sábado, 21 de novembro de 2009

Fernando de Barros e Silva:: Espólio do PT

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - A se confirmarem as previsões, José Eduardo Dutra deve ser eleito amanhã o novo presidente do PT. Sindicalista, senador por Sergipe entre 1995 e 2002, ex-presidente da Petrobras e da BR Distribuidora, ele representa o establishment petista. É o candidato de Lula, de Dilma Rousseff, do atual presidente, Ricardo Berzoini, e do ex (quase tudo) José Dirceu. A chance de um segundo turno contra esse bloco de poder é reduzida.

Seja qual for o resultado, o roteiro do PT para 2010 está traçado. A candidata à Presidência já foi definida à revelia do partido, por quem de fato manda e apita: Lula.
Dilma é quase cristã-nova no PT -ingressou ali em 2001, vinda do PDT-, além de principiante no "grand monde" da política nacional. Até a crise do mensalão, era uma desconhecida do público.

A eleição no PT se tornou irrelevante? No mínimo, bem menos importante do que já foi, como o próprio partido, que, a despeito do seu tamanho e presença institucional, é hoje uma espécie de agregado do lulismo, disputando com os aliados migalhas e favores do grande pai.

O PT nasceu, em 1980, como catalisador de demandas sociais, enraizado no sindicalismo, nos movimentos populares, na igreja e na intelectualidade progressista. Foi instrumento e caixa de ressonância de muitos avanços democráticos.

A conquista progressiva do poder, porém, se confunde com o processo de burocratização do partido, do qual Zé Dirceu foi o artífice e condutor. O PT que patrocina a realpolitik, distante das ruas e incrustado no Estado, esgotou seu papel transformador. Com o mensalão, esgotaram-se também suas reservas éticas. A popularidade de Lula serviu de pretexto para que o partido tentasse reescrever o passado à moda stalinista: "Que mensalão?!".

Por isso tudo, o ritual de renovação da diretoria petista, além de ser pouco importante, tem um forte ingrediente farsesco. Unido, o PT afia os dentes para brigar nos pós-Lula pelo único patrimônio que lhe terá restado: o espólio do lulismo.

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