terça-feira, 21 de julho de 2009

PENSAMENDO DO DIA – Ulisses Guimarães

"Não é a Constituição perfeita, mas será útil, pioneira, desbravadora. Será luz, ainda que de lamparina, na noite dos desgraçados."

(Ulisses Gumarães, no discurso da promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988.)

O afastamento de Gramsci do mito da URSS

Silvio Pons
Tradução: A. Veiga Fialho
Fonte: L'Unità & Gramsci e o Brasil

Gramsci compartilhou uma visão mítica da ditadura bolchevique, difundida no movimento comunista. Parte essencial de tal mito foram a ideia de que a unidade da “velha guarda” leninista fosse um recurso disponível e a de que as políticas do bolchevismo no poder coincidiam com uma efetiva realização de liberdade, consenso e socialização. Mas sua irremovível convicção de que o Estado revolucionário constituía não só um ponto de força material e organizativo, mas também simbólico, no plano internacional, apreendia uma questão crucial: sem tal recurso estratégico, até mesmo a mais refinada concepção revolucionária ocidental estava destinada à marginalidade. Sua prisão retirou a própria questão do ângulo visual dos comunistas italianos. Privado das “belicosas certezas” características de Lenin, e no entanto inevitavelmente levado a carregar de expectativas a obra dos grupos dirigentes soviéticos diante do fim do “tempo da revolução” no Ocidente, Gramsci não deveria mais livrar-se das interrogações e dos princípios enunciados na correspondência com Togliatti em 1926 [1]. As notas do cárcere trazem o sinal de tal legado e, sob esta luz, constituem uma solitária tentativa intelectual de decifrar a evolução havida neste meio-tempo na URSS, voltando às próprias fontes originais da experiência soviética, sem liquidá-las. Vale a pena desenvolver, a este propósito, algumas considerações conclusivas.

Em primeiro lugar, deve-se sublinhar a ligação de Gramsci com a NEP, afirmada na carta de outubro de 1926 e de vários modos presente nos Cadernos. Gramsci permaneceu ligado à ideia de que a evolução da URSS devia acontecer sob formas graduais e não violentas, e isso o levou a expressar uma crítica à dissolução da NEP na revolução pelo alto promovida por Stalin depois de 1928: esta última lhe pareceu uma ruptura do sistema de equilíbrios sociais derivados das alianças de classe. Mas, para Gramsci, a NEP era um “sistema de equilíbrios” ainda mais articulado, por ser também de natureza político-institucional: neste contexto, deve ser lida sua insistência sobre o caráter vital da dialética partidária nas notas do cárcere. Daqui, entre outras coisas, sua crítica transparente à liquidação da oposição de esquerda na URSS, que ele desenvolveu no âmbito do conceito de “parlamentarismo negro” [2]. A dissolução deste “sistema de equilíbrios” pareceu levar Gramsci a se perguntar sobre as perspectivas autênticas de uma superação da fase “econômico-corporativa” na URSS e sobre os perigos inerentes ao frágil desenvolvimento das superestruturas. Neste contexto, ele desenvolveu sua crítica à “estatolatria”, quando as tendências da revolução pelo alto já estavam em pleno curso, em abril de 1932 [3].

Em segundo lugar, o nexo existente nos Cadernos entre “guerra de posição” e “revolução passiva” deve ser aplicado também à URSS. A noção de “guerra de posição” não se referia só à estratégia do movimento comunista, mas também à “construção do socialismo” na URSS, que Gramsci via como uma outra face do mesmo problema. Por via de consequência, Gramsci perguntava-se sobre a pertinência para a “guerra de posição” das escolhas realizadas pelo grupo dirigente soviético no final dos anos vinte. Por outro lado, a grande transformação soviética e seu caráter de mudança pelo alto inseriam-se necessariamente no contexto da “revolução passiva”, que, a seu juízo, caracterizava a época pós-bélica. É difícil duvidar do fato de que nos Cadernos operava um nexo interpretativo do regime soviético como regime autoritário de massas. Sua distinção entre totalitarismo “regressivo” e “progressivo” revelava uma óbvia referência, respectivamente, ao regime fascista e ao regime soviético. Mas, a partir de 1933, Gramsci levou a cabo uma reflexão muito mais sobre as analogias do que sobre as diferenças entre os regimes totalitários. Não se pode deixar de ver uma tal abordagem em operação nas notas sobre a interação partido-Estado, sobre a relação política-organização e sobre as funções de polícia dos regimes autoritários de massas. Em outras palavras, a reflexão presente nos Cadernos sobre o autoritarismo soviético foi muito além da questão industrialismo-bonapartismo.

Em terceiro lugar, a única passagem dos Cadernos em que aparece uma referência explícita a Stalin, que remonta a fevereiro de 1933, apresenta-se-nos sob um ângulo diverso daquele, habitualmente assinalado, da adesão de Gramsci ao “socialismo num só país” [4]. Sem dúvida, ele manteve uma adesão de princípio à ideia: mas não pode escapar o fato de que sua polêmica antitrotskista era então um expediente para criticar na realidade o curso político de Stalin e, verossimilmente, também a linha sectária do Komintern. Em outras palavras, Gramsci delineou uma crítica do nexo nacional-internacional na política da URSS, nas formas assumidas depois de 1928.

Nos Cadernos, o nexo guerra de posição-revolução passiva conduz a uma visão mais ampla da dimensão estatal da Revolução Russa e à sua colocação nos processos internacionais do pós-guerra. A pergunta geral de Gramsci era se o pós-guerra do século XX podia seguir um desdobramento paralelo ao do século XIX, no sentido de um paralelo entre a expansão da revolução burguesa e a da revolução socialista. Esta pergunta abarcava diretamente o problema da capacidade e das possibilidades hegemônicas da URSS: a este propósito, a visão de Gramsci tornou-se claramente pessimista e negativa em 1932-1934. O sentido último das suas linhas de investigação e raciocínio parece ser que a Rússia pós-revolucionária não era capaz de desempenhar aquele papel de Estado hegemônico que, a seu juízo, fora desempenhado no século anterior pela França pós-revolucionária. O signo da “revolução passiva” também dominava a evolução da URSS: este parece o atormentado ponto de chegada do pensamento de Gramsci sobre a experiência soviética e também o caráter original da sua visão, em comparação com outras visões críticas do tempo, nascidas dentro do comunismo e do socialismo internacional.

Nem por isso se deve perder a ligação do pensamento de Gramsci com a tradição bolchevique. Depois da morte de Lenin, Gramsci não estabeleceu uma relação unívoca com nenhuma das correntes nas quais se dividiu o bolchevismo, mas também jamais se afastou completamente das categorias de pensamento bolchevique. Sua visão da NEP como sistema de equilíbrios, desenvolvida nos Cadernos, apresentava uma evidente inclinação “bukhariniana”, além de uma óbvia derivação dos últimos escritos de Lenin, e se nutria de uma concepção da dialética interna de partido de clara matriz trotskista. Nos anos de cárcere, Gramsci se mostrou consciente do núcleo bonapartista ativo no pensamento de Trotski, mas também viu em Bukharin o espelho de uma ideologia oficial retida na fase “econômico-corporativa”. Não menos multiforme parece sua relação com as concepções internacionais do bolchevismo. Gramsci revelou uma sintonia evidente com Bukharin em torno da ideia de que fosse de fato possível conciliar o processo de State building soviético com um papel ativo do comunismo internacional, num horizonte delineado em torno da centralidade da URSS, mas ancorado na tradição revolucionária. Mas sua interpretação do “socialismo num só país” não limitava o papel do movimento comunista à defesa da URSS e assumia como critério essencial de avaliação a capacidade de exercer uma hegemonia ideal. Por isso, a orientação isolacionista da URSS e a orientação sectária do Komintern, sob a direção de Stalin, tinham de parecer a Gramsci no cárcere a efetivação de um perigo já apontado.

