domingo, 7 de junho de 2009

“O movimento sindical vive crise de identidade”

Paulo Augusto
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Ex-sindicalista, o deputado Paulo Rubem diz que a eleição de Lula anestesiou os movimentos sindicais e critica o fato de as entidades de defesa dos trabalhadores receberem dinheiro do governo

Combatividade, manifestações nas ruas, protestos, greves gerais. O cenário do movimento sindical no País, comum a partir do final dos anos 1970 – com o regime militar ainda em vigor – e que percorreu as décadas de 1980 e 1990 – dos governos José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso –, parece ter sofrido uma transformação ao longo do governo Lula. Acostumadas a conviverem como oposição, centrais de trabalhadores – como a CUT – se viram diante de um dilema: como manter uma postura de defesa do trabalhador sem se voltar contra um presidente originário do movimento sindical e que sempre manteve um discurso voltado para o operariado?

Ex-sindicalista, fundador do PT e hoje deputado federal, Paulo Rubem (PDT) observa inúmeras diferenças entre os movimentos sindicais na sua época e atualmente. Mais que isso: alerta que os sindicatos não souberam lidar com a eleição de Lula e admite que muito do que acontece quase que passivamente atualmente teria um tratamento bem diferente se o governo fosse outro.

“O fato de Lula ter sido eleito presidente anestesiou o movimento sindical. O movimento ficou por um certo tempo sem saber como agir, embora tenham acontecido algumas greves. Existem questões, como a dos salários e da formação professores, que se fosse em outros governos, tenho absoluta certeza de que haveria uma movimentação muito maior, quem sabe até uma greve nacional”, analisou.

O pedetista observa várias diferenças entre o sindicalismo do tempo em que era presidente da Associação dos Professores do Ensino Oficial de Pernambuco, no final dos anos 70, e o atual.
“Primeiro, eram poucos sindicatos que existiam na minha época, com diretorias eleitas de forma combativa. Naquele período, em 1979, 1980, só havia em Pernambuco a nossa associação e a dos vigilantes. Segundo, nossas diretorias eram pequenas. Hoje são diretorias muito grandes.

Naquela época, não tinha isso de sindicato anunciar em jornal, em outdoor.”

Uma das grandes críticas feitas por Paulo Rubem aos sindicatos diz respeito aos repasses que recebem do governo federal – o que causaria uma perda de autonomia na hora de ir lutar pelos interesses do trabalhador. “O movimento sindical vive uma crise de identidade”, cutucou.

“Os movimentos sindicais foram transformados em parceiros do governo, o que se tornou mais claro recentemente, com a aprovação do imposto sindical. Isso vai transformar as centrais numa grande máquina, pois dificilmente as pessoas que as lideram vão sair do comando”, alertou.

Para o deputado, os sindicatos não deviam receber dinheiro do governo, seja do Ministério do Trabalho, do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), ou do imposto sindical. “Um dia acaba se criando uma oligarquia sindical. E o Brasil continua desigual, com problemas como distribuição de renda e tantos outros”.

Embora admita pontos positivos no governo – “uma política real de valorização do salário mínimo, de valorização do Estado” – Paulo Rubem destaca que os movimentos não podem perder sua essência. “A eventualidade de uma greve não pode ser vista pelo sindicatos como algo irresponsável. O direito do trabalhador tem que ser defendido com unhas e dentes”.

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