quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Desencontro de versões irrita Lula e abre disputa

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

As versões desencontradas no governo para o apagão irritaram o presidente Lula. Pela manhã, ele mandou que os auxiliares não dessem mais declarações. O Planalto tentou confinar o problema ao Ministério de Minas e Energia, blindando Dilma Rousseff, que é apresentada como responsável por uma “revolução" no sistema elétrico. Já o governador José Serra disse que esse sistema está "vulnerável".

Busca por causas põe ministros em contradição e irrita Lula

Pela manhã, não havia consenso sequer sobre número de linhas que sofreram pane

Leonardo Goy e Vera Rosa, BRASÍLIA

Irritado com versões desencontradas sobre o apagão que deixou mais da metade do País às escuras, na noite de terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou da equipe informações consistentes e unificadas sobre o episódio. "Parem de falar besteira sobre coisas que vocês não sabem", esbravejou ele logo pela manhã, de acordo com relato de ministros, ao ouvir diferentes opiniões sobre as causas do blecaute. "Não quero meias explicações nem dados parciais."

O presidente disse a auxiliares que o conflito de versões acabava ajudando a oposição a elaborar "teses" contra o governo. "Não falem nada antes de ter certeza", insistiu. A ordem foi transmitida ao comando nacional do PT, que estava reunido em Brasília, com o objetivo de traçar diretrizes para a campanha da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência, em 2010.

Lula ficou particularmente irritado com a explicação do presidente da Itaipu, Jorge Samek, de que "um tufãozinho" poderia ter derrubado torres de transmissão. Embora muitas autoridades adotassem o argumento dos "incidentes meteorológicos" para justificar a queda de mais de 50% da demanda de energia, não havia consenso sobre o número de linhas de transmissão que teriam sofrido pane, causando efeito dominó no sistema elétrico.

Foram muitas as informações contraditórias. Por voltas das 14 horas, ao fim de uma solenidade no Itamaraty, Lula admitiu que não sabia o que havia provocado o apagão. "Duas coisas estão certas: não faltou geração de energia e o problema não foi de falta de linha para interligar", afirmou ele, evitando qualquer relação do apagão de ontem com o do governo Fernando Henrique Cardoso (veja as comparações na página ao lado).

Na época, Lula chegou a dizer que a gestão de FHC havia sofrido um "apagão do planejamento". "O que aconteceu em 2001 foi que a gente não produzia energia suficiente, não tinha linha de transmissão para interligar o sistema. Nós fizemos não apenas forte investimento no setor de energia como forte investimento na modernização do sistema energético brasileiro", afirmou ontem o presidente.

Logo cedo, enquanto o secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, garantia que o blecaute teria sido causado pelo desligamento de três linhas de transmissão que transportam energia da hidrelétrica de Itaipu para o sistema nacional, o presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes, ia em outra direção. Muniz dizia que a pane havia derrubado as cinco linhas que levam para São Paulo a energia gerada na hidrelétrica. A explicação foi compartilhada por Samek, presidente de Itaipu. "Já tivemos problemas em uma ou duas linhas, mas nunca nas cinco ao mesmo tempo", disse o executivo-chefe da usina.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que também integra o Conselho de Itaipu, foi um dos primeiros a expor a contradição da versão da queda de linhas de transmissão. "Se a linha tivesse sido danificada por um temporal, a energia não teria voltado às 5 horas", observou Bernardo. Detalhe: as linhas com problemas causados por temporais ligam Ivaiporã (PR), Itaberá (SP) e Tijuco Preto (SP), mas a cidade de Itaberá, centro dos "incidentes meteorológicos", não teve apagão.

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