quarta-feira, 24 de junho de 2009

Lula defende impostos altos

Luiz Ernesto Magalhães
DEU EM O GLOBO


Para presidente, carga tributária elevada é necessária para Estado ajudar os mais pobres
Depois de defender, na última semana, a legitimidade da eleição iraniana, as irregularidades no Senado e a legalidade do desmatamento, ontem foi a vez de o presidente Lula justificar a alta carga de impostos do Brasil, uma das maiores do mundo. "Um país que tem uma carga tributária de 10% não tem Estado", disse, ao participar do lançamento da Zona Portuária do Rio. Ele acusou os empresários de não repassarem o corte de impostos, como IPI, para preços. "É melhor pegar esse dinheiro e dar para os pobres", disse.

Direto no bolso?

CARGA PESADA

Lula defende peso dos impostos e critica empresários que não repassam desonerações

LULA ABRAÇA o governador Sérgio Cabral: "Eu às vezes desonero e vocês (os empresários) não repassam para o produto"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem no Rio o atual nível da carga tributária no país para beneficiar a população mais pobre. Segundo o presidente, é melhor pegar esse dinheiro e distribuir entre os pobres do que diminuir os impostos cobrados. Num momento em que a equipe econômica estuda prorrogar a redução no Imposto sobre Produtos Industriais (IPI) para automóveis e eletrodomésticos da linha branca, Lula criticou empresários que, segundo ele, muitas vezes são beneficiados por desonerações tributárias e não repassam isso para o consumidor:

- Esses dias eu tive uma reunião com o ministro da Fazenda e muitos empresários. Falei para eles: em vez de a gente ficar desonerando o que a gente está desonerando, é melhor pegar esse dinheiro e dar para os pobres. Eu às vezes desonero e vocês não repassam para o custo do produto - disse Lula, durante o lançamento do projeto de revitalização da Zona Portuária do Rio.

O presidente prosseguiu:

- Nós já desoneramos, neste meu mandato, R$100 bilhões. Imagine R$100 bilhões na mão do povo brasileiro, como essa gente ia comer.

Segundo Lula, cargas tributárias menores inviabilizam o Estado como executor de políticas públicas. Quando Lula assumiu seu primeiro mandato, em 2003, a carga tributária era de 31,4% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país). No ano passado, segundo estimativas do economista Amir Khair, a carga foi de 35,1% do PIB.

- Sabe qual é a carga tributária da América Central? Em torno de 9%, 11%, 10%. Um país que tem uma carga tributária de 10% não tem Estado. O Estado não existe, não pode nada.

Para Lula, ao investir na área social, o governo sabe que este dinheiro não vai acabar em aplicações financeiras:

- Cada real que você der na mão de uma pessoa pobre volta automaticamente para o comércio, para o consumo e reativa a economia. Muitas vezes você dá R$1 milhão para uma pessoa, que coloca no banco, não faz nada. Só ele vai ganhar dinheiro. Na hora que você dá R$100 para cada pobre em meia hora volta para o comércio. Nem que ele vá para um boteco tomar uma canjebrina (termo nordestino para cachaça). Não fica no banco, não vai para derivativos.

Lula acrescentou que o fim da CPMF, que fez a União perder R$40 bilhões em arrecadação, não levou a uma redução nos preços para o consumidor.

- Perdemos R$40 bilhões da Saúde e não vimos ninguém abater do preço esse 0,38% da CPMF. A gente queria levar médico e dentistas nas escolas. Mas aí disseram: "Não, se a gente deixar R$40 bilhões por ano na mão do Lula, ele vai ganhar as eleições". Ganhei, e vamos ganhar outra vez.

Em entrevista coletiva após a cerimônia no porto, Lula afirmou que o governo concede desonerações onde tem certeza de que isso representará um aumento no consumo. E citou como exemplo a redução do IPI para eletrodomésticos da linha branca, cujo prazo termina dia 30. Lula não informou se o prazo será prorrogado.

À tarde, em São Paulo, Lula afirmou que o país não pode "gastar o que não tem" para sediar a Copa do Mundo, em 2014, lembrando que o campeonato acontece apenas por 30 dias.

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