sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Longa vida dos jornais

Fernando Gabeira
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

RIO DE JANEIRO - O presidente Lula não gosta de ler jornais. Foi uma decepção para a imprensa, pois através dela foi escolhido um dos homens mais influentes do planeta. Trabalho em jornal desde adolescente. Tempo em que os linotipistas tinham de tomar leite para evitar a intoxicação por chumbo.

Como o meu negócio é tornar os jornais mais atraentes, não brigo com quem não os lê; pergunto sempre como podemos melhorar.

Um dos argumentos mais esgrimidos nessas polêmicas é que a internet está matando os jornais. Na semana em que se discute isso no Brasil, o "Los Angeles Times" anuncia que sua receita na internet superou a do jornal impresso e hoje é a sustentação principal da empresa.

Isso significa, ao contrário, que a internet está salvando os jornais? Também é um exagero. O que a internet vai fazer é obrigar os jornais a grandes mudanças.

Pessoas para quem a leitura é uma das razões de viver às vezes são impacientes com outras formas de comunicar. Por exemplo: a fotografia ganhou espaço nos jornais brasileiros graças também à competência de nossos fotógrafos. Muitos editores a viam como uma forma secundária.

Agora o desafio é outro. Dezenas de novos programas de visualização disputam espaço. Num mundo complicado, ver mapas e gráficos nos dá a impressão de controlar a realidade. Podemos desenhá-la em camadas que aprofundam o conhecimento do tema.

Um dos criadores desses programas, para ilustrar a diferença genética entre homem e macaco, desenhou, num fundo negro, com minúsculas letras brancas, a cabeça do macaco. Havia raros pontos vermelhos -eram a marca da diferença.

Não se trata mais só de absorver a fotografia. Mas de explorar maneiras de visualização. Evoluir para sobreviver é a tarefa que a indiferença nos provoca.

O espectro que não ronda o Brasil

César Felício
DEU NO VALOR ECONÔMICO


A se julgar pelo comportamento dos agentes políticos nas últimas semanas, pode-se arriscar a dizer que o Brasil vive uma situação paradoxal em relação à descrita por Karl Marx na famosa abertura do "Manifesto Comunista". Há um espectro que pode rondar a Europa, ou todo o restante do mundo, mas que não ronda o Brasil: o da crise financeira global. Ou ao menos não ronda as arenas onde se travam os primeiros movimentos em relação à eleição presidencial.

Retrações na produção industrial, demissões já contadas de mil em mil e empresários pressionando pela perda de eficácia das leis trabalhistas passam ao largo da disputa pelo controle do poder Legislativo e do significado oculto de bioplásticas de rejuvenescimento.

Como comenta o sociólogo mineiro Rudá Ricci, observador atento das intersecções entre as esferas política e econômica, no âmbito do poder público, apenas o poder municipal já reagiu às nuvens de chumbo. Quase R$ 5 bilhões em transferências já foram cortadas para as novas prefeituras, retirando toda a margem de manobra sobretudo dos menores municípios. Será mais uma ocasião para aprofundar a dependência do poder municipal em relação ao governo estadual ou federal de plantão, a fazer com que mesmo os oposicionistas mais aguerridas no comando de máquinas municipais falem muito macio em 2010.

Uma boa ocasião para se medir a perda de autonomia política dos municípios poderá ser vista no próximo mês, no grande encontro que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá promover em Brasília, reunindo toda a equipe ministerial com os novos prefeitos, em uma oferta de mão dupla: os novos administradores recebem o fluido vital em suas veias, desde que ajustem seus programas ao planejamento de ações federais.

Com mais de um instrumento para administrar ou retardar a crise, Lula será apresentado nos próximos meses pela propaganda oficial como o gerente de um governo que não deixa o Brasil parar, que investe e garante o funcionamento do motor da economia. Será um contrapeso importante à previsível explosão do desemprego que virá pela frente, quando os prejuízos consolidados das empresas começarem a aparecer.

Para o PT e a esquerda em si, o desafio de tentar elaborar alguma idéia sobre o que se passa no mundo ocorrerá já neste fim de mês, no fórum social de Belém. Há um painel de debates, patrocinado pela Fundação Perseu Abramo - um órgão do PT mas não necessariamente alinhado com a ortodoxia do Palácio do Planalto- que terá a crise econômica como seu tema primeiro. Presidente da Fundação Perseu Abramo, o ex-deputado Nilmário Miranda aposta que do encontro sairá um roteiro, sensivelmente diferente do prevalecente em certos meios da esplanada: diminuição do superávit primário, para a manutenção dos gastos de custeio, entendidos como a chave para a política social.

Para as oposições, o momento chave será março, com a megaconcentração organizada pelo PSDB, DEM e PPS em Brasília, para colocar os presidenciáveis José Serra (governador de São Paulo) e Aécio Neves (governador de Minas Gerais), falando sobre a crise internacional para os prefeitos, vereadores e dirigentes municipais dos três partidos.


