quarta-feira, 15 de julho de 2009

PENSAMENTO DO DIA - Gideon Rachman

Quando a União Soviética entrou em colapso, em 1991, rapidamente se tornou óbvio que a URSS nunca havia sido um país no sentido próprio. Era um império multinacional reunido pela força. Será que um dia diremos a mesma coisa da China?


(Gideon Rachman - Fonte: Finantial Times, 14 de julho.)

Engenheiro de obra desfeita

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidente do Senado, José Sarney, abriu mão da divisa de respeito conquistada como condutor do primeiro governo civil da transição democrática em sua passagem pelo Palácio do Planalto, entre março de 1985 e janeiro de 1990.

O que fez pela democracia lá, Sarney desfaz agora, ao transformar o Senado Federal em quintal do Palácio do Planalto. Ao mentir a seus pares, ignorar o desejo da maioria e impor ao colegiado a presença de um presidente cuja figura - por justiça ou contingência - sintetiza o pior da política brasileira, José Sarney desrespeita a instituição.

Menospreza a independência do Parlamento, se deixa tutelar pelo Poder Executivo, abre as portas do Congresso para a interferência oficial do presidente da República e, portanto, agride a Constituição e afronta a própria essência do regime democrático que anos atrás ajudou a reconstruir.

Por aquela contribuição perdoaram-se seus malfeitos biográficos. A fim de não incorrer no pecado da condenação por crime de opinião, não incluamos entre eles seu apoio ao regime militar. Fiquemos, pois, no gosto pela política patrimonialista e no desastre da política econômica atrelada a interesses eleitorais.

Mesmo saído da Presidência da República tão rejeitado que sequer pôde atuar no processo da própria sucessão, Sarney recuperou-se e por anos se manteve à tona graças ao reconhecimento de sua obra de tolerância em prol da democracia.

Numa época em que ainda se ouviam com nitidez os roncos da reação, em que a memória da censura e a ação da mão pesada do poder pertenciam a um cotidiano familiar, de Sarney se falou de tudo e mais um pouco. Mas, do presidente, não se ouviu nem viu um só gesto que pudesse ser interpretado como a mais leve ameaça ao mais contundente dos adversários.

Com esse capital, o José Sarney da boa conduta democrática se sobrepôs e sobreviveu ao Sarney das velhas práticas. Atravessou o período delicadíssimo da Constituinte numa condução politicamente impecável.

Deu espaço à consolidação da relação promíscua Legislativo-Executivo sob a égide do lema "é dando que se recebe". Mas não o fez sozinho nem por vontade exclusiva. Teve parceiros poderosos, muitos dos quais celebrados em postos de honra para a eternidade.

Nunca, porém, interferiu no processo. Mesmo, conforme alertou à época, considerando que muitas das decisões dos constituintes tornariam o Brasil ingovernável. Em boa medida, estava coberto de razão. Nem por isso invocou a parceria da força, ainda relativamente viva em vários setores. Nos quartéis, inclusive.

Deixou que a democracia seguisse o seu destino, aos trancos e barrancos, mais erros que acertos.

No fim da carreira, contudo, achou por bem inverter a equação. Entrega o Senado na bandeja à Presidência da República. Não importa que a força agora venha das ruas e não das Armadas.

O fato inquestionável é que José Sarney patrocina o aprofundamento do desequilíbrio entre os Poderes que, não obstante não ter sido por ele inventado, poderia ter sido limitado por ação de consciência democrática.

Há 25, 30 anos, o presidente José Sarney aceitou a evidência: era menor que o País, que o projeto de transição engendrado por um conjunto de forças capitaneado por Tancredo Neves e, de acordo a circunstância, se conduziu.

Agora, o senador José Sarney, talvez pela urgência e premência da falta de tempo, transforma suas agruras individuais em sinuca coletiva.

A maioria dos partidos da Casa por ele presidida pediu que se licenciasse quando apareceram as primeiras denúncias envolvendo gente nomeada por ele para a cúpula administrativa do Senado.

A quase totalidade dos senadores passou a desejar sua renúncia depois que as acusações o atingiram pessoalmente.

E Sarney - que até por dever dos ofícios já prestados, teria um nome a zelar -, simplesmente ignora a posição e o constrangimento de seus pares e se esconde sob as asas do presidente da República, ao modo de um Renan Calheiros qualquer.

Vê seu destino ser decidido em reunião de ministério, assiste a bancada do PT ser enquadrada como se de delegação popular não dispusesse, enxerga perfeitamente o obstáculo que representa a que o Senado ao menos tente dar uma virada, e nada faz além de pensar em si.

