quarta-feira, 11 de março de 2009

Tempos difíceis

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


A tese antiga de que a parte mais sensível do corpo humano é o bolso pode ser resumida na frase de James Carville, marqueteiro do ex-presidente americano Bill Clinton: "É a economia, estúpido". A economia determina o resultado político de uma eleição, a derrota ou a vitória de um candidato. Não há nada que indique que essa norma não seja válida no Brasil, ao contrário. Sempre que a economia está bem, o governo da ocasião tende a ser vitorioso. Lula foi derrotado duas vezes no primeiro turno pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que tinha no Plano Real um instrumento eficaz de melhoria da vida dos cidadãos.

Por sua vez, Lula foi eleito duas vezes no rastro da promessa de mudança, quando a crise econômica dominou os dois últimos anos do governo tucano, e encontrou nos programas sociais, especialmente no Bolsa Família, instrumentos de manutenção do poder político.

O presidente Lula é um exemplo do reflexo do econômico no político, está com 84% de popularidade porque a economia vem melhorando ao longo de seu governo e, no ano passado, chegou a um ponto excepcional de crescimento perto de 7% ao ano.

O resultado foi a criação de milhões de empregos pela iniciativa privada, que o governo Lula habilmente tratava como uma vitória de suas políticas. Hoje, com a crise trazendo o desemprego, ele tenta se distanciar de seus efeitos.

Mas o fato é que, até setembro do ano passado, o ambiente econômico estava propício ao crescimento, à criação de riqueza. A política de aumentos reais do salário mínimo, embora seja causadora do aumento do déficit da Previdência devido à relação do mínimo com o aumento dos aposentados, e os programas sociais como o Bolsa Família ajudaram a aumentar o consumo interno, a melhorar a distribuição de renda.

A queda do PIB de 3,6% no último trimestre de 2008, puxando para baixo o PIB daquele ano, que mesmo assim acabou crescendo 5,1%, indica que o ano de 2009 será muito ruim para a economia brasileira.

Se antes da crise era tido como certo que o crescimento mínimo do país em 2009 seria de 2,5% apenas devido ao efeito estatístico do crescimento forte do ano anterior, a queda dos últimos meses de 2008 carregará um efeito negativo para a estatística deste ano equivalente a -1,5%.

As previsões agora são de crescimento próximo de zero para este ano, repetindo, de maneira até mais agravada, o que aconteceu em 2001, quando a economia brasileira crescia num ritmo de 6% ao ano e , com o apagão e os atentados terroristas nos Estados Unidos, o crescimento PIB ficou em 1,3%.

Há fatores que atenuarão esse encolhimento do PIB, como a inflação sob controle, os preços dos alimentos sem tendência de alta, e o aumento do salário mínimo, aquecendo mais um pouco a economia. Além disso, o Banco Central deve cortar os juros em níveis nunca antes vistos, o que pode estimular a economia.

Mas não é preciso ser um especialista para saber que uma taxa de crescimento próxima de zero representa menos empregos e redução da renda média dos cidadãos.

Tudo indica, portanto, que no final deste ano, o clima no país não será semelhante ao que existia até recentemente, e a popularidade do presidente deve ser afetada, o que veremos refletido nas pesquisas de opinião dentro de alguns meses.

A questão é saber se, com relação ao presidente Lula, é possível utilizar-se os mesmos parâmetros com que avaliamos os políticos de maneira geral. É sempre bom ter cautela quando se trata de fazer previsão política, ainda mais quando está em jogo um político diferenciado como Lula.

Não se sabe qual será a reação do povo brasileiro às consequências da crise econômica. Pode ser que haja uma grande frustração diante da postura do governo de minimizar o tamanho do problema, o que continuou-se fazendo ontem.

Para cada momento, o governo tem uma postura, mesmo que elas sejam diametralmente opostas. Quando a economia não conseguia deslanchar, crescendo menos do que a média do mundo, especialmente dos emergentes, o governo defendeu a tese de que não deveríamos nos comparar com os demais países, mas sim conosco mesmo.

Como se isso fosse possível em um mundo de economia globalizada, onde todos competem com todos pelos mercados.

Mesmo quando a economia brasileira crescia apenas mais do que a do Haiti, o governo Lula via motivos para comemorar. Agora, que tudo indica que o crescimento brasileiro, depois de dois anos seguidos em torno de 5%, terá interrompida essa evolução como consequência da crise internacional, o contágio da economia globalizada é ressaltado pelo governo, numa justificativa, aliás correta, de que o nosso crescimento foi interrompido por fatores externos, fora do controle do governo.

E o governo já prepara um discurso diametralmente oposto ao anterior. Ontem, o presidente Lula disse que, mesmo que o crescimento do país seja próximo de zero, será melhor do que o da maioria, inclusive dos países desenvolvidos, que terão uma recessão que ele ainda acredita que não chegará por essas bandas.

Pode ser que o presidente Lula consiga convencer a maioria da população de que a culpa pela crise não é de seu governo, mas dos países ricos, dos Estados Unidos, do neoliberalismo, seja lá do que for.

Mas, mesmo nesse caso, é improvável que ele consiga sustentar uma popularidade tão alta quanto a que obteve nas últimas pesquisas.

Mais que isso, a tarefa de transferir para a ministra Dilma Rousseff os votos necessários para que ela se torne uma candidata competitiva à sua sucessão ficará mais difícil do que já é, pois, se nos tempos das vacas gordas responsabilizá-la pelos êxitos da política econômica lhe dava respaldo político, no tempo das vacas magras, a economia será um ônus que ela carregará.

Maculadas conceições

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Aconteceu com o PMDB, aconteceu com o PSDB e está acontecendo com o PT: premidos pelas circunstâncias de governo, por compromissos assumidos no período e o peso de um presidencialismo quase absolutista, partidos que passam pelo poder pagam por isso um pedágio caro.

Se de um lado crescem, de outro perdem vigor, identidade e capacidade de fazer as escolhas mais afinadas com a rua, não necessariamente as mais convenientes para as cúpulas.

Numa visão otimista, seria a arte de engolir sapos em nome de um projeto maior. Na percepção do que ocorre de fato, tomando como exemplo as experiências do PMDB e do PSDB, os partidos voltam à oposição perdidos, sem referência.

Depois de anos fazendo todo tipo de concessão, acostumando-se a considerar os vícios como parte do jogo, o preço pago ao exercício da governabilidade, saem do poder, no mínimo, mais cínicos, altamente compassivos e muito menos combativos.

A distância entre a expectativa que cercou o primeiro governo civil pós-ditadura e a mixórdia em que se transformou o partido fiador da Nova República dispensa maiores apresentações sobre a trajetória do PMDB.

Bateu cabeça durante um tempo sem saber se era governo ou oposição, até que decidiu ser - ao mesmo tempo e alternadamente - governo e oposição, vivendo do aluguel da legenda.

Da sua costela nasceu o PSDB, cuja chegada ao governo central ocorreu prematuramente aos seis anos de vida. Passou oito anos da Presidência de Fernando Henrique Cardoso atendendo a todas as conveniências do Palácio do Planalto.

