quinta-feira, 11 de março de 2010

O coador furado do presidente:: Villas-Bôas Corrêa

DEU NO JORNAL DO BRASIL

A mistura da vaidade desde a sua qualificação como o líder mais popular do mundo e dos êxitos administrativos multiplicados aos limites do desatino parece que afrouxou alguns parafusos na cabeça do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A estafa na pré-campanha eleitoral que debocha dos prazos constitucionais, só nos registros da imprensa dos jornais do dia, passa a desconfortável impressão de um coador furado, com buracos por onde pingam todas as bobagens. O presidente Lula está dizendo o que lhe vem à cabeça, do absurdo mais extravagante à evidente contradição com a verdade.

Eleger a ministra-candidata Dilma Rousseff é a sua obsessão, que atropela as restrições legais e o decoroso limite do bom-senso.

Há dias, como o de ontem, em que Lula bate as suas marcas pessoais. É espantosa informação de que durante o período em que a chefe da Casa Civil da Presidência e pré-candidata do PT, ministra Dilma Rousseff, estiver em campanha, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres vai contratar, por até R$ 1 milhão, um instituto de pesquisa, vinculado a universidades públicas, para fazer um levantamento sobre a participação das mulheres na política. Até 9 de abril o edital de contratação acolherá propostas das empresas interessadas, mas dela não poderão participar empresas tradicionais como o Ibope, Datafolha e Vox Populi. O que é a lógica do absurdo: a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres quer reunir dados levantados por empresas sem tradição nem experiência. E para quê? Difícil entender sem o molho da malícia. Pois o que não falta nesta pré-campanha, sinalizando a ressaca na reta final, são pesquisas de empresas que prezam a sua credibilidade. Um erro de boa ou má-fé pode representar a falência ou o prejuízo de milhões.

Em dia inspirado, a ministra candidata Dilma Rousseff defendeu o tesoureiro do PT, João Vaccari Netto, que está sendo investigado pelo Ministério Público de denúncia de desvio de recursos da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop). E foi explícita: “Vaccari tem o direito de defesa”.

No balanço, uma curiosa inconfidência: vai receber um salário do PT, após deixar o ministério, em abril. E argumentou com escancarada sinceridade: “Vou ter que viver. Como não posso viver de brisa e não sou rica, eu vou ter salário“.

Até onde a memória ajuda, trata-se de uma novidade. Ou, com as devidas cautelas, a primeira vez que um candidato a mandato no Executivo reconhece de público que vai receber um salário do partido.

A ministra Dilma Rousseff terá muito que aprender com o seu mestre até chegar ao desembaraço da entrevista do presidente Lula à agência de notícias AP, que recolheu a sua defesa das decisões da Justiça cubana sobre os presos políticos que entraram em greve de fome, com uma morte. Lula não travou a língua e comparou os dissidentes cubanos a bandidos: “Eu penso que a greve de fome não pode ser utilizada como pretexto de defesa dos direitos humanos para libertar pessoas”. Ousou uma comparação extravagante: “Imagina se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e exigirem a liberdade. Temos que respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano de deter as pessoas em função da legislação de Cuba, como quero que respeitem ao Brasil”.

A pré-campanha, ainda sem candidato assumido da oposição, promete esquentar, antes mesmo dos prazos fixados pela Justiça Eleitoral. O exemplo vem de cima.

“Vou ter que viver. Como não posso viver de brisa e não sou rica, eu vou ter salário” (Dilma)

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