Que o presidente Luiz Inácio da Silva não veja o cenário sob uma ótica institucional, sabe-se desde que o PT por ele comandado recusou-se a avalizar todas as ações de avanço nos últimos anos - da transição com Tancredo à estabilização da moeda, passando pela Constituinte.

Mas de José Sarney, pelo passado ora tão invocado e celebrado, era se esperar uma compreensão mais elaborada da História e uma visão mais aprimorada da democracia no Brasil.

CONCEITO DE ÉTICA

Determinados integrantes fazem do Conselho de Ética do Senado uma contradição em termos.

Enquanto seu lobo não vem

Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO

O PT, em São Paulo, arma-se de argumentos às vésperas de, provavelmente, ter que engolir mais um sapo intragável. Acredita o partido que é devedor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em cuja popularidade pode buscar seu único lenitivo para manter o poder. Sabe que não tem, no momento, um candidato a presidente em melhores condições de sucesso que a candidata imposta por Lula, e aceitou facilmente a opção presidencial por Dilma Rousseff. No jogo parlamentar e relações políticas fora do plano federal, porém, imaginava preservar ideias próprias e alternativas para contrapor-se ao que lhe fosse apresentado como prato feito. É o que tenta fazer.

Depois do humilhante enquadramento da bancada no Senado, obrigada a apoiar o flechado presidente da Casa, senador José Sarney, em nome da preservação dos que usaram a maior estatal brasileira como instrumento de política partidária, aqui denominada de "governabilidade", o PT sabe que o desconforto seguinte será a imposição ao partido do apoio a um candidato não petista ao governo de São Paulo.

O deputado Ciro Gomes já preparou todos os requisitos para transferir domicílio eleitoral e ser candidato em São Paulo, mas tem dito que nada definiu sobre a que se candidatar, nem se vai mesmo disputar. Está ganhando tempo para conquistar a adesão do PT e é este produto que boa parte da cúpula acredita estar sendo embrulhado no Palácio do Planalto para enviar ao partido.

A discussão interna que o PT de São Paulo promove, no momento, é que a candidatura Ciro Gomes em SP poderia até ser lançada, mas pelo seu partido, o PSB, sem substituir a candidatura petista. A votação dos partidos do bloquinho e a do PT se somariam para levar algum candidato da aliança lulista ao segundo turno.

O que emerge da argumentação de cúpula são numerosas razões para que o PT não abdique da candidatura própria ao governo, mesmo que não tenha nenhum nome previamente favorito. A força do PT no Estado é uma dessas razões e seria desperdiçá-la não lançar um candidato. O partido avalia que já venceu na capital. Tem o comando de prefeituras em muitas cidades importantes. Quando foi candidato ao governo, o senador Aloizio Mercadante, com escândalo de armação do falso dossiê contra adversários e tudo o mais, teve 35% dos votos na disputa de 2006. Pergunta-se o PT: Vai conseguir transferir isto para algum aliado? Vai jogar fora?

Outro argumento: As pesquisas qualitativas apontam ao partido que o eleitorado quer "o novo", ou seja, um candidato sem o desgaste dos que têm sido historicamente candidatos. Além disso, gostaria agora o eleitor de saber, de quem pede o seu voto, não apenas o que o candidato fará, mas o que já fez. Neste quesito, acredita o partido poder apresentar duas candidaturas com grande potencial: Emídio de Souza, prefeito de Osasco, com um trabalho de gestão já realizado, e Fernando Haddad, ministro da Educação.

O partido atribui às pesquisas quantitativas, hoje, uma desimportância total para as decisões pois, segundo análises produzidas internamente, elas estão apenas registrando o recall dos candidatos. Por isto não importa se Emídio, por exemplo, aparece com 3%. José Genoíno, quando foi candidato ao governo, começou com 3% e terminou com 22%; Marta Suplicy começou com 3% e terminou com 18%.

Tanto Emídio quanto Haddad enquadram-se no critério do "novo", aquele de quem o eleitor ainda não enjoou. O PT acha que entre seus adversários, inclusive no principal deles, o PSDB, não existe um que não esteja exaurido. Não seria hora, portanto, de perder a oportunidade de aumentar o eleitorado cativo do PT.