Diante das queixas dos correligionários, o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, informava que a obediência era o preço que o partido deveria pagar por ter chegado ao poder.

Na coalizão formada com o PMDB e o PFL prevalecia o raciocínio de que o "dono da casa" deveria tratar bem os convidados. O apoio do partido do presidente era fava contada; o dos parceiros precisava ser constantemente conquistado.

O resultado foi um partido encolhido, tolhido e, na volta à oposição, destreinado, desagregado, sem discurso e em boa medida anestesiado para deformações correntes no âmbito da máquina governamental.

O entendimento de que a Presidência obriga partidos nos quais militam presidentes à obediência acrítica prevalece também no PT, e com muito mais força, pois o peso da liderança de Lula é infinitas vezes maior que a influência dos antecessores nos respectivos partidos.

O PT - aqui entendido em sua totalidade, não apenas na representação parlamentar - engoliu todas as mudanças, todos os pragmatismos, todos os vexames, alianças, e, mais recentemente, engoliu também a candidatura de Dilma Rousseff sem entender direito aonde quer chegar o chefe e se prepara para engolir candidaturas politicamente complicadas aos governos dos Estados.

Obedece por instinto de sobrevivência, mas esquece o dia de amanhã. Lula será para sempre ex-presidente; já o PT sairá da Presidência sem saber direito quem é.

Madame X

A apresentação das mulheres ligadas ao MST e denominações adjacentes na série de infrações cometidas à guisa de "comemoração" do Dia Internacional da Mulher, com lenços escondendo os rostos, é própria imagem da (auto) "criminalização dos movimentos sociais".

A adoção do modelo ré misteriosa demonstra plena ciência do caráter infrator do movimento.

Diferentemente do governo, o MST reconhece a ilegalidade de sua natureza. Nasceu sem personalidade jurídica para fugir do alcance da lei como entidade. Agora começa a querer dificultar identificações pessoais e, para isso, fantasia seus integrantes de bandidos.

Todas as letras

O processo de severinização que o líder do PMDB, Renan Calheiros, impõe ao Senado já é evidente.

Líder da maior bancada da Casa, usa os instrumentos de poder recém-readquiridos para distribuir testas-de-ferro no comando de comissões por onde transitam interesses cruciais: Infraestrutura, Orçamento e Constituição e Justiça.

Só não é patente, por ora, a existência no Senado de homem ou mulher com coragem para pôr os pingos nos is com todos os efes e erres.

Prepondera na Casa a consciência de que Calheiros não tem mais nada a perder, nome a zelar nem imagem a preservar.

Os mais amigos de José Sarney acrescentam a preocupação de que a associação reserve percalços que venham a impedi-lo de levar a bom termo o mandato de dois anos na presidência do Senado.

No deserto

Dia chegará em que a excomunhão deixará de impressionar, tão apartados do mundo real são certos dogmas da Igreja Católica.
Ela fala à luz de suas leis - é um direito e um dever -, mas vai falando cada vez mais sozinha - é uma escolha.

As casas do PAC

Nas Entrelinhas :: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


Desperdiça-se a oportunidade de promover uma grande reforma urbana, o que exigiria maciços investimentos em transportes de massa e na reurbanização das áreas ocupadas irregularmente


O mais ambicioso projeto de alavancagem da candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República é a distribuição de um milhão de casas populares, por meio de um novo programa habitacional que promete colocar no chinelo o velho programa de construção de grandes conjuntos habitacionais do Banco Nacional da Habitação do governo do general Emílio Médice, nos idos da década de 1970. É que seu impacto eleitoral pode ser muito maior do que as obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pois cria uma marca urbana para a ministra, já que o Bolsa Família é a cara do presidente Luiz Inácio lula da Silva e ninguém tasca.

Experiências

Lembro-me muito bem, por exemplo, da construção do grande conjunto da Rua Dona Romana, no Engenho Novo, no Rio, que mudou a demografia do bairro e, diga-se de passagem, era uma opção de moradia só acessível aos assalariados com carteira assinada, muito distante das possibilidades dos moradores dos morros do São João e Barro Vermelho, quase vizinhos. Era um programa habitacional voltado principalmente para a baixa classe média, que acabou sufocada pela inflação, a correção monetária e a alta dos juros. Por causa da alta taxa de inadimplência, gerou uma dívida que hoje chega a R$ 80 bilhões, como destacou, ontem, o nosso colega Antônio Machado, na coluna Brasil S/A, aqui no Correio.

O governador Mário Covas, em São Paulo, graças a uma lei que destinava 1% do ICMS à companhia estadual de habitação, também realizou um grande programa de construção de moradias no interior paulista, que eram sorteadas em eventos muito concorridos. Mas nada disso teve tanto efeito eleitoral como Projeto Cingapura, de Paulo Maluf, na Prefeitura de São Paulo. Jogada de marketing de Duda Mendonça, me recordo da impressão que causou o primeiro deles, numa favela às margens do Rio Pinheiros, com o seu colorido berrante, uma espécie de show room para a campanha vitoriosa de Celso Pitta à sucessão do polêmico prefeito paulistano.

Apesar de condenado por arquitetos e urbanistas, o projeto arquitetônico caiu no gosto dos moradores da periferia porque representava um padrão de moradia muito superior aos barracos ao seu redor. Funcionou perfeitamente na campanha eleitoral, mas depois Pitta foi aquele desastre que se viu na prefeitura paulistana.

Polêmica

O PAC da Habitação, como está sendo chamado o programa habitacional desta reta final do governo Lula, nasce polêmico por outros motivos. O debate sobre sua concepção urbanista até agora não houve. A queda de braço ocorre nos bastidores da relação do governo Lula com a maioria dos governadores. Dilma passou por cima dos governos estaduais e suas companhias habitacionais, negocia diretamente com as prefeituras e impõe a elas uma espécie de renúncia fiscal que, supostamente, contraria os limites constitucionais de redução do ISS. Além disso, a intenção do governo é mobilizar as grandes empreiteiras para construir e entregar as casas antes das eleições de 2010.

É um programa voltado principalmente para os morros e periferias das grandes cidades, onde o impacto do programa Bolsa Família na qualidade de vida da população é amortecido pelas péssimas condições de moradia e os custos elevados da vida urbana caótica. Desde o Plano Real, no governo Fernando Henrique Cardoso, com o barateamento do material de construção, a ocupação irregular do solo sofreu grande expansão. A autoconstrução consolidou favelas, loteamentos e condomínios irregulares. Melhorou o padrão das moradias, mas ao preço de um padrão urbano muitíssimo abaixo daquele que caracterizou a formação dos bairros e subúrbios das principais cidades do país.

