quinta-feira, 4 de junho de 2009

O PENSAMENTO DO DIA – Hegemonia (7) – Gramsci

“A questão pode ser colocada do seguinte modo: sendo o estado a forma concreta de um mundo produtivo e sendo os intelectuais o elemento social de onde se extraem os quadros governamentais, é próprio do intelectual não enraizado fortemente num grupo econômico apresentar o Estado como um absoluto; desse modo, é concebida como absoluta e proeminente a própria função dos intelectuais, é racionalizada abstratamente a existência e a dignidade histórica dos mesmos. Esse motivo é básico para compreender historicamente o idealismo filosófico moderno e liga-se ao modo de formação dos Estados modernos na Europa continental enquanto “reação superação nacional” da Revolução Francesa, a qual, com Napoleão, tendia a estabelecer uma hegemonia permanente (motivo essencial para compreender o conceito de “revolução passiva”, de “restauração revolução”, e para entender a importância da comparação hegeliana entre os princípios dos jacobinos e a filosofia clássica alemã.”


(Antonio Gramsci – Caderno do Cárcere, volume 1, págs.428-429, - Civilização Brasileira, 2006.)

Mudança na Lei Eleitoral corre risco de fracassar

Izabelle Torres
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

A minirreforma eleitoral estudada e articulada pelo presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), corre o risco de ser descaracterizada. Durante a reunião de líderes de hoje, marcada para discutir os termos de uma proposta alternativa à reforma política, os partidos de oposição devem apresentar um novo texto, incluindo temas como a lista fechada. Devem sofrer a resistência de integrantes da base, que já anunciaram disposição de aprovar uma proposta mais simples que evite temas polêmicos.

Segundo o projeto redigido pelo deputado Flávio Dino (PCdoB-MA) e apadrinhado pelo presidente da Casa, as doações para partidos e candidatos passam a ser permitidas apenas por meio dos repasses da União pelo fundo partidário e das contribuições feitas por pessoas físicas. Empresas privadas, portanto, ficariam proibidas de contribuir com candidatos. O projeto também libera a realização de pré-campanhas eleitorais e permite o uso da internet em busca de votos.

Apesar da boa vontade dos partidos da base com a ideia do projeto, os diferentes interesses partidários e pessoais devem influenciar na construção da nova proposta. “Vamos discutir os termos da matéria e ouvir também os argumentos e os pleitos da oposição. Ainda não há nada certo referente a essa minirreforma que se pretende fazer. Tudo vai depender de um acordo”, comentou o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN).

Paralelamente às discussões na Câmara, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou propostas que depois das votações concluídas devem mudar as regras eleitorais. Foram aprovados, por exemplo, o projeto que obriga a Justiça Eleitoral a instalar as zonas eleitorais nos melhores locais para os deficientes votarem e a exigência de reputação ilibada para candidatos a cargos eletivos.

Deputados querem liberar pré-campanha

Denise Madueño
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Regra atual só permite campanhas a partir de julho do ano eleitoral

Liberar a pré-campanha é um dos pontos de convergência entre os líderes partidários no projeto que muda a legislação eleitoral em fase de conclusão por um grupo de deputados e que será discutido hoje durante reunião do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), com o colégio de líderes. Os deputados querem liberdade para que, nas próximas eleições, os pré-candidatos possam fazer campanha antes do prazo atualmente definido pela Justiça Eleitoral.

A regra atual, que libera as campanhas só a partir de julho do ano das eleições, tem provocado problemas e insegurança para os pré-candidatos e para os partidos políticos. Sem a mudança na regra, o governador José Serra, por exemplo, se deixar o governo de São Paulo para concorrer à Presidência da República em abril do próximo ano ( no prazo de desincompatibilização), só poderá começar sua campanha paga pelo partido e sem risco de ser acusado de campanha fora de época, depois de oficializado candidato do partido.

Outro problema foi verificado na semana passada. A Polícia Federal cumpriu mandato de busca e apreensão na sede do PMDB do Ceará em uma ação que apura propaganda eleitoral antecipada e uso de material proibido. O texto do projeto permite a realização de prévias partidárias, a divulgação de material e participação em reuniões, realização de seminários e encontros, além da presença de pré-candidatos em entrevistas e debates de emissoras de TV e rádios.

O projeto limita também a ação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no ano eleitoral. Um artigo determina que o tribunal só poderá baixar instruções até o dia 5 de março do ano da eleição, mesmo assim, ouvindo previamente, em audiência pública, representantes dos partidos políticos. Os parlamentares reclamam que o tribunal estabelece normas em véspera das eleições, surpreendendo os candidatos e partidos.

Outra regra do projeto determina que apenas a Justiça Eleitoral poderá atuar nas campanhas, ou seja, a propaganda eleitoral não poderá ser cortada sob alegação de violação de leis que regem o código de postura municipal ou legislação ambiental, por exemplo.

PSDB diz ser 'débil' em comunicação; Aécio ataca aparelhamento do Estado

Isabel Braga
DEU EM O GLOBO


Governador mineiro admite que Serra hoje tem mais chance de ser candidato

BRASÍLIA. Num momento em que o presidente Lula recupera os melhores índices de popularidade e a sua pré-candidata a 2010, Dilma Rousseff (Casa Civil), ganha fôlego nas pesquisas, os tucanos admitiram ontem que falham na comunicação com a população. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), chegou a dizer que a legenda teria que aprender a fazer comunicação com o PT:

- Somos débeis em matéria de comunicação. Alguma coisa que o PT poderá nos ensinar. (Eles) Têm uma capacidade enorme de se comunicar, nem sempre da forma mais apropriada ou com recursos lícitos.

O tucano fez a autocrítica ao responder a perguntas sobre reclamações do governador José Serra (SP) à falta de organização do partido para as eleições de 2010. O governador de Minas, Aécio Neves, endossou a avaliação. Disse que os tucanos deveriam intensificar atos partidários, como o de ontem - que comemorou os dez anos do PSDB Mulher - e viajar divulgando suas propostas:

- Não somos muito bons de comunicação, mas não adianta reclamar, vamos melhorar.

O ato, que reuniu cerca de 500 tucanas, lançou a medalha professora Ruth Cardoso, ex-primeira-dama. O ex-presidente Fernando Henrique não compareceu. A presença de Serra foi anunciada, mas ele não foi.

Aécio afirmou que Serra pedira que ele o representasse. Recebido como um popstar e com palavras de ordem, Aécio carregou nas críticas ao governo Lula. Ressalvou os avanços sociais do governo, mas atacou o que chamou de ações perversas:

- Jamais, em qualquer tempo, se viu um aparelhamento tão grande da máquina pública por um partido político, em desfavorecimento da população. Nunca antes na História deste país se viu tamanha distribuição de cargos públicos.

À saída, ele reafirmou que o importante é preservar a unidade do PSDB:

- Ninguém quebrará a unidade do PSDB por projetos pessoais. Queremos vencer, e vamos vencer unidos.

À TV Brasil, Aécio reconheceu que as chances de Serra ser o candidato do PSDB à Presidência são maiores do que as suas. E que, se isso ocorrer, acatará a decisão e ajudará o partido. Para Aécio, o crescimento de Dilma Rousseff já era esperado e poderá chegar a 30%:

- A partir daí, o jogo é um pouco diferente, e o próprio candidato tem que se firmar.

Aécio vê favoritismo de Serra na disputa interna do PSDB

Christiane Samarco
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Governador mineiro prevê eleição ""difícil e dura"" para o partido

O tucano Aécio Neves, governador de Minas Gerais, disse ontem ver "com serenidade" a possibilidade de o partido escolher José Serra como seu candidato a presidente da República. "A probabilidade de o Serra ser candidato hoje é muito maior do que a de eu ser", admitiu.

