terça-feira, 2 de março de 2010

Tucanos em busca de uma definição

DEU NO ESTADO DE MINAS

Cresce a pressão para que governador de São Paulo assuma a candidatura ao Palácio do Planalto. Ao mesmo tempo, setores do partido tentam convencer Aécio a entrar na disputa

Patrícia Aranha

Semana decisiva para o PSDB. Além da pressão para que o governador de São Paulo, José Serra, assuma a candidatura à Presidência da República e comece a tentar reverter a tendência de queda registrada pelas últimas pesquisas de intenção de voto, voltou a crescer o movimento para que o governador Aécio Neves seja a opção do partido ao Planalto. Mesmo tendo se retirado da disputa interna em dezembro, garantindo que se dedicaria à campanha ao Senado, o governador mineiro continuou alimentando os sonhos de parte da cúpula tucana e de partidos aliados de tornar-se o candidato principal – no caso de Serra optar pela campanha à reeleição para o governo de São Paulo – ou de compor, como candidato a vice-presidente, numa chapa puro sangue.

Em 8 de fevereiro, a insistência de Serra em postergar a decisão motivou um jantar do alto tucanato no Palácio das Mangabeiras. Nele, o presidente do partido, senador Sérgio Guerra (CE), foi direto ao assunto, perguntando a Aécio se ele aceitaria ser candidato a presidente, no caso de Serra desistir. Diante da resposta afirmativa, os líderes passaram a fazer reserva sobre o assunto. Em entrevista, Guerra fez questão de manter o roteiro, garantindo que a candidatura de Serra continuava “estável, sólida e consistente”.

A comemoração do centenário do ex-presidente Tancredo Neves, na quinta-feira, é apontada como data emblemática para que seja feito o anúncio sobre a candidatura tucana. Aécio e Serra acertariam os últimos detalhes, pessoalmente, em jantar marcado para a véspera em Belo Horizonte. Mesmo apostando que a conversa será definitiva, ninguém arrisca, nos bastidores, bater o martelo pela desistência de Serra.

Para evitar especulações, os dois governadores têm conversado quase que diariamente, por telefone. Nesses contatos, Aécio tem transferido para Serra o ônus da pressão para ser candidato a vice-presidente. Além das declarações dos líderes do DEM e do PPS, multiplicam-se na internet os apelos, como o encabeçado pelo poeta Ferreira Gular no site www.serra-aécio.com.br que apostam no sucesso da dobradinha . Em entrevista ontem, Aécio disse que não quer ser responsabilizado por um eventual derrota de Serra, se não for candidato a vice.

“Eu serei responsabilizado apenas pelo governo que estamos fazendo em Minas. Tomara que seja uma bela responsabilidade. Cada um de nós é responsável pelo que constrói, pelo que faz”, pontuou. Sobre a possibilidade de uma chapa puro sangue, ironizou: “Sou mestiço. Como é que vou participar de uma chapa puro sangue?”

O comentário de ontem no Palácio da Liberdade é de que se quiser atrair o governador mineiro, o PSDB não poderá adiar mais. Aécio até topa ser candidato a presidente, mas não aceitará ser tratado como um Plano B. Como o partido está atrasado também em relação à formação dos palanques estaduais, Aécio temeria pelo sucesso da empreitada presidencial.

Durante o lançamento do selo em comemoração ao centenário de nascimento de seu avô, Aécio negou a possibilidade de assumir o lugar de Serra na disputa pela Presidência da República ou de compor chapa como vice. “Não se cogita nada parecido com isso. Nós estamos ainda a um longo período das eleições. Existem momentos e momentos numa caminhada eleitoral, e o nosso companheiro, governador José Serra, tem todas as condições de enfrentar adequadamente essa disputa”, disse.

Cortina Na intimidade, o governador mineiro começou a admitir a possibilidade de compor a chapa puro sangue. Conhecedores do estilo mineiro de fazer política, acreditam que esse possa ser o sinal de que as declarações não passam de cortina de fumaça para encobrir a intenção de encabeçar a chapa. A presença do deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), na quinta-feira, em Belo Horizonte seria mais um sinal de que Aécio poderá assumir a candidatura, tendo Ciro como candidato a vice-presidente. Seria a declaração que a oposição precisa para reverter o jogo da sucessão, hoje mais favorável ao governo Lula.

O Palácio do Planalto, até a noite de ontem, não confirmava a presença do presidente Lula na inauguração da Cidade Administrativa. A tendência é que Lula tenha agenda em Brasília. Ele seria representado pelo vice-presidente José Alencar.

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