Exatamente em relação a esta problemática, no entanto, Gramsci devia se afastar das referências originais, na tentativa de explicar as características básicas da evolução da URSS sob Stalin. Depois de 1929, seu pensamento não seguiu nem o percurso de Trotski, estruturado em torno da categoria de “degeneração”, nem o de Bukharin, até o fim inclinado a apresentar a ditadura de Stalin como uma resposta necessária ao contexto internacional. Em vez disso, a crítica de Gramsci contra a virada ditada por Stalin no final dos anos 20 apresentava a centralidade do nexo interior e exterior: através do prisma de tal interação, viu na Rússia pós-leniniana a ausência das características indispensáveis ao exercício da hegemonia.

Não é descabido levantar a hipótese de que a própria elaboração da categoria de “revolução passiva” nos Cadernos, aplicada a todo o pós-guerra, tenha sido influenciada em Gramsci também pela sua avaliação cada vez mais desencantada do papel da URSS. Assim, a dramática questão posta em 1926 não encontrava uma composição, mas gerava apenas uma série de perguntas angustiosas e incômodas, orientadas para uma resposta irremediavelmente pessimista.

Num texto sobre a “utopia bolchevique”, Edward H. Carr indicou nas notas de Gramsci sobre a distinção entre governantes e governados uma “melancólica reflexão”, bastante distante seja do ímpeto ideal dos bolcheviques logo depois da revolução, seja da consciência soviética da época sucessiva. Talvez o célebre historiador britânico acertasse o alvo, mais do que ele mesmo tivesse consciência, acerca da distância psicológica e intelectual que já separava Gramsci no cárcere e o mundo da sua formação.

Silvio Pons, diretor da Fundação Instituto Gramsci, em Roma, é especialista em temas da história do comunismo e da Segunda Guerra Mundial. Entre seus livros, Berlinguer e o fim do comunismo (2006) e Dicionário do comunismo no século XX (2007).

Notas
[1] Cf. A. Gramsci. “A crise no partido bolchevique. Correspondência 1926”. In: Id. Escritos políticos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004, v. 2, p. 383-402.
[2] Cf., p. ex., Caderno 14, §§ 74 e 76. In: A. Gramsci. Cadernos do cárcere. V. 3: “Maquiavel, notas sobre o Estado e a política”. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, p. 319-22.
[3] Cf., p. ex., Caderno 8, § 130. In: Id., ib., p. 279.
[4] Cf. Caderno 14, § 68. In: Id., ib., p. 314-5.

Intenções e gestos

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Na teoria elaborada e difundida pelo Palácio do Planalto, o PMDB será o parceiro preferencial do PT nas eleições de 2010. Nem que isso custe o que resta de reputação aos petistas e a desistência do partido de conquistar, manter ou retomar governos de Estados importantes.

Na tese defendida hoje pela direção do PMDB, o partido vai decidir logo, em novembro, enquanto não definha o poder do presidente em retirada, o apoio oficial à candidatura da ministra Dilma Rousseff.

Dará ao PT seu precioso tempo de rádio e televisão no horário eleitoral, sua monumental estrutura partidária no País todo, nem que isso custe o risco de ver o PT ultrapassá-lo na quantidade de representantes no Congresso.

A questão é que, na prática, nenhum dos dois partidos tem atuado de acordo com as respectivas normas escritas. Em boa medida, chegam mesmo a contrariar decisões tomadas em nome da "aliança maior" depois de pagar por elas um preço altíssimo.

O PT, por exemplo. Curvou-se à exigência do presidente Luiz Inácio da Silva e recuou na confrontação com o presidente do Senado, José Sarney. Zigue-zagueou, ficou mal com todo mundo, mas cumpriu a ordem alegadamente dada para manter o PMDB fora da esfera de influência da seara oposicionista.

Pois, ato quase contínuo, no último domingo o PT oficializou a candidatura do ministro da Justiça, Tarso Genro, ao governo do Rio Grande do Sul. Embora a ideia aludida pela direção nacional fosse tentar uma composição com o PMDB local, os petistas dispensaram tratativas e deram por consumado o fato.

A missão era difícil? Praticamente impossível. Mas, não há registro de que o Rio Grande do Sul estivesse sendo tratado como uma exceção à regra. Tanto não estava que Tarso Genro tratou logo de estabelecer a diferença de calendários dos interesses nacionais e das conveniências locais.

"A experiência mostra que a demora na definição de candidaturas dificulta a composição das alianças", disse. Depreende-se disso que o ministro esteja estendendo a mão ao PMDB, mas sob a condição de ficar dono da cabeça da chapa.

Como não é crível que o PT gaúcho - cujo candidato é um ministro - ou qualquer outra seção do partido esteja em guerra com o presidente da República, algo não fecha nessa conta.

Muito antes disso, mas já depois de validados os termos do acordo entre PT e PMDB, a disputa pela presidência do Senado já havia produzido cenas de pura contraposição à política de boa vizinhança preconizada por Lula.

O senador Tião Viana lançou sua candidatura à presidência do Senado em setembro de 2008, numa antecipação típica de quem desconfia de que há algo mal parado no ar e busca se prevenir. Em tese, não seria necessário, pois estava acertado que o PMDB presidiria a Câmara e o PT o Senado.

O PMDB, entretanto, resolveu brigar pelo poder. Ganhou, mas não levou. Atribuiu suas agruras à reação vingativa dos petistas, o que, convenhamos, não é coisa de parceiros.

Em Salvador, a eleição municipal - pelo mesmo motivo de quebra de acertos e apresentação de candidatura própria - terminou em clima de puro rififi entre o governador petista Jaques Wagner e o ministro pemedebista da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima.

Este avisou àquele que se a regra era cada um por si na municipal também seria na estadual dali a dois anos. Dito e feito, Vieira Lima rompeu com Wagner e já anuncia que será candidato a governador ou a senador sem ligar seu destino aos planos do PT.

No Rio de Janeiro, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Faria, pode até perder a parada para o governador do PMDB Sérgio Cabral, mas cairá atirando. Como, de resto, já faz mesmo antes de cair.

Em Minas Gerais, a direção nacional não teve força (ou interesse) para enquadrar Fernando Pimentel quando da aliança do então prefeito de Belo Horizonte com o governador tucano Aécio Neves. Dificilmente terá agora para obrigar Pimentel, Patrus Ananias ou quem venha a ser o candidato do PT a apoiar Hélio Costa, do PMDB.

O que dizer, então, de São Paulo, onde o mandachuva do PMDB, Orestes Quércia, já fechou acordo com o governador do PSDB, José Serra? Pode haver mudança de rumo? Pode, mas mediante uma confusão de enorme tamanho.

