quinta-feira, 23 de abril de 2009

Recessão verde-amarela

Martha Beck
DEU EM O GLOBO

Ministério da Fazenda admite PIB negativo no 1o- trimestre, mas aposta em crescimento anual

BRASÍLIA O fraco desempenho da indústria no início de 2009 — com retração de 17,2% na produção em janeiro e fevereiro — fez o Ministério da Fazenda admitir que o Brasil fechará o primeiro trimestre em recessão técnica — configurada quando há retração do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país) por dois trimestres consecutivos. Mesmo assim, os técnicos ainda consideram que a economia vai encerrar o ano com crescimento, na contramão do Fundo Monetário Internacional (FMI), que anunciou ontem prever queda de 1,3% para o PIB brasileiro em 2009.

— Existe uma grande possibilidade de o Brasil fechar o primeiro trimestre em recessão técnica diante do resultado da produção industrial.

Mas nós ainda acreditamos que vamos ter crescimento positivo este ano — disse ao GLOBO um integrante da equipe econômica.

Em janeiro, a produção industrial recuou 17,2% em relação ao mesmo mês de 2008. Já em fevereiro, esse quadro continuou ruim, com queda de 17% na mesma comparação.

— Muito dificilmente outros setores da economia vão ter condições de reverter a queda na indústria registrada até agora — admitiu a fonte.

No último trimestre de 2008, o PIB recuou 3,6% em relação ao trimestre imediatamente anterior, o pior resultado desde a recessão pós-Plano Collor.
Como no início de 2009 não houve uma recuperação da indústria, as chances de recessão técnica aumentaram. Segundo um técnico, a projeção do FMI já era esperada pela equipe econômica e segue a de várias consultorias, de retração entre 1% e 1,5% este ano.

Fundo ‘pode errar de novo’, diz ministro

Na avaliação da equipe econômica, as consultorias e o FMI fazem suas projeções com base em modelos que não refletem mudanças estruturais recentes na economia brasileira, como a redução dos juros e as desonerações tributárias. Desde o início da turbulência internacional, as desonerações do governo já superam R$ 12 bilhões.

As mais recentes foram a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a linha branca (máquinas de lavar, fogões e geladeiras) e a retirada da Petrobras da meta de superávit primário. Com isso, a meta de 2009 caiu de 3,8% do PIB para 2,5%. Já a de 2010 baixou de 3,8% para 3,3%.

— No passado, em momentos de crise, a política do governo brasileiro era pró-cíclica. Agora, ela é anticíclica, com redução dos juros e desonerações.

Essas mudanças estruturais não estão refletidas nos modelos (de projeção) — disse o técnico.
O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, foi mais direto ao refutar a projeção do Fundo: — O governo está fazendo o dever de casa e tomando todas as medidas necessárias para aquecer a economia.

Portanto, acreditamos que o FMI, que já errou tantas vezes nessa crise, irá errar de novo.

A projeção oficial do Ministério da Fazenda é de crescimento de 2% este ano. Mas deve ser revista para baixo até maio, quando o governo envia ao Congresso o novo decreto de programação orçamentária. Embora a equipe da Fazenda evite citar um número para 2009, é possível que a projeção fique próxima da do Banco Central: 1,2%. Para 2010, a estimativa de expansão, de 4,5%, também deve ser reduzida. Para o ministro Guido Mantega, que no início do ano dizia que o país cresceria 4% em 2009, o pior da crise global já passou, mas a recuperação da economia só ganhará força a partir do terceiro trimestre. A área econômica estima que a economia encerrará 2009 crescendo entre 3% e 4%, o que evitaria a retração do PIB anual.

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