sábado, 10 de outubro de 2009

No Rio, número de idosos já é quase igual ao de jovens

Maiá Menezes e Fabiana Ribeiro
DEU EM O GLOBO

Índice de envelhecimento se aproxima ao do Japão, onde a população diminuiO Rio de Janeiro, que se prepara para sediar as Olimpíadas daqui a sete anos, está envelhecendo num ritmo superior ao do resto do Brasil, como mostra a Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE, divulgada ontem. O estado tem o maior percentual de pessoas com mais de 60 anos (14,9%) e a menor taxa de fecundidade (1,54%) do país. E o índice de envelhecimento — que leva em conta a proporção entre as pessoas até 14 anos e as com mais de 64 — foi de 0,9 na Região Metropolitana em 2008, próximo ao do Japão, onde o índice é 1 e a população vem diminuindo. No país, o número de idosos (21 milhões) já supera o de crianças até 6 anos (19,4 milhões). Os dados demonstram que ainda falta um longo caminho para garantir boa educação aos jovens: metade dos brasileiros com mais de 25 anos tem menos de oito anos de estudo e só 36,8%, na faixa de 18 a 24 anos, terminaram o ensino médio.

A "corrida" dos idosos

Terceira idade se aproxima do número de jovens no Rio, o que indica que população deve diminuir

Na cidade olímpica, os idosos devem chegar a 2016 na frente dos jovens. Estado com maior percentual de maiores de 60 anos no país (14,9%), o Rio caminha a passos largos para equiparar sua população da terceiro idade à de menores de 14 anos, segundo a Síntese dos Indicadores Sociais, divulgada ontem pelo IBGE. O índice de envelhecimento — calculado levando-se em conta a proporção entre pessoas de 0 a 14 anos e aquelas com mais de 64 — da Região Metropolitana do Rio chegou a 0,9 em 2008. Já está próximo do do Japão, um país onde a população vem diminuindo há muitos anos, e onde o índice é de 1.

— Isso indica que a população do Rio deve começar a diminuir num futuro muito próximo, bem antes do prazo estimado para o Brasil, que é 2030 — avalia Ana Lucia Saboia, coordenadorageral do estudo e gerente de Indicadores Sociais do IBGE

Taxa de fecundidade é a menor do país

Na equação que deve levar ao recuo no número da população está também a taxa de fecundidade total do Estado do Rio, que é de 1,54, a menor do país. O perfil antecipa a tendência de envelhecimento do país: numa década, a proporção de idosos passou de 8,8% para 11,1% do total da população.

A expansão da população mais idosa se explica, segundo especialistas, por avanços na medicina, melhorias no mercado de trabalho e na renda dos trabalhadores e maior cuidado com a alimentação.

O atual contingente de idosos brasileiros, de 21 milhões, já é superior ao de crianças de 0 a 6 anos — que é de 19,4 milhões.

É maior também, em números absolutos, do que a projeção da Organização das Nações Unidas (ONU) para o número de pessoas com mais de 60 anos de França, Inglaterra e Itália (entre 14 milhões e 16 milhões cada) — países com população envelhecida.

— O que importa, contudo, é a proporção de idosos sobre o total da população.

Na Europa, eles representam 18% do total. Já no Brasil, essa proporção é de 11%. Ainda estamos envelhecendo — comentou Ana Amélia Camarano, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

De 1998 a 2008, o grupo etário de 80 anos ou mais foi o que mais cresceu , chegando a quase 70% ou 3 milhões de pessoas. Segundo especialistas, essa expansão indica aumento da taxa de longevidade no Brasil, mas requer medidas para garantir atendimento a esses idosos na rede pública.

— No país, as pessoas estão vivendo mais, e nasce menos gente. E, com isso, essa população idosa crescerá muito mais nos próximos 30 anos. A grande questão é: temos condições de cuidar dessa população idosa? — questiona a especialista do Ipea.

— No Rio, onde já está se equiparando a quantidade de jovens e de idosos, os números indicam que esse processo deve se acelerar no país. O Brasil inteiro deve chegar a essa curva antes do previsto. Isso se deve especialmente ao avanço rápido da medicina — diz Lúcia Cunha, pesquisadora do IBGE sobre indicadores sobre idosos.

Aos 90 anos, Djamira Esteves, ou Dona Mirinha, mora com dois filhos e com uma das irmãs em uma casa na Tijuca, na Zona Norte do Rio. Sua família é um exemplo da longevidade do morador do Rio: tem duas irmãs — a caçula com 81. Orgulhosa de nunca ter feito uma cirurgia, ela afirma que gosta de viver na cidade e que nunca se sentiu sozinha ou desamparada.

— Eu sou uma criatura feliz. Para chegar nessa idade, o que fiz foi viver bem, desde a infância — disse, ressaltando que sempre esteve cercada pela família e por enfermeiros.

Dona Mirinha faz bem de morar com a família. Segundo especialistas, a rede de apoio familiar mostra-se fundamental para a saúde mental dos idosos. No país, a proporção de idosos que moravam com filhos era, em 2008, 33,3. Nas regiões Norte e Nordeste, esse percentual é bem mais elevado: mais de 50% dos idosos moram com os filhos.

O Estado do Rio, que tinha, em 1998, cerca de 11% da população com mais de 60 anos, tem características que ajudam a entender o motivo da longevidade de seus moradores, como a qualidade de vida na cidade e a média de anos de estudo da população idosa.

Na Região Metropolitana do Rio, é uma das mais altas do país, de 6,5 anos — acima da média do país, de 4,1.

No índice geral do país, a taxa de analfabetismo dos idosos chega a 32,2%. E salta para 51,7% quando considerado o analfabetismo funcional, correspondente a quem tem menos de quatro anos de estudo.

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