Em Pernambuco, o PMDB tem na liderança o senador Jarbas Vasconcelos, um dissidente, e a influência de ninguém menos que o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra.

As dificuldades não representam obstáculos intransponíveis à formalização de uma aliança PT-PMDB para 2010. Até porque a regra vigente não obriga a que as coligações regionais sigam o modelo das chapas nacionais.

Mas a existência de incongruências entre a parceria pretendida e as divergências praticadas revela, no mínimo, que não há unidade nem razoável consenso de propósitos entre as partes para assegurar a entrega das respectivas mercadorias prometidas. Há mais conflitos a separar que harmonia a unir PT e PMDB.

O generoso perdão dos adesistas

Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


O intransigente líder sindical, o mais importante e raçudo, que fundou o Partido dos Trabalhadores, o PT de medíocre e desastrada atuação parlamentar, não chegou a mudar do vinho para água salobra como presidente da República, mas Lula não é o mesmo nos dois mandatos da reeleição, que sempre foi contra para os outros.

E, desde que o PT se enlameou com as trampas do caixa dois para garantir a eleição de uma poderosa bancada no Congresso e com o mensalão que salpicou nas lideranças do partido da bandeira ética, Lula foi afrouxando o rigor até chegar à virtual adesão ao vale tudo para manter o poder.

Na rolagem de morro abaixo, nos últimos atos da comédia de pastelão, pisoteou a ética para justificar o descaro. No flagrante mais expressivo, abraça o senador Collor de Mello, o ex-presidente que ajudou a derrubar e justificou a cambalhota com uma frase exemplar, juntando dois proveitos no mesmo pacote: "Quero fazer justiça ao senador Collor e ao senador Renan Calheiros que têm dado uma sustentação muito grande aos trabalhos do governo no Senado".

Como "sustentação muito grande ao governo" entenda-se os votos para aprovar tudo o que interessa ao governo e rejeitar iniciativas da oposição que aborrecem o presidente.

Na bagunça do pior Congresso desde a derrubada da ditadura do Estado Novo, de Getúlio Vargas, em 29 de outubro de l945, o presidente Lula tem mais culpas no cartório que toda a esquálida oposição, que só aparece na mídia pela atuação dos seus líderes, especialmente no Senado, palco do escândalo-mor de todas as falcatruas para tungar o dinheiro público.

Lula, apertado, reage com a descolorida escapulida pelo óbvio: se há denúncias, devem ser apuradas e punidos os responsáveis, tal como já pontificava, apontando o dedo para o alto, o Conselheiro Acácio.

Como o próprio reconheceu, a sua prioridade política até o fim do mandato bisado é eleger a candidata que escolheu e impôs ao PT acoelhado, a ministra Dilma Rousseff. Passou pelo susto do câncer linfático, depois das sessões de quimioterapia, concluídas com êxito e 90% de probabilidades de cura, depois da segunda etapa. Com a candidata em forma, a pré-campanha que burla a Constituição voltará aos comícios com a visita às obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e mais o Minha Vida Meu Voto, com a promessa da construção de 1 milhão de residências populares.

Como o presidente aprendeu nos giros pelo mundo, a mágica de multiplicar as verbas para as típicas obras eleitoreiras, um vício que vem do Império, não faltará dinheiro para o lançamento de novos programas sociais, como o Bolsa-Escola, o Bolsa-Alimentação, o Bolsa Merenda na medida das necessidades da campanha, conferidas pelos índices das pesquisas.

As férias parlamentares, que soam como deboche no Congresso da semana útil das terças às sextas-feiras, vieram na hora exata para o intervalo que o governo espera que amorteça os escândalos que se sucedem com a regularidade de um cronômetro suíço.

Até a reabertura do Congresso, Lula terá muitas horas vagas, entre viagens internacionais e domésticas, para o balanço e a eventual revisão dos resultados e riscos do truque de transformar adversários em amigos de infância para atender às oscilações políticas. Na primeira campanha em que terá participação decisiva como patrono da candidatura da ministra Dilma Rousseff, o objetivo prioritário da vitória eleitoral não pode ignorar a preocupação com a remontagem da maioria na Câmara e no Senado, sem a qual o governo patinará sem sair do lugar.

O código é a garantia

Aspásia Camargo
DEU EM O GLOBO

Neste mundo de coisas efêmeras e valor relativo, as lições de vida deixadas por pessoas como o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, devem ser enaltecidas para a preservação da nossa própria essência humana. A criação do Mapa da Fome, ponto de partida para todas as ações governamentais de combate à pobreza, desde a gestão Itamar Franco, é um marco histórico. Antigos paradigmas foram quebrados, como aqueles que condicionavam o pobre a votar no “coronel” para continuar recebendo sua cota de ração diária. Por isso, independentemente de quem seja o próximo presidente, o programa Bolsa Família continuará.

Betinho viveu pela causa de diminuir o número de pessoas que passam fome, aumentar e baratear a produção de alimentos e reduzir a pobreza, discurso que a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária, tomou emprestado. A diferença é que o sociólogo jamais cogitou alcançar tal objetivo à custa da devastação do ecossistema. Sua bandeira sempre foi a reforma agrária — para a qual o setor de agronegócio sempre torce o nariz.

O Código Florestal em vigor não tira alimento da mesa do brasileiro, como afirmam aqueles que querem passar a motosserra no principal instrumento de defesa ambiental. Para que o debate se estabeleça em níveis elevados, é preciso que haja pelo menos honestidade e clareza sobre os interesses dos atores envolvidos.

A agricultura familiar, que é aquela que coloca arroz, feijão e farinha nas nossas mesas, em nada se assemelha àquela que envolve máquinas gigantescas para a colheita de soja e cana de açúcar, culturas que precisam de vastos territórios e deixam sempre um legado de destruição e pobreza.

O modelo agrícola mecanizado, concentrado nas mãos de grandes corporações, condenará milhões de brasileiros à pobreza, mesmo que não haja mais nenhuma árvore nativa em pé. Querem um exemplo? Basta ver o que acontece em Campos, onde os usineiros circulam a bordo de possantes caminhonetes importadas, enquanto jovens que poderiam estar na escola passam mais de 10 horas cortando cana em troca de um salário miserável.

Ao reivindicar o papel de protagonista nas discussões sobre o uso dos recursos naturais, evocando os números do setor, a senadora Kátia Abreu não percebe que todos nós, que habitamos este planeta, somos meros coadjuvantes. Protagonistas são aqueles que virão depois de nós.

Se a reforma do Código Florestal, defendida pela CNA, garante que nenhuma árvore será cortada, certeza mesmo teremos se ele (o código) for mantido na forma em que se encontra.

Aspásia Camargo é vereadora (PV) no Rio.

''Só Deus sabe'', diz Serra sobre 2010

Silvia Amorim
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Líder nas pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de 2010, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), disse ontem que "só Deus sabe" sobre seu futuro político.

A declaração foi feita durante o lançamento das obras de um parque às margens do Rio Tietê, cuja primeira etapa da obra será concluída em 2012. Indagado se voltaria ao local para inaugurar a obra num segundo mandato como governador, ele soltou a frase. "Só Deus sabe", disse, rindo e encerrando a entrevista.

Embora seja o principal nome do PSDB para disputa à Presidência da República, o governador se recusa frequentemente a fazer qualquer comentário sobre seus planos políticos para 2010. Ele até já lançou críticas públicas àqueles que tentam antecipar o debate eleitoral, referindo-se nominalmente ao PT.

