terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Manifesto de fundação do PPS

" Aos seres humanos que, por nascimento ou opção, habitam terras brasileiras,o PPS dedica seus 70 anos de lutas, e todas as lutas futuras* "

Há uma crise, no mundo e no Brasil, e todos podemos senti-la. Uma crise que solapa a esperança, que chega ao fundo dos corações, gerando frustrações, descrença e cinismo. Frente aos desafios destes novos tempos, seu compromisso de luta por uma sociedade mais justa e mais humana, o X Congresso do PCB oferece à sociedade brasileira um novo instrumento de luta, o Partido Popular Socialista - PPS.

Um Partido que, desde sua formação, é plural, aberto à participação de todos os que acreditam que é possível, a todos os seres humanos, viverem iguais e livres. Um Partido que, num mundo de mudanças, assume o compromisso central com a vida, entendendo-a como indissociável da natureza e da cultura. Um Partido, que quer contribuir para a construção de uma nova ética, em que o ser humano, sem nenhuma discriminação, seja protagonista e beneficiário das transformações sociais.

Um Partido novo, democrático, socialista, que se inspire na herança humanista, libertária e solidária dos movimentos sociais e das lutas dos trabalhadores em nosso país e em todo o mundo, prolongando hoje a luta que travamos desde 1922. Um Partido que não use o povo, mas seja um instrumento para que cada cidadão seja sujeito de sua própria história. Um Partido socialista, humanista e libertário, que tenha como prática a radicalidade democrática, que permita a cada ser humano exercer sua plena cidadania, na área em que reside e no planeta em que habita.

Um Partido que tem como metodologia de ação política, a não violência ativa, e que repudia toda e qualquer forma de violência (econômica, racial, religiosa, física, psicológica etc). Um Partido que faz da eliminação da miséria a questão primeira de sua política. Porque enquanto houver um ser humano sem comida, sem moradia, sem educação ou sem as mínimas condições de acesso à saúde, nossa luta tem e terá razão de continuar.

Um Partido que defende que a propriedade dos meios de produção e de comunicação deve ser social, com propostas autogestivas, cogestivas e cooperativistas, contrapondo-se aos modelos neoliberais.Um Partido que se empenhará para que o desenvolvimento científico e tecnológico seja considerado prioridade nacional, pois como não haverá progresso social sem o amplo desenvolvimento científico e tecnológico.

Um Partido que tem como objetivo a reforma democrática do Estado para que ele não tutele, mas que seja controlado pelos cidadãos e pela sociedade.

Um Partido que luta por um programa radical de desenvolvimento que tenha o ser humano como sujeito e que seja capaz de eliminar a injusta distribuição de renda, acabando com a brutal concentração hoje existente. A consolidação da democracia política e a retomada do desenvolvimento, pondo fim à recessão e ao desemprego, são claras prioridades para a construção da cidadania.

Um Partido que lutará pela implantação do parlamentarismo, pelas reformas estruturais de que o país necessita e pela preservação dos direitos consagrados constitucionalmente. Um Partido que se dispõe a repensar tudo, 'mas que não abre, de forma alguma, seu compromisso de luta por uma sociedade mais justa e mais humana.

Um Partido que é e será um espaço aberto à participação de todos os que têm aspiração de construir essa sociedade. Um Partido que assume sem medo compromissos com o presente e o futuro, recusando a infalibilidade e o dogma, mas tendo em conta a experiência do passado.

Um Partido que não tem fórmulas prontas e acabadas, e que se propõe a discutir e formular um Projeto para a Nação Brasileira, com a colaboração de todas as forças do campo democrático. Esse é o desafio lançado a todos os militantes deste novo Partido e o convite a todos os que queiram nele se integrar.

* Manifesto de fundação do PPS, 26 janeiro de 1992, São Paulo, SP

De lei forte e carne fraca

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Autor do anteprojeto do Código de Ética interno que o PT começa a discutir, o secretário-geral do partido e deputado federal José Eduardo Martins Cardozo integrou a CPI dos Correios e transitou na contramão da decisão majoritária de deixar quase por isso mesmo as malfeitorias da direção do partido com o lobista Marcos Valério.

Sempre pregou uma posição mais rigorosa e defendeu a ideia de que o PT jamais sairia totalmente ileso dos escândalos de 2005 se não fizesse uma autocrítica de procedimentos e não aplicasse punições de fato.

Persona non grata no Palácio do Planalto e na seção petista de seu próprio Estado (SP), comandada pelo grupo de Marta Suplicy, Cardozo foi voto vencido na época e hoje, levado pelas circunstâncias (uma candidatura à presidência do PT com votação e apoios expressivos) à cúpula da Executiva, está a cavaleiro para propor a regulação de condutas.

No papel, está tudo lá, previsto e até redundante em relação às leis em vigor e às regras da convivência civilizada: veto ao uso do caixa 2; proibição de "exploração de detalhes da vida íntima de adversários" em disputas eleitorais; obrigatoriedade de quebra voluntária do sigilo de dados pessoais; quarentena para quem ocupar cargo público de confiança; proibição de acúmulo de cargo público com função na estrutura partidária.