"Lula está armando uma armadilha fiscal, uma bomba relógio que mais tarde eclodirá em uma crise de solvência generalizada. A oposição precisa se preparar para mostrar na campanha em 2010 a existência desta verdade", disse um dos organizadores do evento, o presidente do Instituto Teotônio Vilela, a fundação de estudos tucana, deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (ES). Perguntado se eleitoralmente não é contraproducente acenar com a ameaça do caos no horizonte, o parlamentar insistiu. "Gabeira no Rio adotou a tática de basear sua campanha municipal na verdade e quase venceu. E Obama também fez isso nos Estados Unidos e venceu", disse.

No momento, a oposição permanece longe tanto de traçar diagnósticos de crise quanto de soluções. Serra e Aécio mimetizam Lula e agem como motores da economia. O primeiro anunciou que irá antecipar a entrega das obras do trecho sul do Rodoanel e ontem mesmo divulgou um pacote para recuperar 7.395 quilômetros em estradas municipais. Distância suficiente para ir de São Paulo a Buenos Aires três vezes. Aécio anunciou no começo do ano o contingenciamento zero de seu Orçamento. E o cumprimento de uma meta anual de R$ 10 bilhões de investimento, na íntegra.

Em crises passadas, de gravidade não subestimável em relação à atual, o debate sobre o modelo econômico esteve no centro da discussão. Foi assim na reta final do regime militar, quando o PMDB levou a frente sobre a viabilidade ou não de um modelo que gerava superávits comerciais e arrocho salarial para o pagamento de uma dívida externa que crescia em razão exponencial. Foi novamente o caso na eleição de 1989, em uma eleição onde soluções mirabolantes para a inflação estiveram no centro da pauta. Não deixou de ser em 2002, quando Lula assumiu um compromisso com a estabilidade. Na tempestade do momento, ainda não há no meio político a discussão das melhores rotas de fuga.

César Felício é repórter de Política.

Elos da economia

Mírian Leitão
DEU EM O GLOBO

O empresário Carlos Mariani ligou para vários setores das indústrias química e petroquímica antes de me conceder uma entrevista, e perguntou como seria 2009. "Todos disseram que, diante da crise, não podiam fazer previsões." No setor de distribuição de aço há uma certa esperança de que neste primeiro trimestre eles consigam reduzir o estoque, segundo Christiano da Cunha Freire.

Entrevistei os dois na Globonews, para saber como estava a situação econômica dentro da cadeia produtiva. Mariani é presidente da Abiquim, onde estão agregados tanto os produtos químicos para uso industrial, quanto os produtos químicos de uso final, como medicamentos, material de limpeza e defensivos agrícolas. Christiano preside o Instituto Nacional de Distribuidores de Aço.

Eles disseram que enfrentam o mesmo e complexo problema: carregam estoques que foram produzidos e comprados a um preço muito mais alto do que o atual. As empresas têm que reduzir os estoques, mas terão que absorver prejuízos com as vendas a preços menores. Esta é uma das imensas incertezas do ano. Mariani acha que no seu setor há um problema adicional:

- As empresas dos extremos - a grande indústria de produto final e a produtora de matéria-prima - conseguem se financiar, mas as empresas menores, que estão no meio do setor, não conseguem financiamento, e, quando conseguem, os juros são altos.

Christiano disse que quem tem financiado os setores intermediários de aço são as próprias empresas, e não os bancos.

Tanto a indústria química quanto a siderúrgica estão passando por um duro primeiro trimestre neste ano, como conta Mariani.

- Nós tivemos em 2008 uma excelente performance. Apesar da crise do último trimestre, o ano foi excepcional. A partir de outubro os sinais da crise ficaram claros. Em novembro a indústria teve que se adaptar, em função da redução de demanda desses setores consumidores de ponta. Um sinal mais claro dessa redução veio em dezembro, com queda nas vendas de 25% sobre dezembro do ano anterior e sobre novembro também. As empresas imediatamente ajustaram os seus níveis de produção. Estamos, agora, nos adaptando a um novo nível de demanda e a novos parâmetros de preços. A nafta, que chegou a ser vendida a US$1.300 a tonelada, hoje custa US$220 a tonelada. Isso vai significar plástico a outro preço, defensivo agrícola a outro preço - disse ele.

Mariani acha que a transição para a redução de estoques e mudança de níveis de preços vai durar todo o primeiro trimestre, pelo menos. De qualquer maneira, todos os segmentos têm dificuldade de fazer previsões para este ano.

Christiano disse que na distribuição de aço, a melhora pode vir logo no começo do segundo trimestre de 2009.

- O ano de 2008 fechou muito bem, mas o último trimestre foi muito feio. Dezembro foi na ordem de 35% menor que o dezembro do ano anterior. No setor siderúrgico, os altos-fornos estão sendo abafados, um movimento que começou nos Estados Unidos, em outubro, e foi muito brusco, mas que ao fim vai ajustar o volume de aço produzido. Alguns movimentos foram exagerados. Nos EUA chegaram a abafar 50% dos fornos. O Brasil começou a fazer esse ajuste em dezembro, quando ficou claro que a crise chegaria aqui. O último trimestre de 2008 foi difícil, o primeiro deste ano está sendo de ajuste. Mas agora estamos começando a ver o segundo trimestre de 2009 de maneira positiva. Janeiro, na verdade, está mais positivo do que o esperado para o setor de distribuição de aço, com um aumento de 6% em relação ao último trimestre do ano - disse Christiano.

