quarta-feira, 3 de junho de 2009

O PENSAMENTO DO DIA – Hegemonia (6) – (Gramsci)

“Relação histórica entre o Estado moderno francês da Revolução e os outros Estados modernos da Europa continental. A comparação é de importância vital, contanto que não seja feita com base em esquemas sociológicos abstratos. Ela pode resultar do exame dos seguintes elementos: 1) explosão revolucionária na França, com mudança radical e violenta das relações sociais e políticas; 2) oposição européia à Revolução Francesa e à sua difusão pelos “ canais” de classe; 3) guerra da França com a República e com Napoleão, contra a Europa, primeiro para não ser sufocada, depois para constituir uma hegemonia francesa permanente com a tendência a formar um império universal; 4) insurreições nacionais contra a hegemonia francesa e nascimento dos Estados europeus modernos mediante pequenas ondas reformistas sucessivas, mas não mediante explosões revolucionárias como aquela originária francesa . As “ondas sucessivas “ são constituídas por uma combinação de lutas sociais, de intervenções pelo alto do tipo monarquia iluminada e do tipo guerras nacionais, com predominância desses dois últimos fenômenos. Desse ponto de vista , o período da “Restauração” é o mais rico de desenvolvimentos: a restauração torna-se a forma política na qual as lutas sociais encontram quadros suficientemente elásticos para permitir à burguesia chegar ao poder sem rupturas clamorosas, sem o aparelho terrorista francês. As velhas classes feudais são rebaixadas da condição de “dominantes” àquela de “governativas”, mas não são eliminadas, nem se tenta liquidá-las como conjunto orgânico: de classes se tornam “castas”, com determinadas características culturais e psicológicas, não mais com funções econômicas predominantes.”


(Antonio Gramsci – Cadernos do Cárcere, volume 1, pág. 425-426, - Civilização Brasileira, 2006)

Briga no escuro

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO

Os palanques estaduais para a eleição de 2010 já estão sendo negociados nas disputas que ocorrem no Senado para o preenchimento de cargos na CPI. E a disputa maior, uma verdadeira briga no escuro, é dentro da base aliada, entre PT e PMDB. O senador Renan Calheiros domina completamente hoje o PMDB no Senado, e em consequência tem mais poder do que quando era o próprio presidente. Aproveita-se do vácuo de poder deixado pelo presidente José Sarney, que deve ter se arrependido de ter cedido aos seus argumentos para concorrer à presidência, e se credencia junto aos seus pares como o grande interlocutor do governo. Do seu ponto de vista, Renan Calheiros fez tudo certo, até mesmo convencendo Sarney a disputar um lugar que já fora seu e para o qual não desejava voltar.

Ao romper o acordo tácito que indicava que o PT faria o presidente do Senado enquanto o PMDB ficaria com a Câmara, num rodízio de parceiros políticos, Renan provocou um curto circuito que desencadeou toda a onda de denúncias que, desde a eleição, no início do ano, domina a pauta do Senado.

O senador Tião Viana, candidato petista com o apoio do PSDB, se propunha a fazer uma reforma profunda nos procedimentos do Senado, sabedor, como todos os demais colegas, que nos bastidores os hábitos e costumes da Casa não eram nada republicanos.

Assim como, em 2001, o então deputado federal Aécio Neves, do PSDB, foi eleito presidente da Câmara em detrimento de um acordo que faria o PFL assumir a presidência, também hoje o PMDB rompeu o acordo com o PT e elegeu Sarney para a presidência do Senado, provocando as mesmas reações.

Naquela ocasião, começou a se desgastar a aliança PSDB-PFL que sustentava o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso e apoiaria a candidatura tucana à sucessão.

Vários líderes pefelistas passaram a apoiar a candidatura de Lula, o mesmo acontecendo com parte do PMDB, que deu seu apoio formal a José Serra, mas, como sempre, dividiu-se entre os dois principais concorrentes.

Hoje, a principal sustentação da base aliada é o PMDB, mas a dificuldade de fazer acordos regionais está se refletindo nas relações congressuais entre os dois partidos, sobretudo no Senado, onde a maioria governista é muito frágil.

Apenas três senadores peemedebistas, e justamente os que têm mais cacife político - Pedro Simon, Jarbas Vasconcellos e José Sarney - não colocarão seus cargos em disputa em 2010.

O PMDB tem nada menos que 16 senadores que disputarão uma das vagas em 2010, sendo que cinco deles são suplentes sem luz própria que terão de devolver a vaga para os titulares ou para o partido.

Desses, não há nenhum que seja um líder destacado em seu estado, com a exceção talvez de Romero Jucá, que é mais ligado ao governo Lula do que ao partido, ou o próprio Renan Calheiros, que, embora tenha uma imagem nacional desacreditada, ainda não se desgastou totalmente em Alagoas.

Para que o PMDB não perca a hegemonia no Senado, será preciso o apoio político de um dos partidos que disputarão a Presidência da República, PT ou PSDB, e é neste ponto que se encontram as coisas.

O senador Renan Calheiros montou a CPI da Petrobrás ao seu gosto, para ganhar poder de barganha junto ao governo. Ofereceu a presidência para a oposição, sem consultar o PT, e queria que o PMDB ficasse com a relatoria.

O Palácio do Planalto interveio para colocar o PT na presidência, e não abriu mão da relatoria para o PMDB. Mas a disputa pessoal entre Renan Calheiros e o líder do PT, Aloizio Mercadante, está impedindo que o líder do governo no Senado, Romero Jucá, seja indicado para o cargo, o mesmo Jucá que o próprio Renan já escolhera como relator.

Ao perceber que a lealdade de Jucá seria ao governo e não ao PMDB, Renan tentou impingir à base aliada a norma de não colocar na CPI nenhum líder partidário.

Com isso, tirava também da CPI Mercadante e Ideli Salvatti, dois dos articuladores no PT para que Renan Calheiros não fosse cassado no episódio que o derrubou da presidência do Senado.

Talvez justamente por se sentir devedor, dando razão aos céticos quanto à natureza humana, Renan quer distância dos dois.

Na tropa de choque de Renan na CPI constam também o senador Fernando Collor, do PTB, de quem se reaproximou; o segundo suplente Paulo Duque, que na manobra para adiar a instalação da CPI já demonstrou que é mais fiel a Renan do que ao governador do Rio, Sérgio Cabral, eleito originalmente para a vaga; e Leomar Quintanilha, que, na presidência da Comissão de Ética, ajudou Renan por amizade pessoal e não por questões políticas.

O mais impressionante é que ao vetar o líder do governo no Senado para o cargo de relator, Renan Calheiros está escancarando sua estratégia de manobrar a CPI para usá-la como arma de manobra política contra o próprio governo.

Mostra a intenção de negociar com a oposição e com o governo o andamento da CPI. Uma clara distorção da coligação que dá suporte ao governo, numa demonstração de que é preciso realizar uma profunda reforma política para reduzir a margem de manobra individual de cada político, em benefício de programas partidários.

A atuação do PMDB, apesar de causar problemas para o governo, não deve trazer muito alento para a oposição, especialmente no caso de precisar do partido para um eventual governo.

Nada mais perigoso do que ter como aliado preferencial um partido que trabalha à base da chantagem política desorganizada, onde cada cacique regional tem suas próprias regras.

Adeus às ilusões

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, está certo quando qualifica de "casa da mãe Joana" um governo em que ministros boicotam-se uns aos outros.

Está certo também quando reclama da falta de respaldo para "combater o desmatamento e dar boas licenças (ambientais)".

Minc está certíssimo de pôr a boca no mundo ao sentir que perde uma batalha atrás da outra, sofre pressão de todos os lados e está "debaixo de pancada", conforme disse ao presidente Luiz Inácio da Silva semana passada, numa conversa de pontos nos is.

Afinal, quando assumiu a pasta em substituição a Marina Silva, um ano atrás, prometeram-lhe o mundo e os fundos.

