quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

À beira do abismo climático

DEU EM O GLOBO

Chefes de Estado chegam a Dinamarca sem acordo costurado e cúpula pode fracassar

Chico de Gois, Deborah Berlinck e Roberta Jansen
Enviados especiais • COPENHAGUE

A Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Copenhague, entra hoje em sua fase final e decisiva, com o início da reunião dos 125 chefes de Estado e governo, sem que haja qualquer acordo costurado. Os pontos cruciais continuavam em aberto, sem avanços significativos na reunião dos ministros. Para complicar ainda mais a situação, um novo documento dinamarquês paralelo ao da negociação oficial — que teria os americanos por trás — vazou, provocando fortes reações dos países em desenvolvimento. A saída da dinamarquesa Connie Hadegaard da presidência da reunião, renunciando ao cargo depois de ter sido criticada pelos países em desenvolvimento, deixou o clima ainda mais tenso.

Durante o dia, especulava-se que o presidente americano Barack Obama poderia desistir de vir a Copenhague, para não correr o risco de ser o protagonista de um possível fracasso nas negociações. Porém, no fim da noite de ontem, Obama telefonou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e garantiu que viajaria à capital dinamarquesa, informaram fontes ligadas à Presidência.

Entre os chefes de Estado que chegaram ontem, o clima era de apreensão. O primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, admitiu, em entrevista à BBC, que pode não haver um acordo na reunião.

‘É hora de jogar as boias’

As negociações entre ministros se arrastaram até o fim da noite. A ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, chefe da delegação brasileira, reuniuse com os representantes de China e Índia na madrugada.

Durante o dia, as gigantescas salas de negociação do Bella Center eram o retrato do impasse. Negociadores paralisados, alguns com os pés em cima das cadeiras, computadores abertos, esperavam por definições dos ministros.

Pontos como o limite do aumento das temperaturas, as metas de redução das emissões, mecanismos de verificação de reduções nos países emergentes, o financiamento, tudo permanecia em aberto.

Os ministros não conseguiram avançar sobre o esboço feito pelos negociadores. A rigor, o documento até poderia chegar à mão dos líderes com uma ou outra questão em aberto, como o financiamento, mas não totalmente indefinido.

— Estamos extremamente desapontados — disse Ian Fry, negociadorchefe de Tuvalu, arquipélago do Pacífico ameaçado pela elevação do nível do mar. — Tenho a sensação de estar no Titanic e afundando depressa.

É hora de jogar as boias.

Supostamente para tentar romper o impasse, a Dinamarca voltou a anunciar um documento paralelo, que foi duramente rechaçado.

— O texto mata o Protocolo de Kioto! — alarmou-se uma alta fonte presente às negociações.

— Ele não tem metas vinculantes, sem forca juridica, diferente de Kioto.

Connie Hadegaard acabou renunciando à presidência da reunião, dando lugar ao primeiro-ministro dinamarquês, Lars Rasmunssen — num movimento explicado oficialmente como natural (diante da chegada dos chefes de Estado), mas visto como uma reação às críticas dos países em desenvolvimento, que a acusavam de tentar orquestrar um acordo paralelo das nações mais ricas.

— Será que os chefes de Estado viriam para cá para o fracasso? — perguntou Sergio Serra, embaixador brasileiro para Mudanças Climáticas.

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