DEU EM O GLOBO
Nova face da oposição, estudantes venezuelanos vão às ruas hoje, no feriado dos chavistas
Mariana Timóteo da Costa Enviada especial • CARACAS
Dia da Dignidade Nacional. É assim que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e seus simpatizantes se referem à data de hoje, feriado nacional desde que ele assumiu o poder, há 11 anos. O objetivo é comemorar o aniversário de seu nascimento no cenário político. Há 18 anos, Chávez deu início a sua revolução bolivariana, tentando dar um golpe de Estado contra o presidente Carlos Andrés Pérez. O atual líder do país convocou uma manifestação que vai partir da Praça Venezuela, no centro, às 9h (11h30m no horário de Brasília). Mas, com a popularidade cada vez mais em baixa, quem deve roubar a cena são os estudantes, que prometem também tomar as ruas de Caracas, na mesma hora. Eles marcharão até a Assembleia Nacional, hoje controlada por aliados de Chávez e que a oposição espera passar a liderar, ou ter maior expressão, a partir das eleições legislativas de setembro.
— Trabalhamos para renovar nossos líderes. Não queremos incitar um golpe de Estado, nem pregar a violência, ou derrubar o governo. Protestamos de forma pacífica, para conscientizar a população de que precisa votar bem — diz Ricardo Patiño, de 21 anos, estudante de Engenharia da Universidade Simón Bolívar, que é pública.
Sejam de universidades públicas ou particulares, os estudantes têm uma agenda muito definida: protestam contra a censura aos meios de comunicação, contra a alta criminalidade da Venezuela, onde morrem mais de 60 pessoas por semana. Manifestamse contra a crise energética, a inflação e a instabilidade política que “o autoritarismo de Chávez gera”, diz Patiño. Ele faz parte de um grupo de estudantes que não têm mais medo de mostrar a cara e, por isso, fazem parte da “vanguarda da nova oposição que surge no país”, comenta o cientista político Hernán Castillo.
— O governo está desesperado com o fracasso dos serviços públicos, e a convocação da manifestação bolivariana mostra isso. Nem é preciso apostar que o Dia da Dignidade será vencido pelos estudantes — diz.
Ao lado de Patiño, mostram a cara, mesmo quando há repressão, nomes como Ricardo Sanchéz e Roderick Navarro (da Universidade Central da Venezuela, pública); Nizar el Fakih (da Universidade Católica Andrés Bello, particular), Miranda Ponce (da Universidade Monteávila, particular).
Conversar com Miranda por telefone é difícil. A ligação cai muito.
— Acho que os telefones dos estudantes que aparecem mais estão grampeados. E depois Chávez vem dizer que deixa todo mundo se expressar — diz a estudante de jornalismo, que protesta por não querer um país em que não haja trabalho para ela. — Imagina, trabalhar na VTV (canal controlado por Chávez) e passar o dia inteiro falando mentiras.
Mais de 80 presos em protestos
Mesmo revoltados com o governo, o tom dos estudantes é sempre de conciliação e legalidade.
— Por mais que nos repreendam, continuaremos nas ruas — disse Navarro, que tem 22 anos e estuda Linguística, e cuja universidade, a Central da Venezuela, é uma das mais politicamente ativas: há marcas de balas nas paredes, de um ataque ano passado.
Navarro e outros líderes estudantis entraram, esta semana, com um pedido junto ao Ministério Público para que se investiguem hostilidades contra estudantes no interior da Venezuela.
Desde que a nova onda de protestos começou, pelo menos 85 pessoas foram presas e houve duas mortes.
— Todas as atenções da mídia internacional ficam voltadas para Caracas, e, portanto, a repressão aqui não é tão alta. Mas a coisa no interior está séria — observa Miranda.
Chávez tenta, sem sucesso, segundo Castillo, atrair estudantes. Alguns apareciam na VTV convocando simpatizantes bolivarianos para os protestos de hoje. No centro de Caracas, impressiona a quantidade de tabloides chavistas fazendo propaganda do governo.
