terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Eliane Cantanhêde:: Encantados, mas críticos

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Conversando daqui e dali com diplomatas estrangeiros em Brasília, confirma-se que, sim, os países ricos, pobres e mais ou menos estão encantados com Lula, mas também acham que ele tenta dar passos maiores do que as pernas na política externa.

No caso de Honduras, o mundo todo condenou o golpe, mas o Brasil se coloca como um herói isolado, o bastião da democracia, e agora se recusa a apoiar o resultado das eleições só para testar forças com os EUA na OEA. Soa infantojuvenil.

Em vez de agarrar-se à defesa de um princípio, a democracia, e de um país, Honduras, o Brasil agarra-se a um personagem: Zelaya. Não quer fechar uma página e abrir outra, acatando Porfírio Lobo e arrancando dele compromissos de um governo de pacificação e respeito ao presidente deposto.

No caso do Irã, as opiniões se dividiram entre os que simplesmente rechaçaram o encontro Lula-Ahmadinejad em Brasília e os que entendem a necessidade de integrar o regime iraniano às normas de convivência internacional. Mas ninguém engoliu o Brasil lavar as mãos no voto de censura da ONU ao Irã por causa da questão nuclear, principalmente depois de Lula dizer que a reação dos opositores em Teerã era chororô de "derrotados".

Além disso, a diplomacia instalada em Brasília vê Lula querendo ser o líder sempre, em toda a parte -hoje, na reunião sul-americana em Montevidéu; depois, na Conferência do Clima em Copenhague. Há um exagero, que gera ciúmes e ironias: "Por que ele não se ocupa mais em combater a corrupção no Brasil?", perguntaram-me ontem.

Uns e outros adoraram o vexame de Manaus, onde Lula esperava nove presidentes para brilhar e acabou fazendo Sarkozy atravessar o Atlântico para tomar cafezinho com um único presidente: o da Guiana Inglesa. Em alguns relatórios de embaixadas para suas chancelarias, o relato do episódio resvala para a mais pura chacota.

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