A declaração foi feita quando Aécio falava sobre as perspectivas de uma eleição "difícil e dura" para o PSDB, em razão do peso do apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à petista Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil. Serra lidera as pesquisas de intenção de voto para 2010, mas Dilma vem reduzindo sua vantagem.

O governador mineiro avaliou que o governo federal tem "falhas enormes", por conta da "ineficiência" e do "aparelhamento" da máquina administrativa, mas admite que Lula é "o diferencial" que levará Dilma ao patamar dos 30% da preferência do eleitorado até o final do ano. Destacou que as pesquisas já apontam para este cenário e que não adianta o PSDB reclamar das andanças da ministra pelo Brasil, inaugurando obras aqui e ali.

"A movimentação do governo federal será intensa e a única forma de nos contrapormos a ela é a manutenção da nossa agenda de viagens pelo Brasil", completou Aécio, que esteve em Brasília para um evento da ala feminina do partido.

Um dia depois de o presidente licenciado do PDT e ministro do Trabalho, Carlos Lupi, declarar que seu partido poderá apoiar o PSDB , caso o candidato seja o governador mineiro, Aécio defendeu a tese de que os tucanos não podem "se acomodar" com a aliança com seus aliados do DEM e do PPS. Menos ainda, acrescentou, quando têm de enfrentar um adversário apoiado por Lula, que, a seu ver, "é mais do que um líder político, é quase um mito".

"Seja comigo ou com o Serra, temos de mobilizar o partido para trazer novos aliados", afirmou.

"Podemos ter o apoio de alguns partidos que estão hoje sob o guarda-chuva de Lula, na base de apoio do governo", insistiu, ao citar conversas com o PP, o PR, o PTB e o PSB.

Agências de risco servem a especuladores, reage Serra

Silvia Amorim
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Austin Rating ameaça rebaixar nota de SP se regra para precatórios mudar

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), acusou ontem a agência de classificação de risco Austin Rating de estar a serviço de especuladores internacionais ao ameaçar rebaixar a nota de crédito do governo paulista, caso o Congresso aprove novas regras para o pagamento de precatórios. "A Austin Rating deve estar preocupada com os especuladores internacionais", reagiu Serra.

A intenção da Austin Rating foi revelada ontem pelo Estado e confirmada pelo economista-chefe da agência, Alex Agostini. Além do governo, a prefeitura paulistana também poderá ter seus "ratings" rebaixados. Os ratings medem o risco de inadimplência em contratos e são usados como parâmetros na concessão de empréstimos.

O centro da polêmica é a proposta de emenda constitucional que cria um teto anual para o desembolso de Estados e municípios com o pagamento de precatórios. A PEC, resultado de um lobby de prefeitos e governadores, foi aprovada no Senado e está agora na Câmara. Para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ela oficializa o "calote público".

Contrariado, Serra desqualificou a agência. "A Austin Rating já errou tanto, meu Deus. Não sei nem como é que continua aberta e não faliu."

O secretário da Fazenda de São Paulo, Mauro Ricardo Costa, considerou o anúncio um equívoco. "É uma avaliação equivocada, porque a PEC dos Precatórios permite exatamente que se restabeleça o pagamento de precatórios, privilegiando os pequenos credores ou aqueles com 60 anos ou mais. Os grandes vão para leilão", disse.

O governo paulista deve cerca de R$ 12 bilhões em precatórios e compromete apenas 1,5% do Orçamento com essa despesa. A maior fila de credores diz respeito a precatórios alimentares - referente a dívidas trabalhistas de servidores.

Serra contestou o argumento dos que são contrários à proposta de que os maiores prejudicados com as mudanças seriam pequenos credores. "O pessoal acha que negócio de precatório envolve a viúva, que deixou de receber. Isso é folclórico. O fundamental aí são os investidores, grandes escritórios que compraram papel de precatório a preço muito baixo, como a Merryl Lynch (banco de investimentos americano)", disse. Segundo ele, "as agências de rating servem a esse pessoal".

Sem citar nomes, Serra diz que a reação da Austin Rating é reflexo da pressão de investidores. "É provavelmente um funcionário lá de terceira categoria que está atendendo a pressão de algum grande investidor internacional."

ARRECADAÇÃO

Mauro Ricardo confirmou ontem mais uma queda real - descontada a inflação - de receita do governo paulista por causa da crise econômica.

De janeiro a maio deste ano, a arrecadação foi 1,6% menor que a registrada no mesmo período de 2008.

Bem entendido

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A CPI da Petrobrás faz 20 dias hoje e, segundo consta, ainda não começou a funcionar porque a base do governo não se entende sobre a escolha do presidente e do relator.

Com todo respeito (in) devido à confiabilidade da palavra de suas excelências, não é o que parece. Pelo balanço da carruagem, parece mesmo é que a CPI atrasa porque a base do governo está se entendendo muitíssimo bem.

Briga interna de verdade é negada, quando muito, amenizada. Mas aqui se observa o contrário: um empenho quase ansioso dos governistas em revelar detalhes da aludida guerra.

Uma hora é o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, que odeia o líder do PT, Aloizio Mercadante, outra é o petista que desanca o pemedebista, que intriga Mercadante com o presidente Luiz Inácio da Silva, que desautoriza o companheiro de partido e não se importa em ver o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, declarando que o bate-cabeça entre os aliados é realmente muito grave.

Isso tudo e ao Planalto não aflige o fato de a articulação política do governo no Senado ter virado uma baderna. Fala-se com a maior naturalidade de conversas fracassadas, de tentativas desastrosas de acertos, de ódios viscerais que até outro dia simplesmente não existiam.

Romero Jucá e Renan Calheiros, por exemplo: sempre tocaram de ouvido e de repente viraram inimigos.

O líder do PMDB alegara dificuldade para escolher os representantes na CPI por excesso de oferta, mas, de uma hora para outra, a motivação é oposta: falta mão de obra. Alguns senadores se recusam, outros são vetados pela ala adversária, uma dificuldade que nem a intervenção do presidente da República foi capaz de resolver.

Aliás, note-se que as divergências na base recrudesceram mesmo a partir na entrada de Lula na história, mandando cancelar um acordo com a oposição para a divisão do comando da CPI.

Desde então, a base se desorganiza no Congresso enquanto, na rua, os sindicatos organizados abraçam prédios em defesa da pátria aí entendida com sinônimo de Petrobrás.

Se alguma dúvida pudesse existir, a história do fogo amigo revelou-se de artifício na terça-feira, quando a CPI deveria abrir seus trabalhos. Não apareceu um governista, além do segundo suplente de senador Paulo Duque, para abrir e fechar a sessão na metade do tempo regulamentar.

Outra chicana dos governistas é a exigência da entrega do cargo de relator da CPI das ONGs, aberta desde 2007 e para a qual ninguém dá a menor bola.

Esses dois estratagemas executados em conjunto evidenciaram a unidade da base aliada na execução da tarefa de protelar o início da CPI. Até quando, é a questão.

Pode ser que seja só até hoje, conforme o prometido. Mas também pode ser que a pendenga se estenda, obrigando a oposição a recorrer ao Supremo Tribunal Federal.

Um caminho perigoso. Da outra vez em que isso ocorreu, quando os governistas se recusaram a indicar integrantes para a CPI dos Bingos (aquela do caso Waldomiro Diniz), a CPI demorou para sair e começou bem no meio do escândalo do mensalão. Agora, o risco é a CPI da Petrobrás acontecer em plena campanha eleitoral.

Vivendo e aprendendo

O presidente Luiz Inácio da Silva conquistou o direito de expor ideias desconexas, bem como se expressar em agressivo e arrevesado português, em razão de um acordo tácito segundo o qual sua origem de gente humilde o torna inimputável e enquadra como preconceito de classe qualquer crítica nessa área.

