quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Congresso derruba última chance de Zelaya

DEU EM O GLOBO

Presidente deposto de Honduras é derrotado em votação em que não teve apoio sequer de seu próprio partido

Flávio Freire Enviado especial

TEGUCIGALPA. O Congresso Nacional de Honduras enterrou ontem a última chance de Manuel Zelaya voltar à Presidência do país para terminar o seu mandato, em 27 de janeiro, quando assume o novo governo.

Numa sessão marcada por marcha fúnebre, oração e até um vídeo em que o presidente deposto foi chamado até de mentiroso, a maioria dos 128 deputados ratificou o golpe comandado pelo governo de fato.

Com nove horas de sessão, o Congresso somava às 22h44m (em Brasília) 65 votos, a maioria da Casa, o que encerrava as chances de Zelaya ser reconduzido ao poder. Apenas sete parlamentares haviam votado a favor do presidente deposto.

O governo interino argumenta que o ex-presidente tentara, com um referendo para reformar a Constituição, instituir a reeleição, proibido no país. Para evitar o processo, os militares o tiraram de casa em 28 de junho, ainda de pijamas, e o levaram para a Costa Rica.

Sem acordo com o governo deposto, o Partido Nacional de Honduras — ao qual pertence o futuro mandatário, Porfírio Lobo — decidiu votar ontem em bloco contra a restituição de Zelaya, eliminando as chances de o presidente deposto voltar ao poder, ainda no começo da sessão.

Com a decisão da bancada nacionalista, a votação começava, tecnicamente, com 55 votos contra Zelaya, mas cada deputado teve de informar o voto individualmente.

O próprio partido do presidente deposto não chegou a um consenso. A maior parte dos liberais votou a favor do presidente interino, Roberto Micheletti.

— Ao não reconstituirmos Zelaya, afastamos também Hugo Chávez do nosso país — disse o deputado Juan De La Cruz Avelar. Zelaya se aproximou do presidente venezuelano, criando no país uma massa crítica em relação ao seu governo.

“Levando em conta as declarações do ex-presidente Manuel Zelaya, que tem se manifestado publicamente contra o acordo São José-Tegucigalpa, e que nos brindou com declarações claras contra as eleições limpas e transparentes disputadas no país (...) nos manifestamos a favor da ratificação do decreto 141-2009, aprovado em 28 de junho de 2009”, informava o documento do PN.

A avaliação no Congresso é a de que o próprio Zelaya afastou as possibilidades de um acordo para retomar a Presidência. Terçafeira, Carlos Reina, um de seus principais assessores, deixou a embaixada brasileira para informar que o presidente deposto pretendia permanecer no comando do país além de 27 de janeiro, como forma de compensar o período em que esteve fora.

Teria sido a pá de cal.

Ruas em torno do Congresso foram fechadas Confirmada a decisão parlamentar em não reconhecer o governo deposto, o futuro presidente do país terá de criar uma política específica para convencer parte da comunidade internacional, que não pretende reconhecer seu governo como legítimo.

Zelaya, por sua vez, teria endurecido o discurso justamente porque tem como principal interesse a constituição de um tribunal ligado a ONU para julgar os seus delitos.

Do lado de fora do Congresso, 500 homens da Polícia Nacional e do Exército fecharam as ruas de acesso ao Congresso. O comércio também foi obrigado dispensar os funcionários. Usando fuzis, os soldados evitavam qualquer aproximação do grupo de militantes que protestava na praça central de Tegucigalpa.

Ao som de reggaetom, o estilo musical mais apreciado no país, os oposicionistas ao governo interino gritavam palavras de ordem, mas não arriscavam atravessar a rua que os separavam dos militares.

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