Pelo menos assim ele parece ter entendido, já que o presidente Luiz Inácio da Silva não impôs reparo às exigências feitas à época. Minc disse que só aceitaria ser ministro se tivesse total autonomia e se o governo mobilizasse sua base no Congresso para mudar a lei de licenciamentos ambientais.

Exigiu também liberdade para montar a equipe, garantias de liberação de recursos por parte da área econômica, blindagem contra pressões políticas na aprovação de projetos de impacto ecológico e submissão das decisões econômicas aos ditames das questões ambientais.

E disse mais: consideraria "inaceitável"" ficar de fora das definições sobre política industrial, não permitiria a derrubada de "um só hectare" da Amazônia para a produção de biocombustível, palpitaria em assuntos de saneamento e mudaria o Programa Amazônia Sustentável que Lula lançara dias antes, sob o olhar cortante da então ministra Marina Silva.

Quando o presidente Lula entregou o programa aos cuidados do ministro Mangabeira Unger, Marina demitiu-se a fim de não servir à figuração. Era um símbolo útil ao governo, mas, na prática, vivia debaixo de pancada, sob pressão, perdendo uma batalha atrás da outra, em colisão com a Casa Civil.

Minc achou que com ele, um "eco" tido como bem mais flexível, seria diferente. Um ás na arte de produzir efeitos especiais, Carlos Minc pôs mãos à sua obra do seu jeito assumidamente "midiático" e voluntarioso. De um lado, teve a vantagem de tirar de cena em menos de 48 horas o constrangimento provocado pela saída de Marina Silva.

De outro, foi devagar colecionando as desvantagens de sua indiferença aos códigos da República. Brigou com o governador Blairo Maggi (MT), com o ministro da Agricultura e chamou a bancada ruralista de "vigarista". Tudo da forma mais explícita possível, e visível ao inimigo tão ativo quanto silencioso.

Na semana passada, finalmente, decidiu ir ao presidente Lula expor a situação. Saiu do gabinete "30 quilos mais leve, cheio de garra para enfrentar os poluidores", depois de ouvir do presidente que ele, Minc, tinha "toda razão".

O mesmo Lula havia dito dias antes ao comando do PMDB que fora reclamar das demissões de apaniguados políticos na Infraero. Demitidos estavam, demitidos ficaram.

Na entrevista que deu ao Estado logo depois da conversa com Lula, Minc explicou que não ameaçou deixar o cargo, "apenas" disse que não poderia defender o País se o presidente não fortalecesse politicamente a sua pasta e, consequentemente, suas posições frente aos adversários da preservação ambiental.

Argumento bastante lógico. E convincente, não fora o fato de Minc ter sido chamado exatamente porque, como secretário de Meio Ambiente no Rio, foi "flexível" na concessão de licenças ambientais.

Não foi convidado para "aprofundar" a política de Marina nem para privar da autonomia que desgastara a antecessora. A política pertence ao presidente, está definida e as razões de Minc, por mais corretas e meritórias, não se sobrepõem aos interesses em jogo no exercício do poder.

As regras estão postas, obedecem à dinâmica do chefe. Do ministro o governo espera que se atenha ao papel para o qual foi escalado e seja um bom figurante.

Caso pensado

A dita divisão na base aliada do governo está mais para divisão de tarefas. Na prática, a alegada briga entre os líderes do PT, Aloizio Mercadante, e do PMDB, Renan Calheiros, até agora resultou no atraso da CPI da Petrobrás. Como convém ao governo.

Cada qual

O PSDB gostaria de ver o governador José Serra numa posição mais ativa em oposição ao governo Lula, de forma que o eleitorado reconhecesse nele nitidamente a voz e a face da alternativa de poder para a disputa de 2010.

Já o governador José Serra gostaria que o partido já tivesse começado a prestar esse serviço à pré-candidatura, combatendo o governo no Congresso com eficácia e competência, além de indicar unidade em torno do nome dele.

A situação na seara tucana, portanto, é a seguinte: o PSDB quer que Serra se movimente pelo partido e Serra quer que o partido se mobilize pela candidatura e, na dúvida, ninguém se mexe.

Renan veta Jucá e adia CPI da Petrobras

Adriana Vasconcelos, Gerson Camarotti e Bernardo Mello Franco
DEU EM O GLOBO

O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, vetou Romero Jucá (PMDB-RR) para a relatoria da CPI da Petrobras, adiando para amanhã a instalação da comissão. A Petrobras, que tem 1.150 funcionários de comunicação, contratou empresa externa para o período da CPI.


Manobra adia instalação da CPI da Petrobras

Reunião é aberta e fechada em 13 minutos para não dar quórum, numa estratégia armada por governistas e Renan

Oveto do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), ao nome do líder Romero Jucá (PMDB-RR) para a relatoria da CPI da Petrobras no Senado levou ontem o governo a adiar a instalação da comissão para amanhã. O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, não conseguiu fechar um acordo com o líder peemedebista, que deixou subentendido que não aceitaria ser enquadrado. A expectativa agora é que o presidente Lula, que chega ao Brasil hoje à noite, intervenha para resolver o impasse.

A manobra de adiamento da instalação da CPI foi comandada pessoalmente por Renan após se reunir com Múcio e outros líderes aliados, quando foi reafirmada a falta de consenso no grupo. Renan determinou aos representantes de sua bancada que não comparecessem à sessão e orientou o senador Paulo Duque (PMDB-RJ) - parlamentar mais velho da CPI - que nem abrisse a reunião. Duque cumpriu o combinado. Chegou pontualmente às 14h e esperou só 13 minutos antes de anunciar a falta de quórum.

- Como a sessão nem foi aberta, não preciso encerrá-la. Como os integrantes da CPI não chegaram, estou me retirando - comunicou Duque, diante da perplexidade do senador Antonio Carlos Magalhães Júnior (DEM-BA), único presente.

Para disfarçar a crise na base, o governo justificou o adiamento alegando que só daria quórum para a instalação da CPI depois que a oposição devolvesse ao senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) a relatoria da CPI das ONGs.

- Chance zero de devolvermos a relatoria para o governo. Isso é pano de fundo! É para iludir o desentendimento entre eles próprios. Estão tentando ganhar tempo para buscar o entendimento do PT com o PMDB - acusou o líder do DEM, senador José Agripino (RN).

O principal motivo da resistência de Renan à indicação de Jucá é o fato de o nome do líder do governo ter sido lançado pelo líder do PT, Aloizio Mercadante (SP). O clima entre os dois está tão ruim que Mercadante acabou excluído da reunião que Múcio teve ontem de manhã no gabinete do líder do PTB, Gim Argello (DF). Mas, como parte do esforço de consenso, participou da reunião da noite.

"Vou escolher com calma", diz Renan

Na reunião da manhã, Renan deixou claro que a indicação do relator caberia ao PMDB. Seu preferido é Paulo Duque, mas, se não conseguir fazê-lo relator, tentará emplacá-lo presidente da CPI, o que deixaria o governo ainda mais refém de Renan, já que é o presidente quem escolhe o relator.

- Desde o início eu disse que era contra a indicação de líderes. Não faço restrição a ninguém, mas não dá para piscar antes. Para que essa ansiedade? Vou escolher com calma, sem precipitação - afirmou Renan, à tarde, de forma lacônica.

Mercadante reforçou o discurso do governo de que a CPI da Petrobras só seria instalada depois de retomado o acordo com a oposição na CPI das ONGs. Jucá pediu à Mesa a anulação da indicação do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), para a relatoria, depois que Inácio Arruda foi indicado para integrar a CPI da Petrobras como titular. Os governistas alegam que a oposição não poderia ter rompido o acerto pelo qual ficou com a presidência da comissão, mesmo sem ter maioria.