O Ministério das Cidades recebeu mais R$ 20 bilhões para o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social para a oferta a preço de custo ou gratuita de casas aos mais necessitados, como já anunciou a ministra Dilma. A romaria dos prefeitos em busca desses recursos já começou, mas até agora não se viu nada de realmente ambicioso e reformador para nossas cidades. Desperdiça-se a oportunidade de promover uma grande reforma urbana, o que exigiria maciços investimentos em transportes de massa e na reurbanização das áreas ocupadas irregularmente, com alargamento de ruas, construção de avenidas, verticalização das moradias e remoção de moradores em áreas de risco e de proteção ambiental. O reaproveitamento das áreas degradadas dos grandes centros, que já dispõem de boa infraestrutura urbana, também merece investimentos maciços em projetos revolucionários, como fizeram cidades como Nova York, Barcelona e Buenos Aires.

Desafios de Dilma

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO ESTADO DE MINAS

“O PT produziu um político conhecido nacionalmente e capaz de alcançar a presidência, mas um só. Hoje, no PT, todo mundo é, na melhor das hipóteses, igual a Dilma.”

Do modo como estão se encaminhando, parece que as eleições de 2010 vão ser as mais previsíveis do Brasil moderno. Todo mundo já sabe tudo sobre elas. No mínimo, as coisas mais importantes.

No governo, salvo se um acidente de percurso muito grave acontecer, Dilma é o nome. Há quem trabalhe com planos B e C, caso ela estanque nas pesquisas. Mas ela vai crescer.

Não é preciso ser especialista para perceber que o petismo e o eleitorado cativo de Lula, juntos, formam uma base mais que suficiente para torná-la uma candidata competitiva. São categorias que se sobrepõem, mas que guardam diferenças. Os petistas são, quase todos, eleitores de Lula e de quem quer que venha pelo PT. Os segundos são os que votaram várias vezes nele e que se dispõem a votar em quem ele indicar, sem manifestar maiores simpatias pelo partido.

Essa base é de cerca de 30% do eleitorado, nas estimativas de agora, ou seja, longe do período eleitoral. Pode ser que, medida em época mais “quente”, com as campanhas na rua, ela se mostre maior.

Essa fatia da população tende a se movimentar em direção a quem for identificado com Lula e o PT, seja Dilma, seja outra pessoa. Pode demorar, mas, um dia, ela chega lá.

O relevante é que não existe outro nome que largue melhor ou que consiga, com seus próprios atributos, abreviar esse tempo. Tendo insistido durante toda sua história em Lula, o PT produziu um político conhecido nacionalmente e capaz de alcançar a presidência, mas um só. Hoje, no PT, todo mundo é, na melhor das hipóteses, igual a Dilma.

Mas não é só o nome que conhecemos. Com pouca margem de erro, o que sua candidatura vai representar e o que ela vai dizer são pedras que se podem cantar com segurança.

Quando Lula a escolheu, foi para que o governo tivesse uma candidata cujo discurso fosse a continuidade. Sem uma biografia de maiores realizações antes de quando o assessorou, não seria nem possível, em um ano, dar-lhe outro.

Não se está aqui subestimando a densidade pessoal de sua trajetória ou a capacidade técnica que já demonstrou. Nem uma coisa, nem outra, no entanto, a habilitam a propor um projeto diferente do que foi implementado nos oito anos que passou ao lado de Lula.

Sua campanha tentará convencer os eleitores de que ela, e só ela, tem condições e vontade de prosseguir as coisas que o atual governo faz e que são aprovadas pela população. De que só ela sabe como avançar e melhorar o que Lula começou.

Dilma vai propor ao país um lulismo sem Lula. Um “terceiro mandato”, no qual Lula não vai estar de fato, mas em espírito. Votar nela, sua campanha vai dizer, é votar nele.

Se as pessoas vão acreditar nisso, é outro problema, que, no entanto, não muda a natureza da candidatura. Ela não tem como escapar da vocação de ser continuidade.

Depois que criamos a reeleição, os casos de continuidade efetiva de três mandatos se limitaram a alguns (pouquíssimos) estados e cidades. Governantes, mesmo muito populares, que ficaram oito anos e fizeram seus sucessores, indicando nomes pouco conhecidos, contam-se nos dedos (de uma das mãos). Terá havido algum que venceu adversários tão fortes quanto Serra ou Aécio, governadores de estados grandes, com larga biografia e à frente de bons governos?

Para Lula, nada parece impossível. Mas que é difícil, muito mais do que pensam alguns de seu círculo, isso é.

A visão toda azul do vermelho

Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o que avaliam seus discípulos, está acertando todas nesta pré-campanha para eleger Dilma Rousseff sua sucessora na Presidência da República. São atribuídos, já, diretamente ao presidente, vários êxitos, entre os quais o primeiro é o seguinte: definição de um cenário de eleição plebiscitária, em 2010, o que só interessaria ao PT e às hostes governistas. Segundo raciocina um político da confiança do presidente, não interessa ao adversário enfrentar um governo com 84% de aprovação, numa disputa polarizada.

Para evitar demonstrações de arrogância, o quartel general da candidatura governista evita constatar, em público, que está escolhendo o adversário, mas no âmbito privado é o que todos admitem, no rol de êxitos da orientação de Lula. Acreditam os envolvidos na campanha que já se desenvolve, célere, sem preocupações com justificativas vazias, que o presidente, com muita habilidade, conduziu seu rebanho em direção a um cenário polarizado, plebiscitário, com uma aposta mais centrada em um dos adversários, o mais forte junto ao eleitorado, o governador de São Paulo, José Serra.

Com esta conclusão a seara governista anota mais uma vantagem para si, que é acirrar o ânimo do segundo nome do partido adversário, o do governador de Minas, Aécio Neves, provocando atritos, irritações e divisões, o que também favorece a candidata do governo.

Foi também o presidente Lula quem detonou os primeiros fatos políticos mais contundentes e diretos para levantar a candidata que escolheu. Aí estão, por exemplo, a convocação dos 5 mil prefeitos a Brasília, com telefonemas pessoais aos mais importantes, para a ministra anunciar benefícios e ser fotografada com eles. É ainda de sua lavra o convite a governadores de Estado, inclusive os que são candidatos de oposição, a pretexto de reunirem-se com ele, Lula, mas na verdade para integrarem uma mesa de negociações presidida por Dilma para divulgar e pedir colaboração para o projeto de construção de um milhão de casas populares.

A transferência, sem dor aparente, do ministério da Fazenda para a ministra Dilma do controle e divulgação deste novo projeto popular do governo, que forma uma frente de trabalho eleitoral com o PAC e o Bolsa Família, é ordem de quem está no comando. Em reuniões nos Estados, a ministra até já costumizou o programa: em comemorações com mulheres, anunciou benefícios especiais e vantagens adicionais para elas. Dilma faz viagens ao lado do presidente para inaugurações e fiscalização de obras, já se fala em organizar para ela um calendário parecido com o que Lula cumpriu na campanha da sua reeleição, que contempla uma viagem na sexta-feira, a pretexto de tratar de projeto do governo, seguida de atividade política no sábado e domingo. E, numa especulação mais avançada, menciona-se a hipótese de casar, desde logo, esta campanha com a campanha pelo governo de São Paulo, deixando Dilma mais livre como maestra dos programas populares e passando a Casa Civil para Antonio Palocci, onde o ex-ministro se reintegraria à plataforma do governo para lançar-se em ouras disputas. Um turbilhão na agenda de Dilma Rousseff.

