terça-feira, 15 de dezembro de 2009

EUA apoiam salvo-conduto a Zelaya

DEU EM O GLOBO

Em Brasília, enviado de Obama elogia política de diálogo de Lula com o Irã

BRASÍLIA. Brasil e Estados Unidos deixaram ontem de lado as divergências sobre o reconhecimento das eleições hondurenhas, realizadas no fim do mês passado e que tiveram como vencedor Porfirio Lobo, e decidiram trabalhar juntos pela redemocratização daquele país da América Central.

A trégua foi possível com a visita do secretário de Estado adjunto para as Américas dos EUA, Arturo Valenzuela. Houve consenso de que o presidente interino, Roberto Micheletti, precisa renunciar ao cargo, enquanto Manuel Zelaya deve obter um salvo-conduto o mais rápido possível, para deixar Honduras ainda na condição de presidente da República.

— Continuamos não reconhecendo as eleições em Honduras, ao contrário dos EUA — disse o secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota, após se reunir com Valenzuela na parte da tarde. — Nossa conclusão é que as eleições não permitiram a volta da democracia àquele país.

Adotando uma política de boa vizinhança em que não faltaram declarações simpáticas ao Brasil — não apenas em relação a Honduras, mas também quanto ao acordo militar entre EUA e Colômbia e à aproximação do governo brasileiro com o Irã — Valenzuela concordou que as eleições hondurenhas, por si só, não são suficientes. Foi o que disse em entrevista a um pequeno grupo de jornalistas brasileiros, após se reunir com o assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia.

— Os golpes de Estado são atos graves e não podem ser tolerados, pois há risco de se criar um precedente na região. Mas, para nós, as eleições são apenas parte da solução. São um passo importante, mas não são suficientes — afirmou Valenzuela, que ainda se referiu a Zelaya. — Desejamos que ele saia logo da embaixada, ainda como presidente de Honduras.

Para Garcia, encontro foi “cordialíssimo” Além de minimizar o desconforto em relação ao cenário político em Honduras, o secretário de Estado adjunto dos EUA — que hoje estará na Argentina e, em seguida, partirá para o Uruguai e o Paraguai — negou que haja divergências entre seu país e o Brasil em se tratando do Irã.

Ele deixou claro que é interesse da Casa Branca estimular que outros países pressionem os iranianos a cumprirem acordos internacionais de não proliferação de armas, incluindo o Brasil.

— O Brasil tem o direito de ter relações com o país que quiser, é soberano. Damos as boasvindas ao interesse do Brasil em fazer com que o Irã entenda que é importante cumprir as determinações da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) — disse Valenzuela.

Ele lembrou que Obama defende um diálogo aberto e de cooperação com todos os países, inclusive aqueles com os quais tem posições diferentes.

— O objetivo é continuar o diálogo com o Irã, mas o Irã tem que assumir sua responsabilidade e seus compromissos na AIEA — enfatizou.

Valenzuela também assegurou que o acordo para o uso de bases militares colombianas pelos EUA não afetará qualquer outro país da região. E revelou que, no fim do mês passado, os secretários de Estado e de Defesa de seu país, Hillary Clinton e Robert Gates, enviaram uma carta aos ministros da Defesa e das Relações Exteriores de países da região dando esta garantia.

— Enviamos ainda a carta ao presidente do Equador, Rafael Correa, que também preside a Unasul (União das Nações Sul-Americanas) — disse.

Para Marco Aurélio Garcia, o encontro que teve com Valenzuela pela manhã foi “cordialíssimo”.

O assessor direto do presidente Lula, que recentemente havia declarado estar decepcionado com a atuação do governo americano no caso de Honduras, afirmou que as relações entre Brasil e EUA tiveram um “upgrade” com a gestão Obama. Sobre o Irã, afirmou que, “evidentemente, os EUA têm inquietações maiores que as nossas

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