A argumentação partidária prossegue com a afeição que a militância tem pelo partido, seu enraizamento popular nas camadas mais pobres e a necessidade de ter um candidato que possa mobilizar isto, contagiar, fortificar a relação com os diretórios, acender a rede de campanha eleitoral. Neste ponto, os dois candidatos que atendem às exigências de novo e realizador se distanciam. Emídio continua a ter força nas avaliações, mas Haddad, não. Sua relação com o partido é fria, encabulada, apolítica. Segundo análise de um integrante da cúpula, esta seria a razão de, a cada tentativa de ressurreição de seu nome para alguma candidatura, os ânimos se arrefecerem com uma rapidez espantosa.

Ficou notório, no PT, seu desempenho na definição e anúncio dos municípios que receberiam Escolas Técnicas: simplesmente baixou uma lista e impôs sua própria geopolítica. Não dividiu a idéia, a decisão, os louros.

O melhor candidato, mesmo, segundo avalia o PT, ainda é o deputado Antonio Palocci. Acredita-se ser ele o único capaz de reunir todas as qualidades expostas ao mesmo tempo: representa o novo, teve experiência de gestão bem sucedida no Ministério da Fazenda, contagia a militância, tem relações com os diretórios e, principalmente, é capaz de ampliar o eleitorado do PT, levando ao partido conservadores que nunca votaram com ele mas apreciam o governo Lula, de que Palocci é considerado "a cara". Sim, porque para o PT será importante que o candidato tenha a cara do governo Lula.

Há, na cúpula partidária, quem defenda que Palocci já deveria estar em campanha há muito tempo, encerrando mais cedo esta fase de recuo em que se colocou para esperar a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o crime de quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. "Palocci está encolhido, não se movimenta, não vai a reuniões", queixa-se um dos políticos do comando que gostaria de vê-lo consolidar a candidatura.

Na argumentação do PT, uma candidatura própria também daria ao governo condições excepcionais para tentar melhorar a votação de Dilma Rousseff no Estado. A eleição em São Paulo, segundo esta avaliação, exigirá do governo federal uma estratégia específica, bem delineada, principalmente para divulgar o que faz no Estado que, segundo registram no PT, é infinitamente mais e melhor do que parece.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

Valores

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - A seção brasileira do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) informa que o próximo relatório de Desenvolvimento Humano do Brasil terá como tema "valores". O tema surgiu de uma pesquisa que envolveu 500 mil brasileiros, a partir da pergunta "O que deve mudar no Brasil para sua vida melhorar de verdade?".

As respostas majoritárias foram: respeito, justiça, paz, ausência de preconceito, humanidade, amor, honestidade, valor espiritual, responsabilidade e consciência -conjunto de conceitos afinal reunido no tema "valores".

Surpreso com esse tipo de preocupação em um país tão escandalosamente macunaímico? Até o coordenador do relatório, Flávio Comim, se diz surpreso, mas atribui o resultado ao fato de que, pela primeira vez, esse tipo de pesquisa continha uma pergunta aberta, com o que "as pessoas falaram o que quiseram".

Para mim, o resultado é absolutamente surpreendente. Juraria que, fora um punhado de indignados, uma parcela importante, talvez majoritária, dos brasileiros tivesse incorporado exatamente o oposto, ou seja, a ausência de qualquer tipo de respeito a valores do tipo honestidade, responsabilidade e consciência.

Está todo mundo cansado de saber que a corrupção, o trambique, a cara-de-pau, não são uma exclusividade dos políticos. Com perdão por recorrer a um desgastado lugar-comum, cristalizou-se a ideia de que o brasileiro gosta de levar vantagem em tudo, como dizia antiga propaganda de cigarro.

Vai ver que o brasileiro cansou da esculhambação. Talvez tenha percebido que a esperteza, no fim do dia, come o esperto. Vai ver descobriu que quem suborna o guarda da esquina ganha bem menos do que quem suborna gente mais graúda.

Tomara. Aguardemos o relatório do IDH em 2010.

Depois da crise

Míriam Leitão
DEU EM O GLOBO

A OCDE tem um bom diagnóstico sobre o Brasil com boas e más notícias: o país não passou incólume pela crise internacional, mas está superando o momento bem melhor do que inúmeras economias, graças a reformas e mudanças que foram feitas ao longo dos últimos anos. Mas o governo está aumentando demais os gastos correntes e as despesas públicas não são eficientes.

Esse, em resumo, é o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre o Brasil. O longo documento, divulgado pelo próprio secretário-geral, Angel Gurría, tem muitos dados, mas todos mostram que o nível da carga tributária, despesas sociais, e custo do governo são muito mais altos do que de outros emergentes e têm dimensão às vezes próxima de países ricos.