A oposição tentou protestar contra o adiamento da instalação da CPI, mesmo tendo contribuído para o sucesso da manobra de Duque. Dos três representantes do PSDB e DEM, apenas ACM Júnior não se atrasou. Quando os outros dois titulares chegaram - Sérgio Guerra (PE) e Álvaro Dias (PR) -, já era tarde. O mesmo aconteceu com João Pedro (PT-AM), um dos cotados para presidente, que só soube da tática governista ao chegar.

'Isso não pode virar um botequim deles'

Bernardo Mello Franco e Cristiane Jungblut
DEU EM O GLOBO

Oposição reage e boicota votações, impedindo análise de medidas provisórias

BRASÍLIA. De mãos atadas para desfazer o nó dado pela bancada governista, a oposição subiu o tom dos ataques e decidiu obstruir a pauta do Senado em protesto contra o adiamento da CPI da Petrobras. A radicalização do confronto foi anunciada pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), que acusou petistas e peemedebistas de transformarem o Senado num "botequim para melar as investigações" contra a estatal. Ontem, a estratégia evitou a votação de medidas provisórias que impedem a aprovação de outros projetos na Casa.

- Se depender da gente, não se vota mais nada. Não podemos aceitar esse desrespeito ao Senado. Isso aqui não pode virar um botequim deles (dos governistas) - atacou o líder tucano.

Único oposicionista presente quando o senador Paulo Duque (PMDB-RJ) declarou suspensa a primeira sessão da CPI, Antonio Carlos Magalhães Junior (DEM-BA) atribuiu a manobra às divergências entre o Palácio do Planalto e o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL).

- Isso é uma palhaçada, uma manobra de baixo nível. É inadmissível que a bancada governista se comporte desta maneira. Eles querem avacalhar a CPI no primeiro dia - atacou ACM Junior. - O governo quer ganhar tempo porque a sua base não consegue se entender.

- O que vamos assistir aqui hoje, amanhã e depois vai ser isso: ao esforço deliberado do governo de não investigar e de não abrir a caixa preta da Petrobras - emendou o senador Sérgio Guerra (PE), integrante da CPI e presidente do PSDB.

Autor do requerimento que deu origem à CPI, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) chegou a defender que a oposição abrisse os trabalhos simbolicamente, designando presidente e relator entre os três representantes da minoria. Ele admitiu que o gesto não teria efeitos práticos, mas tentou convencer os colegas de que criaria um fato político para constranger o governo. Dias também ameaçou recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir a instalação da CPI.

- Não há nenhuma força capaz de impedir que uma CPI seja instalada. Há jurisprudência formada no Supremo de que a CPI é um direito da minoria - disse.

Sequer caciques governistas estavam no plenário

A obstrução da oposição, aliada à total falta de empenho da bancada governista, impediu ontem a votação das medidas provisórias que trancam a pauta do Senado: a 458 (que trata da regularização fundiária na Amazônia), a 457 (sobre a renegociação de dívidas de prefeituras com o INSS) e a 459 (que cria o programa habitacional "Minha Casa, Minha Vida").

Nem os caciques governistas estavam no plenário, apesar do registro da presença de 61 senadores no placar eletrônico. Faltaram, entre outros, Renan e o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR). Na semana passada, o governo foi derrotado e não conseguiu aprovar a MP 452, que perdeu a validade anteontem e tratava do Fundo Soberano e de obras em rodovias.

Comte Bittencourt: Prêmio à qualidade

Presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa
DEU EM O DIA


Rio - Novas ferramentas vêm sendo usadas na educação, mas nada supera o contato direto com a leitura. Aí se dá o exercício da imaginação, o estímulo à pesquisa, a busca do conhecimento, o acesso às histórias, o pensamento e a memória.

Nesse sentido, ao instituir o “Prêmio Educação de Qualidade”, resolução de minha autoria, concedida pela Comissão de Educação da Assembleia Legislativa à rede pública municipal que tenha se destacado no estado, queremos sensibilizar os governos municipais em relação às ações que melhorem a qualidade da educação.

Queremos socializar estratégias colocadas em prática pelas próprias comunidades escolares e que geram líderes pró-ativos e conscientes da complexidade das vicissitudes que assolam o nosso sistema de ensino.

Com o “Prêmio Educação de Qualidade”, anual, o município vencedor receberá o acervo de uma biblioteca infanto-juvenil, com dois mil títulos, em outubro. A iniciativa tem como finalidade, ainda, incentivar o desenvolvimento equilibrado.

Vale lembrar que a educação é uma via de inclusão e construção da cidadania, essencial para o surgimento de uma nova realidade e de uma vida melhor para todos, em todos os sentidos.

Dessa forma, promovendo a premiação periódica de medidas educacionais implantadas em escolas, estamos também incentivando a reflexão sobre s condições de ensino na educação pública e as formas de superá-las. E o fazemos com um projeto de qualificação que contribua para o comprometimento dos principais atores envolvidos no cenário da educação do estado: gestores, professores, funcionários, pais e alunos.

Serra diz ter medo de desorganização do PSDB

Catia SeabraDa Reportagem Local
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


O governador de São Paulo, José Serra, manifestou, durante jantar que invadiu a madrugada de ontem, preocupação com a falta de organização do PSDB para as eleições. Apontando a comunicação como "uma vulnerabilidade", Serra condenou a antecipação de nomes. Mas ressaltou:

"Não significa que não tenhamos que nos preparar como partido. Isso é uma coisa essencial, que me preocupa: organização, comunicação, que continua a ser o ponto fraco do PSDB", recomendou Serra, em resposta à pressão para que precipite a campanha.

Líder nas pesquisas para a Presidência, Serra deixa claro que sua candidatura -hoje a única do PSDB com chance de vitória- depende de condições dadas pelo partido. O apoio do governador de Minas, Aécio Neves, diz, é fundamental.

Num discurso endereçado aos tucanos, ele repetiu o que tem dito ao comando do partido: em vez de exigir o lançamento de sua candidatura, o PSDB deve fazer sua parte, defendendo o governo de São Paulo e se organizando nos Estados. "Como chegar às pessoas, como mobilizar. Temos toda uma tarefa para este ano."

Serra apontou a montagem de palanques como cruciais.

No jantar em comemoração dos 21 anos do PSDB, ele recorreu a Lênin para receitar "paciência e ironia" ao PSDB. "Sabe quais são as virtudes de um bom bolchevique? Paciência e ironia", citou. "Temos que ter muita paciência e ironia neste ano", concluiu.

Serra propôs que o partido esteja informado "sobre os problemas de cada Estado, o que dizer, o que oferecer". "O Brasil, no ano que vem, vai ter que cair na real a respeito da situação do país e daquilo que tem de ser feito", disse.

O governador fez careta ao ser lançado candidato pelo presidente da Assembleia de São Paulo, Barros Munhoz. "É cedo para isso. O PSDB tem excelentes opções. Temos que ficar abertos a elas", desconversou.

Além de ameaçar o partido, Serra tenta, com isso, se aproximar de Aécio, com quem viaja sexta para o Paraná.

O governador mineiro afirmou ontem que o PSDB deve levar em conta ao escolher seu candidato "não apenas aquele que tem maior indicador nas pesquisas, mas aquele que mais agrega".

Colaborou a Agência Folha, em Belo Horizonte

Para Serra, ''muita água vai rolar debaixo da ponte''

Silvia Amorim, Bocaina
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Governador tucano usa ditado para avaliar cenário eleitoral de 2010

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), usou ontem um ditado popular para descrever sua avaliação sobre a disputa presidencial de 2010. "Muita água ainda vai passar debaixo dessa ponte", afirmou Serra, em uma inauguração no interior do Estado. A frase é mais uma manifestação do governador contra a antecipação do debate eleitoral.

As mais recentes pesquisas de intenção de voto mostram o governador na liderança, mas ele tem cada vez mais perto a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, principal nome do Palácio do Planalto à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dentro do próprio partido, Serra disputa com o governador de Minas, Aécio Neves, a candidatura tucana.