Pelo código, o PT fica obrigado a divulgar mensalmente na internet doações de pessoas jurídicas, não pode patrocinar "filiações em massa" e está proibido de participar ou promover "manobras parlamentares ou escusas".

Tudo, segundo a proposta, para assegurar uma boa imagem pública ao partido.

Ótimo, já não era sem tempo, antes tarde do que nunca, estava mesmo na hora de o partido da ética abandonar a lassidão de comportamento que presidiu suas ações desde a ascensão ao poder, em contradição com a trajetória de uma vida partidária dedicada, na oposição, à cobrança da elevação dos padrões no exercício da política.

É um avanço o debate do tema. O PT, entretanto, só fará diferente das legendas que ignoram o tema - todas elas - se, além de debater e escrever o código, se dispuser fazer da teoria uma prática corriqueira, abandonando a lógica da "transparência assim é burrice" em voga nos tempos em que Delúbio Soares era tesoureiro.

Não fala em favor do partido o fato de as normas - apesar de propostas anteriormente - começarem a ser cogitadas na última metade do governo Lula, quando poderiam ter sido implantadas ao longo do segundo mandato, a tempo de o PT mostrar apreço à ética estando no poder ou fora dele.

Este, ademais, é o eterno problema dos códigos, regulamentações e leis em geral. Só são fortes se as pessoas estiverem dispostas a obedecê-las. Se não, tendem a ter o mesmo destino do Código de Ética Pública, por exemplo, ignorado explícita e oficialmente.

O que está em elaboração pelo PT virará letra morta se, uma vez aprovado, a direção do partido, encarregada de aplicá-lo, mais uma vez optar pela proteção de uns poucos em detrimento da regra geral. É uma chance de restauração e retomada da boa imagem perdida. Caberá ao partido aproveitá-la ou não.

Mão e contramão

O Palácio do Planalto já deve ter percebido que contratou uma enrascada no caso Cesare Battisti. Inclusive porque se o Brasil não leva em conta as razões da Itália não poderá esperar que tenha as suas respeitadas numa eventualidade futura.Além do horizonte

Auxiliar muito próximo do governador José Serra com gabinete no Palácio dos Bandeirantes diz que não sabe qual é a posição do chefe sobre a eleição para a presidência do Senado.

Apenas põe as coisas nos seguintes termos, considerando a hipótese de Serra ser mesmo o candidato do PSDB e ganhar a eleição, que é como ele raciocina: "Sarney eleito agora provavelmente seria reeleito em 2010, bem como Michel Temer na Câmara. Será que Serra acha bom ou ruim ter o PMDB - Sarney em particular - no domínio total do Congresso na campanha e durante os primeiros dois anos de governo?"

A resposta certa é, no entender do serrista em questão, "ruim".

Mas, pensando na mesma situação em relação a Tião Viana, do PT, a alternativa poderia ser péssima. A menos que no Palácio dos Bandeirantes se considere um PT na oposição potencialmente menos danoso que um PMDB na pressão.

Por tabela

Na viagem na semana passada à Colômbia, o governador Serra esteve uma hora e meia com o presidente Alvaro Uribe, que busca um terceiro mandato.

Uribe não tocou no assunto, mas o governador de São Paulo registrou sua posição junto a amigos do presidente: melhor sair bem depois de dois mandatos. Redobrar a aposta é mais que um risco, é fracasso certo.

Mudança dos ventos

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO

DAVOS. É exemplar da maneira de fazer política de Lula a decisão de não ir ao Fórum Econômico Mundial, que começa amanhã aqui, e comparecer ao Fórum Social Mundial em Belém. Com a crise internacional recrudescendo, Lula pela primeira vez comparece ao Fórum Social isoladamente, pronto para fazer críticas aos "donos do Universo" que a provocaram. Em 2007, com a economia mundial de vento em popa, e a brasileira entrando em ritmo de crescimento acima da média dos últimos anos, Lula escandalizou a esquerda ao decidir comparecer apenas ao Fórum Econômico, deixando de lado a reunião da esquerda mundial no Quênia.

Naquela ocasião, o ex-assessor especial da Presidência e um dos idealizadores do Fórum Social, Oded Grajew, lembrou que a coincidência de datas entre os dois eventos, desde a criação do evento, em 2001, foi proposital para "fazer as pessoas escolherem seus caminhos, dizerem onde se sentem mais identificadas".

É o que Lula está dizendo com a decisão de agora, que neste momento sente-se mais à vontade entre os seus socialistas do que entre os também seus capitalistas de Davos.

Em 2003, assim que assumiu a Presidência, decidiu comparecer aos dois Fóruns, foi vaiado em Porto Alegre por isso e tratado como a grande estrela da reunião daquele ano em Davos.

A parte dos integrantes do Fórum Social Mundial que vaiou Lula ficou em polvorosa com sua declaração de que a reunião corria o risco de se transformar em uma "feira de produtos ideológicos, onde cada um compra o que quiser e vende o que quiser".