Em mano a mano, Lula a orienta sobre a estratégia política que deve seguir, em parceria com os especialistas em marketing. Também sob seu escrutínio, funciona um grupo de políticos do seu partido para praticar ações de campanha e aconselhamento da candidata.

Foi o presidente quem convidou e designou para esta tarefa Marta Suplicy, Fernando Pimentel e João Paulo, todos ex-prefeitos com experiência na administração, treinados em mais de uma campanha eleitoral, os três sem mandato e sem cargo no governo, portanto imunes à acusação de uso da máquina pública para fins eleitorais.

Marta já organizou jantar com a cúpula do partido, em São Paulo, mais refratária às soluções políticas que não passem pelo grupo. João Paulo foi um dos anfitriões de um carnaval em Recife onde colocou a ministra em um palanque, do governo estadual, para acenar a um milhão e meio de eleitores integrantes do Galo da Madrugada. Fernando Pimentel vocalizou, em entrevista à revista "Veja", a visão interna desta candidatura, consolidando o projeto.

Disse, por exemplo, que Dilma Rousseff é a candidata, plano único, não existe plano B. Afastou, com isto, as hipóteses que o próprio PT alimentava para o caso de Dilma "não decolar": Patrus Ananias a até Aécio Neves, se saísse do PSDB e fosse para um partido da base do governo. O candidato do PSDB, segundo Pimentel, na entrevista, é Serra, e Aécio será candidato ao Senado. É o governo nominando seu adversário. Uma entrevista reveladora da estratégia do presidente Lula.

O PT, avisado que não há outra hipótese (embora ainda haja no partido quem reserve a desconfiança de que ainda pode ser o próprio Lula para aquele famoso fantasma-terceiro-mandato-sequencial) tem cumprido seu papel para esta fase: organiza encontros, conferências, visitas da ministra Brasil afora, inaugurações, com Lula ou sozinha, para se tornar conhecida, identificada com o presidente e os programas que integram a grade de maior divulgação do governo, as obras, as bolsas e, agora, as casas.

Políticos ligados ao presidente avaliam que Lula, com habilidade, está dando o tom desta campanha e impondo a ela o ritmo e velocidade adequados para a candidata e seu partido. Os rumos dados por ele podem sofrer ajustes de acordo com resultados de pesquisas de opinião, quantitativas e qualitativas. Se o acaso não criar nuvens negras neste céu de brigadeiro, acreditam políticos do PT que a ministra chega ao fim do ano com 20% da preferência do eleitorado (atualmente tem 12%, em média), e daí para uma investida forte tendo em vista a vitória no primeiro turno.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

Serra critica ''talento mercadológico'' do PT

Julia Dualibi
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O governador José Serra afirmou ontem que o governo federal tem um "talento mercadológico" do qual a esfera estadual não dispõe. Disse que esse sempre foi um ponto forte do PT e um ponto fraco do PSDB. A declaração foi feita após cerimônia no Palácio dos Bandeirantes na qual anunciou parceria com o Sesc, em projeto para 50 mil jovens. Ele lamentou a falta de publicidade e justificou: "Porque custa dinheiro e porque a gente não tem o talento mercadológico do governo federal."

"A galinha põe um ovo pequenininho, mas cacareja que todo mundo vê. A pata põe o ovo grande, mas fica quietinha e ninguém nota", prosseguiu. "Às vezes, a gente está mais para o lado da pata que para o da galinha." Indagado se era uma questão de recursos, afirmou: "Não é só uma questão de recursos. Mas talento mercadológico, de marketing, que é sempre um ponto fraco do PSDB e um ponto forte do PT."

Ao falar sobre a parceria com o Sesc, ele chamou de "trololó" o marketing de algumas iniciativas para alcançar o público jovem.

Questionado se a ministra Dilma Rousseff tem talento mercadológico, sorriu e disse que não.

Via Campesina volta a invadir prédio público

Letícia Lins
DEU EM O GLOBO


Em Pernambuco, mulheres ocupam Companhia de Desenvolvimento do São Francisco, além de fornecedora de energia
RECIFE e PORTO ALEGRE. Um dia depois de protagonizarem atos de vandalismo em protestos pelo país, mulheres da Via Campesina, organização ligada ao Movimento Sem Terra (MST), voltaram a invadir prédio público ontem. Na véspera, elas quebraram vidraças ao invadir a sede do Ministério da Agricultura, em Brasília. Ontem, ocuparam escritórios da Companhia de Desenvolvimento do Rio São Francisco (Codevasf), em Petrolina, Pernambuco, para protestar contra o agronegócio.

Em Petrolândia (PE), cerca de 250 manifestantes ocuparam a sede da Neoenergia, a companhia de abastecimento de energia do estado, que foi privatizada. O protesto seria contra os altos preços cobrados pela empresa. No fim da tarde, a Codevasf e a empresa de energia foram desocupadas. As sem-terra divulgaram manifesto reclamando que "a água do Rio São Francisco devem ser do povo, e não de empresas internacionais".

A região, a cerca de 700 quilômetros de Recife, é conhecida como a Califórnia brasileira, devido ao cultivo irrigado de frutos para exportação. As lavradoras reclamaram que o governo irriga perímetros para a iniciativa privada, enquanto pequenos produtores vivem no meio da caatinga sem acesso à água.

No Sul, 500 armas brancas apreendidas em assentamento Em Porto Alegre, cerca de 900 mulheres integrantes de movimentos ligados à Via Campesina fizeram uma caminhada no Centro, causando engarrafamentos em várias avenidas. O grupo passou pela frente do Palácio da Justiça, na Praça da Matriz e seguiu até o Palácio Piratini, sede do governo do estado.

Em Candiota (RS), a Brigada Militar fez uma operação no acesso do assentamento Conquista do Paraíso e apreendeu cerca 500 objetos que estavam com mulheres ligadas à Via Campesina. Foram recolhidos foices, facões e escudos, dentre outros materiais. Segundo o subcomandante da Brigada Militar, coronel Lauro Binsfeld, não houve resistência. As mesmas mulheres participaram anteontem da invasão à Estância Aroeira (antiga Fazenda Ana Paula), de propriedade da Votorantim Celulose e Papel. O assentamento é vizinho da área invadida, e é acessado por estradas vicinais.

Em Brasília, militantes da Via Campesina participam de um protesto em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo a coordenadora nacional do movimento, Rosana Fernandes, foi um repúdio contra declarações do presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, que cobrou ação do Ministério Público para apurar o repasse de recursos públicos ao MST.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que à noite participaria de congresso da Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura (Contag), acabou não comparecendo. O evento reuniu 1.500 pessoas. Em discurso, o deputado federal Beto Alquerque (PSB-RS), vice-líder do governo, alegou que Lula estava no Planalto com a equipe econômica e, por isso, não poderia participar. Ele não fez referência aos protestos da véspera.