Não é a primeira vez que o tucano recorre a frases de efeito para desconversar sobre as eleições. No mês passado, em um evento no interior paulista, Serra, em tom enigmático, disse que não tinha pressa em fazer esse debate. "Muita água ainda vai passar debaixo dessa ponte", afirmou na ocasião.

Na corrida nacional, Serra disputa com o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), a vaga de presidenciável tucano. Em São Paulo, será o paulista quem decidirá o candidato a sua sucessão. Estão no páreo os secretários Geraldo Alckmin (Desenvolvimento) e Aloysio Nunes Ferreira (Casa Civil).

Ontem, ao fim do evento, Serra, numa conversa ao pé do ouvido, disse ao prefeito Gilberto Kassab (DEM) que precisavam conversar sobre sucessão estadual.

União ainda paga CPMF embutida em contratos

Eugênia Lopes
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

DEM acionará TCU contra repasse à iniciativa privada, que segue um ano e meio após extinção do tributo

O DEM entra esta semana com representação no Tribunal de Contas da União (TCU) contra o pagamento indevido da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) nos contratos do governo com a iniciativa privada. Levantamento feito pelo TCU constatou, em pelo menos 20 auditorias realizadas em 2008 e neste ano, que empresas e órgãos oficiais ainda repassam o equivalente ao valor do tributo extinto para fornecedores, que o embolsam como lucro. A alíquota de 0,38% deixou de ser cobrada há um ano e meio.

Paralelamente à representação do DEM, o presidente da Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, Renato Casagrande (PSB-ES), vai solicitar à Controladoria-Geral da União (CGU) providências sobre o pagamento indevido. "Esses recursos têm de ser devolvidos à administração", afirmou Casagrande.

Caso isso não ocorra, o senador pretende acionar a Advocacia-Geral da União (AGU) para que sejam apuradas as responsabilidades pelo repasse da CPMF a fornecedores, conforme revelou jornal O Globo. "É muito sério esse processo. E o governo precisa fazer alguma coisa."

Segundo o deputado Paulo Bornhausen (SC), indicado pelo DEM para elaborar a representação ao TCU, o partido quer que o órgão peça cópia dos contratos fechados entre o governo e as empresas e averigue em quais existe a cláusula da CPMF. "É preciso ver ainda o que os gestores desses contratos fizeram e tentar recuperar esse dinheiro pago a mais e destiná-lo à saúde", afirmou. Bornhausen diz que o pagamento indevido do tributo é "com certeza de centenas de milhões de reais", uma vez que o governo é responsável por 40% da economia do País.

"O TCU deve ter força para pedir a restituição do pagamento indevido nesses contratos", declarou o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ).

O líder do PSDB na Câmara, deputado José Aníbal (SP), afirmou que o partido estuda formas de obrigar o governo a devolver aos cofres públicos esse montante referente à CPMF paga indevidamente. "A iniciativa de rever esses valores deve ser do próprio governo. Mas, diante da conhecida inércia do presidente e sua equipe, o PSDB vai estudar ações para rever isso."

""FACTOIDE""

Para o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), a oposição está produzindo um factoide ao entrar com a representação no TCU contra o pagamento indevido da CPMF nos contratos fechados pelo governo e empresas privadas.

"Vamos então revisar todos os contratos e todos os financiamentos de automóvel, casa, crédito educativo que tinham juros mais altos e também levavam em conta a CPMF", ironizou Albuquerque. "Se o raciocínio é esse, vamos também rever os contratos de privatização, porque agora elas nos dariam mais dinheiro."

Na avaliação do vice-líder governista, a oposição está adotando uma posição xiita. "A oposição é inteligente e sabe perfeitamente que não há reestruturação de contratos de forma unilateral. É por isso que cada vez mais a oposição fica mais desacreditada", afirmou.

PRÁTICA COMUM

A CPMF, também chamada de imposto do cheque, foi extinta pelo Congresso há um ano e meio, mas auditoria do TCU detectou que o tributo continua incorporado aos custos de contratos oficiais. De acordo com o tribunal, há indício de que essa prática é generalizada na administração pública. Em apenas um dos contratos auditados em 2008, o TCU constatou o pagamento indevido, por empresa do governo, de R$ 3,3 milhões relativos à contribuição. Ao criticar, na quarta-feira da semana passada, os parlamentares por terem acabado com a CPMF, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou também dos empresários que não diminuíram 0,38% no custo dos produtos.

Fumaça na plataforma

Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Antes de se eleger, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encarou quatro campanhas eleitorais.


Ele tem muito a transmitir para adestrar a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), se é que já não o fez. Entre outras coisas, que não se chega lá pelo caminho do atrito, da arrogância, da prepotência e da humilhação de subalternos. O destempero de Dilma é a alegria dos petistas que nunca engoliram o fato de a candidatura presidencial da ministra ser uma escolha solitária de Lula.

Dilma não é e nunca foi uma flor de delicadeza. Como ela mesma diz, é apenas uma mulher "exigente" e que cobra responsabilidade dos auxiliares. Mas também nunca foi a motosserra botocuda que vez por outra emerge do noticiário. Entre amigos de Lula circula que o humor da ministra foi afetado pelo tratamento quimioterápico. É consensual que ela precisa mudar se quiser ser a primeira mulher presidente do Brasil.

O temperamento da ministra, candidata de Lula e do PT à Presidência em 2010, preocupa PT e aliados.

O esculacho que levou à demissão do secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional Luiz Antônio Eira é apenas o mais recente da lista. Já se noticiou que o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) foi destratado na frente de dois governadores tucanos, e que o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, teria chorado após uma reprimenda da ministra. Esses, além de outros técnicos menos cotados do setor elétrico.

No caso de Eiras, a Casa Civil se viu obrigada a dar uma satisfação: além de um comentário bem humorado, Dilma teria "simplesmente" cobrado o auxiliar a seu estilo; nunca tivera a intenção de ofender o ex-secretário (sabe-se que ela depois telefonou duas vezes para Eiras, mas ele não atendeu).

O fato é que Eiras pediu demissão e isso criou mal-estar no ministério. E a imagem de que Dilma é uma mulher que humilha as pessoas, não mede as palavras e não se importa com o lugar em que está para avacalhar com alguém. Um comportamento que realmente estabelece alguma restrição a sua candidatura dentro do PT.

Fora do discurso oficial, Dilma já é considerada uma candidata pesada. Os quase 20% a que chegou nas pesquisas não são dela, são de Lula. Muitos dos pontos que estão por vir ainda serão do presidente e da máquina (especialistas estimam um teto de 30%). O restante é a candidata que terá de buscar no mercado.

Com todos esses problemas, Dilma precisa resgatar aquela obrigação militante nata do petista, fazer com que as pessoas sintam prazer em fazer sua campanha. Mas o que os companheiros veem é a ministra percorrer o caminho inverso.

O que petistas esperam é que Lula chame a ministra para uma conversa, se isso já não foi feito, e fale, do alto de suas cinco campanhas: "Manera! Você vai precisar de muita gente na sua campanha. As pessoas têm que fazer com gosto (a campanha). Ninguém chega à Presidência sem uma infinita paciência".