Ele disse que o setor siderúrgico terá uma queda de 40% neste começo de ano, mas a distribuição não irá tão mal, porque conseguirá entregar à indústria final os seus estoques - o setor estava com 900 mil toneladas de estoque. Mas Christiano admite que a indústria siderúrgica pagará um preço alto por este ajuste brusco.

- Quando uma empresa abafa um forno não é brincadeira. Isso não é ligar na tomada e tirar da tomada. A indústria fica três meses fora do ar. O custo é muito alto.

O setor petroquímico vem de anos fantásticos. No ano passado houve um crescimento de 19%. De 2002 para 2008 o faturamento de todos os segmentos juntos saiu de US$38 bilhões para US$123 bilhões, um salto espetacular. Eu perguntei a Mariani se o setor não aproveitou este momento para acumular gorduras e enfrentar o tempo das vacas magras.

- Sim, claro, isso foi feito. Mais do que isso, o setor aproveitou um bom momento para fazer uma grande reestruturação, que era necessária. Agora temos duas grandes centrais petroquímicas, nas quais ocorreram uma reorganização societária, e a Petrobras voltou à petroquímica. Tudo isso era necessário - disse ele.

Seja como for, são tempos difíceis. As empresas enfrentam uma revolução nos parâmetros de preços, um encolhimento do mercado interno e externo, um acúmulo de estoques formado pela queda brusca de movimento. E tudo isso num país com os mais altos juros do planeta.

Na presença da adversidade

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Enquanto o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, com seu linguajar pitoresco e raciocínio manhoso, estiver na linha de frente da “defesa do trabalhador” e do ataque aos “patrões”, a cena fica entendida como simples performance sindicaliza.

Ruim, mas sem maior consequência. Demagógica, oca, mas em conformidade com o perfil do personagem escalado, na condição de presidente do PDT, para representar o partido na coalizão de apoio ao presidente Luiz Inácio da Silva.

Partido fundado por Leonel Brizola, o PDT é também a legenda de origem do senador Cristovam Buarque, que retornou a ela depois de anos no PT, de onde saiu por divergência de procedimentos e depois de uma passagem pelo Ministério da Educação.

O que faz Cristovam Buarque nessa história que começa com as bravatas de Carlos Lupi e logo concluirá pela inadequação de o presidente da República abrir espaço ao sindicalista nele mais ou menos adormecido?

Nos idos dos 90, ainda governador petista do Distrito Federal, Cristovam era das poucas vozes do PT a alertar para a necessidade de o partido abandonar a lógica da reivindicação, deixar de lado a defesa corporativista impressa em seu DNA sindicalista e abraçar causas que dissessem respeito à sociedade inteira.

Só dessa forma, argumentava Cristovam, o partido poderia se preparar para um dia realmente disputar a sério o poder e, no caso de vitória, administrar o País com todos os seus desafios.

Enquanto olhasse apenas para a “mesa de negociações” entre patrões e empregados onde Lula forjara suas habilidades políticas, seria parte sem a indispensável noção do todo.

Carlos Lupi, presidente licenciado do PDT, não ouviria as ponderações do filiado. A prepotência adquirida no cargo não lhe permitiria enxergar que não é ministro dos sindicatos.

É ministro do País que não precisa de ameaças vãs de punição ao setor produtivo, mas daquela visão ampla que desde há muito prega o hoje senador Cristovam Buarque, para enfrentar a crise, encarar as agruras da impossibilidade de atender a todos os interesses quando o cobertor encurta e a situação requer espírito público. No sentido coletivo do termo.

Querer e poder

No caso das disputas dentro do Congresso, as querências dos presidentes da República não necessariamente correspondem às poderências.

Lula “tranquilizou” Michel Temer dizendo que o melhor cenário para ele é o PMDB na presidência da Câmara e o PT, com Tião Viana, na do Senado.

Nessa altura do segundo mandato de Fernando Henrique ele também tranquilizava sua base dizendo que o quadro mais confortável para o Planalto seria Jader Barbalho na presidência do Senado e Inocêncio Oliveira na da Câmara.

Jader foi eleito, renunciou em meio a denúncias. Inocêncio foi abalroado pela candidatura (vitoriosa) do tucano Aécio Neves.

A partir daí, as relações entre os três principais partidos da aliança - PSDB, PFL e PMDB - nunca mais foram as mesmas, com consequência direta sobre a eleição presidencial de 2002.

Mal comparado

O ministro da Justiça, Tarso Genro, não enxerga por que não quer a diferença entre asilos políticos concedidos pelo Brasil a chefes de Estado apeados do poder e a recusa de extradição ao italiano Cesare Battisti.

