terça-feira, 9 de março de 2010

Sete minutos de inspeção e duas horas de palanque

DEU EM O GLOBO

Durou sete minutos a vistoria do presidente Lula e da ministra Dilma Rousseff ao canteiro de obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí. O presidente, Dilma e o governador Sérgio passaram, porém, duas horas no palanque montado pela Petrobras para assinatura de contratos. No Rio, numa festa popular paga pelo governo federal com Lula e Dilma, a secretária Benedita da Silva pediu votos para a ministra.


Lula: vistoria relâmpago...

... e presença longa em palanque no Comperj

Bruno Villas Boas

O evento era para vistoriar as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e assinar novos contratos de R$ 2,6 bilhões da Petrobras com empreiteiras. Mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua comitiva passaram ontem apenas sete minutos “vistoriando” o canteiro de terraplenagem do Comperj (das 15h01m às 15h08m) e duas longas horas no palanque montado pela estatal (das 15h45m às 17h45m) para assinatura de contratos, que ficaram em segundo plano. Os elogios de ministros, prefeitos e do governador Sérgio Cabral (PMDB) à pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, deram tom de campanha eleitoral e palanque oficial ao evento em Itaboraí.

Três mil pessoas foram convidadas para servir de plateia. A maioria, operários convocados de casa por empreiteiras do complexo responsáveis pelas obras, que estão paradas há quase duas semanas, desde 25 de fevereiro, por causa das chuvas. Ontem, tratores e retroescavadeiras aguardavam encostados nos canteiros de obras, que estão atrasados em cerca de dois anos.

Lula abriu seu discurso se defendendo das críticas de uso da máquina pública para impulsionar a campanha de sua candidata.

Segundo ele, “o olho do dono é que engorda o porco”, ao justificar a terceira visita ao Comperj em quatro anos, embora as obras de construção estejam ainda em fase de terraplanagem, que está 65% concluída.

— Então tenho que estar presente sempre para saber se as coisas que nós decidimos estão funcionando — disse ele, acrescentando que voltará a visitar o complexo outras vezes.

— Ainda virei mais vezes aqui. Para desgraça dos meus opositores e para desgraça daqueles que acham que eu deveria ficar sentado em Brasília, vou continuar andando por este país.

O presidente também defendeu a decisão de liberar as obras do Comperj e de outros três projetos da Petrobras no Orçamento da União de 2010. Parlamentares incluíram o Comperj na “lista negra” do Orçamento deste ano, após o Tribunal de Contas da União (TCU) identificar indícios graves de sobrepreço nas obras de terraplenagem. Empreiteiras estariam recebendo da estatal mais do que o devido nos períodos de paralisação das obras por causa de chuvas. Ao sancionar o Orçamento, Lula liberou as obras passando por cima do Congresso e TCU.

— Se a gente não fica esperto, essa obra estaria parada, assim como a da Refinaria do Paraná e a Refinaria de Pernambuco. A Petrobras teria que ter mandado embora 27 mil trabalhadores porque se levantou suspeita de sobrepreço em algumas obras — disse o presidente. — Vamos fazer toda a investigação, mas isso não pode ter como contrapartida 27 mil chefes de família na rua.

O governador Sérgio Cabral, que em 2008 havia chamado a ministra Dilma de “presidente” durante evento no Comperj, voltou a apoiar a candidata.

Chamou Dilma de “mulher corajosa, extraordinária”. O prefeito de Itaboraí, Sergio Soares (PP), chegou a sugerir que Lula e Dilma seriam praticamente iguais: — Eles são tão homogêneos em sua forma de pensar que até nos perguntamos: “Quem está falando, Lula ou Dilma?” — disse.

Coube ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, fazer as promessas. Após afirmar que o Comperj seria um “exemplo magnífico” do trabalho de Dilma, disse que a população do entorno do complexo não será abandonada.

Prometeu “casas, saneamento, escolas e hospitais” bancados pela Petrobras e pelos ministérios.

Dilma fez discurso de candidata.

Comparou a atuação da Petrobras nos governos FH e Lula. Lembrou que ocupa a presidência do Conselho de Administração da Petrobras desde 2003, quando a estatal teria parado de encomendar plataformas em estaleiros estrangeiros e passado a encomendar no país, gerando empregos.

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