Fica, portanto, acertado que não se trata de exacerbação nacionalista com viés de oportunismo explícito a comparação entre a busca dos destroços do avião da Air France e os trabalhos de prospecção da Petrobrás.

"Um país que pode achar petróleo a seis mil metros de profundidade, pode achar um avião a dois mil metros" é uma declaração sensata, lógica e absolutamente adequada à ocasião.

Da mesma forma, é plausível o seguinte raciocínio, desenvolvido por Lula sempre que nega querer um novo mandato: "É muito engraçado que as críticas (sic) que fazem aos presidentes da América Latina que querem um terceiro mandato não se fazem aos primeiros-ministros na Europa que ficam 16 ou 18 anos".

Não há erro nem sombra de má-fé na comparação entre regimes presidencialistas - de mandatos fixos, legalmente interrompidos apenas por processos de impeachment - e parlamentaristas, cujos governos podem ser derrubados a qualquer tempo mediante voto de desconfiança do parlamento.

A tolerância é um dom. Mas o problema de tolerar o intolerável é que, uma vez rompida a barreira do aceitável, perde-se a percepção dos limites, o senso crítico e a noção do ridículo.

De fato

O Brasil realmente não é "comandado pelos ruralistas", como afirmou o ministro Carlos Minc.

Embora seja, em boa medida, sustentado.

Só união contra Lula

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


Enquanto o PT convenceu-se rapidamente de que a unidade em torno da ministra Dilma Rousseff, candidata escolhida pelo presidente Lula e não pela cúpula partidária, era a melhor aposta para a tentativa de permanecer à frente do governo, setores importantes do PSDB ainda não estão convencidos de que o governador de São Paulo, José Serra, é a melhor escolha para o partido tentar reconquistar o poder federal.

Essa diferença de comportamento dá uma clara vantagem, neste momento, às forças governistas, e somente a inesperada doença da ministra pode enfraquecer sua posição na corrida presidencial. Ao mesmo tempo em que se debate mais uma vez entre dois presidenciáveis, o PSDB vai perdendo terreno numa corrida que, por decisão estratégica do presidente Lula, foi antecipada e já não há como ser freada.

Com o agravante de que o governador de Minas, Aécio Neves, é um político de mais peso e história pessoal do que Geraldo Alckmim. A decisão de Serra de não se jogar a campo até o ano que vem teria sentido se o partido estivesse unido em torno dele inequivocamente.

E, se os governos de São Paulo e de Minas Gerais, dois dos mais importantes estados da federação, servissem de exemplo das alternativas tucanas de administração - espécie de laboratórios em que a população poderia identificar que mudanças para melhor os tucanos imporiam na administração federal caso voltassem ao poder em 2010.

Ao contrário, diante da crise econômica internacional que poderia afetar a credibilidade da política governamental, o governo Lula vem adotando medidas que vêm sendo percebidas como corretas, não apenas pela população de maneira geral, mas pelo empresariado.

Mesmo que a economia esteja em recessão e que provavelmente feche o ano com crescimento negativo, e que o desemprego aumente, os incentivos fiscais para setores da indústria, os financiamentos do BNDES, o programa habitacional e as obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) formam um conjunto de ações que dá a sensação de que o governo está fazendo tudo o que é possível diante de uma situação que não foi criada por ele.

O problema da oposição é que, mesmo que o PAC seja mais uma obra de ficção do que um programa planejado de mudança estrutural, e que o projeto de construir um milhão de casas populares seja mais uma peça de propaganda do que uma realidade factível, é difícil transformar isso em uma peça de oposição inteligível pelo eleitorado.

O governo parece acenar com esperança, enquanto a oposição parece querer o quanto pior, melhor.

Assim como é difícil para a oposição transformar o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, no grande vilão da crise - como tenta fazer o governador de São Paulo, que concentra no Banco Central as críticas ao governo, enquanto confraterniza em público com o presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff, na tentativa de não se atritar antes da hora com um governo popular ou, quem sabe, de fazer com que parte do eleitorado lulista o veja como uma alternativa melhor do que a oficial.

Durante todo o primeiro governo Lula e boa parte do segundo, a permanência de Henrique Meirelles à frente do Banco Central era vista como uma capitulação de Lula aos méritos da política econômica tucana, e a autonomia do Banco Central como um dos principais fatores que conseguiram equilibrar a economia brasileira, mesmo com o aumento dos gastos públicos.

Não foram poucas as vezes em que o PSDB uniu-se para defender o Banco Central dos ataques de setores petistas, que pediam a cabeça de Meirelles.

O presidente Lula, recentemente, disse que o presidente do Banco Central é o ministro que mais defende o povo, pois, com a política fiscal, a inflação está sob controle e o poder de compra da população está preservado.

Até mesmo a valorização do real, em decorrência dos juros altos, tem a vantagem de fazer a alegria da classe média, embora prejudique as exportações.

Antes de a crise estourar, a oposição tinha um discurso de gerenciamento moderno eficiente contra o aparelhamento do estado petista, e defendia as reformas estruturais como imprescindíveis para que o país pudesse crescer no ritmo dos demais emergentes.

Com a crise, o papel do Estado na economia ganhou dimensões salvadoras em todo o mundo, e o governo Lula passou a defender a justeza de sua política, mesmo distorcendo conceitos e tratando como solução definitiva a intervenção do Estado que, nos países desenvolvidos, é vista como uma solução radical e temporária.

O que era considerado erro do governo passou a ser virtude: bancos estatais, programas sociais de cunho assistencialista como o Bolsa Família, que teriam efeito duplo, em termos equitativos e de aquecimento de demanda.

O aumento do salário mínimo, que aumenta a rigidez trabalhista e o déficit da Previdência, tem também um efeito direto sobre demanda através dos programas sociais a ele vinculados.

Até mesmo o PAC, cuja maioria de obras não saiu do papel, é apontado como um programa contracíclico de efeitos sociais, comparável pelos mais governistas ao New Deal que ajudou a tirar os Estados Unidos da Grande Depressão, na década de 30 do século passado.

Mesmo sendo uma obra propagandística, o PAC faz a alegria dos empreiteiros e ajuda a dar ao governo Lula o apoio de setores empresariais importantes.

As pesquisas de opinião mostram que a estratégia está dando certo e que a popularidade de Lula ajuda a alavancar a candidatura de Dilma Rousseff.

Para não perder novamente o poder nacional, será preciso a oposição convencer o eleitorado de que Dilma não é Lula outra vez. Só resta encontrar um caminho de unidade, com uma chapa puro-sangue, que contraponha a experiência administrativa de seus principais governadores à inexperiência de Dilma.

Uma aposta no discurso errado

Maria Inês Nassif
DEU NO VALOR ECONÔMICO

É, sem dúvida, um enorme paradoxo. O PSDB tem, no momento, um nome altamente competitivo para a disputa à Presidência da República, o do governador José Serra (SP) e um outro pré-candidato com reconhecidas qualidades políticas, o governador de Minas, Aécio Neves.

Ainda assim, a falta de uma visão estratégica que coloque efetivamente o poder no horizonte do partido deu espaço para que se viabilizasse a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sua sucessão, a ministra Dilma Rousseff, que, neófita em disputas eleitorais, saiu do traço, no ano passado, para o segundo lugar nas pesquisas divulgadas na semana passada. Mais do que isso, as dissenções resultantes dos conflitos entre projetos pessoais de poder - e também de glória - não favorecem a unidade orgânica da agremiação para uma jornada rumo ao Palácio do Planalto.