Battisti foi condenado por homicídio pela Justiça de um País cujas instituições funcionam à normalidade. O ministro tem a prerrogativa de tomar a decisão que tomou, mas não dispõe de salvo-conduto para distorcer os fatos sem contestação.

Os atletas cubanos entregues a Havana quando tentaram refúgio no Brasil logo após os jogos panamericanos para atender ao governo de Cuba também foram, ao inverso, objeto dessa adaptação autocrática da realidade à posição ideológica de determinado grupo.

Naquele caso a conta foi paga pelos atletas, banidos do esporte, pois o Estado atendido deu-se por satisfeito e a reação no Brasil diluiu-se na geleia da benevolência geral para com a ditadura de Fidel Castro.

Nesse episódio de Battisti, ao se imiscuir em decisão do Judiciário italiano, o Brasil pode ter contratado um grave atrito diplomático sem dispor da estatura política e da sustentação legal suficientes para enfrentar.
Tratou uma ditadura como democracia, agora atuou no modo vice-versa e terá necessariamente de se valer do nem sempre prestigiado Itamaraty para desatar o poderoso nó.

Os pedidos de recuo, feitos diretamente ao presidente Lula, tendem a ser inúteis, pois Tarso Genro submeteu a decisão a ele antes de divulgá-la certamente garantindo que não haveria obstáculos. Ou Lula teria medido as consequências.

É um bom exemplo de como nem sempre é bom o governante agir na confiança da avaliação alheia e formar juízo a partir do próprio discernimento. Obtido mediante o conhecimento dos fatos por meio, entre outros meios, da leitura dos dados em jogo.

Serra ataca Lula ao anunciar obras

Silvia Amorim
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Governador prometeu investir R$ 3,9 bilhões em estradas

Em evento para anunciar um programa bilionário para recuperação das estradas paulistas, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), fez ontem duras críticas ao governo Lula e não descartou a sua candidatura à Presidência da República. Favorito nas pesquisas para a corrida ao Palácio do Planalto, o tucano fez ainda um pedido público à sua equipe: que as obras apresentadas sejam entregues até março de 2010. Em abril, seis meses antes da eleição, vence o prazo para as desincompatibilizações.

Até 2010, a gestão Serra promete recuperar mais de 7 mil km de rodovias e pavimentar 3 mil km de estradas de terra ao custo de R$ 3,9 bilhões. Isso é mais que o triplo do investido na primeira metade do governo no programa Pró-Vicinais. O plano é vitrine da administração Serra e promessa de campanha do governador.

Para uma plateia de mais de 400 prefeitos, o governador, ao negar o caráter eleitoreiro na ampliação do programa nos próximos dois anos, pela primeira vez, mencionou a possibilidade de se lançar candidato à Presidência em 2010. “É um programa de governo, que estaríamos fazendo em qualquer situação: se eu fosse largar a vida pública, se fosse me candidatar à reeleição ou me candidatar a presidente”, disse. À frase de Serra seguiram-se aplausos e manifestações a favor da postulação.

Um pedido feito pelo governador durante o discurso, de quase 52 minutos, alimentou as especulações sobre o seu futuro político. “A Secretaria dos Transportes diz que vai ser em abril (a conclusão das obras). Eu não vou me comprometer. Será em 2010. Mas vamos perseguir para que seja até antes, em março, pelo menos”, sugeriu.

Serra enumerou uma lista de realizações da sua gestão e não economizou nos contrapontos e críticas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “O custo dessa reforma é metade de uma vicinal nova. Não é brincadeira. Não é um programa de tapa-buraco. É fazer a estrada de novo”, alfinetou, referindo-se ao plano emergencial feito pelo governo federal para a recuperação de estradas.

Pouco antes, o presidente estadual do PSDB em São Paulo, Mendes Thame, foi mais contundente nas críticas à gestão petista. “Há aqueles que se alienam, não leem jornais, têm azia. E há outros que enfrentam a crise. O que assistimos aqui hoje é um exemplo da extraordinária capacidade do governo de São Paulo de enfrentar momentos difíceis.”

No quesito elogios ao próprio governo, Serra afirmou: “Não governamos segundo a cor partidária e, modéstia à parte, temos sido exemplo na área de gestão”.

EMPREGOS

Prosseguindo nas comparações, o tucano mudou o foco para a crise mundial. “Essas vicinais novas vão permitir gerar em São Paulo 36.400 empregos diretos e 108 mil indiretos. Isso não é brincadeira num momento de crise.” E provocou: “Estamos dando uma contribuição importante, mas restrita. O governo de São Paulo não tem política monetária, cambial ou fiscal”.

Foi a senha para disparar mais uma vez contra Lula. “Agora mesmo estava olhando umas tabelas. Todos os países do mundo reduziram juros, menos o Brasil e a Rússia, esta por uma situação peculiar”, destacou. “Sem dúvida, é o fator que está mais contribuindo para que o Brasil não adquira confiança necessária para sair da crise.”