Lula cobrava dos organizadores do Fórum foco em poucos temas, para que a reunião tivesse resultados concretos.

Tanto pragmatismo fez com Delfim Netto o comparasse ao líder chinês Deng Xiaoping, que iniciou a arrancada da China comunista para a economia de mercado, para quem não interessava a cor do gato, desde que comesse os ratos.

Em 2005, o presidente novamente participou dos dois encontros, foi a Porto Alegre, que sediava o social, e à Suíça.

Em 2004 (na Índia) e 2006 (na Venezuela e em Mali e no Paquistão), Lula não foi ao Fórum Social, mas também não foi ao Econômico. Em 2008, não houve Fórum Social, e Lula também não foi a Davos.

Os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, Evo Morales, do Equador, Rafael Correa, e do Paraguai, Fernando Lugo, estarão também no Fórum Social Mundial, em Belém, e participarão, junto com Lula, de um debate promovido por movimentos sociais no dia 29. No dia 30, o presidente se reúne com o comitê internacional do Fórum.

Além do presidente, nada menos que 12 ministros confirmaram participação em atividades do Fórum, entre eles a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, no que está sendo considerada sua apresentação oficial à esquerda mundial como a candidata de Lula à sua sucessão.

O ministro da Justiça, Tarso Genro, receberá uma solidariedade internacional pela decisão de não extraditar o ex-terrorista italiano Cesare Battisti, que estava foragido há 26 anos e foi um dos chefes da organização de extrema-esquerda PAC (Proletários Armados pelo Comunismo), condenado à prisão perpétua na Itália por quatro assassinatos.

Esse caso merece um comentário paralelo. Por mais controverso que possa ter sido seu julgamento, por mais dúvidas que possam existir sobre sua participação em todas as mortes de que é acusado, a decisão do ministro brasileiro peca pela origem: como pode o mesmo ministro que entregou para uma das mais cruéis ditaduras do mundo os boxeadores cubanos Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que fugiram da concentração durante os jogos do Pan no Rio, alegar que Battisti corre o risco de ser perseguido na democrática Itália?

Tarso Genro, ou o governo brasileiro, não consideram a ditadura cubana de esquerda uma ameaça aos direitos humanos de foragidos, que não eram acusados de nada a não ser querer liberdade, mas acham que a democracia italiana, com um governo de direita no poder no momento, o é para um terrorista condenado por assassinatos ?

Uma atitude ignóbil, tão marcada de ideologia que não merece uma discussão sobre soberania brasileira. Ao contrário, o governo está usando a soberania do país para suas conveniências políticas.

Onze meses após, desmentindo o governo brasileiro que disse que os cubanos pediram para voltar ao seu país, Erislandy Lara, campeão mundial amador da categoria até 69 quilos, chegou a Hamburgo, na Alemanha, depois de ter fugido em uma lancha de Cuba para o México.

Os boxeadores haviam sido chamados de "traidores" por Fidel em um artigo do jornal oficial "Granma", nunca mais treinaram com a equipe de boxe do país e não foram convocados para disputar os Jogos Olímpicos em Pequim. Eram campeões mortos-vivos em seu país.

Comparar o caso à negativa de extradição pela Itália de Salvatore Cacciola parece até piada do ministro Luiz Dulci. Só se Cesare Battisti tem nacionalidade brasileira e ninguém sabe, ou é pai de uma criança brasileira, coisa que o grande público desconhece.

O fato é que, na busca de reaproximação com os movimentos sociais, Lula prepara discurso com críticas aos Estados Unidos e aos países desenvolvidos, culpando-os pela crise econômica mundial. Os companheiros de mesa que ouvirão suas críticas foram os mesmos que, meses atrás, ouviram um sábio conselho de Lula, que ele mesmo não está seguindo: chega de culpar os outros por nossos problemas, disse num desses inúmeros encontros regionais de que participa.
Mas, desde que a crise internacional se mostrou mais do que uma simples "marolinha", ele e seus parceiros, que perderam a força dos argumentos com a queda generalizada do preço do petróleo e do gás, só fazem falar mal dos países desenvolvidos, e a reunião de Belém será certamente mais uma oportunidade, como foram as cúpulas de Salvador, na Costa do Sauípe, recentemente.

O doce e o risco de déficit externo

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Janeiro pode registrar déficit comercial; investimento externo de 2008 foi bom, mas minguou no final do ano

A BALANÇA comercial de janeiro por ora está deficitária. O Brasil mais importou bens do que os exportou, ficando no vermelho em US$ 645 milhões. Pode aparecer o primeiro déficit comercial desde 2001. Ontem soubemos também que o investimento estrangeiro direto (IED), investimento dito "na produção", foi recorde: US$ 45 bilhões. O que tem a ver lé com cré?