O PSDB colocou-se numa camisa de força nesses sete anos de governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Na onda de uma radicalização da sociedade brasileira, o partido estabeleceu diálogo, cumplicidade e representação de classes sociais com maior renda e escolaridade, e mais conservadoras. A falta de interlocução com outras classes e a ausência de familiaridade com políticas partidárias que lhe permitissem maior inserção em setores populares - relacionamento mais estreito com movimentos populares ou representação no movimento sindical, por exemplo - moldou um discurso exclusivo para as classes mais bem posicionadas na pirâmide social.

O PSDB faz um discurso para esses setores porque deles depende e os representa institucionalmente; reverbera sensos comuns que reforçam, nessa faixa social, uma enorme aversão ao governo e uma cada vez mais profunda distância entre ela - e o próprio partido - e a população mais identificada com as políticas sociais do governo petista.

Essa conversa de mão única moldou um projeto de poder de formato conservador que traz embutido uma enorme dificuldade de se expandir e agregar adesões. É um projeto excludente de outras forças e que tende a arregimentar aliados pelo que tem de negativo - o contra, a aversão, a raiva, o medo, o antilulismo, o antipetismo, o antiesquerdismo, o antiestado etc. -, mais do que pelo positivo - o favorável ao Estado mais enxuto, ao aumento do superávit primário etc.

Nesse formato, o discurso do PSDB passa a ser altamente dependente de um desgaste enorme do governo e do presidente Lula, o principal fiador da candidatura petista, para agregar votos; ou, de outro lado, uma vitória tucana fica dependente de uma figura, de um líder que transcenda o partido preso na camisa de força do discurso negativo e dirigido a uma elite que soma um grupo restrito de eleitores. O discurso excludente requer uma das duas coisas para ter eficiência no convencimento do eleitor. O governador de São Paulo, José Serra, tem cada vez mais assumido o senso comum desse discurso excludente e negativo, mas tem maior ascendência sobre o partido e é mais conhecido pelo eleitor. O governador mineiro, Aécio Neves, tem mais perfil para romper com o discurso restritivo, mas dificilmente conseguirá vencer a maioria serrista dentro do partido e ser o candidato.

O discurso negativo é identificado com o da antiga UDN, mas assumi-lo embute um outro enorme erro estratégico. O discurso udenista tinha uma estratégia de poder clara: era dirigido aos militares, que tinham poder de intervenção pela força no cenário político, e era uma pregação contra uma "esquerdização" do governo. Não era uma ofensiva para conquistar o poder pelo voto - se assim fosse, a UDN de Carlos Lacerda teria que assumir um discurso agregador, não um discurso que favorecesse uma tendência dominante, naquele momento, de cisão da sociedade brasileira.

No caso das eleições de 2010, onde o que está em jogo é uma disputa democrática, uma estratégia de conquista de poder pelo discurso negativo é muito arriscada. Quando um partido favorece a cisão da sociedade visando uma disputa política, é porque aposta que ficará com a maior parte dela e ganhará eleição. Num cenário político onde o presidente tem mais de 80% de aprovação, apostar na cisão da sociedade e num discurso negativo contra uma figura tão popular quanto Lula, é um tiro no escuro.

Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras

Por quê?

Valdo Cruz
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Até aqui acredito nas palavras do presidente Lula quando diz não desejar um terceiro mandato consecutivo, uma re-reeleição. Só que, vez ou outra, quase sempre, o petista dá umas indiretas que contribuem para confundir e deixar dúvidas no ar.

Se realmente não quer entrar nessa história embalada por alguns aliados, por que Lula diz coisas do tipo: "E isso [a nova reeleição], se for feito democraticamente, ainda é assimilável"?

Ou, então, por que ele insiste na lengalenga de que as mesmas críticas dirigidas a presidentes latino-americanos não são feitas a premiês europeus que ficam até "18 anos" no poder?

Será que ele usa esse argumento por desinformação ou com outros objetivos? Afinal, ele deve saber a diferença entre parlamentarismo e presidencialismo. Ou não?

Os premiês sempre citados por Lula, ao contrário dos presidentes latino-americanos, estão sujeitos ao "voto de confiança". Podem cair com um mês de governo se não tiverem apoio do Parlamento.

Partindo do pressuposto de que Lula é sincero ao dizer que não quer, algum objetivo ao insistir nessa tecla ele tem. Não creio ser gratuito. Daí considerar que a ameaça da re-reeleição lhe é muito útil, alimentando seu poder.

O fato é que, mesmo que desejasse, o prazo hoje é por demais exíguo para aprovar no Congresso tal iniciativa. Lula sabe disso. Então, para não ficar reclamando de seus críticos, ele bem que poderia parar de falar nessas teses. Por que não?

No artigo sobre o auxílio-voto, fiz uma classificação genérica de que os juízes ganhavam o benefício para dar um "votinho extra". Não quis dizer que era apenas um voto, mas passou essa leitura. Diante das críticas e para ser preciso, corrigi a informação dizendo que o pagamento se devia a vários votos, pelo trabalho realizado ao longo do mês.

Pesquisas reforçam Lula contra a CPI e para o apoio do PMDB em 2010

Jarbas de Holanda
Jornalista

As pesquisas do Datafolha e do Sensus, divulgadas esta semana, mostrando que o presidente Lula atravessa muito bem a crise econômica, fortalecem-no no curto prazo, favorecendo sua prioridade imediata de controlar e esvaziar a CPI da Petrobras (que o PSDB esperava lhe servisse de eficiente arma contra o governo), bem como abrem boas perspectivas de que ele tenha papel relevante, se não decisivo, na disputa presidencial do próximo ano. Nas duas, Lula recupera os altos índices de popularidade do final do ano passado e começo deste, além de puxar significativamente para cima a taxa de intenção de votos em Dilma Rousseff.
Quanto a outro dado da primeira pesquisa – um salto para 47% (dos 31% de levantamento anterior) da aprovação a um terceiro mandato dele, contra 49%, e não mais 65%, de rejeição -, felizmente não parece capaz de produzir nenhum desdobramento específico por dois motivos básicos: há muito pouco tempo para mudança constitucional nesse sentido e o envolvimento do Palácio do Planalto com uma proposta do gênero seria letal para a pré-candidatura da chefe da Casa Civil.

Os dois dividendos pró-Lula das referidas pesquisas têm como maior efeito político o revigoramento do governismo peemedebista, agora na condução da CPI e, no horizonte de 2010, afirmando as convergentes alternativas de apoio a Dilma Rousseff ou de negociação com o presidente de possível substituição dela, e, assim, praticamente descartando a opção de postura partidária oficial de neutralidade. Outro efeito das pesquisas no plano político-partidário, este gerado pelo crescimento da pré-candidatura de Dilma Rousseff, com expressiva queda da distância em relação à de José Serra, manifesta-se no campo oposicionista. Onde passa a reexaminar-se a capacidade de transferência da alta popularidade de Lula para a candidata ou candidato que apoie. Por outro lado, a direção do PMDB, mesmo mantendo a incerteza sobre a saúde da pré-candidata lulista, deve passar a tratá-la bem mais seriamente, em face da competitividade que Dilma vai ganhando.

E a evidência indicada pelos dois levantamentos da opinião do eleitorado de que a crise econômica não está afetando a elevada popularidade de Lula tem mais uma implicação política importante, esta nos meios empresariais. Trata-se de uma reavaliação que vai da postura bem menos crítica ao governo pelo conjunto da iniciativa privada até o apoio claro e público assumido por vários segmentos. Reavaliação que reconhece a validade ou a correção das principais ações do Planalto contra a crise, como os incentivos fiscais adotados, os financiamentos do BNDES, o novo programa habitacional, o respaldo a empreendimentos privados de infraestrutura no mercado doméstico e em outros países. E que, pragmaticamente, reduz o peso das contestações ao custoso gigantismo estatal, à enorme carga tributária, ao aparelhamento partidário de empresas e órgãos importantes do governo e ao completo descarte de reformas estruturais, subordinando-as à valorização de um clima de equilíbrio político e social favorável às atividades produtivas, propiciado pelo presidente Lula por meio da combinação de medidas anticíclicas, consideradas basicamente positivas, com a garantia dos fundamentos macroeconômicos, herdados dos governos FHC. Combinação que é também o principal fator do processo de retorno dos investimentos externos.

