quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Lula ''ressuscita'' Constituinte para reforma política

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Presidente repete a proposta, após caso do "mensalão do DEM", e agora diz que as imagens são "deploráveis"

Tânia Monteiro, KIEV


Três anos e quatro meses depois de ter lançado a ideia no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o escândalo do "mensalão do DEM", no Distrito Federal, para ressuscitar a proposta de convocar uma Constituinte só para fazer a reforma política e eleitoral.

Lula considerou "deploráveis" as imagens dos políticos embolsando maços de dinheiro no esquema montado na gestão de José Roberto Arruda (DEM-DF). Segundo ele, as siglas deveriam defender agora, para levar adiante após as eleições de 2010, "uma Constituinte específica para fazer uma legislação eleitoral para o Brasil".

Lula falou do tema em uma rápida entrevista, após encontro com o presidente da Ucrânia, Viktor Yushchenko. Nas cinco perguntas a que respondeu, tratou a reforma como instrumento para "moralizar o funcionamento dos partidos".

Depois de lembrar que somente no governo dele já foram enviadas duas propostas nesse sentido, o presidente arrematou: "Enquanto não fizermos a reforma política, a gente vai ser pego de sobressalto com notícias dessa magnitude."

Em agosto de 2006, depois de um encontro, no Planalto, com a direção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Lula concluiu que havia um "esgotamento do sistema político atual" e defendeu a convocação de uma Constituinte só para a reforma política, que funcionaria paralelamente à rotina do Congresso.

A ideia foi combatida por muitos juristas, sob o argumento de que isso jamais havia ocorrido no Brasil e poderia gerar um movimento social pedindo para ampliar os poderes da Constituinte, transformando a convocação em um "golpe constitucional" - nos moldes do que fez o venezuelano de Hugo Chávez.

Parafraseando o ex-presidente Jânio Quadros, Lula disse que há uma espécie de "força invisível" que barra a aprovação das mudanças necessárias. "Se fosse o Jânio Quadros, eu diria que tem um inimigo oculto que não deixa os projetos serem votados no Congresso. Não tem um ser vivo que não entenda que tem de ter reforma política, mas, quando chega no Congresso, não votam."

"COISINHA"

O presidente aproveitou a entrevista para dizer que não foi "condescendente" quando afirmara, no dia anterior, que as imagens do novo mensalão "não falam por si".

"Eu não fui condescendente, nem incriminei ninguém. Apenas disse que tem um fato em apuração, que é preciso que termine a apuração, que a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça estão investigando. Eu não posso, como presidente da República, condenar alguém numa pergunta ou entrevista, com a mesma facilidade que vocês. Tenho de esperar o fim da investigação para falar", justificou-se.

No final, Lula se incomodou com a insistência dos repórteres em indagá-lo sobre um assunto interno, em meio à agenda diplomática. "Para mim é desagradável, acabando de assinar seis acordos, e, na nossa vez, a gente perguntar uma coisinha que o presidente da Ucrânia nem sabe o que é."

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