O saldo da balança comercial e o IED são alguns dos itens do balanço de pagamentos, uma espécie de enorme livro de caixa que registra todas as saídas e entradas de moeda forte (dólares) do país. Entradas e saídas têm de se equilibrar, grosso modo. Caso ocorra um déficit, se o país fica "no vermelho", a conta do déficit "cai", em última instância, nas reservas internacionais, os ativos em moeda forte no caixa do Banco Central. Se não há reservas bastantes, em tese o país "quebra" (e/ou sofre baita desvalorização cambial).

O saldo comercial e o IED vinham sendo fontes de recursos que contrabalançavam as contas em que o país é muito deficitário: remessas de lucros de empresas e investidores estrangeiros, pagamentos de juros, de serviços (como fretes, as viagens do cidadão, royalties etc.).

Não dá para estimar o que vai ser da balança com os dados de apenas um mês, que dirá de algumas semanas de janeiro. Mas o comércio mundial vai encolher em 2009. O IED no ano passado foi bom, mas não diz tudo sobre esta conta: o Brasil também investe no exterior, uma das principais novidades no balanço de pagamentos na era Lula. O saldo do IED (investimentos estrangeiros aqui menos o de brasileiros lá fora) foi de US$ 24 bilhões. Outra novidade é que a maior parte do déficit da conta de rendas agora se deve a remessa de lucros, e não de pagamento de juros (em especial da dívida externa do governo). Tais ineditismos criam incógnitas maiores sobre o futuro das contas externas do país.

O investimento estrangeiro direto tende a cair, num ambiente mundial recessivo. E o brasileiro também? Qual cai mais? As remessas de lucros das múltis instaladas aqui, pressão crescente no nosso balanço em 2008, também devem ser menores. Mas como fica a balança?

E daí? Daí que não é possível continuar crescendo como em 2008 em um ambiente mundial no qual vamos obter menos dólares para fechar nossas contas externas. Quanto menor for o "financiamento externo" (via investimentos "produtivos" ou aplicações financeiras e mesmo empréstimos), maior terá de ser o saldo comercial: exportar mais, importar menos. Consumir menos.

Não dá para comer o doce (consumir) e ficar com o doce (equilibrar as contas externas). É por isso que está quente o debate entre economistas do governo, em geral, e os de fora (os ditos "ortodoxos"). O governo Lula está certo em tentar não deixar a peteca do consumo e do PIB cair no chão. Mas, se exagerar na dose, pode provocar um excesso de consumo (dadas as condições de financiamento) e déficit, o que pode levar a uma desvalorização maior do real, talvez mais inflação (e juros maiores) ou, no limite, a coisa pior. Uma acomodação do consumo (em especial o do governo), em níveis menores, tende a permitir uma redução de juros e que o país volte a crescer de forma ordenada, em breve.

Retrato da crise

Celso Ming
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


As contas externas, que registram todo o movimento da economia com os demais países ao longo de um período, são as primeiras a sofrerem o impacto de uma crise global. E isso já vai claramente apontado nos números finais de 2008 que ontem o Banco Central divulgou.

O rombo geral em Conta Corrente, onde não é computada a entrada líquida de capitais, foi de US$ 28,3 bilhões, o primeiro déficit em 6 anos.

A desaceleração das exportações junto com a aceleração das importações tiveram lá seu peso. Mas foi decisiva a disparada da remessa de lucros e dividendos para o exterior, que saltou de US$ 22,4 bilhões em 2007 para US$ 33,9 bilhões em 2008. Só nos três últimos meses de 2008 as remessas para fora foram de US$ 21 bilhões.

Não se trata de fuga de capitais, como acontecia a cada crise do passado no Brasil. Desta vez, a principal explicação para essa paulada foi o movimento imposto às filiais das empresas estrangeiras no País: no meio da crise, as matrizes ficaram sem caixa lá fora e obrigaram suas controladas a remeterem de volta suas disponibilidades.

Esse fenômeno é novo no Brasil e não deve se repetir em 2009. Por isso, é perfeitamente plausível contar com um déficit em Conta Corrente até mais baixo neste ano. De todo modo, as projeções sobre esse item são disparatadas. O Banco Central projeta US$ 52 bilhões, volume um pouco maior do que o do ano passado. Mas o mercado, cujos números são aferidos pelo Banco Central na pesquisa semanal Focus, trabalha com metade disso.

O dado mais impressionante é o vigor dos Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) que, apenas em dezembro - portanto em plena crise -, injetaram US$ 8,1 bilhões no País, o que totalizou US$ 45,1 bilhões ao longo do ano, o correspondente a 1,78% do PIB, bem mais do que os US$ 30 bilhões projetados pelo Banco Central.

A força dos investimentos estrangeiros tem várias explicações. A primeira é a de que, apesar da crise, o comportamento da economia brasileira é razoável, o que contribui para atrair capitais de longo prazo. Mas começa a influenciar um fator circunstancial. O Brasil é o B de uma sigla que ficou em evidência. Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) foi uma invenção do economista Jim O?Neill, do Goldman Sachs, para caracterizar os quatro emergentes com maior probabilidade de se tornarem ricos em menos de 40 anos. Trata-se de uma sigla fortuita, que nem obedece à ordem alfabética, mas que pegou. O crescente protagonismo em eventos internacionais colaborou para o aumento da percepção de que está chegando a hora de o Brasil deixar de ser o país do futuro para ser o do presente.