As declarações de Serra contra a discussão de candidaturas para a eleição de 2010 têm sido frequentes. Ele argumenta que colocar em pauta o assunto neste momento "prejudica a administração pública no Brasil". "Eu sou candidato a governar São Paulo", diz. No mês passado, o tucano chegou a acusar diretamente o governo federal e o PT por esse movimento.

As negativas do governador, entretanto, não têm inibido aliados de manifestarem seu apoio publicamente. Ontem, para plateia de 195 prefeitos e representantes de mais de 80 cidades paulistas, o deputado estadual Roberto Massafera (PSDB) aproveitou a deixa. "É assim que governamos São Paulo e, se Deus quiser, é assim que vamos governar o Brasil", disse.

Mais tarde, após anunciar parcerias com municípios na área do meio ambiente, em Bocaina, interior paulista, Serra considerou "normal" esse tipo de iniciativa. "As pessoas expressam desejos. Mas isso não significa que vamos antecipar o processo eleitoral", destacou.

JARGÃO E AGENDA

Serra também usou ontem um conhecido jargão do presidente Lula. Em discurso sobre ações do seu governo voltadas para os portadores de deficiência, Serra disse, para logo após cair na gargalhada, que "nunca antes na história de São Paulo" essa questão havia tido tanta importância.

O tucano também aproveitou o público de cerca de 300 pessoas numa arena montada em uma fazenda para ressaltar os investimentos do governo estadual. "Nosso governo está investindo como nunca se investiu em São Paulo", afirmou. A previsão é de que o aporte em 2009 chegue a cerca de R$ 20 bilhões em investimentos. Para 2010, a cifra esperada é de R$ 25 bilhões.

Em Bocaina, Serra entregou obras de recuperação de estradas vicinais, uma das vitrines da sua gestão, formalizou um pacto com dezenas de municípios para preservação de rios e nascentes no Estado. Ganhou de presente uma peteca.

Serra e Aécio terão um encontro na sexta-feira em Belo Horizonte, onde assinarão convênios para minimizar a sonegação do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) nos dois Estados. Em seguida, eles seguirão para Foz do Iguaçu, no Paraná, onde será realizado encontro regional do PSDB.

Colaborou Eduardo Kattah

PDT mais próximo de Aécio

Bertha Maakaroun e Juliana Cipriani
DEU NO ESTADO DE MINAS

Bancadas estadual e federal da legenda se reúnem com ministro do Trabalho, presidente licenciado do partido, para traçar estratégia visando disputa dos palácios do Planalto e Liberdade

Depois do PR, do PTB e do PSB de Ciro Gomes, agora é a vez de o PDT sinalizar disposição em dar sustentação à candidatura de Aécio Neves (PSDB) ao Palácio do Planalto, caso esta se viabilize no PSDB. As bancadas estadual e federal do PDT, reunidas ontem na Assembleia Legislativa com o ministro do Trabalho e presidente nacional licenciado do PDT, Carlos Lupi, acertaram dois pontos. O primeiro: embora o partido integre os governos Lula e Aécio, não está compromissado nem com a candidatura do PT no plano federal nem com a do PSDB no plano estadual. Os parlamentares pedetistas concordam num segundo ponto: “Temos compromisso firmado que se Aécio for candidato à Presidência da República iremos apoiá-lo. Caso contrário, vamos estudar a quem hipotecar apoio no plano federal. Na disputa estadual, não temos candidato ao governo de Minas”, resume o deputado federal Mário Heringer (PDT), coordenador da bancada mineira. De forma idêntica, o deputado estadual Carlos Pimenta (PDT) assinala: “Se Aécio for indicado, terá nosso apoio. Se não, a legenda estará livre”.

Mais cauteloso, o ministro Carlos Lupi também indicou a preferência por Aécio depois de se reunir com o tucano no Palácio das Mangabeiras. De acordo com ele, o partido espera uma definição do PSDB para se posicionar. “Eu tenho que aguardar primeiro a decisão do partido do qual o governador Aécio faz parte. É claro que amanhã, o PSDB decidindo pelo nome do governador Aécio, muda todo o quadro eleitoral nacional”, afirmou, evitando antecipar suas preferências. Lupi disse não ter dificuldades também em um eventual apoio à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pelo PT, por quem teria simpatia. “Agora, a questão não é só de simpatia, é de afinidade, a questão é política”, emendou.

O ministro também deixou claro que o fato de integrar o governo Lula não será decisivo. “Uma coisa não tem necessariamente nada a ver com a outra. Quando assumimos o governo e aceitamos a honrosa missão que o presidente Lula nos deu de ser ministro, aceitamos com o compromisso de base de apoio no governo. Em nenhum momento nós discutimos a sucessão presidencial”, disse. Em Minas, depois de rasgar elogios a Aécio, Carlos Lupi disse que a tendência natural do partido é continuar a caminhar com ele. O partido participa do governo desde a primeira gestão do tucano à frente do Palácio da Liberdade. “A tendência natural, coerente, legítima do partido é acompanhar a continuidade do governo, do governador Aécio”, antecipou.

A movimentação das legendas que hoje integram a base do governo Lula (PT) e tenderão no próximo pleito a gravitar em torno do PSDB ou do PT aponta para um novo elemento que poderá ser essencial no processo de indicação do candidato tucano: a capacidade de agregar e, ao mesmo tempo, esfacelar a base de apoio lulista, numa tentativa de isolar a candidatura presidencial petista da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Os tucanos que hoje dão sustentação à pré-candidatura de Aécio Neves no PSDB apostam nas habilidades do mineiro nesse quesito. Não à toa, o discurso dos aecistas passa pela capacidade em aglutinar e pelo potencial de crescer. Já a retórica serrista se prende aos indicadores imediatos de intenção de voto.

Candidatos mais conhecidos têm um recall maior, portanto, exibem melhor desempenho antes da propaganda gratuita. Nada, contudo, que não possa ser revertido ao longo de uma campanha eleitoral, se esta se demonstrar incapaz de agregar novos aliados ao núcleo de oposição integrado pelo PSDB, DEM e PPS.

Novos partidos integrados à proposta tucana, é o que quer Aécio Neves. “Temos um núcleo forte com democratas, o PPS e o PSDB, mas acho que podemos ampliar para não fazermos uma candidatura simplesmente de oposição ao presidente Lula”, afirma. E, para trazer aliados, segundo Aécio, é preciso ser capaz de agregar: “ Esse aspecto, a capacidade de aglutinar, será muito bem avaliado e importante na decisão que o partido vier a tomar no final do ano”.

Segundo ele, o PSDB deverá indicar o nome no próximo dezembro.

Até lá, os tucanos não devem ter pressa, acredita o governador. “Fico feliz de o PSDB ter optado por fazer encontros, movimentar-se pelo país”, afirma. “Vamos chegar ao final do ano. Havendo disputa, vamos fazer uma prévia dentro do partido, para olharmos não apenas aquele que tem maior indicador nas pesquisas, mas aquele que mais agrega e sobretudo quem tem mais condições de vencer as eleições, a partir de um potencial maior de crescimento”, prega o governador mineiro.

Lula rejeita 3º mandato, mas apoio o deixa 'feliz'

EDUARDO SCOLESE
Enviado Especial à Guatemala
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Dois dias após pesquisa Datafolha ter apontado divisão dos eleitores em relação ao terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou de novo essa possibilidade, mas se disse "muito feliz" com a parcela da população que defende mais quatro anos para ele.

Lula criticou o tratamento da mídia à prorrogação de mandatos na América Latina. "Isso [mais de uma reeleição], se for feito democraticamente, ainda é assimilável". Segundo o presidente, não são feitas críticas a premiês europeus que ficam "18 anos" no poder.

Lula rejeita 3º mandato, mas se diz feliz com apoio

Presidente defende Chávez e Uribe, mas diz que "Brasil não deve ter o 3º mandato"

Petista volta a dizer que não "brinca com a democracia", mas sugere na Guatemala que mudança feita de forma democrática "é assimilável"


Dois dias após a divulgação de uma pesquisa Datafolha que aponta a divisão no eleitorado sobre o terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem a rejeitar essa possibilidade, mas se disse "muito feliz" com o apoio de tantos eleitores à sua reeleição.