Serra também requereu a paternidade de um dos maiores feitos do governo Lula. “Dos 3,7 milhões de empregos criados no Brasil desde janeiro de 2007, 1,4 milhão, ou quase 40%, foi em São Paulo, que tem 23% da população. Isso não está separado dos nossos investimentos no Estado”, comentou.

Para 2009, o governo paulista prevê investimentos de R$ 19 bilhões. É quase o total do que foi investido em 2007 e 2008, R$ 22 bilhões.

Obama e a finança no bico do corvo

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Democratas e assessores de Obama divulgam projetos de reforma; Armínio Fraga ajudou a elaborar propostas

OS DEMOCRATAS e os assessores econômicos de Barack Obama deram ontem mais sinais de que o sistema financeiro terá de dançar miudinho sob novas leis. Sugeriram ainda que dinheiro do pacotão Paulson-Bush será usado na recompra de dívida imobiliária, ora na mão de investidores e instituições financeiras, a fim de renegociá-las e reduzir o nível de calotes.Ontem, Obama conseguiu liberar no Congresso a outra metade do pacote de US$ 700 bilhões.

As diretrizes do plano de reforma financeira foram divulgadas ontem pelo lendário ex-presidente do Fed Paul Volcker, que comandou o "Grupo dos 30" economistas, executivos e ex-banqueiros centrais que as discutiram (entre eles Armínio Fraga). Recomendaram a separação entre atividade bancária mais tradicional e negócios mais arriscados, numa reedição das leis dos anos 1930 (revogadas desde os 90), não se sabe se reedição ampliada, mas bem revista. Pediram rédea mais curta sobre seguradoras e corretoras.

Querem conter a promiscuidade entre agências de avaliação de risco e emissores de dívida. Outra ideia é enquadrar os "quase-bancos" no sistema de supervisão bancária (por exemplo os fundos de aplicação financeira, "mutual funds").

Volcker acha bom reduzir o tamanho dos conglomerados financeiros.

Disse que "sistema financeiro não passou na prova do mercado". Chamou o sistema bancário de "uma bagunça" ("a mess"). No Senado, tramita projeto de lei que permitiria a juízes de concordatas alterar contratos imobiliários.

Objetivo: evitar mais inadimplência e despejos. Mas tal medida coloca os bancos em pânico: se não puderem prever seu fluxo de renda futuro, vão emprestar apenas para pessoas com risco menos zero de crédito, contraindo ainda mais a economia.

Enquanto isso, Citigroup e Bank of America lutam pela vida -o governo vai ter de socorrer a turma de novo. E ativos financeiros que ficaram famosos na crise voltam a apodrecer, após a enésima onda do "pior já passou". Trata-se de títulos atrelados a hipotecas de segunda linha, as notórias "subprime", a imóveis comerciais e também a financiamentos para aquisições de empresas. A desvalorização desses e outros ativos come o capital das instituições financeiras que os detêm.

Tal degradação ocorre mesmo depois de o governo dos EUA ter tomado as seguintes medidas: 1) trocar títulos públicos por títulos podres dos bancos. Como alguns desses ativos jamais voltarão a valer um tostão, na prática o público americano doa dinheiro aos bancos; 2) comprar títulos privados, evitando derrocada ainda maior de parte do papelório e, por conseguinte, do capital dos bancos; 3) tornar-se o segurador de fusões & aquisições de instituições financeiras; 4) emprestar dinheiro a juro camarada aos bancos, com garantias para inglês ver; 5) estatizar instituições financeiras; 6) comprar parte do capital de outras.

A recessão tritura empregos e empresas. Caiu a ficha de que mais pessoas e firmas não pagarão as contas.

Mais títulos atrelados a tais pagamentos perderão valor, o que provoca mais liquidação de ativos, dando novo impulso ao ciclo vicioso. A inadimplência maior, de resto, afeta diretamente o balanço dos bancos.

O governo precisa ter juízo

Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Se enfrentar as empresas for a escolha do governo, os resultados serão desastrosos, e o ajuste, muito mais difícil

A CRISE econômica chegou ao mercado de trabalho no Brasil antes do esperado pelos analistas. A provável eliminação de mais de 600 mil postos formais em dezembro jogou um balde de água fria no otimismo do governo Lula e surpreendeu o mercado.

Muito divertida a expressão facial do ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) diante das câmeras de televisão ao anunciar que, apesar do tombo, o governo mantém sua previsão de crescimento do PIB de 4% para este ano.

Já outro ministro -o do Trabalho, Carlos Lupi-, comentando os dados de emprego em dezembro, mostrava claramente sua decepção com esse número. Gaguejando, disse que os empresários são os verdadeiros responsáveis pelas demissões e reviveu a marolinha de Lula na imagem da "espuma". Seguia o padrão petista de sempre arranjar, fora do governo, um responsável pelos problemas.

Essas duas reações, se mantidas, podem ser muito perigosas para o governo ao longo deste ano. A primeira reflete claramente a forma irresponsável com que Brasília vem tratando a crise econômica que atinge hoje todas as economias do mundo. Em vez de enfrentá-la de forma consistente, reconhecendo que o Brasil também será afetado, Lula e seus liderados optaram por um discurso ufanista e irrealista.

