terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Conservador chileno fala como eleito e elogia Lula

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Piñera, vencedor do 1.º turno, diz que apoia aspiração do Brasil a cadeira no Conselho de Segurança da ONU

Ruth Costas, enviada especial a Santiago

A campanha para o segundo turno das eleições chilenas começou ontem em clima de euforia, para uns, e guerra, para outros. Triunfalista, o candidato da direita, o bilionário Sebastian Piñera - que obteve 44,03% dos votos na eleição de domingo-, convocou a imprensa internacional para uma entrevista e falou com desenvoltura por quase uma hora sobre como seria a política exterior de seu governo. Ele elogiou Lula e prometeu apoiar as ambições do Brasil a uma vaga no Conselho de Segurança (CS) da ONU. "Na campanha não faremos mudanças porque não precisamos. Quem faz a reestruturação é quem perde", disse Piñera.

O recado tinha endereço certo: o candidato da coalizão governista Concertação, Eduardo Frei, que chegou em segundo lugar, com 29,06%. Frei reformulou sua equipe, incorporou mais funcionários do bem-sucedido governo da presidente Michelle Bachelet (que tem 85% de aprovação) e lançou seu primeiro grande ataque denunciando a "confusão entre negócios e política" de Piñera, um de seus pontos fracos, segundo analistas.

"No dia 17 de janeiro (segundo turno), os chilenos decidirão entre o caminho das oportunidades e da justiça social de Bachelet e o rumo incerto do poder do dinheiro e dos negócios mal relacionados com a política", disse Carolina Tohá, ex-porta-voz da Presidência, ao ser designada por Frei sua nova chefe de campanha. "Até hoje Piñera não vendeu uma só ação (da companhia aérea LAN)", emendou, referindo-se às promessas do direitista de se desfazer, se eleito, de sua participação na empresa. Em 2007, Piñera foi multado em US$ 680 mil por usar informação privilegiada para comprar ações da LAN.

O candidato governista tem um desafio intrincado pela frente - precisa tirar a diferença de 14 pontos porcentuais de Piñera, sob o risco de perder os 20 anos de hegemonia da coalizão centro-esquerdista governista.

Na nova etapa da votação, Frei já tem praticamente garantidos os 6,21% dos votos do comunista Jorge Arrate. O difícil será conquistar os eleitores do independente Marco Enríquez-Ominami, que ficou em terceiro, com 20,12%. Ominami já se recusou a apoiar um dos dois candidatos e ao longo da campanha seu discurso crítico à Concertação foi o que atraiu boa parte do eleitorado, cansada do velho estilo da coalizão governista.

PROXIMIDADE

"Ominami tem um estilo espontâneo e que busca a proximidade com a população, mais parecido com o de Piñera do que com o Frei", disse ao Estado o historiador Miguel Villarroel, da Universidade do Chile. "Segundo algumas pesquisas, pelo menos um terço dos seus votos poderia passar para Piñera."

Piñera prometeu que, se vencer, fará um governo de unidade. "Todos poderão fazer parte. Não vamos pedir carteira de filiado", disse. Ele negou que sua vitória ajudaria aumentar a polarização da América Latina entre o eixo dos "bolivarianos", liderado pelo venezuelano Hugo Chávez , e países como a Colômbia, dizendo que, apesar de o Chile não adotar o modelo do primeiro grupo, a soberania de cada país deve ser respeitada.

Ao falar sobre as relações com o Brasil, Piñera elogiou Lula - "ele éum modelo de liderança" -, prometeu apoiar vaga do País no CS da ONU e prometeu impulsionar os projetos de cooperação econômica, entre eles o de uma estrada interoceânica. E ironizou os novos ataques da campanha de Frei: "Eles estão me ajudando, porque os chilenos querem uma campanha com propostas, que olhe para o futuro, e não desqualificações."

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