sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Miriam Leitão:: Balanço externo

DEU EM O GLOBO

A corrente de comércio brasileira deve fechar 2009 com queda de US$ 90 bilhões. De janeiro a novembro, deixamos de exportar 24% em relação a 2008 e importamos 27% a menos. Parte da queda das importações é puxada pelos bens de capital, que são sinônimos de investimento. Eles caíram 18%. E em 2010 a corrente de comércio não voltará ao nível anterior à crise

O ano de 2009 é o primeiro desde 2003 com redução na corrente de comércio (veja no gráfico). É o ano em que trocamos de principal parceiro comercial: entrou a China, saíram os EUA. Para os americanos, deixamos de exportar 44% entre janeiro a novembro, na comparação com 2008.

Deixamos de vender produtos manufaturados, de maior valor agregado, como aviões (-69%); partes de motores e geradores (-40,40%), calçados de borracha (-30,98%). A exportação do principal produto, petróleo, caiu 44,39%. Como a queda das importações foi menor (-21,2%), o Brasil ficou deficitário no comércio com os EUA. Isso não acontecia desde 1999.

A China hoje, sozinha, representa mais para as exportações brasileiras do que África, Oriente Médio e Europa Oriental juntas. Ela compra 13,6% de tudo que vendemos para o exterior. De janeiro a novembro, exportamos para os chineses 21,6% a mais do que no mesmo período de 2008, saltando de US$ 15,9 bilhões para US$ 18,8 bi. Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a hegemonia chinesa como principal parceiro do país aconteceu “ao sabor das ondas”, e não por conta de políticas de comércio bilateral entre os países. Isso porque os chineses compram principalmente matérias-primas, como minério de ferro e soja.

— Todo o mundo sabe que o Brasil é grande produtor de minério de ferro, soja, carne de frango e celulose. Então o Brasil não precisou fazer esforço e foi beneficiado pelo apetite voraz da economia chinesa, que precisou estimular o mercado interno para combater a crise — disse.

A queda das importações foi geral. O Brasil comprou menos de todos os blocos econômicos, o que é resultado natural de uma economia que não cresceu. O que preocupa, nesse caso, é que deixamos de fazer investimentos, comprometendo a sustentação do crescimento futuro. A redução de compras de bens de capital foi de 17,9%. As quedas foram generalizadas: partes e peças para agricultura (-46,3%); máquinas e ferramentas (34,2%); partes e peças para indústria (-29,5%); máquinas e aparelhos de escritório e serviço científico (-22,0%); ferramentas (-20,5%); acessórios de maquinaria industrial (-16,2%); maquinaria industrial (-11,5%); equipamento móvel de transporte (-7,6%).

Essas importações vão fazer falta em 2010, quando o país voltará a crescer fortemente.

Para 2010, Castro estima que a corrente de comércio subirá de US$ 281 bilhões para US$ 328 bi. Ou seja, ainda ficaremos bem abaixo do resultado de 2008, quando exportamos e vendemos para o exterior um total de US$ 371 bilhões. As exportações devem crescer 11%, enquanto as importações devem subir 23%. Ele estima que o saldo do balança será positivo em US$ 12 bilhões, praticamente a metade do que ocorrerá este ano.

— Corrente de comércio menor significa menos atividade econômica, menos emprego.

E mais uma vez nossas exportações estarão focadas em commodities. Isso é ruim porque dependeremos da cotação de preços que são negociados em bolsa e que podem estar inflados por conta dos juros baixos no mundo.

Esse é um dos receios para o ano que vem. Com a retirada dos estímulos econômicos pelos países ricos, que acontecerá em algum momento de 2010, os preços das principais commoditities devem sofrer uma correção e isso terá impacto sobre as exportações brasileiras.

Além disso, explica Castro, três de nossos principais produtos têm cenários incertos: aço, minério de ferro e soja.

— Há excedente de mais de 350 milhões de toneladas de aço no mundo e isso se reflete nos preços do minério de ferro. Em relação à soja, há supersafras nos Estados Unidos, Brasil, e Argentina, os três maiores produtores.

Ele considera que há outra ameaça, referendada pelo Congresso e que terá o apoio do presidente Lula: a entrada da Venezuela de Hugo Chávez no Mercosul. Isso tornará mais difícil o estabelecimento de relações comerciais bilaterais do Brasil. Alguém duvida de que Chávez usará seu poder de veto para impedir acordos entre Brasil e EUA?

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