A deterioração do emprego no Brasil estava contratada a partir do agravamento da crise dos Estados Unidos, em setembro último. O que surpreendeu foi a rapidez e a intensidade do impacto. Para mim, esse é um sinal evidente de que as empresas brasileiras compreenderam muito bem a virada do cenário econômico e se anteciparam.

A segunda reação, explicitada pelo ministro do Trabalho, mostra que o governo ainda não entendeu a complexidade do ajuste que vamos viver neste ano. É preciso aceitar que haverá uma redução importante na taxa de crescimento da economia, independentemente das medidas anticíclicas tomadas pelo governo. Essas medidas são importantes para diluir no tempo a desaceleração e permitir certa dose de racionalidade no ajuste que as empresas e os consumidores terão de realizar. Ações com método e inteligência podem minimizar os efeitos negativos da crise e restaurar as possibilidades de crescimento, talvez para algo próximo de 3% ao ano já no quarto trimestre. Mesmo assim, o crescimento médio do ano será baixo, provavelmente inferior a 2%. Durante alguns meses, o governo terá de conviver com estatísticas econômicas menos favoráveis, mas os frutos serão colhidos um pouco mais à frente, e o Brasil poderá terminar 2009 em um restrito grupo de economias com desempenho ainda positivo.

Mas se o caminho escolhido for o de tentar chegar a um crescimento de 4% ao ano a qualquer custo, inclusive via confronto com as empresas, os resultados serão desastrosos e o ajuste, muito mais difícil. Para o governo, é preferível voltar atrás o quanto antes em uma posição que se mostra errada do que transformá-la em um problema que terá de ser enfrentado por um tempo mais longo. Por falar em juízo, espero que os membros do Copom decidam, na próxima semana, por uma redução agressiva -pelo menos 0,75 ponto percentual- da taxa Selic. Os últimos números da inflação mostram que o fantasma do aumento dos preços por conta da desvalorização do real não passou de uma alucinação de uns poucos analistas. E a queda da atividade já contratada abre um espaço de ociosidade na economia suficientemente grande para permitir a redução de 3% na taxa de juros até o final do primeiro semestre.

Luiz Carlos Mendonça De Barros , 66, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

Lula admite demissão mais alta desde 1999

RODRIGO VARGAS
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Lula admite demissão recorde em dezembro

Presidente afirma que corte de vagas formais no mês passado pode ter chegado a 600 mil, o pior resultado desde 1999

Durante entrevista, ele chegou a mencionar 800 mil dispensas, mas número foi corrigido por sua assessoria; ministério não confirma dado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem, durante entrevista em Ladário (428 km de Campo Grande), que o número de demissões em dezembro pode ter batido recorde. Ele citou a possibilidade de o número de cortes ter atingido 800 mil, mas sua assessoria, em seguida, corrigiu o dado e informou que a intenção era mencionar 600 mil demissões.

Esse número é quase o dobro da média histórica para o período, segundo estimativa apontada pelo próprio presidente.

"Tivemos uma anormalidade no mês de dezembro, e é importante lembrar que, na série histórica, dezembro é sempre anormal", disse. "Ainda não temos os dados oficiais, mas nós vamos ter para o mês de dezembro, que na série histórica é por volta de 300 mil a 400 mil demissões, um pouco mais, talvez cheguemos a 800 mil demissões [número corrigido pela assessoria do Planalto]."

Com a confirmação da perda de aproximadamente 600 mil postos em dezembro, esse será o pior resultado desde 1999, quando foi adotada a atual metodologia para a pesquisa de emprego com registro em carteira. Embora dezembro seja um mês tradicionalmente marcado pela retração do mercado, os números flutuavam em torno de 300 mil vagas fechadas. Em 2007, o dado ficou negativo em 319.414 postos de trabalho.

Na gestão petista, o pior resultado havia sido verificado em 2004, quando o mercado perdeu 352.093 empregos com carteira assinada.

Desde o início da semana, o Ministério do Trabalho tem evitado confirmar o número de 600 mil demissões no mercado de trabalho formal em dezembro, apesar de a notícia ter surgido em entrevista concedida pelo próprio ministro Carlos Lupi no final de semana ao jornal "O Globo".

Nos dias seguintes, Lupi e sua assessoria vinham dizendo que os números não estavam fechados, pois só seriam fornecidos integralmente pelas unidades estaduais do ministério ontem.

Na terça, após reunião com Lula, Lupi chegou a antecipar a divulgação dos dados para a próxima segunda -a data inicial era o dia 21. Procurado ontem, o ministério não se manifestou.

Preocupado com a situação, o governo já adotou algumas medidas para estimular o crescimento econômico e deve anunciar outras até o final do mês (veja quadro ao lado).

Segundo Lula, é "importante" lembrar que o crescimento da geração de empregos no ano de 2008 foi "anormal para os padrões brasileiros". "Chegamos até outubro a 2,1 milhões de trabalhadores contratados e vamos fechar o ano com um saldo positivo de quase 1,5 milhão de empregos novos criados nesses 12 meses."

