quinta-feira, 16 de julho de 2009

Caso Sarney: O ganho buscado por Lula e a nova queda do PT na opinião pública

Jarbas de Holanda
Jornalista

A undécima e enfática manifestação em defesa de José Sarney, feita por Lula na reunião ministerial de anteontem, dias após forçar a mudança de postura, contrária, da bancada petista, mostrou que nem a persistência das denúncias contra o presidente do Senado, nem o impacto delas nos segmentos melhor informados da sociedade o desviam da prioridade política básica do Palácio do Planalto: contar com o apoio formal do PMDB à candidatura governista na disputa presidencial do próximo ano. Por isso, embora preocupado com a sequência e a amplitude das denúncias, ele as avalia, desde o começo, como úteis por favorecerem seu objetivo, contribuindo para o estreitamento de relações com a banda peemedebista dos senadores, enquanto trabalha a hipótese da indicação de uma das lideranças da banda da Câmara dos Deputados, o presidente e paulista Michel Temer, para vice de Dilma Rousseff (especialmente se o titular oposicionista for o governador de São Paulo José Serra).

O papel do PSDB no desencadeamento da ofensiva contra Sarney – por meio da assunção e da ampliação por parte do líder Arthur Virgílio de dados fornecidos pelo petista Tião Viana – e a adesão do DEM a ela, com a quebra da aliança antipetista montada para a eleição da mesa da Casa, esses dois ingredientes conferiram às denúncias uma clara dimensão oposicionista. Que propiciou a Lula trocar o respaldo a Sarney por antecipação já agora pelo PMDB do Senado – em lugar de manobras protelatórias e ambíguas que vinha fazendo – de compromisso definido com o projeto governista para a sucessão presidencial Dentro da perspectiva de que esse projeto ganhe caráter plebiscitário em torno de um lulismo que combine a elevada popularidade do presidente com a imagem centrista do PMDB (e obviamente com seu generoso tempo de propaganda gratuita). Perspectiva na qual ao PT cabe apenas função de ator coadjuvante, já deixado à margem ao atrapalhar um episódio importante da montagem do projeto, como se evidenciou na crise do Senado.

No plano partidário, esse episódio tem como principais vitimas as lideranças do PT dependentes do voto de opinião dos grandes centros urbanos, sobretudo os das regiões Sul e Sudeste. Já duramente afetadas pela crise do mensalão, em 2005, elas sofrem novo e forte desgaste na chamada opinião pública com as posturas contraditórias assumidas pelos seus representantes no Senado: do radical “fora Sarney”, enunciado bombasticamente por Aloizio Mercadante, ao enquadramento pró-Sarney imposto pelo presidente Lula. Na verdade, a postura inicial articulava uma oportunista retórica ética ao propósito concreto de conquistar espaço na direção do Senado provocando uma implosão do acordo PMDB – DEM que a elegeu meses atrás. Esse propósito inviabilizou-se ao ser rápida e veementemente rejeitado pelo Planalto, com os efeitos de divisão da bancada petista e desqualificação de seu líder. E a retórica frustrou-se por inteiro em face da péssima repercussão social do enquadramento da bancada pelo presidente Lula.

A forte debilitação do PT no Sudeste e no Sul registrada nas últimas eleições estaduais e nas capitais das duas regiões, o enfraquecimento político vivido agora em decorrência da subordinação à prioridade conferida por Lula à armação de palanques regionais para a campanha de Dilma Rousseff em torno de candidatos a governadores indicados por outros partidos, principalmente pelo PMDB, e o novo desgaste provocado pela crise do Senado, tudo isso poderá ser compensado, quantitativamente, com a capitalização eleitoral em 2010 da popularidade do presidente e dos amplos e crescentes programas assistencialistas do governo, em especial no Norte e no Nordeste e em grau menor na periferia das diversas regiões metropolitanas. Mas isso através da acentuação do processo, já em curso, de mudança do antigo PT ideológico e forte no voto de opinião para um partido eleitoreiro dependente do sucesso e da persistência do lulismo, com votação expressiva nas áreas periféricas mas com reduzida e decrescente influencia nas camadas médias e sem maior peso na política nacional.

Um bom indicador desse processo é a erosão do protagonismo que ele tinha em São Paulo, onde hoje não conta sequer com um nome competitivo para a disputa do governo do estado. E tenta resistir aos sinais emitidos por Lula em favor do apoio da legenda à alternativa da candidatura de Ciro Gomes, que cumpriria o papel de palanque unificado da campanha presidencial de Dilma Rousseff num estado amplamente dominado pelo PSDB.

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