Assim, estrategistas dos grandes negócios passaram a enxergar o Brasil como o país que não pode ficar fora de uma carteira de investimentos de longo prazo.

Para 2009, as projeções sobre o IED também são disparatadas, o que não deixa de ser normal, nas circunstâncias. O Banco Central, por exemplo, prevê um IED de US$ 30 bilhões. Mas as expectativas do mercado, medidas pelo Focus, apontam um total 23% menor, de US$ 23 bilhões.

Mas esta é uma crise de comportamento imprevisível. A esta altura, qualquer projeção para contas externas não passa de exercício de futurologia.

CONFIRA

Fim da arbitragem? - Há meses, ninguém mais se queixa de que os especuladores estão tomando empréstimos lá fora e mandando dólares para o Brasil de maneira a tirar proveito dos juros internos.

Os juros no Brasil continuam sendo os mais altos do mundo, os externos caíram para mais perto do zero e a alta do dólar garante, no câmbio, mais reais por dólar trazido para o Brasil.

No entanto, os investimentos em carteira fecharam o ano negativos: saída líquida de US$ 4,3 bilhões. No ano anterior, foram US$ 48,4 bilhões (positivos). Ou seja, na crise a a tal arbitragem sumiu.

Luzes de alerta

Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO

As contas externas voltaram a ser uma restrição, na visão do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga: "Não são uma restrição como no passado, mas com as commodities caindo de preço e a recessão no mundo, são sim um problema." O déficit em transações correntes fechou o ano passado em US$28 bilhões, 1,7% do PIB. Altamir Lopes, do BC, acha que o déficit cai em 2009, por causa da crise.

As contas externas mostram o momento de extremos: com recordes e números altos tanto em entradas como em saídas de capital. O déficit foi maior que o previsto, mas o investimento direto também surpreendeu. Altamir Lopes, diretor do BC, acha que a crise fará com que as empresas remetam ao exterior pelo menos US$13 bilhões a menos só em lucros e dividendos.

- Mesmo excluindo-se a operação da CSN, de venda de participação acionária da Namisa aos japoneses por US$3,1 bilhões, o investimento direto, só em dezembro, foi de US$5 bilhões, e isso é muito bom para um momento de crise - diz Lopes.

Há boas e más notícias nos dados divulgados pelo Banco Central, mas a deterioração na área externa foi muito rápida, e agora é que vem o pior da crise, com queda do investimento das grandes empresas e queda de volume e valor dos produtos que o Brasil exporta. Altamir acha que as empresas farão menos remessas de lucros e dividendos este ano, porque haverá menos lucros. Em janeiro, a remessa foi de US$480 milhões e, no ano passado, havia sido de US$ 3 bilhões. Haverá menos exportação, mas, por outro lado, menos importação também. Haverá menos saídas do mercado de capitais, porque os estrangeiros já remeteram bastante, o valor das ações caiu fortemente e o dólar subiu. Por tudo isso, ele acredita que o déficit de conta corrente vai cair de US$28 bilhões para US$20 bilhões. Mas é um ajuste pelo lado negativo.

Comparada a outras crises, a situação de composição de passivos e ativos da área externa é completamente outra, como lembrou ontem Altamir, na conversa que eu tive com ele. Mas o que Armínio Fraga alerta é que a situação internacional continua confusa e pode ficar pior.

- Está havendo uma revisão para baixo da perspectiva das principais economias do mundo. Bem para baixo. Os Estados Unidos podem ter uma queda de 2% a 3% do PIB, a Europa de 2%, o Japão de 4%. A China está desacelerando fortemente, a previsão de crescimento hoje está mais para 5% a 6% do que para 7% a 8%. Nós estamos bem comparativamente, mas há um consenso de que cair de 5,5% para 2% não é agradável.

Por isso, do ponto de vista da resposta, nas áreas fiscal e monetária, Armínio diz que o governo deveria aumentar menos o gasto para que os juros caiam mais rapidamente.

- A impressão que eu tenho é que a Fazenda acha o Banco Central conservador, e por isso aumenta mais os gastos, e que o BC acha a expansão do gasto excessiva e, por isso, corta menos os juros. O melhor seria ser menos agressivo na parte fiscal, para ser mais flexível na monetária.

A crise externa não terminará tão cedo e há vários riscos à espreita. O déficit americano crescente é um deles, na visão de Armínio.

- O déficit é alto hoje, sem contar os prejuízos, e pode ficar mais alto no médio prazo, pelos gastos que o governo terá que fazer.

Hoje, o déficit público americano está indo para 10% do PIB, mas há promessas de campanha do presidente Barack Obama de ampliar a assistência pública à saúde.

- Há, no prazo de anos, o risco de uma deterioração fiscal americana em mais cinco pontos percentuais do PIB - diz Armínio Fraga.