Chefe do Incra em Recife denuncia invasão e ameaças

Em Pernambuco, o superintendente da autarquia em Recife, Abelardo Siqueira, denunciou à PF que tem sofrido ameaças. A antessala do seu gabinete foi invadida por cinco homens encapuzados, em 3 de março. No momento da invasão, o superintendente estava na Procuradoria Geral de Justiça do estado, para reunião com o ouvidor do Incra, Gercino Silva, para discutir meios de reduzir a violência no campo. Os encapuzados gritaram palavras de baixo calão e afirmaram que iam "pegar" o superintendente. Também disseram que iam voltar.

Dez dias antes, um confronto acabou com quatro seguranças mortos em uma fazenda de São Joaquim do Monte, a 137 quilômetros de Recife. Abelardo não soube dizer se a invasão está relacionada ao caso.

Anca: Justiça proíbe mais repasses

DEU EM O GLOBO

SÃO PAULO. Um dia depois de bloquear, por liminar, os bens da Associação Nacional de Cooperação Agrícola (Anca), braço legal do MST, o juiz da 14ª Vara Federal, José Carlos Francisco, expediu ontem ofício ao Sistema Integrado de Administração Financeira do governo (Siafi), proibindo o repasse de recursos da União para a entidade.

A medida foi pedida pelo Ministério Público Federal e atendida logo após a publicação da liminar com o bloqueio dos bens móveis e imóveis. O MPF informou que, embora os convênios suspeitos estejam suspensos pelo próprio Tribunal de Contas da União, a medida é preventiva. O objetivo é evitar que ocorram novos repasses enquanto a ação esteja em curso.

A ação que deu origem à liminar, do MPF, acusa a Anca e seu ex-presidente Adalberto Martins de improbidade administrativa. Em 2004, a entidade recebeu R$3.801.600 do Programa Brasil Alfabetizado para alfabetizar cerca de 30 mil jovens e adultos e capacitar dois mil educadores em assentamentos. A verba, no entanto, foi distribuída para as secretarias regionais do MST.

MST investe na impunidade

EDITORIAL
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

As invasões e depredações realizadas por 6,5 mil mulheres do Movimento dos Sem-Terra (MST) e associados, como o Via Campesina, em oito Estados e no Distrito Federal, em "comemoração" ao Dia Internacional da Mulher e sob o pretexto de protestar contra o "modelo de agronegócio" brasileiro e a "paralisia da reforma agrária", fazem parte de uma rotina que até seria monótona, pela repetição, caso não apresentasse sempre maiores abrangência e violência.

Desde que seu objetivo principal deixou de ser a reforma agrária, e passou a ser claramente político - mesmo que baseado numa geleia ideológica "revolucionaria" de confusa natureza -, o Movimento dos Sem-Terra (MST) tem investido, fundamentalmente, na impunidade. As invasões de fazendas produtivas, as derrubadas de cerca, as depredações de sedes, as matanças de animais, as colocações de empregados rurais em cárcere privado, assim como os saques e as destruições de cabines de pedágio, as ocupações e depredações de prédios públicos, os acampamentos e interdições de estradas tudo tem dado margem à prática, pela entidade e seus seguidores, dos mais variados crimes comuns, inclusive os de homicídio. O problema é que a maioria esmagadora desses crimes permanece à espera de julgamento.

Os processos envolvendo integrantes do MST e grupos assemelhados, como Via Campesina, Movimento pela Libertação dos Sem-Terra (MLST) - incluindo aí o do notório dissidente emessetista José Rainha Junior, "dono" dos esbulhos possessórios do Pontal do Paranapanema -, têm caminhado a passos lentos demais no Judiciário. Assim, as críticas que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, tem feito tanto ao governo - por repassar verbas públicas para o MST e assemelhados - quanto ao Ministério Público (MP), por não cobrar o respeito à lei, são extensivas ao próprio Judiciário. "Na verdade, temos de sempre eleger prioridades. Esta é uma questão que está se acumulando, que está se adensando, e que muitas vezes gera, maximiza conflitos" - disse o presidente do Supremo.

Entendemos, pelas palavras do ministro Mendes, que mesmo sendo a Justiça estruturalmente morosa, há certas questões que merecem grande prioridade de julgamento, sob pena de resultarem nas piores consequências sociais - caso dos "investimentos em impunidade" que fazem MST e assemelhados. As 400 mulheres que ocuparam o 9º andar do Ministério da Agricultura, em Brasília, fizeram questão de dizer que não tinham interesse algum em encontrar-se com o ministro. O que queriam era só protestar contra o "modelo agrícola" vigente no Brasil. Há pouco tivemos, comandado pelo dissidente Rainha, o "Carnaval Vermelho" - ele tem, sistematicamente, escolhido datas e meses "vermelhos" para suas operações violentas, cujo único objetivo é desmoralizar as instituições democráticas.

Nada menos do que 650 processos penais foram abertos contra integrantes do MST, desde 1995. A quase totalidade deles ainda não teve julgamento definitivo - transitado em julgado: o assassinato do policial Luiz Pereira, em 2005, pelo qual 11 sem-terra foram presos, o Ministério Público os denunciou por homicídio triplamente qualificado e o processo aguarda julgamento da Justiça no Recife; a interrupção, no ano passado, da Estrada de Ferro Carajás, no Pará, pelo que a Justiça Federal condenou o MST a pagar R$ 5,2 milhões à Vale - mas, interposto recurso pelo MST, ainda falta o pronunciamento final da Justiça; a invasão e destruição, em 2006, do viveiro da Aracruz Celulose, no Rio Grande do Sul, quando o Ministério Público denunciou 37 invasores e o processo aguarda julgamento no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul; a invasão do Congresso por integrantes do Movimento de Libertação dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MLST), em que mais de 100 pessoas foram denunciadas pelo MP por lesões corporais, crimes contra o patrimônio e formação de quadrilha - e o processo aguarda julgamento na Justiça Federal; os muitos processos - inclusive por crime de morte - tendo como réu José Rainha Junior - que aguardam julgamento em definitivo. Eis apenas alguns exemplos. De onde é para se concluir que, até agora, os investimentos em impunidade, feitos pelo MST, só lhe têm trazido ótimos dividendos.

Lula, o PIB e a história

Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Lula especializou-se em contrariar previsões desde a sua posse, em janeiro de 2003. Com a forte desaceleração da economia, como mostrou ontem o IBGE, seu desafio agora se tornou um pouco maior. Terá de desautorizar o histórico dos últimos 24 anos de presidentes civis cujas taxas de aprovação ruíram diante de crescimento do PIB próximo de zero.

Toda vez que a economia rumou para a estagnação, a popularidade do presidente de turno fez uma curva idêntica nos anos recentes. O PIB em 1988 teve retração de 0,1%. A taxa de ótimo e bom de José Sarney no Datafolha mergulhou para 8% em dezembro daquele ano.

Collor assumiu com aprovação altíssima em março de 1990. Doze meses depois, em 1991, sua taxa bateu em 23%. O PIB havia caído brutais 4,3% em 1990. Em 1991, houve crescimento vegetativo de 1%.

