quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Lula: caso é coisinha, mas é deplorável

DEU EM O GLOBO

Depois de dizer que as imagens da corrupção no DF não falam por si, o presidente Lula, na Ucrânia, reclamou de os jornalistas perguntarem sobre a "coisinha". Disse que não quis ser condescendente nem incriminar. E considerou o caso "deplorável".

"É deplorável para a classe política", diz Lula

Irritado, presidente reage com ironia a uma pergunta sobre escândalo; em seguida propõe constituinte para reforma política

Fernando Duarte
Enviado Especial

KIEV, Ucrânia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentou ontem contornar o mal-estar provocado pelas declarações a respeito do escândalo de corrupção envolvendo o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM). Durante visita à capital da Ucrânia, Lula afirmou não ter feito juízo de valor ao comentar que as imagens de pessoas ligadas ao governador recebendo propinas não falavam por si só. Em seguida, ao ser perguntado se as denúncias eram mais um golpe para a classe política, ele reagiu: — É deplorável para a classe política porque nós já mandamos duas propostas de reforma política para o Congresso Nacional e as pessoas não se importam em votar. Se fosse o Jânio Quadros, diria que tem um inimigo oculto que não deixa os projetos serem votados. Não tem um ser vivo no Brasil que não entenda que tem de ter reforma política — disse Lula, que defendeu a realização de uma Assembleia Constituinte exclusiva para a legislação eleitoral: — Eu penso que os partidos deveriam estar defendendo nesse momento, depois das eleições de 2010, uma Constituinte específica para uma legislação eleitoral para o Brasil.

“É desagradável vocês me perguntarem uma coisinha” O presidente afirmou que não foi condescendente com as denúncias: — Apenas disse que tem um fato que está em apuração e que é importante que termine a apuração.

Não posso, como presidente da República, condenar alguém com a mesma facilidade que você pode, numa pergunta, numa entrevista. Minha tese é que as pessoas que fizeram coisas erradas terão que pagar — explicou o presidente no final da tarde, após um encontro com a primeira-ministra da Ucrânia, Yulia Timoshenko.

Horas antes, durante uma entrevista coletiva ao lado do presidente do pais, Vitor Yushenko, Lula se irritou com uma pergunta cobrando explicações sobre as declarações. Dizendo que não comentaria o assunto ali por uma questão de respeito ao anúncio da assinatura de uma série de acordos bilaterais com a Ucrânia, ele referiu-se ao fato de ter feito uma longa viagem de Brasília a Kiev.

— Gostaria que alguém me perguntasse alguma coisa sobre os seis acordos que assinamos, pois afinal viajei 14 mil quilômetros até aqui. É desagradável vocês (os jornalistas brasileiros) perguntarem uma coisinha que o presidente Yushenko nem sabe o que é.

Em Brasília, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDBSP), disse que a ideia de se aprovar a reforma política não é de exclusividade do presidente Lula. Segundo Temer, o que poderia ocorrer seria uma revisão constitucional para aprovar propostas como as reformas tributária e política.

A visita à Ucrânia, que teve como objetivo estreitar a ainda mais as relações entre os dois países, sobretudo no campo econômico também serviu para que tanto Lula quanto Yushenko reafirmassem o compromisso de até o final de 2010 lançar o foguete lançador de satélites Cyclone4, que está sendo desenvolvido em parceria com a Ucrânia.

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