Esse pragmatismo abre espaço também para uma aposta por parte de fortes segmentos empresariais numa persistência do lulismo pós-2010. Aposta que, obviamente, poderá mudar até o desencadeamento da disputa presidencial, seja porque a crise lá fora e aqui ainda está longe de ser superada, seja por incapacidade do próprio Lula de evitar excessos do aparelhamento partidário e sindical e do radicalismo classista na campanha eleitoral, seja pela emergência de um grande escândalo político ou administrativo.

O contraponto de Lula ao chavismo

Da reportagem do Globo, de ontem, com o subtítulo “Maurício Funes assume prometendo mudança e elogia presidentes dos EUA e Brasil”: “A cerimônia de posse do novo presidente de El Salvador, Maurício Funes, foi marcada pela ausência de estrelas esquerdistas, como Evo Morales, da Bolívia, Hugo Chávez, da Venezuela, e Daniel Ortega, da Nicarágua. Quem brilhou, com citações elogiosas de Funes, foram os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama”.

Eis uma das razões do fortalecimento também externo do presidente Lula: o crescente contraponto de seu populismo moderado ao radicalismo autoritário e anticapitalista de Hugo Chávez.

OEA revoga veto a Cuba e abre espaço para retorno

Gilberto Scofield Jr.
DEU EM O GLOBO

A OEA revogou a medida de 1962 que suspendia a participação de Cuba de suas reuniões. A resolução abre caminho para o retorno do país ao organismo, mas deixa claro que o processo depende de Cuba, que não tem interesse. Fidel Castro classificou a OEA como cúmplice de crimes de guerra contra Cuba.

OEA abre a porta para Cuba

Assembleia revoga suspensão de 1962, mas cabe a Havana iniciar integração, já rejeitada por Fidel

AOrganização dos Estados Americanos (OEA) anunciou ontem a revogação, por consenso, da medida de 1962 que suspendia a participação de Cuba nas reuniões do organismo por suas orientações marxistas, apagando do mapa uma das mais simbólicas medidas da Guerra Fria. Na primeira grande negociação diplomática do governo do presidente Barack Obama com os países da América Latina, ocorrida na cidade de San Pedro Sula, em Honduras, a equipe diplomática dos EUA cedeu em resposta aos acenos de diálogo e mudanças na ilha.

A resolução aprovada pela Assembleia Geral da OEA abre caminho para a volta de Cuba ao sistema interamericano, mas uma cláusula deixa claro que "a participação do país será resultado de um processo de diálogo iniciado a pedido do governo de Cuba e em conformidade com as práticas, propósitos e princípios da OEA". Por "princípios da OEA", diz a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, entenda-se: princípios democráticos.

- Cuba pode voltar para a OEA no futuro se a OEA decidir que a sua participação atende aos propósitos e princípios da organização, incluindo democracia e direitos humanos. Muitos países-membros procuravam levantar a suspensão de 1962 e queriam que Cuba voltasse imediatamente, sem condições. Outros concordavam conosco que a abordagem correta era trocar a suspensão, que já não atingia seus propósitos depois de quase meio século, por um processo de diálogo e uma decisão futura que garanta que o país se compromete com os valores da organização - disse Hillary.

- A Guerra Fria acabou neste dia em San Pedro Sula - comemorou o presidente hondurenho, Manuel Zelaya.

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também comemorou a decisão:

- Foi um grande triunfo, sem dúvida, mas não é suficiente. É só o ponto de partida de uma nova era, porque a OEA está ali com seus mecanismos intactos, o imperialismo intacto.

Apesar de todo o otimismo sobre a histórica decisão, cabe a Cuba fazer o próximo movimento e pedir sua entrada na OEA. Algo que, a julgar pelas declarações do ex-presidente Fidel Castro, não vai acontecer. Horas antes da decisão, em artigo publicado na imprensa estatal intitulado "O cavalo de Tróia", Fidel acusou o organismo de ser "cúmplice dos crimes dos Estados Unidos" contra Cuba. "É ingênuo crer que as boas intenções do presidente dos EUA, Barack Obama, justifiquem a existência desta instituição", disse o líder cubano em seu artigo.

Já o diretor para Assuntos do Continente Americano do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Dan Restrepo, diz que Cuba "terá que engolir os anos que passou criticando a OEA e pedir para entrar no organismo":

- Se e quando isso acontecer, o país terá um caminho a percorrer até que integre a organização, e isso significa obedecer aos princípios que regem hoje os 34 países-membros do continente, como a garantia de autodeterminação de seus povos, democracia, obediência aos princípios de não intervenção, desenvolvimento e segurança.

Foram dois dias de intensas e desorganizadas negociações, e muitos chanceleres, como a própria Hillary Clinton e o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, sequer tiveram tempo de discursar, deixando o resultado final nas mãos de seus negociadores, que passaram o dia de ontem discutindo o texto final.

A decisão da OEA provocou imediata reação no Congresso americano, especialmente entre os republicanos. Um grupo de seis deputados (cinco republicanos) apresentou um projeto de lei em que propõem a suspensão das contribuições dos EUA à OEA (e que representam 60% do orçamento da instituição) caso Cuba seja readmitida sem reformas democráticas. "Em vez de deixar Cuba retornar ao organismo, a OEA deveria considerar a expulsão da Venezuela de Hugo Chávez também", disseram os congressistas.

- Este é um dia triste para os defensores dos direitos humanos e civis, presos políticos e jornalistas independentes que lutam pacificamente por uma Cuba democrática - disse o senador americano Robert Menendez.

Na real, vai mal

Panorama Econômico :: Míriam Leitão
DEU EM O GLOBO

A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) acabou de revisar a previsão de crescimento do setor em 2009: de zero para -2%. Já a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) está considerando 2009 como um ano perdido. O setor siderúrgico adiou US$40 bilhões de investimentos que seriam feitos até 2013. A economia real e a Bolsa continuam em dois tempos.

Ontem, o Ibovespa caiu, mas em 2009 já subiu 40%. A entrada forte de capital estrangeiro é uma das explicações para a valorização dos ativos, que tem espalhado a sensação de que a crise acabou. Quem fala com alguns setores da economia sente que a realidade é bem diferente da espuma. Siderurgia, eletrônicos, e máquinas e equipamentos estão decepcionados. Esperavam já estar numa recuperação sustentada e estão às voltas com um antigo problema: a volatilidade do dólar, que agora despenca.

No começo do ano, ligamos para alguns setores para perguntar qual era a expectativa de cada um para 2009. A resposta foi curiosa: vários disseram que só em junho poderiam dizer como seria, tal a incerteza que havia naquele janeiro. Agora, eles já sabem: o ano será ruim, ou muito ruim para vários setores da indústria brasileira.

De acordo com o presidente da Abimaq, Luiz Aubert, os investimentos estão suspensos porque a ociosidade da indústria está elevada. Aubert acredita que o cenário mais provável é de queda de 25% no faturamento e redução de 30% a 35% no volume de vendas. A volatilidade do dólar diminui ainda mais a previsibilidade no setor.

- Estamos com uma variação acima de 10% na moeda americana. Isso faz com que o empresário não consiga definir um preço para importar ou exportar seus produtos. Torna o negócio um voo cego. Está todo mundo parado, sem saber o que fazer - explicou.