FHC foi bem enquanto a farra do populismo cambial o sustentou nas alturas. A economia surfou na fantasia eleitoreira de um real valer, às vezes, até mais do que um dólar.

Quando a realidade bateu à porta, o PIB patinou. Só cresceu 1,3% em 2001 e 2,7% em 2002. A aprovação total do tucano flutuou um pouco acima dos 20%. O resto é história conhecida, com a eleição de Lula.

É necessário levar em conta as idiossincrasias de cada época. A inflação era estratosférica com Sarney e Collor. E FHC nunca teve a aprovação estelar de Lula, acima de 70% em todos os institutos.

Um dado sinistro é o fato de Sarney ter sido o único antecessor de Lula (pós-ditadura) a registrar PIBs "chineses": 7,9% em 1985 e 7,5% em 1986. O efeito comparação com o baixo crescimento dos anos seguintes foi devastador. Ele saiu do Planalto com 9% de aprovação.

Tudo somado, nada impede, é claro, Lula de surpreender a todos, permanecendo popular até com a economia no buraco. Mas a história emite sinais diferentes a respeito.

Estupor na economia e no governo

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


PIB deu notícias ruins novas; além de crédito raro, queda na indústria e na exportação, há consumidores em choque

PESSIMISMO NÃO é coisa que se espera de autoridades que se dispõem a tratar do desempenho da economia em público. Mas parecer estuporado ou estupidificado é contraproducente até para o patrimônio político de quem propaga eufemismos e otimismos abilolados. Para o público medianamente informado, há o risco de que autoridades torcendo nas arquibancadas do PIB pareçam alienadas ou desvairadas. Ontem, dava vontade de dizer, parafraseando a torcida do Corinthians, "ali tem um bando de loucos". Ou de espertos do avesso.

O ministro fulano "admite" que será "difícil" crescer 4% em 2009. Já começa a ficar difícil crescer 0,4%, um décimo disso. Segundo os dados sobre o PIB divulgados ontem pelo IBGE, se a economia ficar estagnada até o final do ano, o PIB na verdade vai encolher 1,5%, coisa que se viu por aqui pela última vez nos tempos sombrios de Fernando Collor.

Por ora é exagero dizer que a economia ficará estagnada nos quatro trimestres de 2009. Mas é provável que o país não cresça nada já neste primeiro trimestre. Nada em relação ao desastre do trimestre final de 2008, quando o PIB encolheu 3,6% (ante o trimestre anterior). Isto é, trata-se de tragédia multiplicada.

Os primeiros indicadores de fevereiro relativos ao desempenho da indústria apontam para um resultado tão ruim como os de novembro, dezembro e janeiro. Se comparados aos dados de fevereiro de 2008, sugerem tombos semelhantes aos que vimos em dezembro e janeiro, retrações de mais de 10%, por baixo. É o que antecipam dados como tráfego de caminhões pesados, consumo de energia e produção das montadoras.

Como previsões baseadas em estatísticas são apenas uma amostra geral do estado da produção das fábricas, ancoradas no comportamento passado da indústria, pode ser que exista algum coelho escondido nesse mato (um coelho magro, nas matas amazônicas). Mas, pelo andar da carruagem, a indústria deve estagnar no trimestre (em relação ao trimestre final de 2009).Não houve notícia boa nos dados do PIB divulgados ontem. Seria bom que fossem apenas notícias ruins e velhas, mas tivemos ainda novidades lamentáveis. O "consumo das famílias" (o consumo privado, afora empresas) caiu 2% em relação ao trimestre final de 2008. Isso com a massa salarial ainda crescente. E é bem improvável que a massa salarial continue a crescer. O desemprego apenas começou a aumentar. Embora horrível, a queda do investimento era esperada.

A baixa antecipada do consumo das famílias completa um trio de calafrios. As concessões de novos empréstimos pelos bancos vinha caindo, as exportações continuam caindo ao ritmo chocante de mais de 20% (em relação a 2008) e, agora, os consumidores parecem ainda mais chocados do que o previsto (por medo do futuro, por desemprego, por falta de crédito etc.). E o crédito não deve melhorar com desemprego e inadimplência crescendo e o mundo ainda em transe. O juro para o consumidor ficará ainda nas alturas. O comércio mundial ainda definha.

O mercado dava ontem de lambuja um corte de 1,25 ponto na Selic. Se o Banco Central cortar menos, estará pedindo para o mercado "maneirar". E estará pedindo encrenca.

Os erros na crise

Panorama Econômico :: Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO

A crise é externa; veio de fora. Não há dúvida. Mas os erros do governo são: ele subestimou o impacto na economia brasileira; confundiu desejo com a realidade, aposta com análise; tem atuado ao ritmo dos lobbies que aparecem em Brasília; antecipou a disputa eleitoral; ainda não tem uma estratégia para enfrentar a crise. Não há sinal de mudança de atitude.

As crises são implacáveis. Não adianta dizer que elas são externas, porque isso não torna menos concretos os efeitos internos. É esse o recado que os frios números do IBGE estão mandando. As economias estão cada vez mais ligadas. Portanto, o que cabe aos governos nacionais é atuar para mitigar ou abreviar seus efeitos. O governo deve ter consciência das virtudes do país em relação a outros países, da mesma forma que é aconselhável ter noção das fragilidades.

Nos últimos anos, o governo brasileiro aumentou muito o gasto público com despesas que não podem ser reduzidas. Aumentou salários de funcionários, criou fórmulas de ajustes de salário mínimo que impactam fortemente a Previdência, contratou 200 mil novos servidores. Isso, agora, reduz a capacidade de ampliar os investimentos públicos para reduzir o impacto da crise.

É normal que um governante queira injetar otimismo e fortalecer a capacidade de o país superar o momento difícil. Isso não se faz negando a crise, dizendo-se invulnerável a ela. Admitir que a crise é grave é o primeiro passo para tornar realista o chamado para a superação.

É preferível que o governo não acredite na propaganda que ele mesmo faz. Veja-se o PAC. Inaugurar dez pedras fundamentais não vai produzir nenhuma vírgula a mais no investimento calculado pelo IBGE. O que os números mostraram ontem foi que a Formação Bruta de Capital Fixo teve uma queda de 9,8%, o maior recuo da série. Como aí é que entram as obras públicas, a construção civil e a compra de máquinas e equipamentos, dá para concluir que o PAC não "pactou". Há muito, o site Contas Abertas e outros especialistas em contas públicas, como o economista Fábio Giambiagi, vêm mostrando que, calculado como proporção do PIB, o investimento público está abaixo dos níveis históricos, apenas se recuperando da queda de 2003. Pior que não fazer nada é tomar a decisão errada. O perigo é, agora, o governo se apavorar após uma queda de 17,2% na produção industrial em janeiro e uma queda de 3,6% do PIB trimestral - no último trimestre do ano passado - e passar a aprovar gastos de forma descontrolada, esperando que a política monetária vai compensar tudo, por liberar recursos com a queda dos juros.