As declarações do petista ocorreram em sua visita oficial à Cidade da Guatemala. Ao criticar a cobertura da imprensa sobre o tema, Lula disse: "E isso [a nova reeleição], se for feito democraticamente, ainda é assimilável. Porque é muito engraçado que as críticas que fazem aos presidentes da América Latina que querem um terceiro mandato não se fazem aos primeiros-ministros na Europa que ficam 16 anos ou 18 anos".

Ele defendeu o debate na Venezuela e na Colômbia: "O [Hugo] Chávez quer o terceiro mandato. Ele vai se submeter às eleições. Uma hora o povo pode querer, outra, o povo pode não querer.

O [Álvaro] Uribe está querendo o terceiro mandato. Tem de passar por um referendo. Ele pode querer, e o povo pode elegê-lo ou pode não elegê-lo. Eu não vejo nisso nenhum mal. O que acho importante é que todo resultado seja um exercício da democracia".

Pesquisa Datafolha revela que a emenda para que Lula possa disputar de novo é apoiada por 47% dos eleitores e rejeitada por 49%. "Fico muito feliz quando as pesquisas começam a demonstrar que uma grande parcela do povo começa a querer. Mas não existe hipótese de terceiro mandato", disse. "Volto a repetir o que eu já disse: eu não brinco com a democracia. Foi muito difícil a gente conquistá-la, e o que vale para mim vale para os outros. Alguém que quer o terceiro mandato pode querer o quarto, pode querer o quinto, pode querer o sexto".

"Acho que o Brasil não deve ter o terceiro mandato", disse. Aliados de Lula querem votar uma emenda constitucional permitindo duas reeleições seguidas até setembro. O deputado Jackson Barreto (PMDB-SE) protocolou uma proposta prevendo um referendo para decidir se Lula pode ou não concorrer, mas não foi aceita porque deputados do DEM e do PSDB retiraram as assinaturas.

Lula criticou a mídia: "A verdade é que não teríamos democracia sem a imprensa, mas a verdade também é que a imprensa fortalecerá muito mais a democracia quando ela se contentar em informar os fatos, e não criar os fatos. E não se transformar em porta-voz de um pensamento político".

A convite do Planalto, os jornalistas EDUARDO SCOLESE e JORGE ARAÚJO foram de El Salvador à Cidade da Guatemala em avião da FAB.

Um Congresso em frangalhos

Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - No mesmo dia em que surgiu mais um caso de impostura no Congresso, saiu o resultado da pesquisa Datafolha com uma oscilação positiva na aprovação de deputados e de senadores.

Para 19% dos brasileiros o Congresso tem um desempenho "ótimo" ou "bom". Em março, ainda no início da atual onda de estripulias no Legislativo, o percentual era de 16%. Não há motivo para comemoração. Pelo contrário, trata-se apenas da consolidação de uma tendência há anos detectada.

Desde o início desta década, a aprovação do Congresso variou de 11% a 22% em pesquisas Datafolha.

Os 19% atuais estão dentro dessa faixa de tolerância da sociedade.

Sempre há, historicamente e em qualquer lugar, um grupo disposto a olhar com extremo desdém para as mazelas do país -por desinformação, desânimo ou ambos.

A estabilização do Congresso nesse patamar de aprovação ao rés do chão tem sido à custa de mais de 50 episódios de ações incorretas e mau trato do dinheiro público. Ontem, a notícia ruim veio do Senado.

Integrantes da Câmara Alta licenciados para ocupar cargos de ministros continuam recebendo auxílio-moradia. Foram R$ 345,8 mil para o ralo. Nada acontecerá.

Um dos senadores licenciados é Alfredo Nascimento, do PR do Amazonas, hoje ministro dos Transportes. O PR é o ex-PL, sigla das mais desenvoltas no escândalo do mensalão. Como se vivesse numa bolha e desconectado da sociedade, o político amazonense declarou estar esperando ser "informado oficialmente pelo Senado sobre o assunto". Depois, "examinará a necessidade e a qualidade das medidas a serem tomadas".

O político recebe auxílio-moradia como senador sem ser senador.

Não contente, acha necessário "ser informado oficialmente" sobre seu ato. Atitudes assim garantem o congelamento da aprovação do Congresso no patamar dos 20%.

Dilma nas pesquisas

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

O noticiário sobre o diagnóstico, o tratamento e os prognósticos a respeito da saúde da ministra extravasou os limites do jornalismo político nos meios de comunicação de massa

Foram divulgadas, de semana passada para cá, três pesquisas de intenção de voto nas eleições presidenciais do ano que vem. Com as diferenças que se espera entre levantamentos feitos agora, elas pintam um mesmo quadro.

O resultado mais relevante é o crescimento de Dilma. Nas três, ela mostra ter crescido de maneira expressiva e consistente nos dois últimos meses, entre o final de março e o de maio. Como os cenários testados não são sempre iguais, é difícil compará-los com exatidão, mas ela cresce em todos.

Segundo o Datafolha, ela teria subido de 5% a 7% no período, dependendo de quem é seu adversário no PSDB. Comparando pesquisas da Vox Populi de abril e maio, entre 4% e 7%, também variando de acordo com os outros nomes. Na Sensus, publicada na segunda-feira, algo parecido, quando são cotejadas pesquisas feitas em março e maio, mostrando um crescimento de até 8%.

São números muito significativos, quer sejam vistos em termos absolutos ou relativos. Não só subir tanto é incomum, à distancia em que estamos da eleição, como crescer nessa velocidade chega a ser surpreendente. Para ilustrar: se ela continuasse nesse ritmo nos próximos meses, logo chegaria ao primeiro lugar nas pesquisas.

Uma pista para compreender esse fenômeno é dada por um resultado da Vox Populi, idêntico nas suas últimas pesquisas: são 23% as pessoas que afirmam que “votariam com certeza no(a) candidato(a) indicado(a) por Lula”, independente de quem seja.

Se acreditarmos no que os entrevistados dizem (coisa sempre recomendável), o que estamos vendo fica menos espantoso. O que precisa ser explicado não é que Dilma tenha chegado ao patamar de intenções de voto em que está. Seus 19 ou 25% na Vox, 16 ou 19% no Datafolha e mesmo os 28% que alcança no cenário mais favorável da Sensus, estão sempre no nível previsto.

Na verdade, aquém dele. Com apenas metade dos eleitores sabendo que ela é a candidata de Lula, falta atingir uma fatia relevante dos que dizem que certamente votarão no nome que ele apontar. Seus 20%, não vêm, portanto, somente dessas pessoas.

Se o tamanho atual de suas intenções de voto pode ser assim entendido, resta a pergunta sobre o que poderia ter provocado um crescimento tão rápido, em taxa de 3 a 4 pontos percentuais ao mês, no período considerado. Sobre isso, só podemos especular.

Uma explicação tem a ver com a doença. Nem tanto com uma hipótese que andou em voga quando a notícia foi dada, a de que ela “humanizaria” a ministra, mudando sua imagem de “dama de ferro palaciana”. Mas com algo mais prosaico.

O noticiário sobre o diagnóstico, o tratamento e os prognósticos a respeito da saúde de Dilma extravasou os limites do jornalismo político nos meios de comunicação de massa. O assunto virou tema de outras mídias, que normalmente pouco se ocupam de personagens do mundo político, como os candidatos a presidente. Programas matutinos de entretenimento na TV e no rádio, revistas de variedades, sites e blogs apolíticos, em qualquer lugar estavam essas informações.

