quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Duelo de manifestações

DEU EM O GLOBO

Nova face da oposição, estudantes venezuelanos vão às ruas hoje, no feriado dos chavistas

Mariana Timóteo da Costa Enviada especial • CARACAS


Dia da Dignidade Nacional. É assim que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e seus simpatizantes se referem à data de hoje, feriado nacional desde que ele assumiu o poder, há 11 anos. O objetivo é comemorar o aniversário de seu nascimento no cenário político. Há 18 anos, Chávez deu início a sua revolução bolivariana, tentando dar um golpe de Estado contra o presidente Carlos Andrés Pérez. O atual líder do país convocou uma manifestação que vai partir da Praça Venezuela, no centro, às 9h (11h30m no horário de Brasília). Mas, com a popularidade cada vez mais em baixa, quem deve roubar a cena são os estudantes, que prometem também tomar as ruas de Caracas, na mesma hora. Eles marcharão até a Assembleia Nacional, hoje controlada por aliados de Chávez e que a oposição espera passar a liderar, ou ter maior expressão, a partir das eleições legislativas de setembro.

— Trabalhamos para renovar nossos líderes. Não queremos incitar um golpe de Estado, nem pregar a violência, ou derrubar o governo. Protestamos de forma pacífica, para conscientizar a população de que precisa votar bem — diz Ricardo Patiño, de 21 anos, estudante de Engenharia da Universidade Simón Bolívar, que é pública.

Sejam de universidades públicas ou particulares, os estudantes têm uma agenda muito definida: protestam contra a censura aos meios de comunicação, contra a alta criminalidade da Venezuela, onde morrem mais de 60 pessoas por semana. Manifestamse contra a crise energética, a inflação e a instabilidade política que “o autoritarismo de Chávez gera”, diz Patiño. Ele faz parte de um grupo de estudantes que não têm mais medo de mostrar a cara e, por isso, fazem parte da “vanguarda da nova oposição que surge no país”, comenta o cientista político Hernán Castillo.

— O governo está desesperado com o fracasso dos serviços públicos, e a convocação da manifestação bolivariana mostra isso. Nem é preciso apostar que o Dia da Dignidade será vencido pelos estudantes — diz.

Ao lado de Patiño, mostram a cara, mesmo quando há repressão, nomes como Ricardo Sanchéz e Roderick Navarro (da Universidade Central da Venezuela, pública); Nizar el Fakih (da Universidade Católica Andrés Bello, particular), Miranda Ponce (da Universidade Monteávila, particular).

Conversar com Miranda por telefone é difícil. A ligação cai muito.

— Acho que os telefones dos estudantes que aparecem mais estão grampeados. E depois Chávez vem dizer que deixa todo mundo se expressar — diz a estudante de jornalismo, que protesta por não querer um país em que não haja trabalho para ela. — Imagina, trabalhar na VTV (canal controlado por Chávez) e passar o dia inteiro falando mentiras.

Mais de 80 presos em protestos

Mesmo revoltados com o governo, o tom dos estudantes é sempre de conciliação e legalidade.

— Por mais que nos repreendam, continuaremos nas ruas — disse Navarro, que tem 22 anos e estuda Linguística, e cuja universidade, a Central da Venezuela, é uma das mais politicamente ativas: há marcas de balas nas paredes, de um ataque ano passado.

Navarro e outros líderes estudantis entraram, esta semana, com um pedido junto ao Ministério Público para que se investiguem hostilidades contra estudantes no interior da Venezuela.

Desde que a nova onda de protestos começou, pelo menos 85 pessoas foram presas e houve duas mortes.

— Todas as atenções da mídia internacional ficam voltadas para Caracas, e, portanto, a repressão aqui não é tão alta. Mas a coisa no interior está séria — observa Miranda.

Chávez tenta, sem sucesso, segundo Castillo, atrair estudantes. Alguns apareciam na VTV convocando simpatizantes bolivarianos para os protestos de hoje. No centro de Caracas, impressiona a quantidade de tabloides chavistas fazendo propaganda do governo.

Chávez deve gastar milhões com a quantidade de cartazes exaltando suas conquistas. Trata-se, segundo Castillo, de uma guerra midiática desigual, mas que os estudantes parecem estar vencendo. Ou, pelo menos, chamando muita atenção

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