Os juros devem, podem e vão cair. Mas como essa é uma política de metas de inflação, o Banco Central tem que olhar os espaços dados pela queda da inflação, calcular o nível de atividade e, dessa forma, cortar os juros. Há espaço para uma atuação agressiva do Comitê de Política Monetária, o Copom, na derrubada dos juros, ainda que a inflação esteja a níveis altos para os padrões mundiais. Mas o que o Banco Central deve fazer é derrubar a taxa de juros pelas razões certas, e não para socorrer a política fiscal expansionista. Não deve derrubar os juros só porque o governo quer um custo menor da dívida para aumentar os gastos.

O ministro Guido Mantega, em declaração curta e perguntas contadas, deu alguns sinais. Um bom, vários preocupantes. O bom é que o orçamento vai ser revisto. Precisa mesmo. Ele foi formulado com base numa expectativa de crescimento da economia para o ano de 2009 que agora ficou improvável. Entre os sinais preocupantes, ele continua mostrando que prefere suas apostas peremptórias à análise objetiva dos fatos. Disse que o país não terá recessão técnica, ou seja, dois trimestres negativos seguidos, e terá PIB positivo este ano. Tomara que sim, mas acumulam-se as evidências no sentido contrário. Quando foi divulgada a alta de 6,8% do PIB no terceiro trimestre de 2008 (crescimento de 1,8% na comparação com o trimestre anterior), Mantega disse que o país tinha ganhado musculatura, que o PIB cresceria 3,5% no quarto trimestre de 2008 em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. A alta foi 1,3%. Não estava ganhando mais musculatura, estava colhendo o dado de um trimestre bom, mas passado. Ele disse também que o Brasil iria crescer 4% em 2009, quando já se sabia que isso não iria acontecer. Naquele dia, 9 de dezembro de 2008, era difícil desconhecer que o país tinha sido atingido pela crise, estava com o crédito trancado, as exportações despencando, a produção em queda e o desemprego aumentando. Tinha perdido musculatura.

O jogo de Poliana nada ajuda na economia. Ontem, o ministro da Fazenda explicou a queda pela redução drástica das exportações - o que é verdade -, mas disse que o mercado interno estava normal. A afirmação não aguentou nem a primeira pergunta dos repórteres, que foi sobre a queda de 2% no consumo das famílias.

Um bom diagnóstico é o primeiro passo, um plano consistente para enfrentar a crise, um segundo passo. Deixar as disputas políticas para o calendário eleitoral é uma proposta sensata.

A queda do PIB no quarto trimestre de 2008 confirmou as previsões mais pessimistas. Os dados da produção industrial de janeiro superaram as piores previsões, e a não ser o dado dos automóveis, não se pode sustentar a tese do governo de que está havendo uma recuperação no primeiro trimestre de 2009. O Brasil ainda tem chance de se sair melhor da crise do que a maioria dos países, mas só se o governo trabalhar para isso.

Pearl Harbor é aí também

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


LONDRES - Deveria ter aprendido com Alon Feuerwerker, ex- secretário de Redação desta Folha, que, no Brasil, o pessimista tem muito mais chances de acertar palpites do que o otimista.

Sou obrigado a confessar que estava olhando com muita desconfiança todas as previsões catastrofistas sobre a economia brasileira no trimestre final de 2008. Errei, conforme mostra agora o IBGE: não houve desaceleração no fim do ano; houve um cavalo-de-pau econômico. De um crescimento de 1,8% no trimestre julho/setembro, passou-se a um retrocesso de 3,6% no período subsequente.

Vale para o Brasil o que disse Warren Buffett, o "oráculo de Omaha", sobre os EUA: também tivemos nosso Pearl Harbor. Imagino que boa parte dos brasileiros se tenha surpreendido: pesquisa feita em dezembro pelo Datafolha -mês, portanto, em que Pearl Harbor já fazia água e muita água- mostrava que só 22% dos consultados discordavam totalmente da frase do presidente Lula segundo a qual o país passaria apenas por uma "marolinha".

Somados os que concordavam total ou parcialmente, éramos 42%. Foi um ano tão atípico que não adianta nada olhar qualquer estatística que leve em conta o conjunto dos 12 meses, dado o chocante contraste entre os três primeiros trimestres e o último.

Esse fato torna ainda mais complicado avaliar 2009: comparar qualquer número da economia de hoje com o início de 2008 vai mostrar piora substancial; comparar janeiro ou fevereiro-09 com dezembro-08 mostrará eventualmente algum progresso. E daí? Daí, nada.

Voltando a Buffett: ele diz que não tem a mais remota ideia do que vai acontecer nos próximos dez meses, ou seja, até o final do ano. Se um oráculo não sabe, só jogador de búzio, como muito economista tupiniquim, acha que sabe.

O tombo da economia

EDITORIAL
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A economia brasileira levou um tombo no fim de 2008, o maior dos últimos 12 anos, e o susto ainda não passou. A produção do quarto trimestre foi 3,6% menor que a do terceiro, quando a indústria ainda operava com vigor, os consumidores aproveitavam o resto da prosperidade e o governo alardeava a resistência do Brasil à crise internacional. No mundo real, o otimismo se esgotou rapidamente, muito mais do que em Brasília, e o fraco desempenho da indústria neste início do ano impede a melhora das expectativas. As previsões de crescimento em 2009 têm piorado. No mercado financeiro, a projeção caiu de 1,5% para 1,2% nas últimas duas semanas. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) vai divulgar nova estimativa dentro de poucos dias e o número será muito próximo de zero, avisa o economista-chefe da instituição, Flávio Castello Branco.

Nesta altura, não tem sentido festejar o crescimento da produção acumulado em 2008, 5,1%. Esse número pertence irremediavelmente ao passado, porque não indica nenhuma tendência para 2009. O dado relevante é a queda abrupta da atividade econômica. O pior desempenho foi o da indústria, com produção 7,4% menor que a do terceiro trimestre. Esse detalhe é especialmente ruim, porque o setor industrial, embora com peso estatístico menor que o de serviços, ainda é o grande motor da economia brasileira e o maior gerador de empregos de qualidade.

A reação da indústria observada em janeiro, quando a produção, segundo o IBGE, foi 2,3% maior que a do mês anterior, não vale uma festa. Dezembro foi desastroso e a melhora no mês seguinte dependeu basicamente do corte do imposto sobre carros. O quadro fica mais claro quando se compara o desempenho com o de janeiro de 2008: produção 17,2% menor.

Os números da CNI acrescentam detalhes nada animadores: faturamento real 4,3% inferior ao de dezembro, descontado o efeito sazonal, e 13,4% menor que o de janeiro de 2008. O uso da capacidade instalada, 78,4%, foi o menor desde novembro de 2003.