Entrevistei Gurría, em Brasília, para a GloboNews, e ele disse que espera que o país faça a reforma tributária. Elogiou os princípios da reforma do governo que é a unificação de impostos sobre valor agregado e simplificação: — O sistema tributário brasileiro é complexo, pesado, difícil de entender e permite práticas predatórias entre estados. Precisa ser simplificado. Eu espero que o governo aprove a reforma que propôs.

Eu expliquei que o governo não tem demonstrado muito empenho para que a proposta seja aprovada. Ele disse esperar que o governo mude a atitude porque a redução do peso dos impostos sobre a economia é fundamental.

A OCDE continua com a previsão de -0,8% para o PIB brasileiro deste ano. Isso é muito pior do que o governo está prevendo, que é +1%, e pior também do que a média do mercado, -0,34%. Mas para Gurría, um mexicano, o que é -0,8%? Nada! Seu México natal está tendo queda de 7% do PIB este ano.

Nos corredores da TV, conversamos mais e ele disse que até no México, o pior passou: — Essa queda já não reflete o que está acontecendo, isso foi a profundidade do impacto que houve na economia no último trimestre de 2008 e começo de 2009. A queda chegou no primeiro trimestre a 24% em termos anualizados.

O México exporta manufaturados para os EUA e foi exatamente nesta área que a crise foi mais forte. E além disso teve a gripe suína.

Quando a gente ouve um mexicano falar, fica realmente mais calmo em relação à crise no Brasil. Com o comércio mais diversificado, economia mais dependente do mercado interno, o Brasil teve uma queda forte porque estava crescendo a 5% e sofreu uma retração de 1,8% no primeiro trimestre. Mas a situação definitivamente não está nem mexicana, nem russa.

Conferi com Gurría a tabela das previsões da OCDE.

A Rússia, que estava crescendo a 7%, vai cair 7% este ano. Ele define o que acontece por lá como “queda livre”.

A Irlanda também teve queda semelhante: — Os pacotes fiscais foram enormes e estão tirando o mundo da crise.

O Brasil deve crescer 4% em 2010, e, pela OCDE, neste segundo semestre já estará retomando o crescimento.

O problema do Brasil detectado pela Organização é mais permanente: o da ineficiência do gasto público. A OCDE não fala por falar. Ela tem feito comparações como o PISA, um teste de desempenho dos estudantes. O Brasil tem sempre números sofríveis, apesar de ter um gasto público na educação em linha com o de inúmeros países onde a educação é muito mais eficiente. O relatório, apesar de citar todas as medidas de curto prazo tomadas pelo Banco Central e pelo governo contra a crise atual, joga luz sobre o crescimento sustentável de longo prazo, que tem sido o maior desafio nos últimos anos. O primeiro capítulo tem um título sugestivo: “Olhando além do desafio da crise financeira e econômica global, em direção ao crescimento sustentado”.

De acordo com o texto “para retomar o forte desempenho dos últimos anos não há espaços para complacência”.

Nem fiscal, nem de metas de inflação. Foi por isso que falando na coletiva em que lançou o documento, em Brasília, Gurría propôs que o país comece a reduzir as metas de inflação para 2011. O governo tem se mostrado satisfeito em eternizar a taxa de 4,5% ao ano, quando a média dos países desenvolvidos é muito menor.

Entre os conselhos que dá ao Brasil é que o país tenha um marco regulatório para a exploração de petróleo. As últimas notícias, no entanto, não são encorajadoras. O governo está anunciando uma alteração da forma de exploração saindo do leilão de concessões, que tem a vantagem da transparência e da escolha objetiva, para o opaco sistema de partilha que é o favorito do chavismo. O documento se limita a aconselhar que o marco regulatório seja feito com clareza e rapidez porque o atraso pode atrapalhar a atração de novos investimentos.

Para Angel Gurría, os resultados que sairão nos próximos dois trimestres serão bem melhores do que os dos últimos dois, mostrando o movimento de saída do pior da crise econômica. Inclusive os novos números da OCDE para os países que compõem o grupo são melhores do que os que foram feitos na última previsão.

Mas, mesmo quando a crise passar, os desafios para o Brasil continuarão existindo.

Foi esse olhar por cima e para além da crise que ele quis incentivar ao vir para o Brasil. Ontem mesmo ele já voltou para Paris.

O que significa controlar a Receita?

Elio Gaspari
DEU EM O GLOBO


O ministro Guido Mantega seguiu o tom de um governo que defende a blindagem das cavalariças do Senado em nome da governabilidade: decidiu fritar a secretária da Receita Federal, Lina Vieira. Logo ela, que reagiu ao festival de incentivos aos sonegadores votados pela bancada governista no Congresso, dizendo que “o bom contribuinte se sente um otário”.