As demissões devem continuar até dezembro. De janeiro a abril, os números oficiais são de 17 mil postos de trabalho fechados. Até o final de 2009, o temor é de corte de 50 mil, no total.

- Nosso setor engloba empresas pequenas, com até 120 funcionários. Todos os dias temos relato de demissões. Elas não ganham repercussão porque são em empresas pequenas. O que é pior nisso tudo é que cada empregado precisa de quase 10 anos de treinamentos. Então, recuperar essa mão-de-obra terá um custo muito alto - afirmou.

No setor siderúrgico, o que antes era a salvação, agora virou preocupação. A China não só não está comprando, como está liquidando aço mundo afora. Isso é um problema grave, de acordo com o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS).

Para o presidente do IBS, Marco Polo de Mello Lopes, a desova de produtos chineses está prejudicando as vendas dentro do Brasil, e também as exportações do país para a América Latina. No primeiro quadrimestre deste ano, as exportações brasileiras para a região caíram 63%.

- O governo chinês tem incentivado as exportações de aço a preços de liquidação. A China produz cerca de 500 milhões de toneladas de aço por ano, se 10% disso for exportado a preço baixo, é um volume maior do que todo o aço produzido no Brasil - dimensionou Marco Polo.

O presidente da Abinee, Humberto Barbato, afirma que o melhor cenário para 2009, de crescimento zero, não se concretizou. Agora já se sabe que haverá contração. Ele explica que essa revisão para baixo (de zero para -2%) aconteceu por três motivos: as exportações continuam ruins; o resultado do primeiro quadrimestre decepcionou; a confiança dos consumidores está baixa.

- Estamos desanimados porque a recuperação que deveria ter acontecido em abril e maio não se concretizou - disse Barbato.

O principal problema é a confiança. Com a taxa de desemprego em trajetória ascendente, ele diz que os consumidores não se sentem seguros para comprar artigos mais caros, que geralmente exigem longos financiamentos.

- Não adianta o crédito voltar à normalidade. Para nós, o mais importante é que o consumidor tenha certeza de que não vai perder o emprego - explicou.

Os números da Abinee falam por si só: as exportações caíram 26% e o faturamento recuou 12% no primeiro trimestre de 2009, na comparação com igual período de 2008. Apenas um dos oito subsetores cresceu: Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica (10%), impulsionado por obras públicas ligadas ao PAC. Os outros sete recuaram: Automação Industrial (-5%); Componentes (-21%); Equipamentos Industriais (-11%); Informática (-16%); Material de Instalação (-26%); Telecomunicações (-9%); Utilidades Domésticas (-9%). O setor de Utilidades Domésticas engloba os eletrodomésticos.

Segudo Barbato, os empresários do setor voltaram a falar em demissões.

- O quadro não está bonito. Eu sempre fui uma pessoa otimista, mas preciso ser realista neste caso para não ser desmentido pela realidade. Agora temos novamente uma volatilidade no câmbio, que dificulta a tomada de decisões e ainda prejudica as exportações - afirmou.

Tanto Barbato quanto Aubert acham que a bolsa de valores está completamente fora da realidade da economia mundial.

Quem é o patrão?

Celso Ming
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O resgate da General Motors Corporation (GM) e da Chrysler com dezenas de bilhões de dólares em recursos públicos dos Estados Unidos foi justificado como uma operação de interesse nacional pelo presidente Barack Obama. Mas envolve enormes conflitos.

Em seu pronunciamento de segunda-feira, Obama avisou que o governo americano se via como um "acionista relutante" da GM, agora que terá 60% de participação na companhia. Ele diz que se tornou necessário salvar as montadoras em nome da manutenção dos empregos e da imagem do país. Mas há enormes questionamentos a fazer.

Um deles diz respeito aos subsídios. A intervenção do governo americano é uma enorme operação de distribuição de subsídios passível de contestação nos tribunais da Organização Mundial do Comércio (OMC), na medida em que parece configurar competição desleal no mercado de veículos dos Estados Unidos e do resto do mundo.

A defesa da concorrência não se faz apenas desmanchando monopólios ou fusões suspeitas. Faz-se, também, por meio da premiação da gestão bem sucedida e da entrega das administrações irresponsáveis à sua própria sorte. Afinal, não são essas as regras do capitalismo sadio?

Por que, por exemplo, a GM e a Chrysler puderam pintar e bordar durante anos de gestão que agora se revelou desastrosa, para, em seguida, receberem presentões oficiais? Enquanto isso, por que a Ford - e não vamos nem puxar aqui pelo nome de outras montadoras instaladas nos Estados Unidos - deve se conformar com comer o pão que o diabo amassou? Não seria melhor para a Ford parar de lutar para que o governo americano intervenha depois com injeções generosas de recursos públicos, sempre em nome da manutenção dos empregos e do orgulho nacional?

Enfim, a concessão de status de invulnerabilidade a empresas e bancos apenas porque são grandes demais (too big to fail) alimenta o risco moral e encoraja administrações levianas. Isso não pode ser bom para o objetivo da sociedade.

O outro grande conflito de interesses que sobrevém da operação de salvamento de duas das três grandes montadoras americanas é a nova condição da central sindical do setor, a United Auto Workers (UAW), cujo fundo de saúde se tornou proprietário de 17,5% do capital da GM e de 55% do capital da Chrysler.

Nessa hora, os sindicatos não tiveram escolha. Ou trocariam seus créditos nas montadoras por posições acionárias ou correriam o risco de perder tudo. Mas, afinal, o que sairá desse arranjo? Qual será o interesse prioritário dos trabalhadores: obter o máximo de lucro para as empresas ou assegurar os maiores aumentos de salário, a melhor aposentadoria e os melhores planos de saúde?

Nos anos 60, os frades dominicanos ajudaram a criar aqui no Brasil a Unilabor, empresa do setor de móveis, administrada por uma cooperativa de trabalhadores. Meses após sua fundação, os funcionários convocaram uma assembleia para decidir por uma greve para aumento de salários.

"Contra quem é essa greve?", perguntou o líder. "Contra o patrão que paga salário baixo", responderam. "Mas o patrão são vocês...", ouviram do outro lado.

É esse tipo de pergunta que os trabalhadores da GM e da Chrysler terão de responder agora.

Confira

Atrás da esquina - Todos os dias, aparece autoridade denunciando o risco de inflação nos Estados Unidos. Terça-feira, foi a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. Ontem, foi o diretor do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) Thomas Hoenig.

A preocupação geral é com o princípio de rejeição dos títulos do Tesouro americano de 30 anos, cujo rendimento (yield) não para de subir.

Enquanto isso, o presidente do Fed, Ben Bernanke, avisou ontem que, além de não haver sinais de inflação, o desemprego continua crescendo e a crise pode ter uma recaída forte.

Enxugar o gelo seco

Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BC compra quase toda o saldo de dólares de maio, mas dólar ainda caiu 10%; maior parte do fluxo não é "especulativa"

O BANCO CENTRAL enxugou os dólares que entraram no país em maio (isto é, enxugou o "saldo", a diferença entre entradas e saídas de dólares). Comprou o equivalente a 88% do saldo cambial no mês passado, soube-se ontem. Mas, em maio, o dólar caiu quase 10%.Obviamente, não são apenas as compras ou as vendas do BC que determinam as idas e vindas do dólar. Obviamente, como de costume, algo aconteceu no mercado futuro de dólares (apostas de queda do dólar) para ajudar a empurrar a moeda norte-americana para baixo. Mas, se parece tudo tão óbvio, porque se insiste tanto em que o BC compre ainda mais dólares? Ou melhor, por que se insiste quase apenas nisso como alternativa para conter a valorização do real (ao lado da queda dos juros)?