Dilma terá de mudar porque, caso contrário, haverá crise no PT. A não ser que Lula tenha mesmo inventado uma candidatura para perder, como há quem desconfie no partido e entre aliados. Mas como a maioria acha que o presidente quer mesmo ganhar a eleição, é o caso dele conversar com Dilma, contar que foi quatro vezes candidato antes de levar a Presidência, por isso sabe como funciona uma campanha, quando a função do candidato é somar e não dividir. Em campanha não se faz inimigo.

Dilma precisa compreender que tudo o que ela fizer de bom levará dez anos para se espalhar, se tornar do conhecimento de todos. Mas tudo o que ela fizer de ruim em pouco tempo estará na boca do povo, ainda mais em Brasília, uma cidade de muros baixos. E que, daqui em diante, sua vida vai ser uma vitrine.

Como foi Lula que escolheu Dilma Rousseff (que, aliás, não tem origem no petismo) candidata , em decisão pessoal num partido habituado a decisões colegiadas, há gente no PT atrás de um pretexto, por menor que seja, para tentar emparedar o presidente e ver a banda passar sem a presença dele. Essa gente está calada por conta da popularidade de Lula.

Se a situação não se resolver, é improvável que fique por isso mesmo. O que o lulismo não parece disposto a aceitar é que, com todas as dificuldades que espera encontrar na campanha, ainda tenha de conviver com gente resmungando pelos corredores e ter de apagar um incêndio por semana.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

UNE deixa educação de lado para defender governo

Soraya Aggege
DEU EM O GLOBO

Novo presidente, de 27 anos e no 3º curso incompleto, anuncia caravana política e diz ter orgulho de ser estudante profissional

SÃO PAULO. As críticas de que teria se tornado um movimento chapa-branca, pelos recursos que recebe do governo Lula, não intimidam a União Nacional dos Estudantes (UNE). Seu novo presidente, Augusto Chagas, de 27 anos, militante do PCdoB, disse ontem que a entidade fará este ano uma caravana nacional para debater as eleições de 2010, e deverá defender a pré-candidata do governo, a ministra Dilma Rousseff.

- Nós vamos emitir opinião para 2010, sim. Não vejo problemas no fato de a UNE ter opinião. Vamos comparar os oito anos dos governos Fernando Henrique e Lula em vários debates. A UNE sempre foi extremamente crítica ao governo FH, que foi ruim para o país. Mas não vê Lula da mesma forma - disse Augusto.

Sobre o silêncio diante das denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney, ele disse que a UNE acha os ataques da oposição equivocados:

- A mera saída do Sarney não resolve nada.

Quanto ao fato de a UNE receber verbas públicas para realizar seu 51º Congresso enquanto protesta contra a CPI da Petrobras, Augusto também não vê problemas:

- Não acreditamos que o objetivo da CPI seja apurar irregularidades. A CPI quer abrir flanco para a exploração do pré-sal por setores privados.

Para Augusto, a imprensa confunde o papel da UNE ao dizer que ela não deveria aceitar verbas públicas:

- Movimentos sociais não têm a função de fazer oposição a governos, mas sim para ir atrás de conquistas.

Augusto tem 27 anos e cursa o primeiro ano de Sistemas de Informação na Universidade de São Paulo (USP), depois de desistir de dois outros cursos universitários. Ele disse que mora num apartamento mantido pelo pai, especialista em computação, e passará a receber da UNE uma ajuda de custo para alimentação e transportes de R$1.500 mensais.

Antes, foi presidente duas vezes seguidas da União Estadual dos Estudantes (UEE), recebendo R$1.200 de ajuda de custo. Foram dois mandatos: 2005-2007 e 2007-2009.

"Não me sinto mal por não ter curso nem emprego"

Entre 2001 e 2006, estudou Ciência da Computação na Unesp (Universidade do Estado de São Paulo), em Rio Claro, que abandonou por causa de um problema familiar, e iniciou Direito, na FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), em São Paulo. Durante o estudo nas faculdades, fez parte de diretórios acadêmicos.

Augusto afirma que não se sente mal ao ouvir críticas de que seria um "estudante profissional", aos 27 anos:

- Ao contrário: eu sinto muito orgulho por ter aberto mão da minha trajetória profissional por um tempo. Quando encontro amigos que estudaram comigo e já se formaram eu me sinto bem, seguindo o meu próprio caminho. Não me sinto mal com as críticas de que não concluí um curso ou não tenho emprego. A UNE é o que é pela dedicação política de alguns estudantes. Pessoas passam, o movimento fica. No movimento estudantil, eu aprendi a importância das ideias coletivas.

O vazio de ideias e projetos

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Paulo Cunha, o presidente do grupo Ultra, é uma das pessoas que mais e melhor pensam o país, e o faz sem buscar os holofotes, o que torna sua entrevista à Folha uma preciosidade.

Só tenho uma discordância: dizer, como o faz Cunha, que "o bafafá político tem impedido o Brasil de discutir essas questões [as relevantes]", é dizer pouco. Não é só o "bafafá" político. É, acima de tudo, "um sistema político que não atende às necessidades do país", como também afirmou o empresário, aí sim acertadamente.

Partidos políticos são, com perdão da obviedade, o elo indispensável entre a sociedade e o poder. No Brasil, não funcionam como tal. O PT até que tentou cumprir esse papel. Tenho em casa um livro grosso com as teses discutidas nos congressos do partido, sua instância máxima, desde a fundação até já não lembro que ano.

Havia alucinações e disparates, mas havia também uma porção de propostas sensatas -havia, enfim, um projeto de país, bom ou ruim ao gosto de cada freguês. Depois que Lula disse que tudo isso não passava de "bravatas", acabou.

Nos outros partidos, basta o exemplo da eleição de 2006: até hoje, o PSDB não conseguiu explicar que projeto de país tornava Geraldo Alckmin o candidato ideal. Obriga a supor que se tratava, antes como agora (José Serra x Aécio Neves), de mera questão de nomes.

Mas não são só os partidos. Os companheiros empresários de Paulo Cunha tampouco pensam o país, com raríssimas exceções. Na academia, o Brasil é, sim, analisado, mas de um modo isolado e fragmentado.

Não surgiu nada parecido com o Cebrap e o seu papel relevante na ditadura e na transição para a democracia.

Como a era dos caudilhos, que mobiliza o país contra ou a favor, aparentemente terminará com Lula em 2010, seria o tempo das instituições e das ideias. Onde estão?

Recriminações tardias

Luiz Gonzaga Belluzzo
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Em um de seus posts no site do Financial Times, o economista Willem Buiter apontou as armas da crítica na direção das autoridades encarregadas de supervisionar e regulamentar os sistemas financeiros nos últimos 30 anos. Buiter detona o processo de criação e operação de um sistema financeiro "intrinsecamente disfuncional, ineficiente, injusto e regressivo, vulnerável a episódios de colapso", um exemplo de "capitalismo de compadres", sem paralelo na história econômica do Ocidente. "É uma questão interessante, para a qual não tenho resposta, saber se os que presidiram e contribuíram para a criação e operação [desse sistema] eram ignorantes, cognitivamente e culturalmente capturados ou, talvez, capturados de forma mais direta e convencional pelos interesses financeiros".

