sexta-feira, 17 de julho de 2009

Crise faz criação de empregos formais no país despencar 78% no semestre

Geralda Doca
DEU EM O GLOBO

Foram abertas 299 mil vagas com carteira, pior resultado da última década

BRASÍLIA. A crise econômica levou o mercado formal de trabalho brasileiro a registrar, no primeiro semestre de 2009, seu pior desempenho nos últimos dez anos. Foram criados 299.506 empregos, o que representou queda de 78% na comparação com o registro de igual período do ano passado (1,36 milhão). Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), em junho foram abertas 119.495 vagas - abaixo das 136 mil anunciadas anteontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e das projeções do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, de um número superior ao de maio (131.557).

O motivo para o desempenho aquém do imaginado, explicou o ministro, foi a indústria de transformação, que contratou menos que o esperado. Este é o setor mais atingido pela crise, com uma queda de produção no semestre superior a 13%.

- Em maio, esperávamos uma recuperação melhor da indústria, principalmente em São Paulo e no setor de produção de alimentos, o que não ocorreu - lamentou Lupi.

Com apenas duas mil contratações no mês passado, a indústria ficou atrás dos setores agropecuário, que registrou saldo de 57.169 vagas, e de serviços, com 22.877. Também perdeu para a construção civil (18.321) e o comércio (17.522). Os subsetores do parque fabril mais prejudicados são as indústrias metalúrgica, mecânica, de materiais de transporte e de borracha, fumo e couros.

Indústria fecha 144 mil postos. Serviços contratam

No acumulado do ano, a indústria também foi o segmento que mais fechou postos de trabalho, com saldo negativo de 144.477 vagas. O comércio aparece em segundo lugar, com a eliminação de 32.978 postos. O setor que está puxando o emprego formal neste ano é o de serviços, que respondeu pela contratação líquida de 235.435 trabalhadores com carteira assinada, com destaque para ramos ligados ao turismo.

Apesar da desaceleração do mercado formal de trabalho no semestre, Lupi prevê que 2009 fechará com saldo positivo de um milhão de vagas, apostando na recuperação da produção industrial a partir deste mês. Segundo ele, há indicativos nesta direção, como a redução no nível dos estoques industriais na esteira dos incentivos dados pelo governo, como a redução do IPI para automóveis e artigos da linha branca.

Pela segunda vez consecutiva, o Caged mostrou elevação no nível de emprego formal em todas as regiões do país, com destaque para o Sudeste, com abertura líquida de 72.002 postos. Na região, Minas Gerais respondeu pela maior geração de empregos com carteira, 45.596 contratações, devido principalmente à safra do café. São Paulo ficou em segundo lugar, com 27.602, seguido pelo Rio de Janeiro, com 5.455 vagas.

Já no Espírito Santo houve a eliminação de 6.651 mil postos de trabalho. O Distrito Federal e o Rio Grande do Sul também registraram saldos negativos.

Interior emprega mais. Renda da mulher é menor no país

Devido ao desempenho do setor agropecuário, as maiores oportunidades de emprego no mês passado se concentraram no interior do país, que respondeu por 80.406 postos de trabalho, contra 25.535 no conjunto das nove áreas metropolitanas pesquisadas (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre).

Ao divulgar os dados do Caged, Lupi aproveitou para informar que o salário médio do mercado formal de trabalho subiu 0,57%, na comparação entre os primeiros semestres de 2008 e 2009, saindo de R$741,57 para R$745,80. As mulheres, no entanto, recebem 89% do valor auferido pelos homens com carteira assinada. Sem entrar em detalhes, Lupi revelou que os números mostram que os salários pagos aos admitidos são inferiores aos dos demitidos.

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