sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

CHILE: Empate técnico às vésperas das eleições presidenciais

DEU EM O GLOBO

Candidato da oposição no Chile, Sebastián Piñera tem apenas 1,8 ponto percentual de vantagem em relação a Frei

Cristina Azevedo

SANTIAGO. A campanha pelo segundo turno das eleições presidenciais chilenas terminou ontem ainda mais incerta do que começou: às vésperas da votação deste domingo, Eduardo Frei, o candidato do partido da presidente Michelle Bachelet, conseguiu encurtar uma diferença que era de dois dígitos e agora está apenas a 1,8 ponto percentual do opositor Sebastián Piñera, em situação de empate técnico. Frei afirma que vai vencer "por um nariz" a eleição mais disputada dos últimos 20 anos, mas seu partido se prepara para dois cenários distintos.

A pesquisa do instituto Mori, dando 50,9% das intenções de voto ao empresário Piñera, da Coalizão para a Mudança, de direita, e 49,1% para Frei, injetou um novo ânimo, já na reta final, para a Concertação. Ao mesmo tempo, líderes dos quatro partidos que compõem a coalizão (PS, PDC, PPD e PRSD) se reuniram para definir que discurso adotar em caso de derrota. A ordem é evitar a troca de acusações e uma debandada geral que fragmente a coalizão que ocupa o poder desde a redemocratização do Chile, há 20 anos.

- Creio que essa diferença pode diminuir um pouco mais. A pesquisa é de antes do debate presidencial, na segunda-feira, e Michelle Bachelet fez uma declaração muito positiva, manifestando seu voto a Frei, como não havia feito até agora. Mas não creio que ele vá ganhar - disse o analista político Carlos Huneeus, diretor-executivo do conceituado Centro de Estudos da Realidade Contemporânea (Cerc).

A pesquisa veio numa semana intensa, em que o vento finalmente parecia soprar a favor do ex-presidente Frei, que tenta voltar ao poder. Piñera viu nas últimas semanas boa parte dos seus 14 pontos de vantagem no primeiro turno virarem fumaça. Na semana passada, a diferença já era de apenas cinco pontos percentuais. Ele não comentou a pesquisa, mas a Coalizão pela Mudança (que reúne a Renovação Nacional e a UDI) fez uma outra leitura e confirma a sua vitória.

Vitória deve ser por pouco mais de cem mil votos

Essa semana, os sinais se intensificaram. Eles vieram no apoio - tímido - do terceiro colocado no primeiro turno, Marco Enríquez-Ominami, numa declaração em que sequer mencionou o nome de Frei, dizendo que votará "naquele que obteve 29%" na primeira votação; e na declaração de Bachelet que, ontem, pela primeira vez, disse com todas as letras que votou e votará em Frei.
Pode parecer redundante, mas o Chile é um país de matizes, em que gestos comedidos podem ter significado maior do que se espera. Frei não dispensou o apoio, e o agradeceu com humildade.

Humildade marcou também um apelo de Piñera no último dia da campanha, em Valparaíso. O bilionário, dono da Lan Airlines, que por toda campanha manteve postura de vencedor, fez um pedido aos chilenos.

- Peço-lhes uma oportunidade para demonstrar que podemos ter um governo que trabalha de forma honesta e sem descanso - disse, antes de seguir para encerrar a campanha em Concepción, no sul.

De certo, só parece haver a afirmação de que esta já é a eleição mais disputada dos últimos anos.
Em 2000, Ricardo Lagos venceu Joaquin Lavin por 2,6 pontos de diferença - cerca de 300 mil votos. Se os dados do instituto Mori forem confirmado pelas urnas, Piñera vencerá Frei por pouco mais de cem mil votos.

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