do FMI.

A fragilidade dos bancos dos países avançados encolheu dramaticamente os fluxos de capital externo para países emergentes como o Brasil. O FMI prevê que neste ano os mercados emergentes enfrentarão uma saída líquida de capitais privados de US$ 190 bilhões, com a fuga de investidores que tinham apostado nas bolsas de valores e dificuldades para rolar dívidas contraídas com bancos estrangeiros. De acordo com o Fundo Monetário, o fluxo de capital externo privado para países emergentes atingiu um pico em 2007, com US$ 617 bilhões em termos líquidos.

Economias do Leste Europeu que se endividaram muito nos últimos tempos serão mais atingidos do que países como o Brasil, que reduziu seu endividamento externo. Mas o impacto da crise será significativo mesmo assim. O Fundo prevê que a América Latina receberá neste ano um fluxo líquido de capital externo de apenas US$ 13 bilhões, um décimo do volume de recursos observado em 2007.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse em Buenos Aires que as previsões dos organismos internacionais estão "muito voláteis e mudando muito em função dos últimos acontecimentos". "É prematuro chegarmos a uma conclusão baseados em cada nova previsão dos organismos internacionais", afirmou. Meirelles disse que o Brasil tem reagido bem à crise, a indústria automobilística está se recuperando e, embora considere a situação econômica mundial "grave", disse que o país está "forte e bem preparado" para enfrentar a crise. Meirelles não quis antecipar qual a projeção de crescimento do Banco Central que será divulgada em junho.

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