Pelas contas do Ipea, os otários estão preferencialmente no andar de baixo. Quem ganha até dois salários mínimos é um otário de primeira e trabalha 197 dias por ano para pagar seus impostos. Quem ganha mais de 30 salários mínimos é otário de segunda e rala 106 dias. O grande sonegador ganha perdões e parcelamentos.

Otário será quem acreditar que Lina Vieira “não controlou a Receita”.

Isso não é motivo de demissão, mas de homenagem. Controlada, a Receita vira balcão. Os auditores fazem seu serviço de acordo com a lei e as normas do serviço. Se ela foi frita porque não aceitou algumas propostas de controle, o caso está mais para a jurisdição do Código Penal do que para as leis tributárias.

Otário será quem acreditar que a demissão de Lina Vieira deveu-se a uma queda na arrecadação. Se a atividade econômica do país contraiu-se e o governo conjura a crise com redução de tributos, o lógico seria uma queda na arrecadação de tributos.

Será otário também quem acreditar que Lina Vieira fez algo de errado ouvindo o sindicato dos auditores para a preenchimento de postos de chefia. O Unafisco, ao contrário do sindicato dos pipoqueiros, reúne servidores do Estado que chegaram à Receita por concurso público. Com oito mil associados na ativa, agrupa 95% da categoria.

Ao contrário do que sucede com o sindicalismo palaciano, suas eleições têm mais de 70% de comparecimento e nos últimos dez anos alternaram vitórias da situação e da oposição. Por 85% a 15% os auditores vetaram a associação do Unafisco a qualquer central sindical. Mais: abundam exemplos de diretores da guilda que deixaram suas funções sindicais e retornaram ao chão das repartições. Pode-se reclamar do gosto que o Unafisco tem pelas greves (uma a cada dois anos), mas deve-se reconhecer que foi ele quem mordeu os calcanhares da quadrilha aninhada na cúpula da Receita. A primeira denúncia aconteceu em 1995 e em 2008 um magano foi demitido e outro, destituído.

Durante os últimos meses a secretária da Receita recebeu poderosas sugestões para nomear os superintendentes em Porto Alegre, Curitiba e Fortaleza. Não atendeu. Se tivesse atendido, o governo passaria pelo constrangimento de justificar a indicação de afilhados de empresários, ministros e governadores para funções técnicas.

Se a Receita de Lina Vieira foi aparelhada politicamente, como é que se explica a fiscalização da contabilidade da Petrobras dos doutores Sérgio Gabrielli e Almir Barbassa? Em matéria de aparelhamento, a Petrobras é uma universidade. Aparelho não incomoda aparelho. Se o ministro Guido Mantega contrariou-se com essa fiscalização, não deve contar para ninguém, pois o sentimento comprometerá sua biografia.

No pior cenário, é possível que Lina Vieira tenha ido para a frigideira porque não controlou a Receita. Falta definir “controle”.

Lula: Elogios para Collor

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Lula, Dilma e Collor afinados

PALMEIRAS DOS ÍNDIOS (AL) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua candidata à Presidência, a ministra Dilma Rousseff, dividiram ontem o palanque com o senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) no lançamento da primeira obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Alagoas, uma adutora em Palmeira dos Índios. Lula tratou Collor e o senador Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado e que não estava presente, como aliados: “Quero aqui fazer justiça ao comportamento do senador Collor e do senador Renan, que têm dado uma sustentação aos trabalhos do governo no Senado”, discursou Lula.

A afinidade entre Collor e Lula não se limitou aos discursos. Após a cerimônia, escondidos atrás de outros participantes, o senador e o presidente se abraçaram e trocaram sorrisos. O petebista, entretanto, não teve direito a fala durante a cerimônia. Mas ganhou uma cadeira ao lado de autoridades. Ao ser anunciado, o senador Alagoano foi aplaudido e, em resposta, acenou e simulou abraços.

Apesar do clima de campanha, o presidente Lula disse que não falaria de eleições, mas afirmou que vai eleger seu sucessor. “Está chegando o ano eleitoral, não posso falar de eleição. Eu vou ajudar a eleger minha sucessora. Ou sucessor neste País.”

Pré-candidato ao governo de Alagoas, Collor tinha sua foto estampada na primeira página de um jornal distribuído no evento, em que ele era citado como candidato apoiado por Lula. O governador Teotônio Vilela (PSDB) foi vaiado três vezes, o que quase aconteceu com Dilma, mas por motivo diferente: o palanque era em Palmeira dos Índios, cidade conhecida do Estado, mas a ministra trocou o nome mais de uma vez e citou Palmeira das Missões, que fica no Rio Grande do Sul.

