quarta-feira, 17 de março de 2010

O inimigo público:: Zuenir Ventura

DEU EM O GLOBO

O que levou o deputado Ibsen Pinheiro a querer inscrever na sua já atribulada biografia política o papel de inimigo público do Rio de Janeiro, onde passou alguns bons momentos de sua então feliz e promissora carreira jornalística? Que lugar terão na sua memória as boas lembranças dos colegas e amigos de redação de outrora? Não é possível que aqueles anos dourados que precederam o golpe militar de 64 não tenham marcado o jovem copy desk do velho Diário Carioca. Não terá ele nenhum peso de consciência, nenhum arrependimento por indispor a cidade que o acolheu tão bem, apresentando-a como privilegiada e gananciosa? Sim, porque além do prejuízo de mais de R$ 7 bilhões que a sua emenda vai causar às finanças do estado, há a crise federativa que ela ameaça criar,atiçando a cobiça de 24 unidades e jogando-as contra o Rio e o Espírito Santo.

Como ele se sentirá hoje ao ver as pessoas saírem às ruas não para protestar contra a ditadura como se fazia antigamente, mas contra ele, contra uma iniciativa sua, demagógica e injusta? A história do Rio já era uma história de tungas e perdas. Tiraram-lhe a condição de sede da corte, roubaram-lhe a prerrogativa de Distrito Federal,tungaram-lhe o status de capital, fundiram dois estados em um. Se não bastasse tudo isso, agora querem reduzir drasticamente os recursos provenientes da exploração do nosso petróleo. Como é que um deputado,que é também dirigente esportivo, consegue manter-se indiferente à notícia de que, por sua causa, conquistas suadas como a realização das Olimpíadas e da Copa do Mundo correm o risco de não acontecerem? Sem falar em compromissos, como a despoluição da Baía de Guanabara, que não vão dispor de verbas para cumprir os prazos.

Ibsen Pinheiro está fazendo piada com coisa séria.

Estamos perfumando o bode para que ele passe no Senado, disse, ao apresentar nova proposta, que repassa para a União o prejuízo dos estados e municípios que tiverem queda de arrecadação.

Não dá nem para recorrer ao benefício da boa-fé.

Ele sabia que a emenda original que passou na Câmara era nociva e ia provocar protestos, tanto que preparou outra, ou melhor, perfumou-a.

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Do leitor Paulo da Luz sobre Vagner Love no Fantástico: Não é possível que um jogador, ídolo e artilheiro da maior torcida do Brasil, possa dar declarações tão irresponsáveis a uma televisão sobre a sua clara ligação com traficantes pesadamente armados, e considerar isso um fato normal, corriqueiro. Se não fosse uma figura pública, já seria errado. Sendo um ídolo e um exemplo a ser copiado naturalmente pelos que admiram o seu futebol, crianças, inclusive, é péssimo para o esporte, para ele, para o Flamengo e para sociedade. Nada a acrescentar.

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