Questionado sobre o impasse nas negociações entre a Força Sindical e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que vinham discutindo acordo de flexibilização trabalhista, Lula disse que se reunirá na próxima segunda-feira com representantes das centrais sindicais.

"Quero saber o que eles estão pensando, para saber o que o governo, centrais e sindicatos podem fazer conjuntamente para evitar que uma crise financeira nos EUA traga prejuízos ao povo brasileiro."

Crise "sem precedentes"

Horas antes, em discurso na Bolívia, Lula avaliou a crise internacional como algo "sem precedentes na história da humanidade" e disse que a turbulência ameaça a produção e os empregos em todos os países.

Para ele, uma saída é o investimento em infraestrutura. "Logo deverão aparecer especialistas dizendo que devemos conter custos. Mas não podemos voltar à política da década de 80, quando Bolívia e Brasil ficaram mais pobres."

Colaborou a Sucursal de Brasília

Crise chega ao Vale do São Francisco

Carolina Mandl e Bettina Barros, do Recife e de São Paulo
DEU NO VALOR ECONÔMICO

A crise econômica mundial chegou às cidades sertanejas de Petrolina, em Pernambuco, e Juazeiro, na Bahia. Com a demanda externa por frutas em queda, os produtores do pólo agrícola do Vale do São Francisco, maior exportador brasileiro de uvas e mangas, começam a demitir funcionários, reduzir a escala das culturas ou substituí-las por outras.

A uva é a cultura mais atingida. Segundo estimativas da Câmara de Fruticultura de Juazeiro, cerca de 10 mil pessoas envolvidas com as plantações foram demitidas na região desde novembro - quase um terço da força de trabalho fixa.

Os efeitos da crise econômica mundial na mesa das famílias americanas e européias já chegaram às cidades sertanejas de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). Maior exportador brasileiro de uvas e mangas, o pólo agrícola do Vale do São Francisco sente os reflexos da menor demanda internacional por frutas. Produtores começam a demitir funcionários e até a fechar, temporariamente, as porteiras das fazendas.

A uva é a cultura que mais está sendo atingida. Segundo estimativas da Câmara de Fruticultura de Juazeiro, cerca de 10 mil pessoas envolvidas com as plantações de uva foram demitidas na região desde novembro. Isso representa quase um terço da força de trabalho fixa das fazendas de uva, que era de 30 mil funcionários até outubro passado.

Apesar de a atividade empregar 240 mil funcionários com as mais diversas culturas, a preocupação é que os cortes, atualmente concentrados na uva, possam se alastrar. "Sem vislumbrar melhoras, os empresários estão preferindo ser cautelosos e demitindo", explica José Gualberto, presidente da Valexport, associação de exportadores do Vale.

Por conta da queda de preço obtido nas exportações, que vem sendo superior à desvalorização do real, alguns produtores já desistem dos parreirais. Segundo o Valor apurou, uma das maiores fazendas da região, a Copa Fruit, estuda não mais plantar uva e dedicar-se apenas ao cultivo de manga. As terras, hoje ocupadas pelos parreirais, podem ser arrendadas. Questionado, o gerente comercial da empresa, Artur Cisneiros, negou a informação.

Na fazenda Terra do Sol, que só se dedica à uva, a opção foi por não mais produzir em áreas de baixa produtividade. "Os preços de hoje não sustentam mais isso", diz Antônio Pereira de Lucena, diretor da empresa. Segundo ele, os compradores dos EUA estão pagando em janeiro US$ 10 por caixa de uva (6 quilos), enquanto no mesmo mês de 2008 desembolsavam US$ 30. Na média, Lucena calcula que o preço este ano fique 30% inferior ao de 2008.

O Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf) admite que a situação é difícil no Vale do São Francisco e requer estratégias. "Estamos verificando o que podemos fazer em medidas emergenciais", disse Moacyr Saraiva Fernandes, diretor-presidente do instituto, sem ainda ter uma resposta à mão.

De acordo com o Ibraf, além da crise econômica mundial, a queda nos preços da uva e manga também foi resultado de um volume exportado maior que o projetado. Segundo dados divulgados nesta semana pelo instituto, o volume de uvas embarcadas pelo Brasil subiu de 79 mil toneladas em 2007 para 82 mil toneladas no ano passado, uma alta de 4%. No caso das mangas, o volume subiu de 116 mil toneladas para 133 mil toneladas, um aumento de 15%. Detalhe: Bahia e Pernambuco representam nada menos que 99% dos embarques totais de uva do país e 87% dos de manga.

Para Fernandes, a superprodução de uvas este ano na Califórnia também veio de encontro com a oferta brasileira e pode ter ajudado a complicar a situação para os produtores de Juazeiro e Petrolina. "É como ocorre com o suco de laranja. O Brasil não vende mais porque eles estão abastecidos".