Os números do Produto Interno Bruto (PIB) mostram mais que uma forte retração dos negócios. Houve, no quarto trimestre, uma mudança qualitativa no lado da demanda. A maior queda, 9,8% em relação ao terceiro trimestre, ocorreu na formação bruta de capital fixo, isto é, nos investimentos em máquinas, equipamentos e construções. O consumo privado caiu muito menos, 2%. As exportações de bens e serviços declinaram 2,9%. Já o consumo da administração pública aumentou 0,5%. Esse consumo corresponde ao custo dos serviços prestados pelos governos federal, estaduais e municipais. Algum otimista poderia atribuir essa variação ao aumento dos serviços prestados. Brasileiro informado não comete esse engano: o aumento do custo é certo, a expansão e a melhora dos serviços, não. Em 2009, o contribuinte continuará pagando mais para receber o mesmo - ou menos - do setor público. Os salários do funcionalismo serão mais altos e, se ninguém der o alerta, mais funcionários serão contratados. Apenas será mais difícil continuar aumentando a carga tributária para pagar o custo crescente da máquina governamental. No ano passado, a receita de impostos sobre produtos teve o dobro do crescimento do valor da produção.

Uma longa expansão do investimento produtivo foi interrompida nos três meses finais de 2008. Apesar disso, a formação bruta de capital fixo ainda cresceu 13,8% durante o ano e atingiu valor correspondente a 19% do PIB, a taxa mais alta desde o início da nova série das contas nacionais, em 2000. A taxa de poupança ficou em 16,9% do PIB e a diferença em relação ao total investido foi coberta com recursos estrangeiros. A poupança nacional continua dependendo essencialmente do setor privado, porque o governo é basicamente um gastador.

Este será um ano ruim para todo o mundo. O Brasil não ficará imune às dificuldades, mas, apesar disso, poderá ter um desempenho melhor, se o governo for capaz de uma ação anticíclica. Até agora, atende aos lobbies com maior competência para obter facilidades, e, além disso, programa ações de efeito eleitoreiro, como a produção de habitações a preço simbólico e consequências fiscais ainda não estimadas. Isso é uma forma de queimar dinheiro, não de estimular a economia.

Indústria desaba, consumo cai e já se teme 2009 com recessão

Luciana Rodrigues e Luciana Casemiro
DEU EM O GLOBO


A crise internacional atropelou a economia brasileira no último trimestre de 2008. O país, que crescia há 12 trimestres, registrou queda de 3,6% de outubro a dezembro, surpreendendo analistas. Foi o pior resultado desde o quarto trimestre de 1990, quando o Brasil vivia os efeitos do Plano Collor. Ainda assim, em 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 5,1%, O forte recuo na produção da indústria, a queda na taxa de investimento e o freio no consumo das famílias – que não acontecia desde o início do governo Lula – provocaram o que o IBGE chamou de "ruptura" no crescimento. O presidente Lula, que em outubro de 2008 previra uma marolinha, disse ontem que “o susto já passou". O resultado do PIB levou consultorias a prever recessão em 2009, o que aumenta a pressão para que o BC corte juros hoje

A ruptura do crescimento

PIB cai 3,6% no quarto trimestre de 2008, maior redução desde o Plano Collor

Um tombo forte e generalizado. A crise internacional atingiu em cheio a economia brasileira que, depois de pisar fundo no acelerador ao longo da maior parte do ano passado, puxou o freio de mão no último trimestre. O Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todos os bens e serviços produzidos pelo país) caiu 3,6% entre outubro e dezembro, frente ao trimestre anterior, já com ajuste sazonal. O dado ficou abaixo das projeções mais pessimistas. Foi o pior desempenho desde o quarto trimestre de 1990, quando o país vivia a recessão pós-Plano Collor.

Mesmo com a queda recorde do fim do ano, o PIB brasileiro fechou 2008 com expansão de 5,1%, somando R$2,9 trilhões. A renda per capita do brasileiro cresceu 4%, para R$15.240.

Se não fossem os números negativos do quarto trimestre - quando houve queda em todos os setores da economia, à exceção da administração pública - o Brasil fecharia 2008 com um crescimento do PIB superior a 6%. Mas a crise internacional, que chegou a ser classificada pelo presidente Lula como uma "marolinha", asfixiou a produção da indústria (que caiu 7,4%), congelou investimentos (-9,8%), cortou o consumo das famílias (-2%) e, na previsão de muitos analistas, pode mergulhar o país numa recessão.

- O ano foi, claramente, dividido em duas partes, antes e depois da crise. O quarto trimestre foi um momento fora de qualquer padrão - afirmou Roberto Olinto, coordenador de Contas Nacionais do IBGE.

- Nos nove primeiros meses do ano, a expansão média foi de 6,4% (frente ao mesmo período de 2007). Essa taxa desacelerou para pouco mais de 1% no último trimestre. Realmente, houve uma ruptura - disse Rebeca Palis, gerente de Contas Trimestrais do IBGE.

Os dados ruins do fim do ano ofuscaram o excelente desempenho dos investimentos no acumulado de 2008. A formação bruta de capital fixo (investimentos que incluem, além da produção de máquinas e equipamentos, a construção civil) teve alta de 13,8% em 2008, a maior desde 1996. Com isso, a taxa de investimento do país ficou em 19% do PIB, a maior desde 2000.

Os gastos das famílias, por sua vez, registraram o quinto ano seguido de alta. E, se fossem descontadas das estatísticas do PIB as exportações e importações, a economia brasileira teria expansão de 7,4% no ano passado - esse foi o tamanho da demanda interna. Apesar da crise, o setor bancário continuou em franca expansão no último trimestre: a intermediação financeira cresceu 4,9% frente ao quarto trimestre de 2007.

Mas a crise internacional provocou uma sucessão de recordes negativos no fim do ano. Os investimentos, que haviam crescido 8,4% no terceiro trimestre (frente aos três meses anteriores, descontados efeitos sazonais), recuaram 9,8% nos últimos três meses do ano, no pior desempenho da série do IBGE. A indústria, com queda de 7,4%, teve o pior resultado desde o quarto trimestre de 1996.

E a crise também cria um cenário nebuloso para 2009. Com a retração de 3,6%, este ano já se inicia com um PIB negativo de 1,5%, calcula Francisco Faria, da LCA Consultores. Ele explica que este é o chamado carry over: se a economia não crescer nada nos próximos trimestres, fechará 2009 em -1,5%.

- Até o terceiro trimestre o carry over era de 6,1%. Se a trajetória dos primeiros trimestres tivesse se mantido no quarto, o PIB de 2008 poderia ter chegado a 7% - destacou Leonardo Carvalho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A queda do PIB no último trimestre de 2008 foi a pior da atual série histórica do IBGE, de 1996. Mas, segundo Faria, considerando a série anterior, que remonta à década de 80, foi o maior recuo desde 1990. E, se o Brasil divulgasse suas estatísticas do mesmo modo que os EUA - onde os dados trimestrais são anualizados - a retração no último trimestre teria sido de 15,2%.

- Ocorreu no Brasil o que está ocorrendo em todo mundo. Há uma crise de incerteza, com paralisia nas operações de crédito e no comércio externo, que deixa cicatrizes na economia real, como vimos no desemprego - diz Faria.