Buiter lista as personalidades envolvidas na administração da economia americana e seu desempenho na avaliação dos riscos decorrentes da desregulamentação. Ao longo dos 20 anos em que presidiu o Federal Reserve, Alan Greenspan foi incapaz de enxergar um palmo adiante do nariz; o mesmo pode ser dito de Ben Bernanke, membro do Board of Governors do Federal Reserve System de 2002 a 2005, chairman do President"s Council of Economic Advisers de junho de 2005 a janeiro de 2006 e chairman do Fed desde fevereiro de 2006. Hank Paulson, esse não percebeu qualquer ameaça de crise financeira, quer no período em que trabalhou na Goldman Sachs (1974-2006), quer durante os anos de sua função como secretário do Tesouro (de julho de 2006 à janeiro de 2009). Tim Geithner também fracassou ao não antecipar a crise enquanto subsecretário do Tesouro (1998-2001), sob o comando de Bob Rubin e Larry Summers, ou como presidente do Fed de Nova Iorque (2003-2009). Larry Summers ficou embevecido com as luzes da ribalta durante o período em que ocupou o posto de secretário do Tesouro dos Estados Unidos.

Buiter termina: "A lista dos cães que não ladraram é longa e composta de nomes respeitáveis. Mas, para ser justo, eu deveria informar que nenhum sábio da academia, eu incluído, foi capaz de antecipar a tormenta que estava prestes a desabar sobre nossas cabeças. Em suas previsões ineptas, os acadêmicos foram acompanhados por gurus, palpiteiros, jornalistas econômicos, futurologistas, urologistas e outros praticantes de quiromancia".

A reputação das previsões econômicas e de seus autores mais conhecidos, os economistas, está nos calcanhares. No caso da caminhada em direção ao crash de 2008, poucos se abstiveram de atear gasolina à fogueira de ilusões construída por Wall Street. Quando as ilusões se dissiparam, os comandantes das estripulias financeiras globais, outrora sobranceiros e confiantes, passaram a clamar pelo socorro dos bancos centrais. Há quem se revolte contra a socialização dos prejuízos, a doação de dinheiro público para impedir o colapso dos cobiçosos. Outros, como Buiter, recomendam que o socorro seja prestado com a imposição de duras condições aos imprudentes para impedir a reiteração do "risco moral".

Antes do desastre, os senhores da finança ocidental e seus ideólogos na academia estavam preocupados em recriminar as encrencas do Japão nos anos 90 e a crise financeira na Ásia. Para eles, as crises financeiras do Oriente eram o resultado lógico de sistemas bancários concebidos para um "capitalismo de compadres", trapalhadas que descuravam da supervisão e regulamentação de seus sistemas bancários. Por conta de seus preconceitos, muitos antecipavam o surgimento de problemas nos bancos chineses, diante da rápida expansão do crédito observada nos últimos anos.

A sucessão de quebras e intervenções do Federal Reserve e do Tesouro nos Estados Unidos deixou essa turma de calças na mão. Logo descobriu que os bancos americanos e suas sombras, as instituições que não recebem depósitos, estavam empenhados em jogar entulho na cordilheira de lixo tóxico. A cadeia de montanhas de detritos financeiros foi construída mediante a multiplicação e negociação de ativos lastreados em créditos hipotecários e a disseminação de derivativos que supostamente garantem os investidores contra o default, os indefectíveis CDS (Credit Default Swaps). Estimulados por comissões polpudas para suas instituições e incentivados pela expectativa de bônus estonteantes, os administradores da finança ajudaram a montar o cenário do crash.

As intervenções do Fed e do Tesouro conseguiram, aos trancos, barrancos e trombadas legais, estancar a rápida deterioração das expectativas. Contrariando os augúrios mais pessimistas, a ação das autoridades foi capaz de afetar positivamente as taxas do interbancário e dos mercados monetários. As injeções de liquidez e os programas de compra de ativos podres não fizeram pouco. Além de construir um piso para a deflação de ativos, as intervenções apagaram as culpas do espírito dos pecadores que, com a ajuda do governo, lograram vencer o colapso da confiança. Vencido o pânico, os senhores da finança tratam de torcer o nariz para as medidas de regulamentação propostas pelas autoridades. A intervenção salvadora do Federal Reserve, sem dúvida, corre o risco de fortalecer a crença de que os desatinos dos investidores estarão sempre a salvo de perdas pronunciadas e definitivas. As eventuais crises seriam momentâneas, apenas oportunidades em que se apresentariam pontos de compra convidativos para o início de uma nova temporada de alta generalizada (Buiter acusa o Banco Central dos Estados Unido de colocar em funcionamento o mais poderoso engenho de "moral hazard" da história da humanidade).

A reação dos governos, no entanto, ainda não conseguiu restabelecer a oferta de crédito no volume desejado para reanimar o dispêndio das famílias e dos negócios. Empresas e consumidores tratam de cortar os gastos (e portanto a demanda de crédito) para ajustar o endividamento contraído no passado à renda que imaginam obter num ambiente de desaceleração da economia e de queda do emprego. A economia real nos Estados Unidos e na Europa segue em sua trajetória recessiva.

Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, e professor titular do Instituto de Economia da Unicamp, escreve mensalmente às terças-feiras.

Dívida dividida

Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO

O mercado de dívida está mudando no Brasil.

Antes, o setor público abocanhava quase tudo. Hoje, os papéis lançados pelas empresas ocupam maior espaço. Luiz Carlos Mendonça de Barros, diretor da Quest Investimentos, acha que esse é um sinal de mudança estrutural do país. O presidente da Andima, Sérgio Cutolo, disse que em 2009 o total de títulos privados vai passar o de títulos públicos.

Há uma divergência entre mercado e Banco Central sobre os juros de longo prazo. O mercado embute uma expectativa de elevação das taxas no futuro. O presidente do BC, Henrique Meirelles, considera que não há motivo para isso. Mendonça de Barros acha que a economia brasileira mudou tanto que não há mesmo motivos para o país voltar a ter juros reais muito altos. Uma dessas mudanças é a estrutura do mercado de dívida.

Cutolo diz que a queda dos juros, a redução da dívida pública e a força do mercado secundário estão mudando o mercado de dívida no Brasil: — Hoje, o mercado de dívida total é de R$ 2,5 trilhões.

O total de títulos públicos representa R$ 1,3 trilhão, mas este ano ainda os tomadores privados devem passar o captado de títulos públicos.

Outra mudança fundamental é o crescimento do mercado secundário nos papéis de empresas.

— Isso mostra que esses títulos têm liquidez. O mercado secundário em volume cresceu, neste primeiro semestre, 100% em relação ao mesmo período do ano passado, e em operações cresceu 160% — disse Cutolo.

Mendonça de Barros acha que muitas vezes o mercado não se dá conta em suas análises dessas mudanças estruturais no país. No passado, o domínio absoluto do mercado de dívida pelos papéis públicos parecia uma distorção incorrigível. Hoje, a tendência é que as empresas consigam captar mais no mercado privado, e que haja aceitação desses papéis.

Na reunião do Copom que começa hoje, o mercado voltou a formar consenso. Desta vez, o cálculo é que os juros cairão meio ponto, para 8,75%. Mendonça de Barros acha que mais importante que o número a que vai se chegar ao fim desse processo é o fato de que o mercado está prevendo uma taxa de câmbio estável de agora até o fim de 2010.