Isso pode levar a uma onda de queda do valor do dólar, que subiu muito na primeira fase da crise atual. O economista Nouriel Roubini, que acertou tantas previsões, errou ao considerar que o dólar se desvalorizaria na crise. Ele se valorizou.

- Talvez seja o caso de dizer que o dólar não se desvalorizou ainda - acredita Armínio Fraga.

As incertezas fiscais americanas, a expansão da crise para outros países além dos EUA, a oscilação gigantesca de valor dos ativos que ainda não acabou, tudo mostra uma crise ainda em expansão. O pacote do presidente Obama não esclareceu, ainda, que ações vai adotar, além das duas ferramentas mais convencionais, de política fiscal e de expansão do gasto, e financeira, a capitalização do sistema bancário.

- Ele ainda está muito descapitalizado - diz Armínio Fraga.

No balanço da área externa feito pelo Banco Central, há vários pontos de preocupação. Um deles é que as empresas não estão conseguindo rolar suas dívidas de curto prazo. O ajuste forçado está provocando uma queda forte do endividamento de curto prazo, ressalta Altamir Lopes, mas o custo dessa parada brusca tem sacudido as empresas.

- A taxa de rolagem da dívida de curto prazo era de 126% em outubro. Isso quer dizer que havia mais empréstimos do que o necessário para pagar as amortizações. Em dezembro, foi de 47%, o que significa que as empresas estavam tendo que pagar mais do que as amortizações devidas. A queda foi tão brusca que, mesmo chegando a dezembro com esta taxa, a média do ano foi de 109% - diz Altamir.

Com a crise ainda em andamento, é hora de ficar de olho no painel.

O economista que previu a crise continua pessimista

Emma Brockes, THE GUARDIAN *
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


O escritório em Nova York da empresa de consultoria de Nouriel Roubini é tão austero como a situação atual: uma escrivaninha, um telefone, alguns blocos de anotações e 134 páginas impressas de uma lista da Wikipédia de todos os bancos do mundo.

Há três anos, Roubini foi repudiado, tachado de fatalista enganador, quando detectou uma enorme vulnerabilidade do sistema bancário dos Estados Unidos, prevendo o seu colapso. Agora, Roubini converteu-se num guru, atraindo o interesse de governos, diretores de bancos, mas e até de sites de fofocas de Nova York.

Foi o The New York Times que o apelidou asperamente de Dr.Doom (Dr. Catástrofe) ao fazer um perfil do economista no ano passado, identificando-o como um herói insólito da crise. Em 2006, Roubini fez um discurso no Fundo Monetário Internacional, quando, entre outras coisas, previu que a economia americana corria o risco de um colapso imobiliário e uma profunda recessão, com consequências tenebrosas para o resto do mundo.

Hoje, ele sorri timidamente e diz que outras pessoas também previram esse cenário, mas ninguém foi tão preciso como ele, nem tão grave, nem foi tão ridicularizado como ele pelo sóbrio mundo da economia. Na época, seu discurso foi recebido como uma idiossincrasia de alguém que gostava de fazer teatro. Mesmo hoje alguns dizem que ele só teve sorte. É o caso do economista Anirvan Banerjee, que, indagado pelo The New York Times sobre Roubini, respondeu que "até um relógio parado acerta a hora duas vezes por dia".

Esse tipo de menção faz Roubini rapidamente esquecer a modéstia. Acusa de ingênuo o economista, que previu um crescimento quando a crise já se intensificava. "Dizer que foi apenas sorte da minha parte é um absurdo. Fiz previsões concretas que acabaram sendo certas. Exatamente."

Ele cita um estudo elaborado em fevereiro do ano passado intitulado "Doze passos para o desastre financeiro", onde "cada passo foi exatamente como a crise se desenvolveu nos últimos seis meses". "Eu disse que as duas maiores corretoras do país (EUA) iriam à falência e não haveria nenhuma grande corretora independente nos próximos dois anos. Ora, bastaram sete meses para o Bear Stearns e o Lehman (Brothers) quebrarem. Não foi uma análise imprecisa da minha parte quando declarei que ocorreria uma crise financeira. Fui bem explícito. E acertei." Ele encolhe os ombros e sorri ante o peso de estar certo em meio à estupidez generalizada.

As razões pelas quais Roubini foi o primeiro a prever a crise têm a ver, talvez, com seus antecedentes profissionais e pessoais, e com o que ele chama de abordagem "holística" na interpretação de dados econômicos. Roubini nasceu em Istambul, a família transferiu-se para o Irã quando ele ainda era bebê e depois para a Itália, onde cresceu.

Ele fala quatro línguas fluentemente (farsi, inglês, hebreu e italiano) e trabalhou em todo o mundo, incluindo dois anos como assessor político no Tesouro dos EUA. Segundo ele, o primeiro sinal de alerta foram as similaridades que observou entre regiões em desenvolvimento e o comportamento da economia dos EUA. Para sua surpresa, viu um padrão de movimento econômico nos EUA que, em 2005, parecia muito com a "economia de mercados emergentes", com a mesma "exuberância irracional" que, na sua opinião, só poderia ser seguida de um enorme colapso.