Nos discursos, Lula voltou a criticar seus antecessores: “Na verdade, ao invés de se governar, fazia-se a política da camaradagem, dos amigos”, disse, ao reclamar do tratamento que, segundo ele, era dado pelo Planalto a adversários políticos: “Até outro dia, presidente da República que pertencia a um partido político não visitava governador de outro partido. Presidente não faria obra para os que pertencessem a outro partido”.

Dilma também discursou, exaltando o PAC, sua principal bandeira para as eleições do ano que vem: “No Brasil se diz que o PAC estava no papel. Não é verdade. São obras que ocorrem com um grande esforço do presidente Lula. O Brasil voltou a superar obstáculos”, disse ela.

Em Maceió, Lula inaugurou obras de revitalização da orla. Em clima de campanha, a estrela foi Dilma, aplaudida sempre que seu nome era citado. Lula, ao final, chamou a atenção para que se evitasse o tom eleitoral. “É importante que a gente entenda um ato público como um evento institucional, em que não tem partido, não tem candidato. Daqui a pouco tem um juiz abrindo processo dizendo que tem campanha política para A ou B”, disse Lula.

NOTA DO BLOG
Mais atos de Macunaíma. Veja outras matérias, abaixo

Na Comunicação, com críticas à imprensa

DEU EM O GLOBO

Em análise para colegas ministros, Franklin Martins diz que oposição se alimenta da mídia e vice-versa

BRASÍLIA. Na reunião ministerial de anteontem, o ministro da Secretaria de Comunicação, Franklin Martins, apontou a imprensa como uma das responsáveis pela repercussão apenas de atos da oposição durante a crise do Senado.

Em sua análise, Franklin afirmou que a oposição perdeu o discurso político, e que, por isso, concentra sua atuação no Senado, numa tentativa de colar a crise daquela Casa no governo.

Segundo relatos de ministros que participaram da reunião, Franklin adotou um tom de análise conjuntural em toda a sua apresentação para os demais ministros. Disse que a imprensa dá divulgação muito grande à crise política parlamentar, especialmente ao noticiário sobre o Senado.
A principal crítica do ministro foi concentrada na oposição, que estaria perdida e, segundo ele, apostando na crise como uma bandeira política.

Quando fazia essa análise, Franklin afirmou, segundo relatos, que “a oposição se alimenta da imprensa” e que “a imprensa se alimenta da oposição” na crise do Senado. Apresentando números de que o governo tem 80% de aprovação e que a avaliação ruim/péssimo não chega a 10%, disse que o Senado tornou-se o único lugar que a oposição tem para reverberar suas ações.

É no Senado, disse, ainda conforme relatos de presentes na reunião ministerial, que estão os principais líderes do PSDB e do DEM, e que é ao noticiário de lá que a imprensa tem dado ampla divulgação. Ele ainda fez um alerta de que a oposição tenta grudar a crise no governo.

Franklin foi escalado para fazer uma apresentação sobre a conjuntura política do país. Ele e o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, ficaram responsáveis por esse tema.

Ministros avaliaram que, ao falar sobre uma área que é de outro ministro, ele consolidou o seu espaço de um dos principais conselheiros políticos do presidente Lula. Outro colega de governo disse que o espaço de Franklin é crescente no governo.

Ele começou a sua apresentação mostrando que o governo está num bom momento e que o Brasil seria um dos primeiros países a sair da crise econômica financeira internacional.

Segundo essa versão, o ministro afirmou que essa tempestade internacional quebrou o último dogma do adversário: a de que o governo Lula só havia surfado com a economia internacional favorável, e que não saberia enfrentar a adversidade.

Para Franklin, Lula soube aproveitar a crise para sair fortalecido e ocupar espaço no cenário internacional. Em sua avaliação, a crise fortaleceu o discurso de Lula na capacidade de intervenção do Estado na economia. E que isso deve servir de discurso para rebater a oposição, que, na avaliação do Planalto, tem criticado o governo com argumentos de que há uma explosão nos gastos e inchaço da máquina.

Segundo participantes da reunião, o ministro disse ainda que a crise no Senado é um reflexo da falta de discurso da oposição, que com isso “cria muvuca” e ganha espaço na mídia. O presidente Lula fez sinal de que concordava com Franklin, e, numa intervenção, acrescentou: a oposição teve os seus três momentos de “15 minutos de fama”. De acordo com Lula, foram no escândalo do mensalão, na derrubada da CPMF, e, agora, na crise do Senado. Para o presidente, isso revela falta de rumo da oposição.