Chávez deve gastar milhões com a quantidade de cartazes exaltando suas conquistas. Trata-se, segundo Castillo, de uma guerra midiática desigual, mas que os estudantes parecem estar vencendo. Ou, pelo menos, chamando muita atenção
Nova face da oposição, estudantes venezuelanos vão às ruas hoje, no feriado dos chavistas
Mariana Timóteo da Costa Enviada especial • CARACAS
Dia da Dignidade Nacional. É assim que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e seus simpatizantes se referem à data de hoje, feriado nacional desde que ele assumiu o poder, há 11 anos. O objetivo é comemorar o aniversário de seu nascimento no cenário político. Há 18 anos, Chávez deu início a sua revolução bolivariana, tentando dar um golpe de Estado contra o presidente Carlos Andrés Pérez. O atual líder do país convocou uma manifestação que vai partir da Praça Venezuela, no centro, às 9h (11h30m no horário de Brasília). Mas, com a popularidade cada vez mais em baixa, quem deve roubar a cena são os estudantes, que prometem também tomar as ruas de Caracas, na mesma hora. Eles marcharão até a Assembleia Nacional, hoje controlada por aliados de Chávez e que a oposição espera passar a liderar, ou ter maior expressão, a partir das eleições legislativas de setembro.
— Trabalhamos para renovar nossos líderes. Não queremos incitar um golpe de Estado, nem pregar a violência, ou derrubar o governo. Protestamos de forma pacífica, para conscientizar a população de que precisa votar bem — diz Ricardo Patiño, de 21 anos, estudante de Engenharia da Universidade Simón Bolívar, que é pública.
Sejam de universidades públicas ou particulares, os estudantes têm uma agenda muito definida: protestam contra a censura aos meios de comunicação, contra a alta criminalidade da Venezuela, onde morrem mais de 60 pessoas por semana. Manifestamse contra a crise energética, a inflação e a instabilidade política que “o autoritarismo de Chávez gera”, diz Patiño. Ele faz parte de um grupo de estudantes que não têm mais medo de mostrar a cara e, por isso, fazem parte da “vanguarda da nova oposição que surge no país”, comenta o cientista político Hernán Castillo.
— O governo está desesperado com o fracasso dos serviços públicos, e a convocação da manifestação bolivariana mostra isso. Nem é preciso apostar que o Dia da Dignidade será vencido pelos estudantes — diz.
Ao lado de Patiño, mostram a cara, mesmo quando há repressão, nomes como Ricardo Sanchéz e Roderick Navarro (da Universidade Central da Venezuela, pública); Nizar el Fakih (da Universidade Católica Andrés Bello, particular), Miranda Ponce (da Universidade Monteávila, particular).
Conversar com Miranda por telefone é difícil. A ligação cai muito.
— Acho que os telefones dos estudantes que aparecem mais estão grampeados. E depois Chávez vem dizer que deixa todo mundo se expressar — diz a estudante de jornalismo, que protesta por não querer um país em que não haja trabalho para ela. — Imagina, trabalhar na VTV (canal controlado por Chávez) e passar o dia inteiro falando mentiras.
Mais de 80 presos em protestos
Mesmo revoltados com o governo, o tom dos estudantes é sempre de conciliação e legalidade.
— Por mais que nos repreendam, continuaremos nas ruas — disse Navarro, que tem 22 anos e estuda Linguística, e cuja universidade, a Central da Venezuela, é uma das mais politicamente ativas: há marcas de balas nas paredes, de um ataque ano passado.
Navarro e outros líderes estudantis entraram, esta semana, com um pedido junto ao Ministério Público para que se investiguem hostilidades contra estudantes no interior da Venezuela.
Desde que a nova onda de protestos começou, pelo menos 85 pessoas foram presas e houve duas mortes.
— Todas as atenções da mídia internacional ficam voltadas para Caracas, e, portanto, a repressão aqui não é tão alta. Mas a coisa no interior está séria — observa Miranda.
Chávez tenta, sem sucesso, segundo Castillo, atrair estudantes. Alguns apareciam na VTV convocando simpatizantes bolivarianos para os protestos de hoje. No centro de Caracas, impressiona a quantidade de tabloides chavistas fazendo propaganda do governo.
Chávez deve gastar milhões com a quantidade de cartazes exaltando suas conquistas. Trata-se, segundo Castillo, de uma guerra midiática desigual, mas que os estudantes parecem estar vencendo. Ou, pelo menos, chamando muita atenção
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