quarta-feira, 3 de março de 2010

Vilas são geridas por interesses políticos no Rio

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Vereadores comandam centros olímpicos criados para a prática do esporte e a revelação de talentos

Alfredo Junqueira e Bruno Lousada

RIO - Criadas para o desenvolvimento de atividades esportivas em comunidades carentes e possível celeiro para o surgimento de novos atletas, as vilas olímpicas do Rio são geridas por interesses políticos e pela influência de vereadores. A informação é do secretário municipal de Esporte e Lazer da cidade-sede da Olimpíada de 2016, Francisco Manoel de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira.

Em audiência pública na Câmara Municipal do Rio, em 3 de novembro de 2009, exatamente um mês após o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciar, na Dinamarca, que a cidade havia sido escolhida a sede da 31.ª edição dos Jogos, o secretário revelou sem constrangimento o nome de quem mandava em seis vilas olímpicas da cidade. Organizador de um evento que promete R$ 30 bilhões em investimentos, o Rio tem, de acordo com Chiquinho, unidades específicas para a prática de esportes em que a orientação é política, e não esportiva.

"A responsabilidade das Vilas Olímpicas é nossa (Prefeitura), as ONGs estão administrando e há um entendimento político de que algumas vilas estão sob orientação política de alguns vereadores", declarou o secretário, sem explicar, no entanto, o que significava dar "orientação política" a uma vila olímpica. Chiquinho deu o nome de sete vereadores. Um deles é o presidente da Câmara Municipal, Jorge Felippe (PMDB), que seria o "orientador" da Vila Olímpica Mestre André, em Padre Miguel, na zona oeste da cidade. "Ela (a vila) tem uma parceria de indicação política do vereador presidente desta Casa, Jorge Felippe, e o vereador Dr. Jairinho (PSC)", revelou.

A ata da audiência foi publicada no Diário Oficial do Legislativo do Município do Rio, em 18 de novembro. Chiquinho falava durante a análise do projeto de lei do orçamento da cidade para este ano. De acordo com a proposta apresentada pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB), o item "Manutenção de Unidades Esportivas que atendem a Rede Municipal de Ensino" deve receber R$ 28,5 milhões neste ano. A expectativa da Prefeitura é atender 16.560 crianças por mês nessas unidades.

A previsão orçamentária de "Construção de Unidades Esportivas e de Lazer" tem R$ 3,9 milhões reservados. Entre as novas unidades, está a do Mato Alto, em Jacarepaguá, onde já treina em condições precárias a atleta Bárbara Leôncio, ouro nos 200 metros do Campeonato Mundial de Atletismo para Menores, realizado na República Checa em 2007, e xodó da delegação brasileira na Dinamarca no dia do anúncio da vitória da candidatura do Rio.

Na unidade de Santa Cruz, a "orientação política" é do vereador Elton Babu (PT) - irmão e herdeiro político do deputado estadual Jorge Babu (PTN). Figura polêmica, o Babu mais velho é policial civil e chegou a ser preso pela Polícia Federal, em 2004, numa rinha de galo ao lado do publicitário Duda Mendonça. Em 2008, foi indiciado pelo MP do Rio por suposto envolvimento com milícias que atuam em Santa Cruz.

Uma das atividades mais comuns desses grupos paramilitares que se espalharam pelo Rio é justamente ocupar e cobrar aluguel pelo uso de quadras poliesportivas públicas - além, obviamente, de extorquir em troca de proteção, atuar no mercado de transporte ilegal, venda de gás, entre outros.

Localizada na região mais violenta do Rio, a Vila Olímpica Carlos Castilho, no Complexo do Alemão, tem "orientação política" do vereador Jorginho da SOS (DEM) - suspeito de ter recebido ajuda de traficantes encastelados na região durante a campanha eleitoral.

Dois integrantes do Conselho de Ética da Câmara Municipal também dão "orientação política" a outras unidades. Rosa Fernandes (DEM) orienta o Grêmio Recreativo Esportivo dos Industriários (Greip) da Penha e Tio Carlos (DEM), a Cidade das Crianças, segundo Chiquinho da Mangueira. A Vila da Gamboa, no Centro do Rio, é da vereadora Liliam Sá (PR).

Com a administração desses locais de treinamento, os vereadores têm, entre outros benefícios, a participação na contratação de funcionários.

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