"Você examina a história, os dados políticos, os modelos, e faz comparações", diz. "Esta crise não é um evento totalmente extraordinário, uma consequência aleatória de uma distribuição aleatória. Foi um acúmulo de vulnerabilidades que aumentaram com o tempo", diz. "Tivemos dezenas de sinais distintos de que tudo acabaria num ponto de não retorno. A ocorrência de uma crise era algo totalmente óbvio para mim."

É tentador fazer perguntas a Roubini como se ele fosse um oráculo. Mas seu histórico recente faz com que seja irresistível. Para começar, ele acha que 2009 deve ser apagado completamente. Do ponto de vista financeiro, diz ele, está perdido. No "Jogo do Pior Cenário", Roubini olha para o mundo avançado e considera que muitas economias estão sob o risco de seguir o caminho da Islândia e se tornarem insolventes. A maior parte é de pequenas nações da Europa Ocidental.

"Se uma grande instituição (financeira) na Suíça, na Holanda, na Bélgica ou na Irlanda enfrentar um problema, o país não tem recursos suficientes para resgatá-la", avisa.

A Grã-Bretanha está em um estado tão ruim quanto os Estados Unidos do ponto de vista fiscal. Segundo ele, a necessidade de as decisões na zona do euro serem aprovadas por consenso faz com que resgates de instituições financeiras sejam mais difíceis de implementar.

Roubini diz que mais fundos hedge (os mais arriscados do mercado) vão quebrar, mas o efeito em cascata nem sequer começou a ser sentido. "As perdas agora estão concentradas nas hipotecas. Espere até que atinjam os imóveis comerciais, as companhias de cartão de crédito, os empréstimos automotivos, o crédito estudantil e os bônus corporativos. Há uma pilha de coisas. O sistema financeiro está insolvente. Está tecnicamente falido."

*Emma Brockers é articulista

Indústria de SP faz corte recorde

Marcelo Rehder
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em dezembro, foram 130 mil demissões, maior nível em 14 anos

Sob pressão da crise financeira global, a indústria paulista bateu recorde de demissões no mês passado. Levantamento divulgado ontem pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que as empresas do setor fecharam 130 mil postos de trabalho em dezembro, o equivalente a uma queda de 5,64% no nível de emprego - pior resultado mensal da série histórica iniciada em 1994. Foi também a primeira vez em que todos os 21 setores pesquisados pela entidade demitiram mais do que contrataram em um único mês.

"Essa crise tem demonstrado uma extrema velocidade na mudança e uma violência sem precedentes na queda do emprego", afirmou Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, ao divulgar os dados de dezembro.

Só no último trimestre de 2008, quando a indústria paulista começou a sentir o impacto mais forte da crise, as empresas do setor fecharam 174 mil postos de trabalho. Foi mais que suficiente para eliminar o efeito positivo da criação de 167 mil vagas até setembro. O setor fechou o ano com saldo negativo de 7 mil postos de trabalho e déficit de 0,27% no nível de emprego.

Francini observou que a velocidade da crise mundial fez as empresas do setor industrial mudarem de comportamento em relação a demissões. Segundo ele, normalmente, as dispensas só ocorriam depois de quatro meses da primeira redução do ritmo de atividade. Durante esse período, as empresas seguravam as demissões até ter certeza de que a retração nos negócios era para valer.

"Nesta crise, as empresas não tiveram a menor dúvida em relação ao futuro: ele será pior que o presente ", disse Francini.

A indústria sucroalcooleira foi a que mais demitiu em dezembro. Dos 130 mil postos fechados no período, as usinas de açúcar e álcool foram responsáveis pela eliminação de 79,2 mil vagas.

Por causa da sazonalidade do plantio e corte da cana, as usinas contratam milhares de trabalhadores ao longo do ano e costumam demitir a maioria deles em novembro e dezembro, encerrando o ano com saldo positivo de contrações. Em 2008, no entanto, a queda no preço das commodities agrícolas e do petróleo afetou a rentabilidade do setor, que fechou o ano com saldo de 4,3 mil demissões.

Uma boa notícia veio com os resultados da pesquisa Sensor, indicador antecedente que mede o sentimento do empresário sobre a atividade do setor. Na primeira quinzena de janeiro, o índice subiu para 43,5 pontos, ante 34 pontos em igual período de dezembro, embora continue abaixo da linha de 50 pontos que divide a contração do crescimento."O resultado é menos ruim, mas não deixa de ser uma perspectiva de que a queda vai continuar ocorrendo".

Para Francini, o Banco Central agiu tardiamente na redução dos juros e ainda é preciso uma ação forte na redução dos spreads.

CSN deve demitir mais 300 pessoas

Camila Nóbrega
DEU EM O GLOBO


Volkswagen dá novas férias coletivas a três mil funcionários em Resende

Representantes do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense se reuniram ontem com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, para tentar impedir demissões na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). De acordo com o presidente do sindicato, Renato Soares, a empresa já demitiu mais de 600 pessoas desde dezembro e, até o fim desta semana, mais 300 seriam dispensadas. Ele afirma ainda que os sindicalistas vão esperar as homologações das dispensas para entrar com uma ação na Justiça do Trabalho, pedindo a anulação das demissões, já que não houve negociação com o sindicato.