Procurado pelo GLOBO, o ministro Franklin Martins não retornou.

NOTA DO BLOG:
Assim falou o assessor de Macunaíma.

Lula faz campanha ao lado de Collor

Clarissa Oliveira, Palmeira dos Índios
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Aos abraços, eles esquecem o passado

O presidente Lula elogiou generosamente o ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello (PTB) ontem, em Palmeira dos Índios, no interior de Alagoas. Ao lado da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseft, disse que fará tudo para eleger sua "sucessora", logo retificando a expressão para "sucessor". Esquecendo o fato de terem sido inimigos políticos dos mais ferozes, Lula e Collor trocaram sorrisos e abraços.

""Quero fazer justiça ao Collor"", diz Lula, ao elogiar ex-presidente

Após viajarem juntos no Aerolula, eles dividem palanque como aliados, em nada lembrando inimigos de 1989

Em visita à cidade de Palmeira dos Índios, interior de Alagoas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou generosamente o ex-presidente da República e atual senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL). Agradeceu o apoio que tem prestado ao governo no Congresso e chegou até mesmo a comparar seu nome ao do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961).

Sorrindo e trocando abraços, após terem viajado juntos no avião presidencial, o Aerolula, nada neles lembrava o fato de já terem sido inimigos políticos, dos mais ferozes. Logo no primeiro evento da agenda que cumpriram em Palmeira dos Índios, a inauguração de uma adutora, Lula disse: "Quero fazer justiça ao senador Collor e ao senador Renan, que têm dado sustentação ao governo em seu trabalho no Senado."

Renan Calheiros (PMDB-AL), que foi derrubado da presidência do Congresso em 2007, em meio a um escândalo envolvendo um lobista, não estava presente para agradecer. Permaneceu em Brasília, ajudando o amigo José Sarney (PMDB-MA), também ameaçado de perda do cargo.

Minutos depois, Lula voltou a elogiar Collor. Ao falar sobre sua afinidade com o povo nordestino, o presidente citou Kubitschek e incluiu Collor na equação. "Não era habitual neste país os presidentes percorrerem o Brasil. Além do Collor, que é de Alagoas, o único presidente a vir aqui foi Juscelino Kubitschek", afirmou.

Ainda em Palmeira dos Índios, o principal jornal da cidade circulou com a manchete "Presidente Lula da Silva apoia Collor de Mello para o Governo de Alagoas".

A manchete pode indicar apenas que Collor já está em campanha. A aproximação cada vez maior entre ele e o presidente, Lula, porém, é sintomática, sinalizando o grau de pragmatismo e a conveniência que define alianças políticas no governo.

Conta a história que Collor chegou à Presidência, na primeira eleição pelo voto direto que o Brasil realizava desde 1960, após ter dito na campanha que seu opositor, o ex-líder sindical Lula, mergulharia o País num "banho de sangue", caso fosse eleito. Às vésperas da eleição, ele veiculou imagens de Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula, dizendo que o petista havia pedido a ela que fizesse um aborto, num episódio considerado por muitos como decisivo para a derrota do PT.

Lula, por sua vez, identificava Collor com as oligarquias políticas mais atrasadas do País. E, dois anos após a eleição, o PT foi um dos líderes da campanha pelo impeachment de Collor, cujo governo naufragou em meio a uma interminável série de escândalos de corrupção.

Depois da inauguração no interior, os dois viajaram para Maceió, para outro evento. E Lula voltou a mencionar o arqui-inimigo.

Collor não falou em nenhum dos dois eventos. Quem não economizou elogios ao presidente Lula foi o governador Teotônio Vilela Filho, que, por sinal, é do PSDB.

Colaborou Ricardo Rodrigues

Collor e Renan têm dado sustentação ao governo no Senado

Odilon Rios* e Luiza Damé**
Maceió E Palmeiras Dos Índios (AL)
DEU EM O GLOBO


Em Alagoas, Lula divide palanque com ex-presidente, a quem diz querer fazer justiça

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua candidata à Presidência, a ministra Dilma Rousseff, dividiram ontem um palanque com o senador e ex-presidente Fernando Collor (PTBAL) no lançamento da primeira obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Alagoas, uma adutora em Palmeira dos Índios. Ao lado deles, também estava o governador tucano Teotonio Vilela. Lula tratou Collor e o senador Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado e que não estava presente, como aliados: — Eu quero aqui fazer justiça ao comportamento do senador Collor e do senador Renan, que têm dado uma sustentação muito grande aos trabalhos do governo no Senado — discursou Lula.

