segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A Greve dos Trabalhadores em Educação na Conjuntura Estadual

Vagner Gomes de Souza[1]

Estamos na segunda greve por tempo indeterminado da Educação do atual Governo Estadual. A atual administração estadual assumiu o compromisso com a categoria de incorporar a gratificação do Nova Escola na íntegra até o final de seu mandato, porém as promessas cederam lugar a ausência de diálogo. A falta de democracia na rede estadual de ensino se esboçou a partir da suspensão das consultas para Direção Escolar feita pela comunidade escolar. Aos poucos, os gestores escolares estão sendo substituídos por “apadrinhados” políticos como nos tempos do “chaguismo”.

A liberdade da expressão sindical está sob um “fio de navalha” uma vez que os Diretores indicados agem em cada caso para desqualificar a participação da militância sindical nas escolas. Há honrosas exceções, mas a cultura política do conservadorismo é muito forte na comunidade escolar da rede pública de ensino. Portanto, não se espantam os baixos índices de adesão ao movimento grevista diante de uma liderança sindical radicalizada. A polarização entre o Governo Estadual e as lideranças do movimento sindical precisa ser superada por um canal permanente de negociação.

A Direção do SEPE está hegemonizada pelos simpatizantes do CONLUTAS e da INTERSINDICAL o que leva a militância da CUT ficar sob um “fogo cerrado” da intransigência do Governo Estadual e da radicalização. Observamos que o perfil da categoria da rede de ensino está se transformando há anos com a inclusão de novos quadros emergentes das classes subalternas ao contrário de antigos militantes universitários associados ao catolicismo popular. Esse novo perfil demonstra uma crise na qualidade da luta dos trabalhadores em educação que não ampliam seu discurso para o conjunto dos usuários das escolas públicas.

Uma greve prolongada com baixa adesão da categoria é um indicador da força do Governo Estadual em superar seus baixos índices de aprovação na sociedade. Ao contrário da “Aprovação automática” na rede municipal do Rio de Janeiro, que saiu do espaço escolar e ocupou o cenário eleitoral em 2008, a incorporação do Nova Escola já foi tema em 2006 e não mobiliza a sociedade em geral. Na verdade a cultura do usuário da rede pública de ensino estadual é conformista em relação a escassez de qualidade e prestação de serviços.

Uma nova forma de abordar um projeto estadual de educação deve ser formulada para além dos vetores “corporativistas” dos trabalhadores e “clientelistas” dos gestores indicados. A participação dos parlamentares estaduais no debate desse tema impõe uma valorização da participação do cidadão. Se possível, as audiências públicas da Comissão de Educação da ALERJ poderiam ser feitas em pólos de maiores simbolismo para a rede estadual de ensino e viabilização a presença de usuários que estão distantes do cotidiano da política.


Esse é o momento de incentivar o movimento comunitário a abraçar o tema da educação e impulsionar o surgimento de lideranças de novo tipo. Por exemplo, a Baixada Fluminense sofre com uma falta crônica de professores o que justificaria uma Audiência Pública na localidade. A participação da sociedade nas instituições democráticas contribuirá na educação do cidadão para a prática da radicalidade democrática. A derrota política do continuísmo estadual é possível e merece muito mais do que repetir velhos “slogans”.


[1] Professor de História na rede pública de ensino. Ex-Diretor do SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais em Educação).

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