Lupi se comprometeu a procurar o presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, e o prefeito de Volta Redonda, Antônio Francisco.

- Vou estudar o relatório do sindicato e pedirei que o presidente da CSN aja com mais tranquilidade, pois as demissões coletivas contribuem para a desaceleração da economia - afirmou Lupi.

Ainda segundo o sindicato, a Volkswagen Caminhões, em Resende, fechou um acordo para não demitir funcionários. A empresa concederá férias coletivas a três mil funcionários em três turnos diferentes, com dez dias de duração. Os primeiros escalados vão parar de trabalhar na sexta-feira.

Além disso, a empresa suspenderá o contrato de 500 pessoas para reduzir a produção. Segundo o diretor do sindicato, Bartolomeu Citelli da Silva, o contrato deles venceria no dia 4 de fevereiro:

- Além dos benefícios do FAT, a Volkswagen cobrirá o resto do salário e manterá benefícios. Agora, queremos conseguir negociar com a CSN.

Em um único dia, 76 mil demissões anunciadas

DEU EM O GLOBO

Dez empresas cortam vagas como resultado da crise. Caterpillar prevê pior ano desde a Segunda Guerra Mundial

NOVA YORK, DALLAS, LONDRES, AMSTERDÃ e TÓQUIO. Dez grandes empresas anunciaram ontem mais de 76 mil demissões. O maior corte foi da Caterpillar, maior fabricante mundial de máquinas pesadas, que vai mandar embora 20 mil funcionários devido à desaceleração da demanda resultante da crise global. É a maior onda de cortes na empresa desde o início dos anos 1980. Para o site CNNMoney, foi uma segunda-feira sangrenta.

Dos 20 mil demitidos, oito mil são terceirizados. Os 12 mil restantes equivalem a cerca de 11% da força de trabalho total da Caterpillar. A empresa também reduziu suas projeções de lucro para este ano, que estima será o pior para os negócios desde a Segunda Guerra Mundial. "Enquanto doloroso para nossos empregados e fornecedores, é absolutamente necessário, dadas as circunstâncias econômicas", afirmou em comunicado o diretor-executivo da Caterpillar, Jim Owens.

Grupo de economistas espera mais cortes em 2009

No setor farmacêutico, a compra da Wyeth pela Pfizer, por US$68 bilhões, levará ao corte de 19 mil postos de trabalho, ou 15% da força de trabalho total da empresa resultante da fusão, informaram ontem as duas companhias.

A Sprint Nextel, a terceira maior operadora de celular dos EUA, vai eliminar oito mil vagas, ou 14% de seu pessoal, como parte de um plano para reduzir seus custos em US$1,2 bilhão ao ano. Já a Texas Instruments vai cortar 3.400 vagas, ou 12% de sua força de trabalho. A fabricante de chips para celulares e outros aparelhos prevê, com isso, reduzir seus custos anuais em US$700 milhões.

A rede Home Depot, de produtos para residências, vai demitir sete mil, ou 2% de seus 300 mil funcionários, e fechar as lojas de sua subsidiária Expo, de peças de decoração. O fechamento dessas lojas responderá por cinco mil das demissões.

Na Holanda, duas grandes empresas também anunciaram cortes. A Philips Electronics, ao divulgar prejuízo de 1,47 bilhão (US$1,9 bilhão) no quarto trimestre, anunciou que vai demitir seis mil funcionários este ano por causa da queda na demanda. O grupo financeiro ING, de bancos e seguros, por sua vez, vai demitir sete mil para reduzir seus custos em 1 bilhão em 2009. O ING tem cerca de 130 mil funcionário no mundo.

A seguradora SulAmérica disse que os cortes da ING, que detém 49% de suas ações, não têm qualquer relação com as operações no Brasil.

A siderúrgica Corus, controlada pelo grupo indiano Tata, vai fechar 3.500 postos de trabalho, sendo 2.500 só no Reino Unido. E o irlandês Ulster Bank vai demitir 750 funcionários.

Já a montadora General Motors vai demitir dois mil nas fábricas de Michigan e Ohio, além de suspender a produção por algumas semanas em nove unidades nos EUA nos próximos seis meses, devido à queda nas vendas. A empresa vai eliminar o segundo turno de Michigan em 30 de março, e o de Ohio, em 6 de abril.

No Vale do Silício, meca da computação nos EUA, foram fechadas 11.700 vagas em 2008, segundo o Centro de Estudos sobre a Economia da Califórnia. E a Associação Nacional de Economia Empresarial (Nabe, na sigla em inglês), espera mais demissões nos EUA este ano. Segundo a agência de notícias Jiji Press, as 12 maiores montadoras do Japão devem eliminar 25 mil vagas até o fim do ano fiscal, em 31 de março.