Foi através dessa cobertura que parte da população sem interesse por temas políticos se informou sobre Dilma. Seu efeito foi ainda maior por ter ocorrido enquanto era veiculada a propaganda partidária do PT. Pela primeira vez, ela foi a estrela do programa e, muito mais importante, dos comerciais do PT exibidos em rede nacional. Uma reforçou a outra e a consequencia pode ser vista nas pesquisas de agora: o salto de Dilma.

Passamos por um bimestre de desproporcional presença de Dilma nas mídias não-políticas. Todos seus adversários sofreram com isso e perderam na comparação com ela. Serra, Aécio, Ciro e Heloísa Helena, uns mais, outros menos, retrocederam, enquanto só ela cresceu.

Isso vai ocorrer nos próximos meses? O que vai acontecer quando Dilma alcançar todos os eleitores que votariam nela de qualquer maneira, por ser ela a candidata de Lula? Continuará a crescer?

Dilma sem adversário

Raquel Ulhôa
DEU NO VALOR ECONÔMICO

O crescimento registrado pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) nas últimas pesquisas de intenção de voto para presidente da República já era esperado por analistas políticos e oposição. Ela ainda nem atingiu o piso previsto para que um candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, qualquer que seja ele, largue na corrida, calculado em aproximadamente 30%.

Em disputa com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), ainda liderando, Dilma aparece na pesquisa do instituto Datafolha, publicada domingo, com 16% das intenções de voto (aumento de cinco pontos percentuais em relação a março). A ministra também apresenta salto de sete pontos percentuais no mesmo período, em levantamento do Sensus para a Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgado no dia seguinte.

Mesmo estando dentro do script, o salto da pré-candidata de Lula causa apreensão na oposição. Embora tenha o pré-candidato favorito da disputa - Serra -, o PSDB se vê impossibilitado de reagir neste momento, a um ano e meio das eleições. Falta estratégia e discurso para enfrentar a alta popularidade de Lula.

Um dos motivos é a exposição garantida que o presidente tem na mídia. Outro fator é que Serra nega-se a assumir postura mais ofensiva de pré-candidato, para não atrapalhar sua gestão em São Paulo. Não quer dar brecha para que a oposição a ele no Estado o acuse de estar abandonando o governo no terceiro ano de mandato para pavimentar o caminho para o Planalto.

Além da postura contida de Serra, a postulação do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, de disputar com o colega paulista a indicação do PSDB para a sucessão presidencial funciona como uma trava. Impede que os tucanos lancem uma estratégia forte para projetar Serra nacionalmente.

O PSDB não pode, por exemplo, transformar o governador paulista na estrela principal das inserções e do programa eleitoral gratuito do partido na televisão, que irão ao ar nos próximos dias. No caso do PT, Dilma apareceu com destaque. Nos programas tucanos, o espaço terá de ser dividido, embora se acredite cada vez menos nas chances de Aécio. A pesquisa realizada pelo instituto Sensus para a Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada na segunda-feira, enfraquece os argumentos de Aécio para se manter na disputa. Ele, que apostava no aumento de seu potencial de voto na medida em que se torna mais conhecido, cai em todos os cenários.

Segundo a pesquisa, o governador mineiro é, de fato, o menos conhecido entre os três principais pré-candidatos, mas apenas 9,3% dos que o conhecem o elegem como único candidato em que votariam. No caso de Serra e Dilma, esse percentual é de 19,5%. Somando esse índice aos que admitem que poderiam votar em cada um deles, o potencial de votos de Aécio vai a 52,8%, o de Serra, 63,2%, e o de Dilma, 54,6%.

O raciocínio, alimentado por aliados do mineiro, parte da premissa que Serra seria conhecido pela quase totalidade do eleitorado e, por não apresentar crescimento nas pesquisas, teria batido no seu teto. Tanto a pesquisa CNT/Sensus como a Datafolha, divulgada domingo, mostram que Serra é conhecido por 95% do eleitorado. No caso de Aécio, esse índice é de 65% no Sensus e 61% no Datafolha. Dilma, exaustivamente apresentada pelo presidente Lula ao país como sua candidata atingiu um índice de conhecimento de 65% no Datafolha e de 72% no CNT/Sensus.

A outra aposta de Aécio para se manter no páreo é sua capacidade de agregar aliados. Tem bom trânsito no PMDB, negocia com PP, PR, PTB e PDT e mantém boa relação com o presidenciável do PSB, deputado Ciro Gomes (CE). Esses fatores têm sido insuficientes para alavancar a candidatura de Aécio internamente.

No PSDB, a possibilidade de realização de prévias para a escolha do tucano que vai disputar o Planalto não é levada a sério. A convergência é que a vez é de Serra. Acredita-se que o mineiro levará a pré-candidatura à Presidência até o segundo semestre, quando fará acordo com Serra. Mas não para ser candidato a vice. Aécio já decidiu que, perdendo a chance de disputar o Planalto, prefere ir para o Senado.

Seria uma opção pelo vôo solo, num mandato para o qual tem eleição garantida, em vez de passar quatro anos como vice, atrelado a um presidente com perfil centralizador. Como senador, chegaria a 2014 numa situação politicamente mais confortável para disputar a eleição presidencial.

Para o sociólogo e presidente do instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, Serra aparentemente não tem mais para onde crescer. "O teto do Serra é constatação. Já é conhecido perto de 100% do eleitorado. Não tem o que ganhar", diz ele. O sociólogo acha que o nível de conhecimento de Aécio é bem menor que o apontado pelos outros institutos. "Pesquisa Vox populi mostra que 15% no país sabem que ele é governador de Minas. Se 15% sabem apenas isso, não sei o que os outros 45% sabem", afirma.

Para o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, não se pode dizer que Serra bateu o seu teto. Na sua opinião, é possível calcular, em tese, o piso do governador paulista, com base nos votos obtidos por ele em 2002, na disputa com Lula pela Presidência da República: 23% dos votos no primeiro turno e 38,7% no segundo.

Para Paulino, o crescimento de Dilma reflete sua alta exposição na mídia e sua identificação cada vez maior como candidata de Lula. "A partir do momento em que a campanha estiver explicitamente no ar, pode acontecer qualquer coisa, porque será uma eleição diferente, sem Lula. Não se sabe como o eleitor reagirá", diz Paulino.

Coimbra diz que a oposição não deve se preocupar com o bom desempenho de Dilma, enquanto ela não atingir os 30% previstos. "A partir daí, é que a bola não estará mais com Lula." Para ele, o atual salto de Dilma nas pesquisas pode tornar-se um problema para sua candidatura, por criar a expectativa de que o crescimento continue. Se não acontecer, dará a impressão de queda. "O que é vantagem hoje pode ser desvantagem amanhã."

Raquel Ulhôa é repórter de Política em Brasília. A titular da coluna, Rosângela Bittar, não escreve hoje excepcionalmente

Crocodilos no brejo

Panorama Econômico :: Miriam Leitão
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Martin Walker é diretor da consultoria americana AT Kearney e também de um centro de análise que reúne presidentes de empresas globais. Ele chegou ontem ao Brasil, e eu o entrevistei. Walker acha que a recuperação da economia mundial começa no segundo semestre, mas pode não ser sustentável. Diz também que a inflação no mundo voltará a subir por causa do "tsunami" fiscal e monetário.

A liberação monetária e fiscal foi de tal magnitude, a criação de moeda e a ampliação dos déficits nos países centrais tão fortes que, na opinião dele, é certo que ocorrerá uma ressaca.

- Esse dinheiro todo, esse verdadeiro tsunami, produzirá um crescimento econômico, no curto prazo, mas a dúvida é se essa recuperação poderá ser sustentada ou se será uma falsa recuperação. Acho que a retomada será em "W" (uma alta, uma queda e nova alta). É impossível que com todo esse estímulo combinado não haja um período de inflação global, em dois ou três anos - afirmou.

Walker está otimista em relação ao Brasil. Disse que existem "macro razões para apostar no futuro do país". Um motivo recente de otimismo é que ele acha que o país começou a se livrar da armadilha do crescimento inflacionário.

