quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Serra apressa seu projeto do Palácio do Planalto mas ainda mantém a alternativa de SP

Jarbas de Holanda
Jornalista


Praticamente garantida a recuperação da economia e parecendo superadas as dúvidas a respeito das condições de saúde da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o problema, persistente, que cerca sua candidatura presidencial é a incerteza sobre o grau de transferência para o nome dela da alta popularidade do presidente Lula, existente entre os caciques do PMDB, os dirigentes de outros partidos aliados e no próprio PT. Incerteza reforçada por números das pesquisas mais recentes indicativos de interrupção do crescimento e até de queda dos seus modestos índices de intenção de votos. E que podem refletir já efeitos da emergência e da reemergência das pré-candidaturas de Marina Silva e Ciro Gomes, capazes de inviabilizar, se confirmadas, o cenário de polarização, plebiscitária, entre o lulismo e os tucanos, programado pelo presidente.

Estes elementos do processo preparatório da disputa político-eleitoral maior de 2010 estão na base da reafirmação – nos últimos dois meses – do projeto presidencial do governador de São Paulo, José Serra. Reafirmação que, curiosamente, não vem sendo contraposta, mas ao contrário facilitada, pelo revigoramento simultâneo da outra pré-candidatura tucana, a de Aécio Neves. Este com base em análise coincidente de boas possibilidades oposicionistas e orientado pela conveniência de estreito relacionamento entre os dois. Com a distinção de que Serra avalia que com a consolidação de tais possibilidades esvaziará o apoio formal do PMDB a Dilma Rousseff e se beneficiará de expressiva divisão do partido, enquanto Aécio segue considerando possível evitar esse apoio ou até reorientá-lo – bem como o de outros partidos da base governista – para o seu nome, caso seja o indicado pelo PSDB.

O relacionamento cooperativo dos dois foi bem evidenciado nas promessas de apoio recíproco explicitadas anteontem na inauguração da Casa de Minas Gerais em São Paulo. E deverá ser mantido na multiplicação de viagens aos estados e de articulações por parte de um e de outro – Serra buscando preservar os índices que lhe propiciam folgada liderança nas pesquisas, e Aécio, ampliar os seus, ainda muito pobres, e afirmar-se como alternativa com maior capacidade de aglutinação de funções políticas. Esforços paralelos que poderão ser interrompidos por uma antecipação para o começo de 2010, com ou sem prévias partidárias, da escolha consensual do candidato. Sem que José Serra tenha ainda descartado o seu Plano B – a disputa da reeleição. Embora já esteja dando passos concretos em São Paulo para fortalecer o Plano A, ao preparar o apoio a Geraldo Alckmin como candidato a governador – que, segundo reportagem da Folha de anteontem, já estaria definido por ser ele considerado o melhor nome (em face do largo favoritismo que tem nas pesquisas) para encabeçar uma aliança com o PMDB e o DEM, além de possivelmente o PTB, e para ampliar a vitória no estado da candidatura presidencial serrista.

Mas uma variável importante dos estímulos que a movimentação de Serra e Aécio tem recebido – a performance precária nas pesquisas da campanha governista de Dilma Rousseff – poderá mudar negativamente para eles até o final de setembro em face dos números de novos levantamentos da opinião do eleitorado, que estão sendo esperados – nos quais deverão refletir-se o bombástico lançamento do pré-sal e a intensa mobilização pró-Dilma desencadeada pelo presidente Lula, de par com o esgotamento da crise do Senado e o esvaziamento da CPI da Petrobras. Cabendo esperar para ver se isso reduzirá, ou não, a incerteza sobre a transferência da popularidade de Lula para sua candidata.

“Melhorar antes de piorar”

Trechos de artigo no Valor, do último fim de semana, de Ivan Sant’Ana, especialista do mercado financeiro.

“Enquanto nos Estados Unidos, Obama, cujo primeiro mandato termina em 2013, terá que resolver, antes das eleições de novembro de 2012, os problemas causados pela abertura dos cofres do Tesouro, o sucessor de Lula herdará, em janeiro de 2011, o cenário negativo provocado pela gastança.

Aqui, tem tudo para melhorar antes de piorar. Se isso acontecer, não será a primeira vez que o Brasil, com sua síndrome de Fausto, abdicará de um futuro grandioso, só para ter um presente risonho. Geisel fez isso ao ignorar o início da primeira crise do petróleo, enquanto construía sedes faraônicas para as estatais e tocava projetos ambiciosos (e jamais concluídos) como a Ferrovia do Aço. Sarney fez isso ao trocar um ano de crescimento, 1986, com o Plano Cruzado, por quase uma década de estagnação.

Só uma coisa salvará o Brasil dos chifres e garras de Fausto: a China crescer muito, levando a reboque o preço das commodities, e nos garantir um crescimento sustentado. Pelos chineses.”

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