Produtores que atendem o mercado interno não estão sentindo problemas. "Mas não dá para direcionar toda a uva e manga do Vale para o consumo local. Os preços também desabariam. Além disso, são frutas sofisticadas, que poucos brasileiros conseguem pagar o que ela vale", avalia Gualberto, da Valexport.

O problema já acendeu a luz vermelha nos gabinetes dos governadores da Bahia e de Pernambuco, que, juntamente com os agricultores, buscam soluções com Banco do Nordeste, Banco do Brasil e Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). O Valor teve acesso a uma carta enviada pelo governador pernambucano Eduardo Campos à Sudene, na qual propõe que as dívidas dos agricultores com o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste, vencidas em 2008 e neste ano, sejam renegociadas. Igual medida é sugerida pelos governos aos bancos. Pede-se ainda a concessão de novos empréstimos.

A interpretação do governo é que a crise é grave, mas que poderia ter sido amenizada se os exportadores tivessem diversificado um pouco mais a pauta, bastante concentrada em uva e manga. "Há diversas outras frutas que não estão sofrendo porque são produzidas em menor escala", afirma Fernando Bezerra Coelho, secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco.

A Niagro, produtora de acerola para sucos de Petrolina, não viu nem a demanda, nem os preços caírem. "Quanto mais valor se agrega, mais difícil é a entrada de concorrentes. Fazer polpas para o mercado internacional não é algo simples", diz Hugo Torres, diretor da Niagro, que tem como clientes os japoneses. Porém, sabendo do bolso mais apertado do consumidor, a empresa está mudando a forma de comercialização. "Em vez da polpa, estamos fazendo concentrados, que têm custo de transporte menor".

Montadoras do Rio dão férias coletivas

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Com o setor automobilístico retraído pela crise, as montadoras instaladas no Rio têm optado pelas férias coletivas para não demitirem. É o caso da Volkswagen Caminhões e Ônibus, em Resende, e a Peugeot-Citröen, em Porto Real. Em São Paulo, as centrais sindicais suspenderem as negociações com empresários. Querem a presença da CUT, que não aceita reduzir os salários

Governo estuda tributar quem demitir sem aviso prévio

O cenário de retração de de- manda, provocado pela crise financeira internacional, que diminuiu o crédito nos mais variados setores, tem afetado de forma significativa o setor automobilístico. Diante disso, as montadoras de automóveis instaladas no estado do Rio de Janeiro têm optado pelas férias coletivas para não demitir funcionários.

A Volkswagen Caminhões e Ônibus informou que, até o momento, não houve demissões. Os funcionários ligados à produção, que estavam de férias desde o dia 17 de dezembro, retornaram ao trabalho segunda-feira. Os da área administrativa já haviam voltado no dia 5 deste mês. ­

-Por enquanto, esse é o status da empresa ­ afirmou a assessoria de imprensa da fábrica, que se localiza em Resende e tem cerca de 5 mil empregados.

Na Peugeot-Citroën, instalada no município de Porto Real, o nível dos estoques está acima do normal. Diante disso, a montadora optou por antecipar as férias coletivas de 2009 para manter seu efetivo. O período de férias será de 26 de janeiro a 24 de fevereiro. A empresa já havia concedido férias coletivas entre 8 de dezembro e 5 de janeiro.

A assessoria de imprensa da Peugeot-Citroën do Brasil informou que, embora o mercado de veículos tenha tido resultado positivo no acumulado do ano passado, a companhia enfrentou no Brasil queda de 25% nas vendas, em novembro, e de 20% em dezembro, em comparação com os mesmos meses de 2007.

De acordo com a assessoria, a empresa considera que as medidas de apoio ao setor automotivo, como a redução temporária do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), poderão vir a amenizar o cenário desfavorável. A montadora ressaltou, no entanto, que mesmo com as medidas o mercado doméstico permanece com desempenho inferior às expectativas. A Peugeot-Citroën tem atualmente 4 mil empregados.

Punição

Em meio ao aumento no número de demissões no país, o governo decidiu que vai cobrar contribuição previdenciária sobre os valores pagos na forma de aviso prévio indenizado aos trabalhadores que perderem o emprego. A medida vai aumentar o custo de demissão para os empregadores e reduzir a indenização paga aos trabalhadores.

Essa verba se refere aos 30 dias que são pagos pelo empregador em caso de demissão sem justa causa, quando o trabalhador é dispensado de cumprir o aviso prévio.

A mudança na regra passou a valer na última terça-feira, quando foi publicado o decreto presidencial 6.727.

Agora, ao receber a indenização, o trabalhador será descontado em relação aos valores devidos ao INSS, de 8% a 11% do salário, com um teto de R$ 334,29. A mudança também afeta os empregadores, que terão aumento de encargos, pois esse valor passará a fazer parte da folha de salários, tributada entre 20%.

A Receita ainda avalia possibilidade de fazer a cobrança retroativa do tributo, que pode atingir os benefícios pagos nos últimos cinco anos. O órgão afirmou que não faria uma avaliação política sobre o assunto e informou apenas que a mudança faz parte dos trabalhos de fusão da Receita Federal com a Receita Previdenciária.