- Sempre que o Brasil crescia 4% ou um pouco mais, a inflação subia. Isso, pelas fraquezas tradicionais do país: pouca produtividade, infraestrutura insuficiente, relações trabalhistas e educação baixas. Esses problemas começaram a diminuir, o Banco Central tem tido um fortalecimento de sua reputação, o país exporta mais - disse ele.

A AT Kearney tem um índice que mede o grau de interesse dos grandes investidores nos países. O Índice de Confiança do Investimento Direto é feito com pesquisas junto a presidentes das principais empresas do mundo. Walker particularmente é diretor do Global Business Policy Council, que reúne CEOs das maiores empresas do planeta. Ele disse que tem visto crescer o interesse de investidores diretos no Brasil, pelas perspectivas que se abrem neste momento:

- O Brasil é exportador de commodities cujo consumo vai continuar crescendo, como a soja, por exemplo. Tem novos campos de petróleo, matérias-primas, os bancos não foram afetados pela crise e há tecnologia para enfrentar o período de inflação mais alta que o mundo vai viver. Além disso, o país fez a mudança demográfica rapidamente, está com um crescimento populacional estabilizado, e tem ainda poucos aposentados. Nos próximos 20, 30 anos, essa vantagem demográfica ajudará o Brasil.

Mas você, leitor, deve estar se perguntando: por que esse título aí em cima? Martin Walker usa essa expressão "crocrodiles in the swamp" para falar sobre os riscos nos quais o mundo continua atolado. Numa análise recente que escreveu, "After the Crash of 2008", ele aponta duas boas notícias: não haverá o colapso bancário global que esteve muito próximo de acontecer; e não haverá uma grande depressão como a de 1929. Em compensação, há ainda "crocodilos no brejo", e pela descrição, parecem mais assustadores do que a nossa intraduzível "a vaca foi para o brejo".

Um desses riscos é o imenso, gigantesco, passivo ainda não digerido pela economia mundial: o credit card default e o credit default swaps, ou seja, o calote do cartão de crédito e as garantias concedidas contra os calotes. Qual o tamanho dos crocodilos? Segundo ele: US$60 trilhões, ou seja, mais do que o PIB mundial. Ele disse também que ainda não estão afastados os riscos de moratória de países. No texto, ele tinha registrado risco de calote da dívida na Argentina, Ucrânia, Paquistão. Ontem, ele agregou também outros países da Europa Oriental como a Romênia, Letônia, Lituânia. Mas disse que o risco de quebra de países (o default soberano) é menor agora que o FMI foi fortalecido e capitalizado para socorrer países em dificuldade.

Para ele, o mundo está transitando para uma nova ordem global, mas essa mudança não será fácil. A relação em que alguns países tinham déficits comerciais enormes, como os Estados Unidos e Inglaterra, enquanto outros registravam superávits comerciais, como a China, Japão e Alemanha, não funciona mais. Terá que haver um reequilíbrio que passará por redução do consumismo americano e novo padrão de consumo na China. Do ponto de vista da governança global, ele acha complexa a transição do G-7 para o G-20:

- O G-7 era um grupo homogêneo de países com economia madura e democracia, e que chegava a um consenso estável sobre as finanças globais. No G-20, nem todos são democracias, como é o caso da Arábia Saudita, China e Rússia. Há exportadores de energia e importadores de energia, países com déficits e com superávits comerciais. É um grupo heterogêneo e com interesses muitas vezes conflitantes. Por isso, acho que será uma governança mais instável.

Ele acha também que o mundo terá que passar por inúmeras mudanças, como uma nova regulação bancária, muito mais rígida do que a que permitiu a crise. Por tudo isso, Walker acredita que há um pântano a atravessar, cheio de crocodilos, antes que se possa dizer que o mundo venceu a crise.

Alinhamento dos juros

Celso Ming
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Aumentam as pressões para que os juros primários (Selic) se alinhem com os juros internacionais.

Já não se trata mais de derrubar os juros para garantir mais crescimento econômico, mas para evitar uma excessiva valorização do real, independentemente do que isso possa significar.

Nos últimos dias, essa posição foi defendida aqui no Brasil pelo ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda do governo Sarney Luiz Gonzaga Belluzzo e pelo ex-ministro do Desenvolvimento do governo Fernando Henrique Luiz Carlos Mendonça de Barros.

Eles estão preocupados com a baixa abrupta do dólar no câmbio interno (valorização do real), fator que tira competitividade do produto brasileiro em razão do barateamento em reais das importações e do encarecimento em dólares das exportações.

Entendem que a falta de convergência dos juros internos comandados pela Selic com os juros externos trará uma enxurrada de dólares ao País que procurarão tirar proveito dos juros bem mais altos aqui dentro. Quando isso acontecer, o dólar, que já vem mergulhando, afundará ainda mais diante do real.

Por enquanto, as estatísticas não denunciam um afluxo anormal de moeda estrangeira que venha a aproveitar os juros mais altos no Brasil. Mas, à medida que os investidores internacionais saírem de suas posições defensivas e se voltarem para o risco, isso pode ocorrer.


Aumenta a percepção de que o Brasil é a noiva da vez. Bancos e escritórios de finanças trabalham com computadores que 24 horas por dia apontam oportunidades de ganhos com mordidas com juros (arbitragem) e disparam automaticamente, mundo afora, ordens de compra e venda de ativos.

As pressões para que haja alinhamento de juros não são muito diferentes das reclamações que têm sido feitas por autoridades monetárias do resto do mundo. O presidente do Banco da Inglaterra (banco central), Mervyn King, por exemplo, tem se queixado de que, a cada recuo dos juros nos Estados Unidos, uma invasão de moeda estrangeira no mercado inglês cuida de valorizar insuportavelmente a libra esterlina.

O problema é que cada país tem a política monetária que o momento pede. Agora, por exemplo, o Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) opera a juros próximos do zero por cento ao ano porque precisa apagar um incêndio e desobstruir o mercado de crédito. Se a cada mexida da política monetária do dólar ou do euro for preciso alinhar os juros, o País perderia capacidade de administrar a sua própria.

No fundo, o que está em questão é uma enorme desproporção. O mercado financeiro é rigorosamente global e opera no sistema de vasos comunicantes. E, no entanto, as políticas monetárias seguem sendo nacionais ou, no máximo, regionais.

A globalização está pedindo convergência ou para uma moeda única ou para coordenação de políticas monetárias. Enquanto não houver isso, será preciso lidar com assimetrias monetárias.

A convergência monetária está em curso no Brasil. Em 2003, os juros estavam nos 26,5% ao ano e, na semana que vem, terão chegado à casa dos 9%. O que precisa ser discutido é se a velocidade dessa convergência é adequada ou não. Se não é e precisa aumentar, cabe perguntar se o País aceita correr o risco de mais inflação que a flexibilização do plano de metas implicaria.

Confira

Subindo - Enquanto o dólar afunda globalmente diante das moedas fortes, o petróleo segue na direção contrária, agora a caminho dos US$ 70 por barril. Em Nova York, ao longo de 2009, já acumulou alta de 31,5% e, nos últimos 30 dias, de 26,2%.

"A Cebola", a bolha e dólar frito

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Regulador americano chamou de "bolha" a explosão de preços de commodities de 2008; algo parecido está ocorrendo agora

"A CEBOLA" , ou "The Onion", em inglês, é um site de humor popular entre gente de universidade, imprensa e "nerds" nos EUA. Em forma de jornal sério, imita sarcasticamente o noticiário regular da mídia. Caricatura nossos clichês (de nós, jornalistas) e a torrente de estudos econômicos que "provam" isso ou aquilo. Manchete do "Onion" já deu que o "custo de vida supera o benefício de viver, revela estudo estatístico" ("Life isn"t worth living" era um comentário da matéria). Em julho de 2008, o "Onion" manchetava: "Nação devastada pela recessão exige outra bolha na qual possa investir". Na época, o governo Bush ainda esperava "recuperação no fim do ano".

