domingo, 17 de janeiro de 2010

Leonardo Dantas Silva :: Nabuco, um pensador liberal

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

O ano de 2010 deverá ser dedicado ao centenário de falecimento de Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo que, nascido no Recife em 19 de agosto de 1849, na atual Rua da Imperatriz, veio a falecer em 17 de janeiro de 1910 em Washington, onde servia como embaixador do Brasil nos Estados Unidos.

Apesar de patrono da cultura Pernambucana, Joaquim Nabuco é figura por demais lembrada, em todas as camadas da população, mas muito pouco estudada e conhecida, daí o silêncio que se fez no ano que antecedeu ao centenário do seu falecimento.

Foi ele o maior pensador do seu tempo, notabilizando-se pelos seus pronunciamentos em favor das reformas sociais que, segundo ele, complementariam a abolição da escravatura negra (1888). Parte delas foram propostas quando da campanha eleitoral de 1884, cujos discursos foram reunidos, por ele, no livro Campanha abolicionista no Recife. Eleições 1884, Rio de Janeiro, Tipografia de G. Leuzinger & Filhos, 1885.

Nos seus pronunciamentos, Joaquim Nabuco defende uma lei agrária, em 5 de novembro de 1884, falando na Praça de São José do Ribamar: "A propriedade não tem somente direitos, tem também deveres, e o estado da pobreza entre nós, a indiferença com que todos olham para a condição do povo, não faz honra a propriedade, como não faz honra ao Estado. Eu, pois, se for eleito, não separarei mais as duas questões - a da emancipação dos escravos e a da democratização do solo. Uma é o complemento da outra. Acabar com a escravidão não nos basta, é preciso destruir a obra da escravidão".

A importância do operário, do artífice, daquele que ganha o pão com o seu trabalho manual e do seu suor, não foi esquecida, por Joaquim Nabuco que, em discurso pronunciado no Campo das Princesas, na tarde de 29 de novembro de 1884, dirigido por ele à classe dos Artistas Pernambucanos, vaticinara em tom profético: "Eu bem sei que vós não pesais pelo número, e não influis pela fortuna, e além disso estais desarmados por falta de organização, mas como na frase revolucionária de Sieyès, podeis desde já dizer: "O que é o operário? Nada. O que virá ele a ser? Tudo!..." escolheria sim, o insignificante, o obscuro, o desprezado elemento operário, porque está nele o germe do futuro da nossa pátria, porque o trabalho manual, somente o trabalho manual, dá força, vida e dignidade a um povo."


No Teatro de Santa Isabel, em 12 de outubro de 1884, faz a sua profissão de fé em Pernambuco, sua província natal, onde residem "as minhas origens, o meu berço, a minha pátria" (sic). Na ocasião ele abordou a sua preocupação com o separatismo que poderia advir com um regime de caráter republicano: "...se por uma dessas terríveis fatalidades, que eu daria a última gota do meu sangue para evitar, esse magnífico território fosse quebrado ao meio ou em pedaços, eu pensaria tanto em não ser Pernambucano como hoje penso em não ser brasileiro. Sim senhores, sinto-me tão Pernambucano como quem melhor o seja. Ninguém, acreditai-me, faz mais sinceros nem mais ardentes votos do que eu para que Pernambuco reconquiste no futuro algum reflexo pelo menos da hegemonia Nacional que, capitania ou província, exerceu no passado, do papel que representou neste Brasil em cuja alma insuflou o espírito da nacionalidade, o espírito de independência e o espírito de liberdade!"


» Leonardo Dantas Silva é jornalista e escritor

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