Apesar do clima de campanha, o presidente disse que não falaria de eleições, mas afirmou que vai eleger seu sucessor.

— Está chegando o ano eleitoral, não posso falar de eleição. Eu vou ajudar a eleger minha sucessora. Ou sucessor neste país.

Pré-candidato ao governo de Alagoas, Collor tinha sua foto estampada na primeira página de um jornal distribuído no evento, em que ele era citado como candidato apoiado por Lula. Teotonio foi vaiado três vezes, o que quase aconteceu com Dilma, mas por motivo diferente: o palanque era em Palmeira dos Índios, cidade conhecida do estado, mas a ministra trocou o nome mais de uma vez e citou Palmeira das Missões, que fica no Rio Grande do Sul. Houve ensaio de vaias, mas elas não aconteceram.

Dilma compara Lula a Graciliano Ramos

Nos discursos, Lula voltou a criticar seus antecessores: — Na verdade, ao invés de se governar, fazia-se a política da camaradagem, dos amigos — disse, ao reclamar do tratamento que, segundo ele, era dado pelo Planalto a adversários políticos: — Até outro dia, presidente da República que pertencia a um partido político não visitava governador de outro partido. Presidente não faria obra para os que pertencessem a outro partido. Assim, o Brasil sofria o desmazelo dos eleitos. O Bolsa Família era chamado de esmola. Quem fala isso não precisa do Bolsa Família.

Dilma também discursou, exaltando o PAC, sua principal bandeira, ao lado do Bolsa Família, para as eleições do ano que vem: — No Brasil se diz que o PAC estava no papel. Não é verdade. São obras que ocorrem com um grande esforço do presidente Lula. O Brasil voltou a superar obstáculos — disse ela, que comparou Lula ao alagoano Graciliano Ramos, prefeito de Palmeira dos Índios na década de 20. — Precisava vir um outro nordestino para que a vida do povo começasse a mudar.

O lançamento da primeira obra do PAC em Alagoas aconteceu no estádio do CSE, um clube de futebol, para uma multidão de sem-terra, agricultores, funcionários públicos municipais e estaduais, donas de casa, prefeitos e políticos da região. A obra de abastecimento de água abrange quatro cidades e custou R$ 75,7 milhões.

Em Maceió, onde inaugurou obras de revitalização da orla da capital alagoana, Lula voltou a reunir um palanque eclético, com adversários históricos, usineiros e políticos de variados matizes ideológicos. Lula dividiu novamente o espaço com Collor e Teotonio, além do usineiro e ex-deputado João Lyra, o deputado Augusto Farias (PP-AL) e o prefeito de Maceió, Cícero Almeida (PP).

Em clima de campanha, a estrela foi Dilma, aplaudida sempre que seu nome era citado. Lula, ao final, chamou a atenção para que se evitasse o tom eleitoral.

— É impor tante que a gente entenda um ato público como um evento institucional, em que não tem partido, não tem candidato, porque senão a coisa não funciona. Daqui a pouco tem um juiz abrindo processo dizendo que tem campanha política para A ou B. Nós temos momento de governar e temos momento para disputar campanha — disse Lula.

No início do ato, o prefeito rasgou elogios a Lula e à ministra, pré-candidata à Presidência da República em 2010. Disse que Lula fará o sucessor e que torce para que seja Dilma.

— Chegou a vez das mulheres. Tomara que seja ela, porque ela é o braço direito e esquerdo da administração pública — afirmou Almeida.


Obra é contestada por MP de Alagoas

A ministra apenas sorriu, mas o público, de cerca de 500 pessoas, aplaudiu.

Dilma fez um discurso técnico, sobre obras federais em Maceió, mas com recheio político. Ao falar de saneamento, afirmou que o governo não está preocupado só com a cara, mas também com o coração das cidades.

No fim, agradeceu pelas manifestações de solidariedade por causa do câncer linfático, detectado em abril.

A obra inaugurada ontem, que custou R$ 5,6 milhões, é contestada pelo Ministério Público Federal de Alagoas.

A procuradora Niedja Kaspary deverá propor uma ação civil pública porque a prefeitura não cumpriu sugestões do MP em relação ao projeto, como padronização das barracas da orla.
NOTA DO BLOG:
Mais um ato da peça Macunaíma, o herói sem cárater, em plena campanha eleitoral.