— Não sei qual é a taxa de juros real ideal, mas isso se saberá com o tempo. Acho que juros reais de 4%, como o país passará a ter depois da reunião desta semana, é um bom nível. Não acho que exista razão para voltar a ter juros reais de 8%, 10%, como no passado, porque o Brasil mudou muito. Apesar da gastança do governo, a dinâmica do setor privado é tão forte que o mercado de crédito, que antes era na sua maior parte tomada pela dívida pública, agora está dividido entre tomadores privados e o setor público. Ninguém deu muita bola para essa mudança, mas ela mostra o amadurecimento da economia brasileira — disse.

Ele alerta que esse fenômeno estaria muito mais evidente se o governo tivesse feito reformas e controlado os gastos. A mudança se deve mais ao dinamismo do setor privado do que à modernização do setor público. De qualquer maneira, ele acha que as previsões de estabilidade do câmbio (em torno de R$ 2,00 até o fim de 2010) mostram a força do real.

— Isso reflete as mudanças que ocorreram nas contas externas nos últimos anos, desde a estabilização.

É por isso que eu acho que o Brasil criou condições para ter taxas de juros reais bem mais baixas do que anteriormente — afirmou Mendonça de Barros.

O grande problema, na opinião dele, continua a ser o mercado bancário.

— O setor bancário é oligopolizado e precisa mudar.

A nova queda de juros trará de volta a discussão sobre mudanças na poupança. Eu acho que a caderneta tem que pagar imposto como os outros produtos. Mas os bancos hoje cobram taxas de administração altas para apenas pegar seu dinheiro e comprar títulos públicos. As taxas dos bancos têm que cair — disse Mendonça de Barros.

Em sua última pesquisa, a Anefac mostrou que a Selic caiu 32% de dezembro a junho, saindo de 13,75% para 9,25%, enquanto os juros cobrados das empresas caíram apenas 6,54%, de 66,69% para 62,33% ao ano, e os das pessoas físicas recuaram 4,38%, de 137,91% para 137,87%.

Os bancos de investimento estão dizendo que não temem a competição da poupança.

Segundo Marcelo Giufrida, presidente da Anbid, um novo corte na Selic na próxima quarta-feira não altera tanto o cenário: — A poupança para aplicação de até R$ 50 mil já está mais atraente — afirmou.

Mas o fato é que os bancos estão preocupados e derrubando taxas de administração.

Presidente iraniano agradecerá a Lula por coragem e independência

Leila Suwwan
DEU EM O GLOBO

Embaixador compara popularidade dos dois presidentes e diz que Ahmadinejad não teme manifestações quando vier ao Brasil

BRASÍLIA. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, escolheu o Brasil como o primeiro destino internacional de seu segundo mandato, afirmou ontem o embaixador iraniano em Brasília, Mohsen Shaterzadeh. Além de estreitar laços, a visita representa uma espécie de agradecimento ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva: segundo o embaixador, durante o tumulto pós-eleitoral no país, Lula teria demonstrado coragem e independência ao descartar a suspeita de fraudes nas urnas e ao comparar os protestos violentos nas ruas de Teerã como uma disputa entre "flamenguistas e vascaínos". Ahmadinejad cancelou a visita marcada para maio, alegando compromissos de campanha.

A viagem não tem data marcada, mas ocorrerá "antes do que se imagina", segundo Shaterzadeh. Ele classificou de campanha difamatória todo o noticiário que expôs os protestos populares no Irã após as eleições, e acusou dissidentes, criminosos e agentes de inteligência de outros países pelos tumultos e violência. Também afirmou que não espera ver protestos no Brasil contra Ahmadinejad, por considerar que ele, como o presidente Lula, é um líder popular, que luta pelos excluídos.

- Agradecemos os comentários do presidente Lula, que são baseados em ideias realistas, sinceras e que demonstram que a diplomacia e o governo brasileiros conhecem a realidade do Irã - disse Shaterzadeh. - O presidente Lula é corajoso, independente e soberano.

Lula causou polêmica ao demonstrar ceticismo sobre as alegações de fraude. Assim como o discurso oficial da diplomacia iraniana, considerou que os protestos eram apenas manifestações contra o resultado.

- Veja, o presidente (Ahmadinejad) teve uma votação de 61%, 62%. É uma votação muito grande para a gente imaginar que possa ter havido fraude. - disse Lula à época. - Eu não conheço ninguém, a não ser a oposição, que tenha discordado da eleição do Irã. Não tem número, não tem prova. Por enquanto, é apenas, sabe, uma coisa entre flamenguistas e vascaínos.

Embaixador diz que Brasil é grande, por isso não será influenciado por Israel

A visita de Ahmadinejad ao país enfrenta forte resistência da comunidade judaica brasileira, devido ao embate entre Irã e Israel. O presidente iraniano nega o Holocausto e ameaçou "varrer" Israel do mapa. Israel, por sua vez, é motivo de severas críticas de muçulmanos pelo modo como os palestinos são obrigados a viver. Além disso, setores da oposição criticam a política externa de Lula e rejeitam a aproximação com o Irã.

- O Brasil é um país grande, forte e diplomaticamente ativo. Não vai ser facilmente influenciado por ideias de um pequeno país como Israel. - disse Shaterzadeh. - O Brasil luta contra ideias racistas e fascistas. Israel não pode impor suas ideias ao país.

Em resposta ao que considera ser uma "guerra psicológica" de impérios da imprensa internacional contra a prosperidade de uma democracia islâmica, o governo iraniano sustenta que, nas eleições, a oposição criticou Ahmadinejad, não ao modelo de Estado. E lembrou que menos de um terço dos eleitores está nos centros urbanos do país, onde se concentraram os protestos.

UE cessa ajuda a Honduras e Hillary faz alerta

DEU EM O GLOBO

Governo golpista ignora pressão internacional pela volta de Zelaya e OEA adverte sobre risco de guerra civil

TEGUCIGALPA. Após o fracasso das negociações no fim de semana, as pressões sobre o presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, para devolver o governo ao presidente deposto José Manuel Zelaya cresceram ontem depois que a União Europeia anunciou o congelamento de ajuda econômica ao país, estimada em mais de 65 milhões, e líderes da América Latina e dos Estados Unidos criticaram o governo golpista, alertando sobre o risco de um derramamento de sangue. Mas Micheletti ignorou os apelos e disse que não permitiria a volta de Zelaya a Honduras, que está programada para ocorrer no próximo fim de semana.

- Minha posição é indeclinável - anunciou Micheletti num ato público. - Queremos demonstrar ao mundo inteiro que não temos dinheiro, não temos petróleo, não temos dólares, mas temos uma enorme vontade de sustentar essa situação.

Micheletti sugere a Hillary que mande enviado ao país

O comentário foi feito mesmo depois de uma enxurrada de críticas vindas da comunidade internacional. No fim de semana, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, telefonou para Micheletti para alertá-lo sobre as consequências que ele enfrentará se ignorar a mediação internacional sobre a crise. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, pediu ontem paciência aos seguidores de Zelaya, e reconheceu que uma guerra civil pode ser inevitável se o governo interino não mostrar flexibilidade. E, de Washington, o embaixador brasileiro na OEA, Ruy Casaes, criticou o regime interino e cumprimentou Zelaya por dar "mostras de consciência democrática".

