quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Presidente e ministra já tinham garantido não haver risco de apagão

DEU EM O GLOBO

Presidente fez declaração em março e ministra, há duas semanas


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha dito, em março deste ano, que não haveria mais “risco de apagão em hipótese alguma no Brasil”. A declaração foi feita no programa semanal “Café com o presidente”, transmitido pela Radiobrás.

No entanto, na noite de terça para quartafeira, um desligamento de três linhas de transmissão de energia entre Paraná e São Paulo deixou totalmente sem energia os estados de São Paulo, Mato Grosso o Sul, Rio e Espírito Santo, além de ter afetado parcialmente outros 14.

No dia 23 de março, ao comentar a inauguração do terminal de gás natural liquefeito, na Baía de Guanabara, Lula garantiu que o suprimento de energia estaria assegurado para todo o país: — Não corremos risco de apagão em hipótese alguma no Brasil — disse então.

Otimismo presidencial em inauguração no Rio Na ocasião, o presidente explicou que o terminal de gás natural liquefeito permite importar gás natural para uso em termelétricas nos momentos em que faltar água nos reservatórios das hidrelétricas.

— Depois do apagão que nós tivemos em 2001, porque não tínhamos linhas de transmissão para transportar energia de lugares que tinham excesso de energia para lugares em que faltava energia, como São Paulo, teve muita gente que começou a dizer que o Brasil ia ter apagão desde 2001 até agora. O fato concreto é que, com esse terminal de gás natural liquefeito na Baía da Guanabara, a gente dá sinal para o Brasil de que não haverá problema de energia no Brasil, porque quando nós estivermos com os lagos das nossas hidrelétric as vazios, que não estiverem produzindo energia, nós poderemos acionar a termelétrica a gás e ela vai produzira energia de que o Brasil necessita — acrescentou o presidente.

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, também garantira que não faltaria energia. Há duas semanas, Dilma disse que não haveria apagão de energia elétrica no Brasil. Em declaração ao programa da Radiobrás “Bom dia, ministro”, Dilma afirmou que não havia esse risco porque, s egundo ela, o governo volt ou afazer planejamento, prevendo a necessidad e demais fornecimento de energia no país e realizando investimentos para atender a essa demanda.

— Nós também temos uma outra certeza: que não vai ter apagão. É que nós hoje voltamos a fazer planejamento.

Então, olhamos qual é a necessidade que o Brasil tem de energia nos próximos cinco anos. Ao olharmos isso, providenciamos as usinas que são necessárias para o Brasil. Se o país crescer a quatro, se crescer a cinco, se crescer a seis por cento ao ano, terá essas usinas disponibilizadas.

É assim que funciona — disse ela, em entrevista no dia 29 de outubro.

Falha localizada e efeito dominó no sistema No entanto, o que se observou na noite de terça-feira e na madrugada de ontem é que, mesmo com esse planejamento e água suficiente nos reservatórios, como afirmou a ministra, não foi possível evitar a falta de luz na maior parte do Brasil. O blecaute revelou que, como o sistema brasileiro de energia é todo interligado, qualquer falha em uma linha localizada pode provocar um apagão generalizado, num efeito dominó.

Como explica a colunista Míriam Leitão, a interligação do sistema começou a ser feita pelos militares e, depois do apagão de 2001 — quando sobrou água em algumas hidrelétricas do país, enquanto faltou em outras —, o Brasil reforçou essa ligação.

A ideia é que, se faltar energia num lugar, seja possível trazêla de outro imediatamente.

Mas, na crise de terça para quartafeira, o sistema interligado mostrou-se vulnerável a falhas em linhas localizadas.

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