Uma solução poderia ser a mudança de algumas regras do jogo do câmbio na BM&F, embora parte das apostas cambiais não ocorra na Bolsa. Isto é, por exemplo, aumentar o custo ou o custo do risco para os apostadores, fazendo com que se arriscassem a perdas maiores em caso de aumento da volatilidade. O povo dos mercados diz que isso é uma sugestão ineficaz típica dos Belzebus antimercado da burocracia. Na verdade, os Belzebus de Brasília nem pensam nisso, sugestão de economistas ditos desenvolvimentistas. O governo não cogita nem mexer no IOF, o que aliás nem faria sentido prático, mas muita vez as ações do governo tem sentido prático.

Um problema adicional da queixa sobre os influxos de dólares é que, como tem dito sensatamente o ministro da Fazenda, a composição da torrente de dinheiro não é exatamente maligna. Muito vai para a Bolsa. A balança comercial não vai tão mal como se previa no início do ano, o investimento dito "produtivo" tampouco desabou como se estimava e as empresas começar a pegar algum dinheiro lá fora. A seca de crédito externo, como se lembra, foi um dos motivos do tumulto no mercado doméstico de empréstimos, congestionado por grandes empresas em busca de dinheiro escasso.

Isto posto, a onda mundial que estimulava especulações e insuflava expectativas de alta do real, que deu uma tremelicada ontem, ainda parece um problema. Ou, melhor, será um problema, se continuar como vinha até segunda-feira. Uma queda "expressiva" de juros, como quer a Fazenda e parte da oposição à política econômica, resolveria? Digamos que, "tudo o mais ficando constante" (embora não fique, mas vá lá), se chegasse ao final do ano com uma Selic dois pontos menor (tal hipótese já se torna carne de vaca em bancões brasileiros e por conservadores economistas decanos do tucanato, por exemplo). Faria diferença? Faria diferença, dadas taxas de juros de curto prazo a quase zero no centro do mundo e variações cambiais de 10% ao mês sendo agora coisa normal? Isso talvez afetasse apenas aquela parcela dita "especulativa" do fluxo e alguma expectativa de valorização adicional do real (supondo que o mundo não sofra novos solavancos). Não parece ajudar muito o real, pelo menos no curto prazo.

Não se quer dizer que os juros não possam ou não devam cair. Trata-se aqui do câmbio. Os críticos do real forte ainda precisam apresentar uma alternativa mais estruturada para lidar com o problema.

Teatro de Anônimo faz show de cabaré 'família' na Fundição Progresso

Ana Carolina Morett
DEU EM O GLOBO / RIO SHOW

RIO - O estilo cabaré, que voltou com força total em algumas casas cariocas, chegou a um cantinho da Fundição Progresso. Todas as quintas, o grupo Teatro de Anônimo promove no local onde faz seus ensaios as "Noites de parangolé": uma mistura de circo, teatro e música, sempre com algum convidado diferente. Curiosa com o mix de atrações, fui conferir o espetáculo, e vi que cabaré também pode ser um "programa família". Por que não?

Como cheguei cedo - por volta das 19h, enquanto a apresentação estava marcada para as 20h - pude observar o público que chegava. Tinha uma galera jovem, alguns grupos de amigos, mas o que me chamou mesmo a atenção foram as crianças e até um casal de idosos. Quando fui atendida por uma "garçonete", que na verdade era um homem negro e alto vestido com saia e peruca loura, comecei a perceber qual era o clima do evento, e vi que o humor ia rolar solto.

O show começa com a banda "Bole-bole", que garante a trilha sonora do espetáculo. A tal garçonete, chamada pelo apresentador de "Mulate", sobe ao palco com os outros atores do grupo, primeiramente na simulação de um desastrado show de calouros. A partir de então eles intercalam esquetes de humor com as apresentações dos artistas convidados. Na quinta-feira passada (28.05) teve o show de contorcionismo da argentina radicada carioca Fernanda Ledesma, as acrobacias da dupla Raoni Morales e Paula Limia, e o equilibrista Felipe Farinha. Esse último foi o que mais gostei, já que ele conseguiu me deixar super tensa ao andar em uma corda quase por cima da plateia.

Detalhe: ele fingia estar bêbado. Fiquei com pena do pobre espectador convidado a ajudá-lo na proeza de subir na corda bamba. Mas, confesso, foi engraçado.

O show também tem uma tentativa de strip de duas personagens do espetáculo. Digo tentativa, porque a falta de jeito intencional das mulheres é tamanha que uma delas encerra a apresentação com um belo "estabaco". No fim da noite, algumas pessoas se animaram a dançar com o chorinho da banda "Bole-bole".

Nesta quinta, o "Noites de parangolé" recebe o Circo Teatro Artetude, do Distrito Federal, e o Barracão Teatro, de São Paulo. O espetáculo tem direção musical de Ricardo Cotrim, integrante do Cordão do Boitatá.

'Noites de parangolé' - Espaço Teatro de Anônimo, Fundição Progresso. Rua dos Arcos, 24, Lapa. Tel: 2524-0930. Quin, 20h. R$ 20.

Cinema e poesia dominam a Paulista

Ubiratan Brasil
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Seminário de ações culturais em zonas de conflito e encontro de poesia nacional e estrangeira ocupam, desde hoje, a avenida

Poesia, música e debates dominam, a partir de hoje, o mais cultural dos quarteirões da Avenida Paulista - aquele que compreende o Itaú Cultural e a Casa das Rosas (com o Sesc Paulista no meio do caminho). O primeiro abre suas portas para a quarta edição do Antídoto - Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito, parceria entre a entidade e o Grupo Cultural AfroReggae. Já a Casa das Rosas sedia o 2º Simpósio de Poesia Contemporânea - Simpoesia, que vai reunir poetas e críticos literários do Brasil e exterior.

Antídoto é um evento que já criou raízes no calendário do Itaú Cultural. Destinado a discutir iniciativas culturais em cenários de conflitos étnicos, religiosos ou sociais, o encontro traduz a luta e a afirmação de várias questões que envolvem a música, a cultura e a diversidade cultural. Na abertura de hoje, será apresentado Ferréz - Literatura e Resistência, documentário sobre a vida e trajetória do escritor que revelou o lado poético de um dos mais violentos bairros de São Paulo, o Capão Redondo, também título de sua primeira e mais conhecida obra.

Trata-se de um romance baseado nas histórias reais que viveu e presenciou, pontuadas por amigos e colegas que se envolveram com drogas e roubos. Em 11 anos de carreira, Ferréz escreveu ainda Amanhecer Esmeralda, Manual Prático do Ódio e Ninguém É Inocente em São Paulo (todas editadas pela Objetiva) com mais de 100 mil cópias vendidas. O documentário de 54 minutos que será exibido hoje acompanha suas palestras, intervenções e passagens por palcos e projetos, em comunidades no Brasil e na Itália, França, Alemanha, Portugal e Espanha, sempre com foco na literatura.

Amanhã, a atração do Antídoto será outro documentário, Selva de Pedra - Fortaleza Noiada, retrato detalhado do circuito de distribuição e consumo de crack em Fortaleza. São imagens que mapeiam as zonas da cidade mais atingidas pela droga. A ideia central do documentário, segundo Francisco José Pereira de Lima, o Preto Zezé, é levar ao público um panorama real dos danos sociais que a substância causa ao usuário e ao seu entorno. Um autêntico exemplo de guerra urbana mal disfarçada.

O encerramento da primeira etapa do evento, no fim de semana, privilegia o teatro, mais especificamente o grupo Pombas Urbanas, que completa 20 anos de atividades em Cidade Tiradentes, bairro do extremo leste de São Paulo. Eles encenam no palco do instituto as peças Histórias Para Serem Contadas, no sábado, e Os Tronconenses, no domingo - esta será antecedida de uma roda de conversas com integrantes do grupo.