A recessão só foi declarada "oficialmente" em dezembro de 2008 pelo NBER, o comitê americano de economistas que faz a datação das recessões (é o "comitê do carbono-14", método de datação de objetos arqueológicos ou paleontológicos, tal o atraso com que o NBER anuncia recessões). O "Onion" deu, pois, um "furo". Os americanos ainda não foram agraciados com uma nova bolha, mas um zunzum intenso continua a inflar pelo menos a bolha de notícias sobre a bexiga financeira das commodities, soprada dos EUA.

No caso de açúcar e soja, por exemplo, os preços foram inflados por problemas em países produtores. No mais, porém, o movimento é gerado pelo "otimismo" com a economia e pela desconfiança do dólar.

Investidores vendem títulos de longo prazo dos EUA, bancos centrais compram mais títulos curtos; os juros de longo prazo sobem. Liquidam-se posições em dólar, que perde valor. Há dólares sobrantes, cortesia do Fed, mas não há consumo ou investimento. Os investidores que saem de ativos americanos "seguros" investem em commodities. E cá estamos numa situação parecida com a da bolha de meados de 2008, chamada ontem literalmente de bolha até pelo regulador do mercado de futuros de commodities nos EUA. Foi a bolha do Bovespa a 70 mil pontos e do real a R$ 1,50. Sim, toda essa história de juros e moeda dos EUA nos atinge diretamente.

Para ajudar a desconfiança em títulos americanos e no dólar, a expectativa de inflação nos EUA voltou ontem ao nível de setembro de 2008, AC (antes do colapso). É uma expectativa de nada, 2% no médio prazo. Mas faz pouco o medo era de deflação; a expectativa de inflação de médio prazo era ZERO em dezembro. Paul Krugman, o Nobel da moda, escarnece da ideia de medo de inflação nos EUA. Mas juros de títulos americanos longos sobem, o petróleo morde a cotação de US$ 70 o barril (o dobro de fevereiro), o ouro ameaça voltar a US$ 1.000 a onça, e as moedas commodities (de países produtores) se valorizam.

As maiores Bolsas do mundo ainda estão a uns 30% do pico da loucura de 2008. Tudo bem, mas há indícios de que as indústrias de EUA, Europa e Japão ainda estavam encolhendo em maio. Gente vivida dos mercados de moedas, commodities e juros avalia que os investidores se comportam como se o mundo estivesse à beira de voltar ao "business as usual" de antes da explosão da crise. Gente vivida na análise da economia real diz que tal retorno será lento, com pedras no caminho.

É bolha ou não é?

Lições de Mozart em 38 concertos

João Luiz Sampaio, Rio
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / Caderno 2

Folle Journée começa hoje na Sala Cecília Meireles e vai ocupar seis palcos do Rio, unindo artistas brasileiros e franceses

Trinta e oito concertos, seis palcos, cinco dias. Todos dedicados a Mozart. Se paramos para pensar, é uma loucura. Mas é em parte devido a ela que a Folle Journée tem conquistado um espaço cada vez maior no cenário musical brasileiro. Criada na França nos anos 90, chegou ao Rio em 2007. Desde então, virou marco do calendário da cidade com a proposta de imersão na obra de determinado compositor a partir de uma profusão de concertos curtos, nos quais aparecem suas principais obras. A maratona deste ano começa hoje, com duas apresentações. Às 18 horas, o Octeto Villa-Lobos toca no Auditório do BNDES; e, às 20 horas, a abertura oficial, com a Orquestra Rio Folle Journée regida pelo maestro Roberto Tibiriçá e com solos da pianista Sonia Goulart.

A presença de orquestra própria é uma das novidades deste ano do evento. Nas edições anteriores, participou a Sinfônica Nacional da UFRJ, com a maestrina Ligia Amadio. Ela voltou a São Paulo e agora comanda a Sinfônica de Campinas. Em troca, Tibiriçá, que tem desenvolvido importante trabalho à frente da Sinfônica de Heliópolis, foi repatriado ao Rio, onde criou um conjunto especial para o festival. Outras duas orquestras também estarão presentes: o conjunto vocal Calíope, de Julio Moretzsohn, montou uma formação de câmara para acompanhá-lo na apresentação de peças como a Missa Breve ou trechos da Missa da Coroação - eles fazem também um concerto em que mostram as relações entre a música de Mozart e a de compositores de sua época em atividade no Brasil; e a Filarmônica de Minas Gerais, orquestra convidada, faz dois concertos com regência de Fábio Meccheti e solos do pianista Arnaldo Cohen.

A julgar pelas edições anteriores, são justamente os que envolvem orquestra os concertos mais concorridos - além da música sacra de Mozart, teremos ainda sinfonias e concertos para piano, além de aberturas de suas principais óperas. Mas verdadeiras pérolas da programação se espalham também ao longo dos dias e concertos de câmara. Como escolher os concertos, que ocorrem simultaneamente nos seis palcos? A dúvida faz parte da graça do festival. É possível optar por um gênero - as sonatas, os quartetos, as sinfonias - e acompanhar seus intérpretes. No entanto, interessante pode ser também encarar uma mistura geral, um quarteto pela manhã, sonatas depois do almoço, uma sinfonia ao cair da noite. As relações que vão se construindo na mente do ouvinte passam assim a oferecer um olhar mais completo e, ao mesmo tempo, totalmente individual da obra de Mozart. É essa a ideia central por trás da criação da Folle Journée, como explica o idealizador do projeto, o francês René Martin.

Mas, enfim, vamos ao cardápio, que é diversificado. As sonatas para piano serão interpretadas ao longo da programação pelos pianistas Jean-Claude Pennetier, Anne Queffélec, Berenice Menegale, Eduardo Monteiro e Sonia Goulart, Marcelo Thys, Luciano Magalhães e Christian Ivaldi. Os quartetos de corda são responsabilidade do Ysaye que, por sinal, será conjunto residente do Festival de Inverno de Campos do Jordão. Outras formações prometem: a harmônica de José Staneck com o piano de Flávio Augusto; o piano de Fany Solter com o cello de Fabio Presgrave e o violino de Daniel Guedes; as cordas do Ysaye com o piano de Anne Queffélec e a viola de Gérard Caussé. A música vocal, é uma pena, tem ficado de fora da programação da Folle Journée - e, no caso de Mozart, as óperas mereciam um pouco de espaço. Mas sua produção para voz estará representada nos concertos do Calíope, que terão como solistas artistas como o contratenor Paulo Mestre, a soprano Livia Dias e o barítono Rafael Thomas.

Os palcos

SALA CECÍLIA MEIRELES:
Largo da Lapa, 47, tel. (0--21) 2224-4291; 835 lugares


SALA GUIOMAR NOVAES:

R. Teotônio Regadas, s/n.º (anexo da Sala CecíliaMeireles); 150 lugares

TEATRO JOÃO CAETANO:

Praça Tiradentes, s/n.º (0--21) 2332-9257; 1.200 lugares

IGREJA N.ª SRA. DO CARMO DA LAPA:Largo da Lapa, s/n.º; 200 lugares

ESCOLA DE MÚSICA DA UFRJ - SALÃO LEOPOLDO MIGUEZ:

R. do Passeio, 98, tel. (0--21) 2262-8742; 800 lugares

AUDITÓRIO DO BNDES:

Av. República do Chile, 100, tel. (0--21) 2172-7757; 300 lugares

FESTIVAL FRANCÊS COMEÇA HOJE NO RIO

DEU NA FOLHA DE S. PAULO / Ilustrada
A versão carioca do "Folle Journée", festival francês de música clássica, acontece de hoje a domingo, no Rio. Os concertos, dedicados a Mozart, acontecem na Sala Cecília Meireles, no Auditório Guiomar Novaes, na Lapa, no Teatro João Caetano, na Escola de Música Salão Leopoldo Miguez e no Auditório do BNDES. Saiba mais no site riofollejournee.com.