quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Lula e Sarney. Dependência recíproca e prioridade total a aliança em 2010

Jarbas de Holanda
Jornalista


As abrasivas reações dos senadores Renan Calheiros e Fernando Collor a mais uma proposta do colega Pedro Simon para renúncia do presidente José Sarney e a enfática recusa por este da possibilidade de afastamento do cargo, fatos registrados na segunda-feira e seguidos ao longo do dia de hoje pelo clima de radicalização predominante na primeira reunião do Conselho de Ética (que antecipa uma decisão de arquivamento das representações do PSDB e do PSOL para julgamento de Sarney, a ser formalizada na próxima segunda pelo presidente Paulo Duque), bem como por novos e acalorados discursos proferidos em plenário, estes sucessivos eventos de alta carga conflitiva mudaram completamente a perspectiva do final da semana passada de um entendimento político para a superação da crise do Senado, baseados em possíveis licença de Sarney e sua substituição para um nome de consenso – o de Francisco Dornelles.

A substancial alteração de cenário deveu-se no essencial a um novo afinamento tático e estratégico entre o presidente Lula e a banda do PMDB do Senado (com apoio da outra, a da Câmara dos Deputados). Afinamento que vincula estreitamente à sustentação pelo Palácio do Planalto do comando do Senado por parte da bancada majoritária do PMDB a recíproca da garantia dos dois interesses básicos do governo e do presidente da República. Primeiro, o controle das principais deliberações da Casa (das regulares, a respeito de matérias importantes, como as ligadas ao pré-sal, e das relativas a CPIs, como a da Petrobras). Segundo, a preparação do apoio formal da direção do partido à candidatura governista no pleito presidencial de 2010.

Bem atualizada a pesagem dos ingredientes da interdependência desses interesses e objetivos, Lula retomou com afinco as ações para a defesa de Sarney, dentre elas forte mobilização da base governista e convocação do ex-ministro José Dirceu (que estava no exterior) para ajudá-lo a enquadrar a bancada de senadores petistas, na qual dos 12 integrantes ele contava com o alinhamento de apenas quatro – Ideli Salvatti, Delcídio Amaral, Paulo Paim e João Pedro, suplente do Amazonas. Quanto ao desgaste gerado por tal defesa, Lula avalia que o seu próprio pouco ou nada afetará os elevados índices de popularidade de que dispõe, e que o do PT nos grandes centros urbanos poderá ser compensado pelos dividendos de um sucesso da ampla aliança que articula para a disputa presidencial. Por seu turno, o líder do PMDB, Renan Calhediros, e seus aliados sentiram-se, com a reiteração do respaldo de Lula, em condições de partir para duro contraataque à cobrança de afastamento ou renúncia de Sarney da presidência, promovidas pelas lideranças do PSDB, do DEM, de parte da bancada do PT e por dissidentes peemedebistas, Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos, do PDT, Cristóvam Buarque, e do PSB, Renato Casagrande.

Efeitos do contraataque de Collor e Renan e das novas ações de Lula - Do Globo, de hoje, seção Panorama Político: ‘Dirigentes governistas e da oposição avaliam que houve uma baixada de bola geral no Senado. A radiografia de ontem: 1) O PT desistiu de reunir a bancada. 2) O PSDB não viabilizou nota conjunta (com PSB, PDT e PT) contra Sarney. 3) O DEM não apresentou nova representação contra Sarney e vai avaliar quais das 11 existentes são pertinentes. 4) O PMDB não entrou com representação contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio. 5) Virgílio fez um discurso vários decibéis abaixo do que é seu costume. 6) Pedro Simon disse que ficou com medo de debater com Fernando Collor”.

Outro fator (além da alta popularidade decorrente basicamente dos programas sociais do governo) que deve pesar na subestimação pelo presidente Lula do desgaste provocado por sua postura diante das sucessivas e consistentes denúncias da mídia contra Sarney e família, bem como alimentar sua expectativa de progressivo esvaziamento da crise do Senado, é o contraste existente entre o acirramento de tais denúncias e os vários indicadores favoráveis sobre as atividades e as perspectivas econômicas, internas e externas. Destaques do gênero nos jornais de ontem: do Valor – “Indústria cresce 3,4% no 2º trimestre” e “Queda do juro reforça demanda por máquinas”; do Estadão (seção Mercados) – “Dólar tem menor valor em 10 meses. Moeda fecha a R$ 1,835, no mercado à vista, enquanto a Bovespa registra a maior pontuação em quase um ano”; da Folha de S. Paulo – “Ações atingem maiores cotações do ano” e “Dados positivos sobre balanços e percepção crescente de que a recessão global pode estar perto do fim animam os mercados”.

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