- A pressão internacional deve continuar e até aumentar. Espero que os países-membros revejam profundamente suas relações com Honduras, aumentando a pressão internacional - afirmou o diplomata brasileiro.

Ao comentar ontem o pedido de Hillary, Micheletti disse ter sugerido que ela mandasse um enviado a Honduras para verificar que seu governo não está perseguindo oponentes.

- Pedi que mandasse alguém de sua confiança para dizer se é verdade que as pessoas estão sendo mortas o tempo todo - disse.

No dia 5 de julho, quando Zelaya tentou voltar do exílio e foi impedido de pousar no país, um manifestante morreu num protesto.

A suspensão da ajuda financeira anunciada pela Comissão Europeia é estimada em dezenas de milhões de euros. Entre 2007 e 2010, a ajuda foi de 65,5 milhões (US$92,7 milhões). A medida se soma ao congelamento de créditos do Banco Mundial que somam US$200 milhões e da ajuda militar de US$16,5 milhões dos EUA.

Manifestantes prometem subir o tom em protestos

Os esforços para encerrar a crise política do país caíram num impasse no fim de semana depois que Micheletti rejeitou uma proposta apresentada pelo mediador do conflito, o Nobel da Paz e presidente da Costa Rica, Oscar Arias. Pelo acordo, que foi aceito por Zelaya, o presidente deposto seria restituído ao cargo, embora cedendo uma parcela de seu poder a rivais políticos e abrindo mão de seu projeto de reeleição, detonador do golpe. Arias pedira às partes um novo prazo até amanhã para negociar uma solução.

Seguidores de Zelaya voltaram ontem às ruas para protestar contra o golpe, ocorrido há três semanas. Até agora, os protestos foram pacíficos, mas os manifestantes prometem subir o tom, o que Arias teme fazer com que a pior crise da América Central dos últimos 20 anos termine num banho de sangue.

- Aqui ninguém se rende, estamos começando. Agora são protestos pacíficos, mas não se pode descartar que a questão chegue a males maiores - disse o líder sindical Wilfredo Moncado, de 59 anos, funcionário de uma engarrafadora.

Sem acordo, pressão sobre governo golpista de Honduras se amplia

AP, EFE E AFP
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

EUA e Europa cedem aos apelos do governo destituído; Zelaya promete voltar ao país no fim de semana

Um dia depois do fracasso da tentativa de acordo sobre a crise em Honduras, o governo deposto e a comunidade internacional decidiram aumentar a pressão sobre os golpistas.

Enrique Flores, negociador e assessor do presidente destituído, Manuel Zelaya, pediu ontem que fossem congelados os ativos e contas bancárias no exterior de integrantes do governo de facto. A União Europeia suspendeu US$ 92 milhões em ajuda para Honduras. E o porta-voz da chancelaria dos EUA, Philip Crowley, anunciou que a secretária de Estado, Hillary Clinton, ligou no domingo para o presidente de facto do país, Roberto Micheletti, para alertá-lo sobre as "consequências potenciais" do fracasso de um acordo. "Foi uma conversa dura", disse Crowley.

Em Honduras, empresários afirmaram ter sido contactados pelo embaixador americano, Hugo Llores, que os teria advertido sobre a possibilidade de o país enfrentar sanções econômicas mais duras.

Horas antes, Enrique Ortez Colindres, ex-chanceler do governo de facto e ligado aos golpistas, disse que Llores poderia ser declarado persona non grata em Honduras por supostamente ter declarado, antes do golpe, que a comunidade internacional apoiaria a consulta popular que Zelaya tentava promover para poder se eleger novamente (a reeleição é proibida pela Constituição hondurenha).

O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, qualificou ontem como "uma loucura que pode custar caro" a permanência no poder do governo de facto. "É quase impossível evitar a violência e pedir calma quando a ditadura pretende se manter no poder", afirmou Insulza, pedindo a aceitação da proposta, feita pelo presidente costa-riquenho, Oscar Arias, de um novo prazo de 72 horas para nova negociação de um acordo.

À tarde, porém, Micheletti insistiu, em Tegucigalpa, que não permitirá a volta de Zelaya ao poder. "O presidente deposto violou a Constituição várias vezes", afirmou.

No domingo à noite, após dar como "esgotado" o diálogo para resolver a crise política, Zelaya disse que começaria a organizar uma "insurreição" em Honduras. Ele pretende voltar ao país no próximo fim de semana, dois dias depois da data prevista para o início uma greve geral conclamada por sindicatos, movimentos civis e grupos políticos que o apoiam.

REUNIÃO NA COSTA RICA

Representantes de Micheletti e do governo deposto se reuniram no sábado e no domingo para tentar chegar a um acordo na Costa Rica, sob a mediação do presidente Arias, Prêmio Nobel da Paz em 1987 por suas gestões em conflitos da América Central.

Arias fez uma proposta que incluía a volta de Zelaya ao poder, a formação de um governo de conciliação nacional e uma anistia para integrantes de oposição e do governo hondurenho. O texto agradou Zelaya, mas os golpistas o consideraram "inaceitável".

Zelaya foi expulso de Honduras no dia 28, quando militares o levaram de pijama para a Costa Rica. Desde então, diversas organizações e países adotaram medidas para pressionar os golpistas.

Os países-membros da OEA suspenderam Honduras da entidade. Os EUA cortaram a cooperação militar e financeira com o país, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, créditos de US$ 200 milhões, e a Venezuela, o envio de petróleo subsidiado.

CRONOLOGIA

23 de junho: Parlamento e Justiça hondurenhos rejeitam consulta popular convocada por Zelaya para alterar a Constituição

28 de junho: Presidente é enviado para Costa Rica. No dia seguinte, há confrontos em Tegucigalpa

3 de julho: OEA aprova suspensão de Honduras e Zelaya tenta sem sucesso voltar para o país

10 de julho: Fracassa primeira tentativa de diálogo na Costa Rica

19 de julho: Novas negociações chegam a impasse e Zelaya diz que organizará “insurreição”

Na Nicarágua, oposição rejeita ideia de reeleição

AP
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Parlamentares de oposição ao presidente nicaraguense, Daniel Ortega, protestaram ontem contra qualquer reforma constitucional que abra o caminho para a reeleição na Nicarágua. No domingo, Ortega havia defendido uma mudança na Carta que permitisse aos eleitores reeleger ou depor presidentes e prefeitos na Nicarágua por meio de consultas populares.

"A reeleição não deve valer para ninguém. Aqui (na Nicarágua) as reeleições só trouxeram tragédias para o povo", disse o parlamentar dissidente Enrique Saenz.

A Constituição nicaraguense proíbe a reeleição, mas não impede que um presidente volte a ocupar o cargo em mandatos alternados. Para mudar a Carta, os governistas teriam de obter os votos de pelo menos mais 11 parlamentares, além dos 47 que atualmente compõem sua base aliada na Assembleia Nacional.

Tchaikovsky - 1812 – (Partes 1 e 2)

Vale a pena ver o vídeo
A interpretação é da Filarmônica de Berlim, sob a direção do Maestro Seiji Ozawa
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Clique os links abaixo
1812 - abertura (parte 1)-Tchaikovsky
http://www.youtube.com/watch?v=lzMGzBKRttU


1812 - abertura (parte 2)- Tchaikovsky
http://www.youtube.com/watch?v=nkS9THHjp38