Até o dia 28, o Antídoto promove seminários com representantes da Nigéria, Afeganistão, Líbano, Palestina, Sudão e Canadá, além de shows e teatro com grupos de Pernambuco e de Moçambique.

Já o Simpoesia vai discutir e divulgar a poesia contemporânea. Com curadoria de Virna Teixeira, reunirá participantes do Uruguai, México, Cuba, Espanha, Argentina, Portugal, Inglaterra e EUA, além de poetas nacionais. Na abertura, hoje, a Casa das Rosas vai abrigar um recital com Horácio Costa, de São Paulo; Maria Esther Maciel, de Minas Gerais; e o uruguaio Alfredo Fressia, entre outros. Em seguirá haverá uma apresentação do poeta e músico Rodrigo Garcia Lopes e o lançamento da revista de poesia mexicana La Otra.

Amanhã, o evento prossegue no Instituto Cervantes (um dos organizadores, ao lado do Consulado do México e do Centro Cultural da Espanha em São Paulo), onde o foco será principalmente editorial: um debate sobre editoras independentes de poesia vai trazer representantes diversos, como o argentino Gustavo López (da editora VOX), a poeta Virna Teixeira (Arqueria Editorial) e o editor Vanderley Mendonça (Amauta/Demônio Negro).

O verso inglês domina a programação do sábado, na Casa das Rosas. Com direito a recital bilíngue, será discutida a difusão da poesia brasileira contemporânea em países de língua inglesa.

Destaques

ANTÍDOTO

Hoje: documentário Ferréz - Literatura e Resistência.

Amanhã: exibição do documentário Selva de Pedra Fortaleza Noiada.

Sábado: espetáculo de rua Histórias para Serem Contadas.

Domingo: debate com o grupo Pombas Urbanas.

SIMPOESIA

Hoje: recital com Horácio Costa, Maria Esther Maciel, Alfredo Fressia, entre outros.

Amanhã: debate sobre editoras independentes de poesia

Sábado: colóquio de poetas de língua inglesa.

Domingo: discussão sobre poesia e sadomasoquismo.

Um terraço aberto para a poesia

Luiz Sérgio Henriques
DEU EM GRAMSCI E O BRASIL


Francisco Orban. Terraço das estações. Apresentação de Cícero Sandroni. Montes Claros: Orobó Edições, 2008. 45p.

A percepção lírica do mundo é algo que se equilibra no fio de uma navalha, cujo corte é fundo e, não raro, fundo até demais. Fingidor ou veraz, ilusionista ou confessional, o poeta é como que um escafandrista implacável de valas e fossos do seu “mar de dentro”; quando é poeta para valer, arranca destes desvãos algum documento único, singularíssimo, da própria vida interior. E, por um desses milagres da poesia, assim é que ele se universaliza, torna-se um prisma que refrange não só as coisas do mundo, como também as dores e os afetos de muitos outros: supera a solidão do indivíduo e expressa-se, como diria o poeta Carlos, na linguagem em que os homens se comunicam.

Pergunto-me o que pode esperar o leitor dos trinta e cinco densos poemas reunidos por Francisco Orban neste privilegiado terraço de estações imaginárias. Um terraço de onde se descortina, por exemplo, um dezembro arrancado às águas e que “agora é só uma notícia”; mas onde também se aguarda um janeiro, “mês das enseadas”, em cujo ventre o poeta vaticina “que as sementes do sempre / se encontrem / com a poesia”. Não, o leitor não deve esperar amanhãs radiantes, utopias que se concretizam e consolam belas almas contentes de si mesmas. Pelo contrário: neste terraço de lendas e ventos, de mares e naufrágios, não há “nada além da palavra / árida / e incompleta”. Nenhuma comiseração, nenhuma condescendência. Tal como a de outro poeta maior, esta faca é só lâmina.

E, no entanto, à diferença da poética cabralina, há aqui uma nota comovida, pungente, dolorida, que assinala a rememoração dos amores que se encontraram, como que reinaugurando o mundo, ou dos amores que se foram e, afinal, não puderam ser “o escape do nosso degredo”. Mas, como sabemos, de tudo fica um pouco, e devemos estar certos de que:

Para além dos violinos
há um reino onde pernoitam
meninos
exilados das palavras
e dos rios.

Há, pois, nas camadas mais profundas deste terraço, uma infância, “como uma granada calada”; e não só por isso, mas também pela evocação recorrente de um passado que não passa nunca, a memória parece ser o dispositivo poético fundamental acionado por Francisco Orban, com maestria e excelência.

Fino leitor de versos, sabedor do tempo e do ser da poesia, Alfredo Bosi certa vez escreveu que talvez coubesse precisamente à memória um papel central na lírica moderna, a contrabalançar o inevitável “desencantamento do mundo” entranhado na modernidade. É bem possível que aqui seja mesmo assim. Desafiando a prosa dos dias e a trivialidade das palavras que se desgastam como moedas comuns, “a sombra de um poema fica / como saga de navegações”.

Desta saga pretérita de mares e navegantes e destes poemas que, apesar de tudo, se erguem como sombra e vestígio revestidos de grande dignidade artística, dificilmente o leitor sairá ileso. De alguma forma modificará sua experiência interior, e a poesia terá cumprido uma das suas mais altas missões.

Luiz Sérgio Henriques é editor de Gramsci e o Brasil.

Sim, Corinthians e Inter, mas...

Juca Kfouri
DEU NA CBN


O Vasco foi melhor que o Corinthians nos dois tempos.

E mais ainda no segundo que no primeiro, quando teve a única chance clara de gol, com Élton, de cabeça, aos 23, em defesa de Felipe.

Por mais que a torcida incentivasse, o Corinthians errava passes em cima de passes e tinha a sorte de o Vasco, dados os seus naturais limites financeiros pela herança da gestão anterior, ter também claro limites técnicos individualmente.

Mesmo assim, no segundo tempo, foi o Vasco quem pressionou o Corinthians e teve novas chances de gol, uma em cabeçada de Nilton, além de um pênalti não marcado de Chicão em Élton, daqueles difíceis de ver, mas pênalti claro, puxão na camisa.

Verdade que, entre o 24 e 25 minutos, o Corinthians teve três chances de gol, com Dentinho, William e Boquita.

E que, aos 37, Ronaldo, que foi mal, permitiu que o goleiro Fernando lhe tirasse uma bola que tinha endereço certo.

Mas se alguém fez por merecer vencer, este alguém foi mesmo o Vasco, eliminado em pé no Pacaembu lotado por 36 mil torcedores.

Como foi eliminado em pé o Coritiba.

Que também num Couto Pereira tomado por 35 mil torcedores, agrediu o Inter o tempo todo, criou belas chances, viu Lauro fazer pela menos uma grande defesa, conseguiu fazer 1 a 0 com Ariel, num golaço aos 29 do segundo tempo, e até merecia mais.

O Inter correu sérios riscos, teve Bolivar expulso aos 38, em noite sem brilho de Taison e D'Alessandro, ambos substituídos e de quatro chances desperdiçadas por má pontaria ou ansiedade.

Porque não tem mesmo bicho-papão.

Nem o Corinthians foi o que prometia contra o Vasco, nem o Inter contra o Coritiba.

Isto é, contra todos os prognósticos, uma final entre Vasco e Coritiba não seria nenhum absurdo, embora a decisão tenha ficado mesmo para Corinthians e Inter.

O Vasco está no caminho certo na Série B.

O Coritiba precisa reencontrar o seu no Brasileirão e tem tudo para isso.

Corinthians e Inter têm de jogar mais futebol.

Ambos dirão que jogaram com o regulamento, blablablá.

Mas jogaram pouco.

A decisão será só nos dias 17 de junho e 1o. de julho.